From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Unidades de conservação são de todos
24/07/2025
Autor: BRACHER, Teresa; KLABIN, Roberto
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/07/unidades-de-conservacao-sao-de-todos.shtml
Unidades de conservação são de todos
Para recuperação e resiliência da biodiversidade, certas áreas precisam ser mantidas livres de intervenção humana direta, inclusive de indígenas
Teresa Bracher e Roberto Klabin
Presidente e vice-presidente da Rede Pró-UC (Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação)
24.jul.2025 às 22h00
Esta Folha publicou o artigo "Florestas megadiversas são legado dos povos indígenas" (20/5), que defende que as práticas extrativistas seriam fundamentais para a preservação ambiental, inclusive sugerindo a ocupação de unidades de conservação de proteção integral por grupos originários.
Reconhecemos o imenso valor cultural dos povos indígenas e tradicionais, bem como seu direito à terra. Mais do que um simples reconhecimento, trata-se de um direito assegurado pela Constituição. Unidades de conservação de proteção integral também estão garantidas pela mesma Carta Magna e não devem ser ocupadas permanentemente por seres humanos. Nenhum.
Importante deixar claro que visitação é diferente de moradia. Com raras exceções, as unidades de conservação podem e devem receber brasileiros, turistas e pesquisadores. Se observadas as regras de condutas básicas, os visitantes são mais que bem-vindos a vivenciar as poucas áreas naturais ainda conservadas neste nosso Brasil. É um direito de todos.
Terras indígenas e unidades de conservação servem a propósitos distintos e não devem ser sobrepostas. Isso abriria um perigoso precedente.
Para a verdadeira recuperação e resiliência da biodiversidade, certas áreas precisam ser mantidas livres de intervenção humana direta. Numerosos estudos demonstram que a presença contínua de humanos, mesmo com práticas tradicionais, tende a causar simplificação ecológica, redução de populações animais e dominância de poucas espécies vegetais em detrimento da complexidade original do ecossistema. Na amazônia, por exemplo, das cerca de 16 mil espécies de árvores, apenas 227 são responsáveis por metade dos indivíduos -reflexo da "filtragem humana" histórica que simplificou a floresta.
Atividades humanas, mesmo as consideradas tradicionais, invariavelmente tendem a homogeneizar ecossistemas. Além das mudanças na fauna e flora, práticas como agricultura, queimadas e caça, quando intensificadas, podem reduzir drasticamente populações de grandes mamíferos e aves, influenciando em cascata a regeneração natural. Uma anta não está menos morta se perdeu a vida para um indígena ou para um homem branco.
O propósito das unidades de conservação de proteção integral -parques nacionais, reservas biológicas e estações ecológicas- é assegurar bolsões de processos naturais em sua máxima expressão, sem intervenção humana. O chamado "modelo Yellowstone" (em referência ao Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA) não é capricho, mas sim uma referência mundial: nesses espaços, nossa presença só deve ocorrer como turistas responsáveis, sob rígidas regras.
No litoral do Paraná, por exemplo, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) assinou, em fevereiro deste ano, termo de compromisso permitindo que a comunidade Guarani Mbya, da terra indígena Kuaray Haxa, ocupe e explore recursos na Reserva Biológica (Rebio) Bom Jesus. É importante frisar que as Rebios são as áreas naturais com o mais alto grau de restrição à presença humana.
O que vemos é uma inversão do que o ICMBio deveria fazer: em vez de proteger essas áreas, o órgão tem sido conivente com segmentos da sociedade que preferem sacrificar o futuro da coletividade em prol de benefícios individuais. Há diversos casos de sucesso a serem celebrados, como o do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Criado graças à visão e perseverança da arqueóloga Niède Guidon, falecida recentemente, esse parque deveria servir de exemplo para a atual gestão do ICMBio.
Preservar áreas verdadeiramente intocadas não é exclusão; é legado. Em tempos de crise planetária, garantir e gerir corretamente unidades de conservação integrais não é apenas defesa da lei, mas também um compromisso com a ética intergeracional, a ciência e o desenvolvimento econômico. A sociedade brasileira precisa compreender e defender o papel insubstituível das unidades de conservação de proteção integral como o próprio nome já diz: de maneira integral.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/07/unidades-de-conservacao-sao-de-todos.shtml
Para recuperação e resiliência da biodiversidade, certas áreas precisam ser mantidas livres de intervenção humana direta, inclusive de indígenas
Teresa Bracher e Roberto Klabin
Presidente e vice-presidente da Rede Pró-UC (Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação)
24.jul.2025 às 22h00
Esta Folha publicou o artigo "Florestas megadiversas são legado dos povos indígenas" (20/5), que defende que as práticas extrativistas seriam fundamentais para a preservação ambiental, inclusive sugerindo a ocupação de unidades de conservação de proteção integral por grupos originários.
Reconhecemos o imenso valor cultural dos povos indígenas e tradicionais, bem como seu direito à terra. Mais do que um simples reconhecimento, trata-se de um direito assegurado pela Constituição. Unidades de conservação de proteção integral também estão garantidas pela mesma Carta Magna e não devem ser ocupadas permanentemente por seres humanos. Nenhum.
Importante deixar claro que visitação é diferente de moradia. Com raras exceções, as unidades de conservação podem e devem receber brasileiros, turistas e pesquisadores. Se observadas as regras de condutas básicas, os visitantes são mais que bem-vindos a vivenciar as poucas áreas naturais ainda conservadas neste nosso Brasil. É um direito de todos.
Terras indígenas e unidades de conservação servem a propósitos distintos e não devem ser sobrepostas. Isso abriria um perigoso precedente.
Para a verdadeira recuperação e resiliência da biodiversidade, certas áreas precisam ser mantidas livres de intervenção humana direta. Numerosos estudos demonstram que a presença contínua de humanos, mesmo com práticas tradicionais, tende a causar simplificação ecológica, redução de populações animais e dominância de poucas espécies vegetais em detrimento da complexidade original do ecossistema. Na amazônia, por exemplo, das cerca de 16 mil espécies de árvores, apenas 227 são responsáveis por metade dos indivíduos -reflexo da "filtragem humana" histórica que simplificou a floresta.
Atividades humanas, mesmo as consideradas tradicionais, invariavelmente tendem a homogeneizar ecossistemas. Além das mudanças na fauna e flora, práticas como agricultura, queimadas e caça, quando intensificadas, podem reduzir drasticamente populações de grandes mamíferos e aves, influenciando em cascata a regeneração natural. Uma anta não está menos morta se perdeu a vida para um indígena ou para um homem branco.
O propósito das unidades de conservação de proteção integral -parques nacionais, reservas biológicas e estações ecológicas- é assegurar bolsões de processos naturais em sua máxima expressão, sem intervenção humana. O chamado "modelo Yellowstone" (em referência ao Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA) não é capricho, mas sim uma referência mundial: nesses espaços, nossa presença só deve ocorrer como turistas responsáveis, sob rígidas regras.
No litoral do Paraná, por exemplo, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) assinou, em fevereiro deste ano, termo de compromisso permitindo que a comunidade Guarani Mbya, da terra indígena Kuaray Haxa, ocupe e explore recursos na Reserva Biológica (Rebio) Bom Jesus. É importante frisar que as Rebios são as áreas naturais com o mais alto grau de restrição à presença humana.
O que vemos é uma inversão do que o ICMBio deveria fazer: em vez de proteger essas áreas, o órgão tem sido conivente com segmentos da sociedade que preferem sacrificar o futuro da coletividade em prol de benefícios individuais. Há diversos casos de sucesso a serem celebrados, como o do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Criado graças à visão e perseverança da arqueóloga Niède Guidon, falecida recentemente, esse parque deveria servir de exemplo para a atual gestão do ICMBio.
Preservar áreas verdadeiramente intocadas não é exclusão; é legado. Em tempos de crise planetária, garantir e gerir corretamente unidades de conservação integrais não é apenas defesa da lei, mas também um compromisso com a ética intergeracional, a ciência e o desenvolvimento econômico. A sociedade brasileira precisa compreender e defender o papel insubstituível das unidades de conservação de proteção integral como o próprio nome já diz: de maneira integral.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/07/unidades-de-conservacao-sao-de-todos.shtml
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