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Desmatamento na Amazônia quase duplica impulsionado por incêndios florestais

06/06/2025

Autor: Rafael Moro Martins , Cerrado, Brasília

Fonte: Sumauma - https://sumauma.com



O sistema de alertas diários de desmatamento usado pelo governo federal detectou um aumento de 92% na devastação da Amazônia em maio de 2025, em relação a maio de 2024. Dos 960 quilômetros quadrados de vegetação perdida - quase a área da cidade de Belém, sede da COP30 -, mais da metade (51%) da devastação foi produzida pelo fogo dos incêndios florestais do segundo semestre de 2024.

Chamado de Deter, o sistema usa fotografias feitas por satélites para produzir alertas, quase em tempo real, sobre o desmatamento. Em maio, como é habitual, as imagens se tornam mais precisas com a redução das nuvens que cobrem a Amazônia durante os meses chuvosos. Foi aí que se pôde ver com precisão, pela primeira vez, a extensão dos danos causados pela temporada de incêndios do ano passado. Reportagem de SUMAÚMA publicada no fim do ano passado mostrou que mais da metade dos focos de incêndio identificados até setembro começou em áreas de criação de gado bovino. Segundo o governo, a crise climática, que provocou secas recorde no ano passado, deixou a Floresta ainda mais suscetível aos incêndios, fazendo com que o fogo se alastrasse com mais rapidez.

O ministro em exercício do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, liderou um grupo de técnicos e servidores que apresentaram os dados à imprensa nesta sexta-feira, 6 de junho, em Brasília. As marcas produzidas pelo fogo nas estatísticas de desmatamento "comprovam alertas já feitos pela ciência de que a floresta tropical está sofrendo um impacto muito grande das mudanças climáticas e reduzindo sua resistência [a incêndios]", ele avaliou.

Os números exibidos na reunião dão uma ideia nítida da dimensão do problema. Entre 2016 e 2022, a perda de vegetação para o fogo jamais superou 14% do desmatamento registrado nos meses de maio. A situação mudou rapidamente em maio de 2023, quando incêndios destruíram 32% dos 812 quilômetros quadrados de Floresta perdidos. Em maio de 2024, o percentual caiu, com o fogo engolindo 21% dos 500 quilômetros quadrados desmatados.

Mas jamais se havia registrado um cenário em que o fogo fosse o responsável pela maior parte da perda de florestas, como em maio de 2025. Pela primeira vez, a estatística de um sistema consolidado que usa imagens de satélite mostra que o fogo destruiu mais Floresta Amazônica (aproximadamente 490 quilômetros quadrados) que a derrubada de árvores. O restante do desmatamento registrado em maio de 2025, algo como 1% do total de 960 quilômetros quadrados, é obra do garimpo e da mineração.

Em termos técnicos, a destruição da Floresta causada pelo fogo é chamada de "desmatamento com vegetação". Os satélites enxergam áreas de Floresta tão reiteradamente consumidas pelas chamas que as equiparam a áreas sem cobertura vegetal alguma. Na verdade, ali ainda há o que se pode chamar de "floresta em colapso" - o termo foi usado por Capobianco. "São áreas em que a vegetação não cumpre mais um papel de floresta", explicou Cláudio Almeida, coordenador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, responsável pelo Deter.

Com esses números, maio de 2025 registrou o segundo pior resultado da série histórica iniciada em 2016. O recorde foi em maio de 2021, com 1.391 quilômetros quadrados desmatados.

'A porta do inferno'

"Se olharmos os dados, nós nos assustamos", admitiu Osvaldo Luiz Leal de Moraes, um especialista em clima e desastres naturais que atualmente é diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. "A Amazônia teve cinco secas neste século. Elas não são um fenômeno natural, mas resultado de ações antrópicas [do homem]. A precipitação [de chuva] média na última seca [em 2024] foi de 700 milímetros, numa Floresta em que chovia habitualmente ao redor de 2,4 mil milímetros por ano. A aceleração dessa anomalia de precipitação chama atenção. Isso pode levar a uma situação de insustentabilidade da Floresta." Moraes usou palavras fortes para explicar o que vê: "Talvez a gente ainda esteja um pouco distante da porta do inferno", ele falou, mas "nos aproximando de um limiar terrível".

Outros números levantados pelo Deter chamam igualmente atenção. Entre agosto de 2024 e maio de 2025, quase 24% dos focos de incêndio registrados na Amazônia ocorreram em floresta nativa. No mesmo período de anos anteriores, o percentual girava ao redor de 10%. Mas 48% da área queimada entre agosto passado e maio de 2025 era vegetação primária e 8%, vegetação secundária. Quer dizer: mais da metade do que o fogo consumiu, na temporada de incêndios da seca do segundo semestre de 2024, foi Floresta nativa.

Trata-se de um quadro que não é exclusivamente brasileiro, lembrou João Paulo Capobianco. Em 2024, o fogo foi responsável por quase metade da perda global de florestas. No caso do Canadá, quase todo o desmatamento foi produzido por incêndios. "É necessário, neste momento em que estamos prestes a receber a COP30, deixar clara a responsabilidade internacional sobre um fato que afeta o conjunto das florestas do planeta. O agravamento do quadro climático não é responsabilidade de um país ou outro", ele lembrou.

No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima tenta responder ao novo cenário com dinheiro para equipar e preparar o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama (825 milhões de reais), e os Corpos de Bombeiros estaduais (405 milhões de reais) para o combate aos incêndios.

Mas também há muito alimento para as chamas. Caso do Projeto de Lei 2159/21, mais conhecido como PL da Devastação, que passou no Senado em maio após um rolo compressor que uniu a bancada ruralista ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Capobianco considera "preocupante" que o PL da Devastação desobrigue empreendedores de analisar quais os impactos indiretos das obras que pretendem realizar. No caso da abertura ou asfaltamento de uma rodovia, por exemplo, isso significa não levar em conta "o aumento de incêndios causados pela ocupação irregular e predatória" das margens dela. "A queimada é um dos [impactos indiretos] mais importantes na realidade amazônica", lembrou Capobianco.

Está nas mãos da Câmara dos Deputados, que deverá analisar o PL da Devastação nos próximos dias, decidir o futuro da Floresta.

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