From Indigenous Peoples in Brazil
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Indígenas do Oiapoque vão à Guiana Francesa compartilhar iniciativa de conservação de tracajás
06/06/2025
Autor: Irana Calixto e Maria Silveira
Fonte: Iepé - https://institutoiepe.org.br
Na Amazônia brasileira, a população de tracajás têm aumentado devido a iniciativas de conservação e manejo, como a que é realizada pelos povos indígenas Palikur, Galibi Marworno e Karipuna. Já na Amazônia Francesa, a espécie corre risco de desaparecimento.
Por esse motivo, os Agentes Ambientais Indígenas (Agamin), de Oiapoque, foram convidados pelo Parque Amazônico da Guiana Francesa para um intercâmbio com o povo Wajãpi, sobre práticas de conservação ambiental com foco no manejo dos tracajás.
Elbson Henrique Leonel, da aldeia Paraikó, Gilmar Nunes André, da aldeia Wahá, e Lázaro Getúlio dos Santos, da aldeia Kumarumã, são Agamins da etnia Galibi Marwono. Eles integraram a delegação brasileira dessa atividade, que promoveu o encontro entre diferentes vivências, saberes e práticas de gestão ambiental que atravessam a Amazônia transfronteiriça.
"Os parentes nos receberam com muito carinho. A atividade foi muito produtiva e eles ficaram muito contentes com os ensinamentos. Mostramos nossa pesquisa e os conhecimentos sobre os tracajás. Espero que possamos voltar para trabalhar juntos no manejo. Fiquei muito feliz de ter vindo!", disse Gilmar Nunes.
Há 20 anos, as estratégias de manejo desenvolvidas pelos Agamin têm contribuído de forma significativa para a recuperação da população de tracajás nos rios e lagos das Terras Indígenas de Oiapoque.
Guardiões da sociobiodiversidade
A programação incluiu visitas em algumas comunidades e rodas de conversa com representantes das aldeias Roger, Zidoc, Bambou, Miso, Lipo Lipo e Yawapa, localizadas no Parque da Guiana. Com o apoio de fotografias, vídeos e mapas, os Agamin compartilharam cada etapa do manejo dos quelônios, desde a coleta dos ovos até a soltura dos filhotes, e destacaram a importância do envolvimento comunitário nas ações de conservação ambiental.
Em uma intervenção pedagógica com as crianças da escola primária da aldeia Roger, os Agamin demonstraram de forma prática e lúdica como é feito o manejo. As crianças, encantadas, acompanharam atentamente cada gesto e explicação, revelando como o aprendizado se fortalece quando mediado por narrativas práticas e da vida cotidiana.
Esse momento de diálogo intergeracional, em que saberes indígenas atravessam a sala de aula, reafirma o papel dos Agamin como educadores ambientais e guardiões da sociobiodiversidade, além de evidenciar o potencial transformador dos intercâmbios entre povos que compartilham territórios e modos de vida em profunda relação com a natureza.
"Foi a primeira vez que eles conheceram o nosso modo de manejar os tracajás. É muito importante esse diálogo com nossos parentes franceses, para que entendam como e por que fazemos esse trabalho no Oiapoque. Levamos nossos conhecimentos, mas também aprendemos muito com os modos de vida deles", comenta Lázaro dos Santos.
Parque Amazônico da Guiana Francesa
O Parc Amazonien de Guyane, ou Parque Amazônico da Guiana Francesa em português, é uma das maiores áreas protegidas do planeta, abrangendo aproximadamente 3,4 milhões de hectares - o que representa cerca de 40% do território da Guiana Francesa. Sua fronteira com o Brasil se dá pelo estado do Amapá, delimitada pelos rios Oiapoque, a leste, e Maroni, a oeste. Além de abrigar uma das maiores biodiversidades do mundo, o parque é também território de múltiplas identidades indígenas e afrodescendentes.
Nesse cenário de convivência com a floresta, vivem os povos ameríndios Wayana, Wajãpi e Teko, bem como os Aluku - comunidade quilombola da região do Maroni - e os crioulos, herdeiros de uma história de diversas matrizes culturais oriundas da América do Sul, do Caribe, da África, da Ásia e da Europa.
Visitar o Parc amazonien de Guyane não é apenas adentrar um espaço de exuberância ecológica, mas também vivenciar um mosaico de relações culturais que expressam modos próprios de habitar e cuidar da floresta.
Caminhos para o futuro
O intercâmbio foi muito mais do que uma troca de experiências técnicas: tornou-se um exercício de escuta sensível, de reciprocidade e de fortalecimento dos laços entre parentes indígenas.
As diferenças entre os marcos legais da Guiana Francesa e do Brasil foram um dos pontos destacados por Guillaume Longin, chefe do Parque Amazônico da Guiana, em sua análise após o intercâmbio. "A legislação brasileira está, em muitos aspectos, mais avançada no que se refere à inclusão dos povos indígenas nos processos de gestão ambiental". Para ele, no entanto, este é um ponto de reflexão para fortalecer uma cooperação transfronteiriça efetiva.
"Parcerias desse tipo exigem tempo e uma construção coletiva, respeitando os ritmos próprios de cada território e de cada povo", afirmou Guillaume.
Durante as reuniões, também foram discutidos os próximos passos dessa cooperação. Os Agamin convidaram os parentes de Wajãpi de Trois-Sauts a visitar o Oiapoque em setembro de 2025, durante o período de coleta dos ovos de tracajá. O convite foi bem recebido, e surgiu também a proposta de retorno dos Agamin à Guiana Francesa.
Essa experiência reafirma a autonomia dos povos indígenas na conservação da Amazônia e no fortalecimento de alianças em defesa da sociobiodiversidade. Mais do que compartilhar técnicas, o intercâmbio representou um verdadeiro exercício de diplomacia indígena, protagonizada pelos Agamin, que seguem tecendo redes de cuidado através do manejo dos tracajás.
(Irana Calixto é assessora indigenista do Iepé e acompanhou o intercâmbio).
Essa atividade foi uma iniciativa do Parque Amazônico da Guiana Francesa com apoio logístico do Instituto Iepé no âmbito do "Projeto Amapá: Política de Mudanças Climáticas e Povos Indígenas", financiado pelo Environmental Defense Fund (EDF), para fortalecer a participação indígena em políticas climáticas, trazendo sua voz e experiência para o centro do debate.
https://institutoiepe.org.br/2025/06/indigenas-do-oiapoque-vao-a-guiana-francesa-compartilhar-iniciativa-de-conservacao-de-tracajas/
Por esse motivo, os Agentes Ambientais Indígenas (Agamin), de Oiapoque, foram convidados pelo Parque Amazônico da Guiana Francesa para um intercâmbio com o povo Wajãpi, sobre práticas de conservação ambiental com foco no manejo dos tracajás.
Elbson Henrique Leonel, da aldeia Paraikó, Gilmar Nunes André, da aldeia Wahá, e Lázaro Getúlio dos Santos, da aldeia Kumarumã, são Agamins da etnia Galibi Marwono. Eles integraram a delegação brasileira dessa atividade, que promoveu o encontro entre diferentes vivências, saberes e práticas de gestão ambiental que atravessam a Amazônia transfronteiriça.
"Os parentes nos receberam com muito carinho. A atividade foi muito produtiva e eles ficaram muito contentes com os ensinamentos. Mostramos nossa pesquisa e os conhecimentos sobre os tracajás. Espero que possamos voltar para trabalhar juntos no manejo. Fiquei muito feliz de ter vindo!", disse Gilmar Nunes.
Há 20 anos, as estratégias de manejo desenvolvidas pelos Agamin têm contribuído de forma significativa para a recuperação da população de tracajás nos rios e lagos das Terras Indígenas de Oiapoque.
Guardiões da sociobiodiversidade
A programação incluiu visitas em algumas comunidades e rodas de conversa com representantes das aldeias Roger, Zidoc, Bambou, Miso, Lipo Lipo e Yawapa, localizadas no Parque da Guiana. Com o apoio de fotografias, vídeos e mapas, os Agamin compartilharam cada etapa do manejo dos quelônios, desde a coleta dos ovos até a soltura dos filhotes, e destacaram a importância do envolvimento comunitário nas ações de conservação ambiental.
Em uma intervenção pedagógica com as crianças da escola primária da aldeia Roger, os Agamin demonstraram de forma prática e lúdica como é feito o manejo. As crianças, encantadas, acompanharam atentamente cada gesto e explicação, revelando como o aprendizado se fortalece quando mediado por narrativas práticas e da vida cotidiana.
Esse momento de diálogo intergeracional, em que saberes indígenas atravessam a sala de aula, reafirma o papel dos Agamin como educadores ambientais e guardiões da sociobiodiversidade, além de evidenciar o potencial transformador dos intercâmbios entre povos que compartilham territórios e modos de vida em profunda relação com a natureza.
"Foi a primeira vez que eles conheceram o nosso modo de manejar os tracajás. É muito importante esse diálogo com nossos parentes franceses, para que entendam como e por que fazemos esse trabalho no Oiapoque. Levamos nossos conhecimentos, mas também aprendemos muito com os modos de vida deles", comenta Lázaro dos Santos.
Parque Amazônico da Guiana Francesa
O Parc Amazonien de Guyane, ou Parque Amazônico da Guiana Francesa em português, é uma das maiores áreas protegidas do planeta, abrangendo aproximadamente 3,4 milhões de hectares - o que representa cerca de 40% do território da Guiana Francesa. Sua fronteira com o Brasil se dá pelo estado do Amapá, delimitada pelos rios Oiapoque, a leste, e Maroni, a oeste. Além de abrigar uma das maiores biodiversidades do mundo, o parque é também território de múltiplas identidades indígenas e afrodescendentes.
Nesse cenário de convivência com a floresta, vivem os povos ameríndios Wayana, Wajãpi e Teko, bem como os Aluku - comunidade quilombola da região do Maroni - e os crioulos, herdeiros de uma história de diversas matrizes culturais oriundas da América do Sul, do Caribe, da África, da Ásia e da Europa.
Visitar o Parc amazonien de Guyane não é apenas adentrar um espaço de exuberância ecológica, mas também vivenciar um mosaico de relações culturais que expressam modos próprios de habitar e cuidar da floresta.
Caminhos para o futuro
O intercâmbio foi muito mais do que uma troca de experiências técnicas: tornou-se um exercício de escuta sensível, de reciprocidade e de fortalecimento dos laços entre parentes indígenas.
As diferenças entre os marcos legais da Guiana Francesa e do Brasil foram um dos pontos destacados por Guillaume Longin, chefe do Parque Amazônico da Guiana, em sua análise após o intercâmbio. "A legislação brasileira está, em muitos aspectos, mais avançada no que se refere à inclusão dos povos indígenas nos processos de gestão ambiental". Para ele, no entanto, este é um ponto de reflexão para fortalecer uma cooperação transfronteiriça efetiva.
"Parcerias desse tipo exigem tempo e uma construção coletiva, respeitando os ritmos próprios de cada território e de cada povo", afirmou Guillaume.
Durante as reuniões, também foram discutidos os próximos passos dessa cooperação. Os Agamin convidaram os parentes de Wajãpi de Trois-Sauts a visitar o Oiapoque em setembro de 2025, durante o período de coleta dos ovos de tracajá. O convite foi bem recebido, e surgiu também a proposta de retorno dos Agamin à Guiana Francesa.
Essa experiência reafirma a autonomia dos povos indígenas na conservação da Amazônia e no fortalecimento de alianças em defesa da sociobiodiversidade. Mais do que compartilhar técnicas, o intercâmbio representou um verdadeiro exercício de diplomacia indígena, protagonizada pelos Agamin, que seguem tecendo redes de cuidado através do manejo dos tracajás.
(Irana Calixto é assessora indigenista do Iepé e acompanhou o intercâmbio).
Essa atividade foi uma iniciativa do Parque Amazônico da Guiana Francesa com apoio logístico do Instituto Iepé no âmbito do "Projeto Amapá: Política de Mudanças Climáticas e Povos Indígenas", financiado pelo Environmental Defense Fund (EDF), para fortalecer a participação indígena em políticas climáticas, trazendo sua voz e experiência para o centro do debate.
https://institutoiepe.org.br/2025/06/indigenas-do-oiapoque-vao-a-guiana-francesa-compartilhar-iniciativa-de-conservacao-de-tracajas/
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