From Indigenous Peoples in Brazil
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News

Formando jovens indígenas para o monitoramento ambiental e territorial no Tumucumaque

02/07/2025

Autor: Angélica Queiroz

Fonte: Iepé - https://institutoiepe.org.br



As Terras Indígenas (TIs) do Parque do Tumucumaque e Rio Paru d'Este estão numa região de difícil e limitado acesso. Além de não haver meios de se chegar até elas a não ser por via aérea, estão rodeadas por três unidades de conservação de proteção integral: o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, a Reserva Biológica Maicuru e a Estação Ecológica Grão-Pará. Mas as dificuldades logísticas impostas por essa localização não têm impedido a aproximação de garimpeiros e a invasão dos limites físicos dessas TIs, aumentando os desafios dos povos indígenas na garantia da integridade destes territórios.

Uma das formas de proteger as terras indígenas é monitorá-las por meio de expedições de fiscalização, ou de vigilância, neste caso, realizadas pelas próprias comunidades indígenas para se certificarem de que não há nenhuma atividade ilegal ocorrendo dentro dos limites de suas terras. Os desafios são muitos, tantos que a proteção territorial foi o principal tema discutido por indígenas de cinco países da Amazônia durante a quarta edição do "Conversas da Amazônia", que aconteceu em Letícia, na Colômbia, em 2024.

Monitorar é importante para a proteção física do território e também para a análise e reflexão sobre a diversidade, quantidade e qualidade dos seres vivos, práticas e conhecimentos importantes para o bem viver. Uma das estratégias para fortalecer o monitoramento ambiental e territorial é capacitar indígenas para o uso de aplicativos de registro e geoprocessamento, de modo que esse trabalho possa ser feito por eles, para eles.

"O monitoramento é essencial para que nós indígenas, possamos dialogar com o nosso território demarcado", afirma Paty Paty Bob Marley Waiana Apalai, jovem liderança do Tumucumaque Leste. Segundo ele, a tecnologia é uma aliada no processo para mapear os rios, aldeias, roças, impactos das mudanças climáticas e outras variáveis importantes no dia a dia. "Antigamente a gente já fazia isso, mas era mais difícil. Com drones e celulares, conseguimos chegar a outras áreas", relata, lembrando que, para além dos aplicativos, o diálogo com os parentes, especialmente os mais velhos e conhecedores, é essencial nessa construção.

Oficina de formação de jovens

No Tumucumaque Leste, a Associação dos Povos Indígenas Wayana e Aparai (Apiwa) realizou, em abril, uma oficina de formação para jovens indígenas Wayana, Apalai e Tiriyó no uso de aplicativos de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), instrumentos para monitoramento territorial. A atividade ocorreu no âmbito de um projeto elaborado pela APIWA ao Fundo Indígena Podáali, com o apoio do Iepé.

Os jovens aprenderam a usar três aplicativos, desenvolvidos pela Awana Digital. São ferramentas com funcionalidades diferentes e complementares: o Mapeo identifica pontos geográficos de interesse, desde espécies alimentícias até garimpo; o Cobo é voltado para o avaliar a implementação do PGTA; e o Terra Stories mapeia dados etnográficos, como guerras históricas.

Atividades como essa oficina estão previstas no Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) das Terras Indígenas (TIs) do Parque do Tumucumaque e Rio Paru d'Este, dentro do âmbito das ações voltadas à proteção da TI diante de ameaças e da necessidade de construir um modelo de gestão territorial que atenda a dificuldade de habitar a terra demarcada e delimitada.

Segundo o assessor do Iepé, Pedro Ribas, que acompanhou a atividade, a oficina gerou resultados positivos que extrapolaram seus objetivos iniciais. "Além da formação e do planejamento de ações voltadas ao monitoramento territorial, os encontros promoveram discussões sobre outras estratégias de gestão territorial", conta. "Os jovens também propuseram uma maior integração do monitoramento ambiental com o conhecimento tradicional que suas lideranças e anciãos têm sobre o território, formulando um modelo de gestão integrada entre saberes e tecnologias, que reconhece e valoriza a ancestralidade", acrescenta.

Levantamento e registros

Parte do trabalho feito na oficina realizada na Aldeia Bona foi o levantamento e registro de alguns conhecimentos que os jovens Wayana, Aparai e Tiriyó já tinham sobre seu território. Durante essa etapa, os jovens sistematizaram listas de espécies, artefatos e histórias que conheciam de seu território e que têm importância para seu bem-viver. Eles fizeram uma diferenciação entre alimentos coletados (Tonahsamo), caçados (Tosamo) e cultivados (Tupito), além de espécies de uso medicinal e terapêutico (opime exiketomo) e daquelas ligadas a saberes tradicionais. Com essa base, eles elaboraram categorias próprias para serem acompanhadas.

Ao todo, foram listadas mais de 100 espécies, entre plantas e animais, consideradas por eles como importantes para o dia a dia. "A diferenciação deste modelo está na maneira como é coletado o registro, a partir da experiência cotidiana. Também em como o dado é compartilhado e analisado, coletivamente e por diálogos entre os mais velhos e jovens", explica Pedro Ribas.

Já a atividade prática da oficina seguiu uma proposta dos jovens, que realizaram o monitoramento de uma área histórica, conhecida como Montanha Arumatari, com levantamentos biológicos, geográficos e de pontos de interesse sociocultural. "Os jovens presentes estavam entusiasmados em apresentar resultados produzidos aos mais velhos, avós, avôs, tios e anciões. Esta etapa foi bastante frutífera para compartilhamento de conhecimentos tradicionais e avaliação dos dados produzidos por eles", detalha Pedro.

Próximos passos

A formação aconteceu na aldeia polo Bona, com um grupo de 10 jovens de diferentes aldeias das TIs, que, ao final da atividade, receberam celulares e computadores para que pudessem continuar a tarefa. Esses equipamentos serão administrados e cuidados por coordenadores eleitos em assembleias, reforçando a autonomia e a autogestão da juventude indígena.

A proposta é que o monitoramento seja construído a partir das vivências cotidianas dos jovens, incentivando-os a produzir registros de suas experiências e compartilhar entre seus parentes, respeitando o processo de educação tradicional nas aldeias. Durante a abertura de roças, caça, pesca e produção de artefatos, por exemplo, eles devem passar a registrar, não só as atividades, mas também os conhecimentos que aprendem durante estas práticas.

Os dados gerados serão apresentados em reuniões e encontros de planejamento intercomunitários, permitindo que todas as aldeias do território se beneficiem das informações produzidas coletivamente. Os registros também alimentarão uma base de dados georreferenciais que todos podem acessar.

Esta atividade ocorreu com o apoio do Fundo Podáali, Nia Tero e Bezos Earth Fund.

https://institutoiepe.org.br/2025/07/formando-jovens-indigenas-como-protagonistas-do-monitoramento-ambiental-e-territorial-no-tumucumaque/
 

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