From Indigenous Peoples in Brazil
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China e Luiz Inácio querem 'rasgar' o Brasil com ferrovias para impulsionar o agro, mas indígenas contestam projetos
20/07/2025
Fonte: A Nova Democracia - https://anovademocracia.com.br
Um projeto planejado pelo social-imperialismo chinês e pelo governo brasileiro quer "rasgar" o Brasil com ferrovias para facilitar o escoamento de produtos primários (commodities) agrícolas para o exterior, fortalecendo o latifúndio. A ideia foi concretizada no dia 7 de julho, durante a reunião da Cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro, em um acordo assinado entre o Ministério dos Transportes do governo de Luiz Inácio (PT) e a estatal chinesa China State Railway Group.
O plano busca estudar a viabilidade da construção de um projeto ferroviário que liga o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, construindo um grande corredor logístico para o escoamento das commodities brasileiras, tendo como base duas obras já em andamento: a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e Ferrovia de Integração do Centro Oeste (FICO). A ideia de uma expansão da malha ferroviária brasileira com investimentos do social-imperialismo chinês não é completamente nova, e já havia sido mencionada esse ano em uma declaração da ministra Simone Tebet no dia 9 de maio, na qual ela afirmou que a China pretende "rasgar" o Brasil com ferrovias.
As ferrovias que conformam a base para o projeto, FIOL e FICO, estavam inclusas no Plano Nacional de Viação desde o ano de 2008, durante o segundo governo de Luiz Inácio, posteriormente foram incluídas nas obras do PAC de 2010. Os projetos percorreram um longo caminho até o início das operações, tendo suas trajetórias marcadas por contestações de seus traçados por parte dos povos indígenas, sobretudo das Terras Indígenas da região do Vale do Araguaia. Estes projetos ganham agora um novo impulso com a entrada do capital chinês
Indígenas ameaçados
O trecho da rodovia entre os municípios de Campinorte (GO) e Vilhena (RO), cujas obras ainda não estão em andamento, teve seu traçado questionado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e povos indígenas da região do Vale do Araguaia. O motivo é a proximidade visível entre o traçado da ferrovia e as Terras Indígenas do Xingu, onde vivem mais de 16 povos indígenas (ver mapa acima).
A Associação das Terras Indígenas do Xingu (ATIX) redigiu um ofício onde elencam diversas preocupações acerca das obras em andamento, sendo a principal delas a perspectiva de expansão mais acelerada da fronteira agrícola nas áreas próximas às ferrovias. Com a construção de um imenso corredor logístico para escoamento de commodities em área muito próxima às terras indígenas, espera-se que aumente a pressão sobre aquelas terras, atraindo a atenção do latifúndio que buscará terras mais próximas às ferrovias para baratear seu escoamento. O mesmo deve ocorrer quanto às mineradoras e o garimpo.
Os povos indígenas do Xingu ainda denunciam que não tiveram garantido o seu direito a uma Consulta Livre, Prévia e Informada quanto à construção destas ferrovias, e que muitas das determinações da Funai foram ignoradas com o início das obras da FICO.
A Ferrogrão, cujo traçado também está muito próximo às Terras Indígenas do Xingu, ainda está em período de estudos, e seu projeto foi incluído no Novo PAC mesmo após ser suspenso a partir de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI-6553). A ação se deu pelo fato de que o traçado da Ferrovia atravessa o Parque Indígena do Xingu, e a aprovação do projeto deste traçado só foi possível por conta de uma Medida Provisória (MP 758/2016) que exclui arbitrariamente 856 hectares do Parque Indígena do Xingu.
Além disso, o licenciamento da Ferrogrão havia avançado inúmeras vezes sem a garantia da Consulta Livre, Prévia e Informada com os povos indígenas sobre a obra, condição inegociável para o avanço de um licenciamento.
Os interesses do social-imperialismo chinês
Além de representarem um ataque frontal e criminoso aos povos indígenas, os projetos ferroviários promovidos pelo social-imperialismo chinês não possuem potencial algum de promover qualquer tipo de desenvolvimento nacional. Pensar isso seria acreditar que o latifúndio, exportador de mercadorias de baixo valor agregado, é uma classe social interessada no desenvolvimento da nação. Tais projetos recebem fartos investimentos chineses justamente pelo fato de a China revisionista ser hoje o principal comprador das commodities brasileiras: apenas no mês de julho, a China importou 9,73 milhões de toneladas de soja do Brasil.
Ao investir em um corredor logístico no Brasil, a China pretende baratear mais os custos de importação das commodities brasileiras, principalmente soja e minérios, aumentando assim a sua margem de lucro. Por isto, não é estranho que um país imperialista invista em infraestrutura nas colônias e semicolônias, conforme descrito pelo chefe comunista Vladimir Lenin na célebre obra Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo.
"A construção de estradas de ferro é aparentemente um empreendimento simples, natural, democrático, cultural, civilizador: assim a apresentam os professores burgueses, pagos para dissimular a escravidão capitalista, como aos olhos dos filisteus pequeno-burgueses. Na realidade, os múltiplos laços capitalistas, mediante os quais esses empreendimentos se vinculam à propriedade privada dos meios de produção em geral, transformaram essa construção num instrumento de opressão para um bilhão de pessoas (nas colônias e semicolônias), ou seja, mais de metade da população da Terra nos países oprimidos e para os escravos assalariados do capital nos países 'civilizados'."
O investimento do social-imperialismo chinês em ferrovias tem sido uma importante estratégia do "gigante asiático". Na África, desde meados dos anos 2000, grandes projetos logísticos acompanham o aumento da presença de mineradoras chinesas por todo o continente. A iniciativa Cinturão e Rota prevê a construção de 6 mil quilômetros de ferrovia em diversas regiões da África. Assim como no Brasil, as ferrovias são construídas em áreas com um déficit significativo de modais de transporte, mas os planos só incluem o transporte de commodities, e não de pessoas, impulsionando o açambarcamento das riquezas naturais dos países ao baratear seu transporte.
Na mesma medida em que impulsiona o saqueio de riquezas naturais na África, a China também aumenta sua presença militar no território, tendo construído uma base militar em Djibouti, na África Oriental. Além disso, mantém lucrativos empreendimentos em países do Saara Ocidental, ocupados militarmente pela monarquia marroquina.
Há de se mencionar também a condição dos trabalhadores africanos empregados nas multinacionais chinesas. Em 2022, três trabalhadores foram mortos em Angola durante uma greve contra a empreiteira chinesa China Ghezouba Group Company. Os trabalhadores denunciaram que estavam há anos sem direitos básicos como: reajuste salarial, seguros de saúde, férias anuais, folgas bimensais, subsídios de risco, de isolamento e de transporte e melhorias nas condições de trabalho, como alimentação digna, melhores alojamentos e áreas de lazer. As exigências foram entregues às empreiteiras e nenhuma delas foi atendida, levando a greve a ser deflagrada.
Ferrovias para o agro x Desenvolvimento nacional
Fica claro que não há interesse do falso socialismo chinês em promover um verdadeiro desenvolvimento ao Brasil. Pela condição semicolonial brasileira, a lógica dos projetos logísticos tende a ser a mesma observada no continente africano, onde o social-imperialismo chinês mantém laços de dominação visíveis combinados com investimentos em projetos logísticos que facilitam e barateiam o açambarcamento dos recursos naturais africanos, sobretudo minérios.
Os projetos ferroviários observados ainda representam um ataque frontal aos povos indígenas, na medida em que são planejados sem levar em consideração as Terras Indígenas existentes nas regiões por onde passam, criando condições para uma expansão da fronteira agrícola em áreas muito próximas de onde vivem dezenas de etnias originárias.
https://anovademocracia.com.br/china-luiz-inacio-brasil-ferrovia-indigenas/
O plano busca estudar a viabilidade da construção de um projeto ferroviário que liga o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, construindo um grande corredor logístico para o escoamento das commodities brasileiras, tendo como base duas obras já em andamento: a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e Ferrovia de Integração do Centro Oeste (FICO). A ideia de uma expansão da malha ferroviária brasileira com investimentos do social-imperialismo chinês não é completamente nova, e já havia sido mencionada esse ano em uma declaração da ministra Simone Tebet no dia 9 de maio, na qual ela afirmou que a China pretende "rasgar" o Brasil com ferrovias.
As ferrovias que conformam a base para o projeto, FIOL e FICO, estavam inclusas no Plano Nacional de Viação desde o ano de 2008, durante o segundo governo de Luiz Inácio, posteriormente foram incluídas nas obras do PAC de 2010. Os projetos percorreram um longo caminho até o início das operações, tendo suas trajetórias marcadas por contestações de seus traçados por parte dos povos indígenas, sobretudo das Terras Indígenas da região do Vale do Araguaia. Estes projetos ganham agora um novo impulso com a entrada do capital chinês
Indígenas ameaçados
O trecho da rodovia entre os municípios de Campinorte (GO) e Vilhena (RO), cujas obras ainda não estão em andamento, teve seu traçado questionado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e povos indígenas da região do Vale do Araguaia. O motivo é a proximidade visível entre o traçado da ferrovia e as Terras Indígenas do Xingu, onde vivem mais de 16 povos indígenas (ver mapa acima).
A Associação das Terras Indígenas do Xingu (ATIX) redigiu um ofício onde elencam diversas preocupações acerca das obras em andamento, sendo a principal delas a perspectiva de expansão mais acelerada da fronteira agrícola nas áreas próximas às ferrovias. Com a construção de um imenso corredor logístico para escoamento de commodities em área muito próxima às terras indígenas, espera-se que aumente a pressão sobre aquelas terras, atraindo a atenção do latifúndio que buscará terras mais próximas às ferrovias para baratear seu escoamento. O mesmo deve ocorrer quanto às mineradoras e o garimpo.
Os povos indígenas do Xingu ainda denunciam que não tiveram garantido o seu direito a uma Consulta Livre, Prévia e Informada quanto à construção destas ferrovias, e que muitas das determinações da Funai foram ignoradas com o início das obras da FICO.
A Ferrogrão, cujo traçado também está muito próximo às Terras Indígenas do Xingu, ainda está em período de estudos, e seu projeto foi incluído no Novo PAC mesmo após ser suspenso a partir de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI-6553). A ação se deu pelo fato de que o traçado da Ferrovia atravessa o Parque Indígena do Xingu, e a aprovação do projeto deste traçado só foi possível por conta de uma Medida Provisória (MP 758/2016) que exclui arbitrariamente 856 hectares do Parque Indígena do Xingu.
Além disso, o licenciamento da Ferrogrão havia avançado inúmeras vezes sem a garantia da Consulta Livre, Prévia e Informada com os povos indígenas sobre a obra, condição inegociável para o avanço de um licenciamento.
Os interesses do social-imperialismo chinês
Além de representarem um ataque frontal e criminoso aos povos indígenas, os projetos ferroviários promovidos pelo social-imperialismo chinês não possuem potencial algum de promover qualquer tipo de desenvolvimento nacional. Pensar isso seria acreditar que o latifúndio, exportador de mercadorias de baixo valor agregado, é uma classe social interessada no desenvolvimento da nação. Tais projetos recebem fartos investimentos chineses justamente pelo fato de a China revisionista ser hoje o principal comprador das commodities brasileiras: apenas no mês de julho, a China importou 9,73 milhões de toneladas de soja do Brasil.
Ao investir em um corredor logístico no Brasil, a China pretende baratear mais os custos de importação das commodities brasileiras, principalmente soja e minérios, aumentando assim a sua margem de lucro. Por isto, não é estranho que um país imperialista invista em infraestrutura nas colônias e semicolônias, conforme descrito pelo chefe comunista Vladimir Lenin na célebre obra Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo.
"A construção de estradas de ferro é aparentemente um empreendimento simples, natural, democrático, cultural, civilizador: assim a apresentam os professores burgueses, pagos para dissimular a escravidão capitalista, como aos olhos dos filisteus pequeno-burgueses. Na realidade, os múltiplos laços capitalistas, mediante os quais esses empreendimentos se vinculam à propriedade privada dos meios de produção em geral, transformaram essa construção num instrumento de opressão para um bilhão de pessoas (nas colônias e semicolônias), ou seja, mais de metade da população da Terra nos países oprimidos e para os escravos assalariados do capital nos países 'civilizados'."
O investimento do social-imperialismo chinês em ferrovias tem sido uma importante estratégia do "gigante asiático". Na África, desde meados dos anos 2000, grandes projetos logísticos acompanham o aumento da presença de mineradoras chinesas por todo o continente. A iniciativa Cinturão e Rota prevê a construção de 6 mil quilômetros de ferrovia em diversas regiões da África. Assim como no Brasil, as ferrovias são construídas em áreas com um déficit significativo de modais de transporte, mas os planos só incluem o transporte de commodities, e não de pessoas, impulsionando o açambarcamento das riquezas naturais dos países ao baratear seu transporte.
Na mesma medida em que impulsiona o saqueio de riquezas naturais na África, a China também aumenta sua presença militar no território, tendo construído uma base militar em Djibouti, na África Oriental. Além disso, mantém lucrativos empreendimentos em países do Saara Ocidental, ocupados militarmente pela monarquia marroquina.
Há de se mencionar também a condição dos trabalhadores africanos empregados nas multinacionais chinesas. Em 2022, três trabalhadores foram mortos em Angola durante uma greve contra a empreiteira chinesa China Ghezouba Group Company. Os trabalhadores denunciaram que estavam há anos sem direitos básicos como: reajuste salarial, seguros de saúde, férias anuais, folgas bimensais, subsídios de risco, de isolamento e de transporte e melhorias nas condições de trabalho, como alimentação digna, melhores alojamentos e áreas de lazer. As exigências foram entregues às empreiteiras e nenhuma delas foi atendida, levando a greve a ser deflagrada.
Ferrovias para o agro x Desenvolvimento nacional
Fica claro que não há interesse do falso socialismo chinês em promover um verdadeiro desenvolvimento ao Brasil. Pela condição semicolonial brasileira, a lógica dos projetos logísticos tende a ser a mesma observada no continente africano, onde o social-imperialismo chinês mantém laços de dominação visíveis combinados com investimentos em projetos logísticos que facilitam e barateiam o açambarcamento dos recursos naturais africanos, sobretudo minérios.
Os projetos ferroviários observados ainda representam um ataque frontal aos povos indígenas, na medida em que são planejados sem levar em consideração as Terras Indígenas existentes nas regiões por onde passam, criando condições para uma expansão da fronteira agrícola em áreas muito próximas de onde vivem dezenas de etnias originárias.
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