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Lideranças comunitárias da Amazônia entregam carta de demandas por justiça climática ao enviado especial da ONU

25/07/2025

Fonte: Carta Amazonia - https://cartaamazonia.com.br



Lideranças de comunidades periféricas, do campo, ribeirinhas e quilombolas de cinco estados da Amazônia Legal publicaram uma carta de demandas sobre os impactos das mudanças climáticas e a participação ativa dos povos que protegem a maior floresta tropical do planeta. O documento chamado "Carta de Demandas: Vozes do Território da Amazônia para a COP30" foi entregue ao enviado especial da COP30, Joaquim Belo, e será levado como contribuição do território às metas climáticas do Brasil na conferência da ONU, realizada em novembro deste ano, em Belém.

A carta é resultado do diálogo coletivo entre dioceses, associações comunitárias, pastorais sociais, movimentos sociais, organismos vinculados a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organizações da sociedade civil, defensoras e defensores dos Direitos Humanos e da natureza. A iniciativa surgiu a partir de rodas de conversa articuladas e promovidas pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil).

Lei aqui a íntegra da "Carta de Demandas: Vozes do Território da Amazônia para a COP30"

Ao todo foram 18 rodas de conversa geradas pela "Mobilização dos Povos pela Terra e pelo Clima", uma articulação REPAM-Brasil, que busca garantir participação ativa de povos da floresta, movimentos sociais e comunidades tradicionais antes, durante e depois da COP30 - fortalecendo sua incidência a partir dos próprios territórios. Os encontros foram realizados nos estados do Pará, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso e Roraima; e reuniram 964 participantes, com ampla maioria de mulheres lideranças (72,5%).

Segundo Irmã Irene Lopes, secretária executiva da REPAM-Brasil, a iniciativa tem como foco a democratização do debate climático. "A cartilha 'ABC das COPs' foi o ponto de partida das rodas de conversa. Ela explica o que é a conferência do clima da ONU e por que a COP30 é tão importante. Essa agenda costuma ficar restrita a salas de reunião e a grupos privilegiados. Com as rodas, tiramos essa discussão desses espaços e levamos para quem mais sente os efeitos da crise: as comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas, pescadoras e extrativistas. A carta nasce dessa escuta real e enraizada."

A força das rodas de conversa nos territórios

Segundo os organizadores, a metodologia das rodas de conversa foi o coração do processo de escuta popular que deu origem à Carta de Demandas. Um dos momentos marcantes foi a roda de conversa, no Quilombo Catucá, em junho deste ano, na zona rural da Diocese de Bacabal (MA). O encontro fortaleceu o protagonismo das mulheres negras na luta pelo bem viver e reuniu partilhas profundas sobre os efeitos das mudanças climáticas, a escassez de água e as dificuldades enfrentadas no cultivo de hortaliças afetadas pelo calor extremo.

Durante a atividade, Arlete Gomes, coordenadora de projetos da REPAM, acompanhou as mulheres quilombolas em visitas aos quintais produtivos da comunidade. "Foi emocionante ver como essas mulheres resistem todos os dias às mudanças do clima. Elas plantam, colhem, cuidam da terra, mesmo com o calor castigando as hortas e a água ficando mais escassa. É desse chão, desses corpos-territórios, que surgem as propostas mais potentes para a COP30."

Arlete destaca que a legitimidade da carta está enraizada nesse processo. "Toda a comunidade participou: crianças, jovens, anciões, donas de casa, produtoras. As cartas foram escritas à mão, desenhadas. Elas são o espelho dos territórios mais distantes da Amazônia. Recebemos muitas falas dizendo: 'a carta me representa'. Isso mostra que a escuta foi real."

Para a coordenadora de projetos da REPAM, o método foi mais que um instrumento de consulta - foi também um gesto político de devolução de voz. "As rodas permitiram capilarizar o debate climático e integrar os povos da floresta à agenda global com afeto, sabedoria e incidência concreta."

Justiça climática começa onde a floresta vive

O documento denuncia que as mudanças climáticas já afetam profundamente a vida nas comunidades: doenças respiratórias causadas pela fumaça das queimadas, escassez de alimentos, secas severas, contaminação de rios e avanço de doenças infecciosas são apenas alguns exemplos.

A carta também alerta para os impactos das grandes obras de infraestrutura, como a construção e ampliação de rodovias federais (como a BR-319 e BR-163), que têm colocado em risco comunidades inteiras e acelerado o desmatamento. O avanço de empreendimentos sem consulta prévia às comunidades viola direitos constitucionais e amplia a vulnerabilidade de povos tradicionais diante da crise climática.

Propostas prioritárias da Carta de Demandas

Entre os principais pontos do documento estão:

Criação de planos emergenciais para enfrentar secas, fumaça e queimadas;
Moratória de obras de infraestrutura sem consulta prévia às comunidades;
Proteção de defensoras e defensores ambientais;
Acesso universal à água potável e ar puro como direitos inegociáveis;
Incentivo à agroecologia como estratégia de mitigação e autonomia;
Participação efetiva dos povos da Amazônia nas políticas climáticas.
Compromisso com o território

A escolha de Joaquim Belo para receber a carta carrega um simbolismo profundo. Líder extrativista com longa trajetória na defesa das comunidades tradicionais da Amazônia, ele atua hoje como secretário de Formação e Comunicação do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), organização que presidiu por três mandatos. Ao longo dos anos, tem participado ativamente de conselhos e comitês voltados à proteção ambiental e ao desenvolvimento sustentável. Sua presença como enviado especial da COP30 representa não apenas uma missão institucional, mas também o compromisso de alguém que vem do próprio território e entende, na pele, o que está em jogo.

Ao receber a carta, Joaquim destacou o valor da solidariedade aprendida com a floresta, com os rios e com quem sempre cuidou desse ambiente. "Foi nesse chão que aprendi o que é ser solidário - com a natureza, com o povo, com a vida. A carta expressa isso com força: o valor da floresta, da biodiversidade e de quem cuida. A gente sente isso na pele. Essa floresta cuida de todos nós. Esse rio cuida de todos nós. E esse ambiente, hoje, está sendo maltratado."

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Com informações da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil)

Foto de capa: Divulgação/ REPAM-Brasil

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