From Indigenous Peoples in Brazil
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Total de povos isolados ainda é um mistério
05/09/2025
Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/
Total de povos isolados ainda é um mistério
Grupos vivem na imensidão da floresta sem contato com outras populações indígenas
05/09/2025
Yan Boechat
Apesar de ser o país com a maior concentração de povos indígenas isolados no mundo, o Brasil ainda não sabe o número exato de comunidades originárias que optaram por manter o isolamento. Os números divergem entre especialistas, organizações indígenas e até mesmo na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que ora diz haver 114 povos isolados, ora diz ser 115. Já a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirma ter pelo menos 120 deles no país. Todos concordam, porém, que só uma pequena parte tem sua existência efetivamente comprovada.
"É fundamental que eles sejam confirmados, porque se eles existem de fato, precisam de uma proteção do Estado para manterem o estilo de vida que escolheram", diz Tiago Moreira, antropólogo do Instituo Socioambiental. Segundo a Funai, hoje existem 28 povos cuja a existência é comprovada efetivamente, 26 que ainda estão em estudo e outros 60 povos de que se tem notícia, mas não há estudos concretos para sua comprovação.
Comprovar a existência dos povos isolados não é tarefa fácil. Quase todos esses grupos que se acredita existir estão na imensidão da Floresta Amazônica, vivendo de forma isolada e sem sequer estabelecer contato com outros povos indígenas. "Eles deixam marcas, rastros que, algumas vezes, são avisos de que não querem contato. Com isso pode-se ter a comprovação de que eles existem de fato e até mensurar o tamanho das comunidades", diz Moreira.
Em meados de 2024, a Funai conseguiu registrar a imagem de um grupo de isolados em Rondônia após mais de 40 anos de estudo. Com câmeras de monitoramento, presas nas árvores para registrar animais, conseguiram fotografias dos Massacos, que já dispõem de um Terra Indígena para preservação de sua cultura e povo.
As imagens só vieram a público no início desse ano. Mostram um grupo de Massacos chegando a uma região da floresta onde os antropólogos costumam deixar ferramentas para eles. O grupo fotografado é liderado por dois indivíduos mais velhos. Junto com eles estão quatro indígenas jovens, fortes e saudáveis, o que confirma a tese da Funai de que eles estão prosperando e a comunidade aumentando ao longos dos anos.
Nem sempre foi assim. Até 1987, a Funai tinha como estratégia estabelecer contatos pacíficos com os isolados. O resultado foi trágico. Mortes, introdução de novas doenças nas comunidades e pobreza. Foi então que a Funai decidiu mudar a estratégia e só estabelecer contato se os povos indígenas quisessem. O resultado, dizem antropólogos, tem sido extremamente positivo. Em vários desses povos há indícios de que as comunidades estão crescendo, apesar da expansão do desmatamento, do garimpo e da seca causada pelas mudanças climáticas. "Eles sofrem ameaças dos mais diferentes tipos, como desmatamento, grilagem, garimpo, empreendimentos e agronegócio descontrolado", diz o coordenador-geral de indígenas isolados e de recente contato da Funai, Marco Aurélio Milken Tosta.
O consenso entre antropólogos e mesmo indígenas é de que esses povos entendem que há um mundo para além de seu território, mas optam por se manterem distantes. "Existe crítica, em especial dos missionários evangélicos, de que a Funai criou uma redoma em torno desses indígenas. Não é verdade. Esses povos permanecem isolados porque eles querem e estão satisfeitos assim", afirma Beto Marubo, presidente da União dos Povos do Vale do Japari, no Amazonas, a região que se estima concentrar o maior número de isolados do país.
Beto Marubo sabe bem o que fala. O encontro dos Marubos com outros povos, em especial os não indígenas, foi traumático. O primeiro contato se deu ainda no fim do século XIX, quando um exército de homens invadiu a floresta em busca da borracha. Depois, vieram os missionários religiosos nas décadas de 1930 e 1940. "Foi ruim, roubaram as mulheres, mataram os homens e as doenças se espalharam. Essa é uma memória muito viva entre nós. Os Marubos aprendem sobre isso ainda crianças."
Os diversos povos que habitam o Vale do Javari vivem em uma área demarcada apenas para eles. Mas isso não significa que estão protegidos. Na região há pressões econômicas que envolvem a pesca, o tráfico de drogas e o desmatamento. Foi no Javari que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Don Phillips foram assasinados há três anos por um pescador de pirarucu com laços no tráfico de drogas. Moreira observa que o aquecimento global, com secas drásticas, redução de recursos, mudanças nos ciclos de chuva, é uma outra ameaça aos povos isolados.
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https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/amazonia/noticia/2025/09/05/total-de-povos-isolados-ainda-e-um-misterio.ghtml
Grupos vivem na imensidão da floresta sem contato com outras populações indígenas
05/09/2025
Yan Boechat
Apesar de ser o país com a maior concentração de povos indígenas isolados no mundo, o Brasil ainda não sabe o número exato de comunidades originárias que optaram por manter o isolamento. Os números divergem entre especialistas, organizações indígenas e até mesmo na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que ora diz haver 114 povos isolados, ora diz ser 115. Já a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirma ter pelo menos 120 deles no país. Todos concordam, porém, que só uma pequena parte tem sua existência efetivamente comprovada.
"É fundamental que eles sejam confirmados, porque se eles existem de fato, precisam de uma proteção do Estado para manterem o estilo de vida que escolheram", diz Tiago Moreira, antropólogo do Instituo Socioambiental. Segundo a Funai, hoje existem 28 povos cuja a existência é comprovada efetivamente, 26 que ainda estão em estudo e outros 60 povos de que se tem notícia, mas não há estudos concretos para sua comprovação.
Comprovar a existência dos povos isolados não é tarefa fácil. Quase todos esses grupos que se acredita existir estão na imensidão da Floresta Amazônica, vivendo de forma isolada e sem sequer estabelecer contato com outros povos indígenas. "Eles deixam marcas, rastros que, algumas vezes, são avisos de que não querem contato. Com isso pode-se ter a comprovação de que eles existem de fato e até mensurar o tamanho das comunidades", diz Moreira.
Em meados de 2024, a Funai conseguiu registrar a imagem de um grupo de isolados em Rondônia após mais de 40 anos de estudo. Com câmeras de monitoramento, presas nas árvores para registrar animais, conseguiram fotografias dos Massacos, que já dispõem de um Terra Indígena para preservação de sua cultura e povo.
As imagens só vieram a público no início desse ano. Mostram um grupo de Massacos chegando a uma região da floresta onde os antropólogos costumam deixar ferramentas para eles. O grupo fotografado é liderado por dois indivíduos mais velhos. Junto com eles estão quatro indígenas jovens, fortes e saudáveis, o que confirma a tese da Funai de que eles estão prosperando e a comunidade aumentando ao longos dos anos.
Nem sempre foi assim. Até 1987, a Funai tinha como estratégia estabelecer contatos pacíficos com os isolados. O resultado foi trágico. Mortes, introdução de novas doenças nas comunidades e pobreza. Foi então que a Funai decidiu mudar a estratégia e só estabelecer contato se os povos indígenas quisessem. O resultado, dizem antropólogos, tem sido extremamente positivo. Em vários desses povos há indícios de que as comunidades estão crescendo, apesar da expansão do desmatamento, do garimpo e da seca causada pelas mudanças climáticas. "Eles sofrem ameaças dos mais diferentes tipos, como desmatamento, grilagem, garimpo, empreendimentos e agronegócio descontrolado", diz o coordenador-geral de indígenas isolados e de recente contato da Funai, Marco Aurélio Milken Tosta.
O consenso entre antropólogos e mesmo indígenas é de que esses povos entendem que há um mundo para além de seu território, mas optam por se manterem distantes. "Existe crítica, em especial dos missionários evangélicos, de que a Funai criou uma redoma em torno desses indígenas. Não é verdade. Esses povos permanecem isolados porque eles querem e estão satisfeitos assim", afirma Beto Marubo, presidente da União dos Povos do Vale do Japari, no Amazonas, a região que se estima concentrar o maior número de isolados do país.
Beto Marubo sabe bem o que fala. O encontro dos Marubos com outros povos, em especial os não indígenas, foi traumático. O primeiro contato se deu ainda no fim do século XIX, quando um exército de homens invadiu a floresta em busca da borracha. Depois, vieram os missionários religiosos nas décadas de 1930 e 1940. "Foi ruim, roubaram as mulheres, mataram os homens e as doenças se espalharam. Essa é uma memória muito viva entre nós. Os Marubos aprendem sobre isso ainda crianças."
Os diversos povos que habitam o Vale do Javari vivem em uma área demarcada apenas para eles. Mas isso não significa que estão protegidos. Na região há pressões econômicas que envolvem a pesca, o tráfico de drogas e o desmatamento. Foi no Javari que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Don Phillips foram assasinados há três anos por um pescador de pirarucu com laços no tráfico de drogas. Moreira observa que o aquecimento global, com secas drásticas, redução de recursos, mudanças nos ciclos de chuva, é uma outra ameaça aos povos isolados.
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