From Indigenous Peoples in Brazil
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Indígenas da Amazônia rechaçam participação apenas simbólica na COP30

02/10/2025

Autor: Giovanny Vera

Fonte: Amazonia Real - https://amazoniareal.com.br



Cuiabá (MT) - Lideranças de países como Peru, Equador, Bolívia, Venezuela e Colômbia, articuladas pela Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), já construíram estratégias conjuntas para garantir uma voz ativa e resultados vinculantes na COP30, em Belém (PA). A principal missão é deixar claro que não haverá solução para a crise climática sem a participação e o protagonismo dos povos indígenas.

Um dos pontos de convergência nas falas das lideranças indígenas entrevistadas pela Amazônia Real é a defesa intransigente dos territórios. Para os povos originários da bacia amazônica, o reconhecimento, a titulação dos territórios e a segurança jurídica contra invasões, atividades ilícitas e projetos extrativistas sem consulta prévia e informada são fundamentais. Não por acaso, as declarações que permeiam o debate, tanto em reuniões locais quanto em manifestações internacionais, reproduzem a mesma mensagem: "Exigimos o reconhecimento e a titulação integral de nossos territórios ancestrais", declarou a liderança peruana Anoshka Irey Cameno, do povo Harabukt.

Esse pedido não é isolado. Organizações da Bolívia, Venezuela, Colômbia e Equador alinharam suas demandas em torno da necessidade de garantir aos povos indígenas o controle sobre seus territórios e o reconhecimento de seus direitos sobre estes. "Sem povos originários não há Amazônia viva, e sem Amazônia viva não há um futuro climático possível", decretou Marco Martínez, liderança da etnia Shuar e representante da Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (Confeniae).

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) acontecerá do dia 10 a 21 de novembro em Belém (PA), sendo a primeira vez que o Brasil sedia este importante evento global. A conferência reunirá representantes de mais de 190 países, líderes mundiais, cientistas, organizações da sociedade civil, organizações indígenas e atores diversos para discutir ações urgentes contra a crise climática.

Financiamento sem intermediação

Outra forte demanda é pela participação efetiva dos povos indígenas nas decisões sobre o futuro climático global. Para as lideranças, o envolvimento deles na COP30 não deve ser simbólico, mas real e vinculante.

"As decisões sobre os territórios [na COP] devem considerar diretamente as demandas e determinações dos povos indígenas" - Nazareth Flores, representante da Confederação de Povos Indígenas do Oriente Boliviano (Cidob).

A proposta indígena é garantir que suas vozes não sejam apenas ouvidas, mas que possam influenciar de maneira concreta as decisões tomadas, com a inclusão de propostas conjuntas entre governos e povos indígenas.

"Não se pode falar de soluções climáticas sem a participação ativa e vinculante dos povos indígenas", acrescentou Anoshka Cameno, porque os povos indígenas da Amazônia exigem espaço nas discussões e também voto real nas decisões que impactam diretamente o seu futuro e o da floresta. A pressão por uma maior inclusão é um reflexo da desconfiança com os mecanismos atuais, que ignoram as realidades e necessidades locais.

Outro tema recorrente nas falas das lideranças indígenas diz respeito ao financiamento climático. Segundo eles, muitos dos fundos destinados à proteção ambiental não chegam às comunidades devido a burocracias estatais e à intermediação de organizações que não têm um vínculo direto com as realidades locais. "Nossas demandas são que os recursos cheguem diretamente aos territórios, que não haja intermediários, que não chegue mediante os governos, que seja de forma direta" reforçou Tomás Candia, presidente da Cidob.

A desconfiança nos setores que fazem a intermediação dos apoios (tais como organizações não indígenas e instituições públicas) tem crescido, pois muitas vezes os recursos que são destinados às comunidades acabam sendo desviados ou diluídos em processos burocráticos, sem beneficiar efetivamente as populações locais, explicou Tomás. O argumento central é que a autonomia dos povos indígenas precisa ser garantida para que eles possam implementar projetos de forma eficiente, como alguns já vem fazendo.

Valorização dos saberes ancestrais

A valorização de seus saberes ancestrais é uma das reivindicações dos povos indígenas que serão levadas à COP em Belém. Com uma profunda conexão com o território e a Amazônia, as comunidades indígenas têm conhecimentos acumulados por milênios sobre como lidar com a biodiversidade e os ecossistemas.

Mas esses saberes, de acordo com as lideranças, são muitas vezes ignorados ou subestimados por governos e instituições. E é nesse ponto que as organizações indígenas concordam em que o reconhecimento dos saberes tradicionais deve fazer parte da estratégia para a solução eficaz da crise climática mundial. "Os povos indígenas reclamam o reconhecimento de seu aporte à conservação dos ecossistemas estratégicos para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas a partir do conhecimento tradicional", enfatizou Fany Kuiru Castro, coordenadora geral da Coica.

Esses saberes são entendidos como complementares às soluções tecnológicas convencionais e representam uma alternativa sustentável para a gestão do meio ambiente. Ao valorizar as práticas tradicionais, os povos indígenas buscam reafirmar sua posição como guardiões da floresta e, ao mesmo tempo, reforçar a necessidade de incluir esses conhecimentos nas políticas ambientais globais.

Seguindo o mesmo pensamento, as diferentes dinâmicas indígenas para a tomada de decisões e formas de governo fazem parte também dos saberes ancestrais, lembrou Eligio Dacosta, presidente da Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas (Orpia), da Venezuela. E essas experiências indígenas devem ser levadas em conta para solucionar a crise climática, disse.

Apoio para os menos culpados das mudanças climáticas

Uma das pautas que as lideranças incluirão nas discussões será sobre a justiça climática. A proposta é que os líderes mundiais reconheçam que as mudanças climáticas afetam de forma desigual as populações, onde as mais vulneráveis e marginalizadas -que são os que menos contribuíram para o problema- são os que mais sofrem as consequências.

Grandes países como China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão, que são os maiores causadores das mudanças climáticas, devem ser responsabilizados, e as populações que menos impactam devem receber apoio para sobreviver, acredita Anoskha. "Estamos entre os mais afetados, e a justiça climática que queremos implica apoio em projetos para a reparação e mitigação dos impactos", disse ela.

Para as lideranças indígenas, as consequências do modelo desenvolvimentista historicamente têm afetado as comunidades, por meio da exploração desenfreada de recursos naturais, a destruição da natureza e a poluição dos rios e territórios. E isso deve mudar, os países mais ricos agora devem financiar projetos que permitam cuidar e proteger o que resta da Amazônia, afirmou Nazareth Flores, e que sejam os indígenas os que os executem.

Rejeição ao modelo explorador

A crítica ao modelo desenvolvimentista explorador é um ponto comum entre as organizações indígenas. A proposta de desenvolvimento econômico de governos e grandes corporações tem sido, na maioria das vezes, sinônimo de destruição ambiental e perda de direitos territoriais. E os indígenas não os querem mais.

Os povos indígenas se opõem à expansão das atividades predatórias em seus territórios sem consulta nem consentimento, e devem seguir as normativas legais e acordos internacionais. "Já vimos que as empresas que chegaram aos territórios para extrair os recursos só nos deixaram prejuízo, e não queremos mais", disse Tomás Candia.

E como alternativa a este modelo se fala da transição energética, mas existem muitas dúvidas sobre o real conceito dessa "novidade". Por isso, uma das reivindicações é que a transição para fontes de energia sustentáveis e soluções alternativas não sacrifiquem os territórios indígenas, porque "não queremos um novo extrativismo que repete padrões coloniais já conhecidos", afirmou Anoshka.

Expectativas para Belém

Os povos indígenas têm grandes expectativas para a COP30 em Belém. A esperança é a de que a conferência seja um divisor de águas para a pauta indígena amazônica. A Coica vem trabalhando com as organizações indígenas amazônicas e propiciando debates nos países para chegar ao evento com uma agenda e demandas comuns e fortalecidas pelo movimento indígena unido.

De acordo com a Fany, da Coica, o melhor resultado da COP30 para os povos indígenas será o reconhecimento dos territórios e dos sistemas de saberes tradicionais como soluções fundamentais na luta global contra a crise climática, além do compromisso dos governos para o cumprimento de acordos historicamente ignorados.

Os indígenas são fundamentais "para a proteção não só do bioma amazônico, mas para a conservação da biodiversidade, a regulação do clima global, e para a continuidade da humanidade no nosso planeta", afirmou o líder venezuelano Eligio Dacosta, da Orpia. E a mobilização continuará intensa enquanto as organizações indígenas da Amazônia estejam dispostas, como agora estão, a lutar para garantir que as agendas dos povos originários se tornem parte das discussões globais, e das também das soluções.

https://amazoniareal.com.br/indigenas-da-amazonia-rechacam-participacao-apenas-simbolica-na-cop30/
 

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