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Mulheres lideram soluções climáticas e pedem mais financiamento na COP30

19/11/2025

Fonte: FSP- https://www1.folha.uol.com.br/



Mulheres lideram soluções climáticas e pedem mais financiamento na COP30
Cúpula da ONU premia projetos de combate à crise climática que são comandados por mulheres
Ativistas reclamam de dificuldade para ter acesso a verbas para as iniciativas

19/11/2025

Geovana Oliveira

Isabel Gakran foi a única mulher a discursar na Cúpula de Líderes da COP28, que aconteceu em Dubai. "Estava lá falando que eles são os culpados de tudo que está acontecendo", diz.

A indígena do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, é cofundadora e diretora ambiental do Instituto Zág, que está reflorestando a região com araucárias (zág, na língua na língua xokleng). Desde 2017, foram 140 mil mudas plantadas.

Na segunda-feira (17), estava com a filha de três anos, Zagtxo Kutxotahn Gakran, em uma premiação de soluções climáticas lideradas por mulheres. Ela foi uma das ganhadoras no ano passado.

O Gender Just Climate Solutions Awards Ceremony completou dez anos durante a COP30, onde premiou três mulheres por atividades de mitigação ou adaptação à mudança climática em seus próprios territórios.

"Soluções já existem e estão sendo feitas por mulheres", diz Ariesta Ningrun, diretora do CTCN (braço das Nações Unidas de tecnologia ambiental).

O primeiro prêmio do dia foi para um grupo de mulheres indígenas da Bolívia. Elas fazem a restauração ecológica do lago Uru Uru, onde a poluição causada pela mineração e resíduos da cidade de Oruro destruíram a fonte de água potável da comunidade.

As mulheres, então, começaram a utilizar balsas feitas de plástico reciclado para combater a contaminação. As balsas contêm totora (Schoenoplectus californicus), uma planta aquática nativa conhecida pela sua eficácia na absorção de metais pesados e outros poluentes.

"Combinamos a sabedoria dos nossos ancestrais usando plantas nativas e alinhando conhecimentos nativos a tecnologia", diz Tatiana Miajela Quiroga, indígena aymara.

Cada vencedora recebeu US$ 5.000 e suporte técnico da WECF (Mulheres Se Engajam por um Futuro Comum, na sigla em inglês), organizadora do evento, para continuar as empreitadas.
Logo depois da premiação, em uma outra sala de eventos paralelos na zona azul, espaço diplomático da COP, mais mulheres falavam sobre seus feitos de soluções climáticas. Dessa vez, reclamando também da falta de financiamento.

"O que está faltando não é liderança de mulheres ou de indígenas, é o trabalho político de escalar o que já estamos fazendo", diz Zukiswa White, assessora de gênero da Fenmet (Rede de Desenvolvimento e Comunicação das Mulheres Africanas, na sigla em inglês), na África do Sul.

White pediu pela inclusão de apoio técnico a mulheres na agenda de transição justa da COP30 e por uma simplificação no financiamento climático para mulheres de organizações de base. Segundo ela, essa deve ser a discussão de gênero na conferência de clima da ONU, não a definição conceitual do que é ou não gênero. "As soluções estão aqui, nessas salas, a pergunta é se vão ouvir".

As mulheres de diferentes países, do Brasil à República do Congo, afirmam que estão na linha de frente da crise climática e, como a elas cabe o papel de cuidado, são as primeiras também a encontrar formas de lidar com o fenômeno ou de lutar contra medidas que destroem o meio ambiente.

Diferentes dados mostram que as mulheres são mais impactadas pelas mudanças climáticas em geral -elas são reconhecidas pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) como um dos grupos mais vulneráveis à crise.

Segundo a ONU, por exemplo, quando desastres climáticos extremos ocorrem, mulheres e crianças têm 14 vezes mais probabilidade de morrer do que os homens, principalmente devido ao acesso limitado à informação, à mobilidade restrita, à capacidade de tomada de decisões e aos recursos limitados.

Além disso, após o desastre, principalmente em áreas rurais, mulheres e meninas são frequentemente responsáveis por garantir alimentos, água e lenha para suas famílias.

"Historicamente, mulheres são as responsáveis por cuidar do território, o que temos feito. Quando falamos de apoio financeiro, além da reparação histórica, que sabemos que precisamos, falamos de uma solução para nosso povo e para o planeta", diz a liderança indígena Lídia Guajajara, responsável pelo reflorestamento na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão.

Eriel Deranger, presidente da Ação Climática Indígena no Canadá, critica até mesmo o investimento da presidência da COP30 no TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre), que é um novo mecanismo financeiro global para financiar a conservação de florestas tropicais, administrado pelo Banco Mundial.

"Nós não precisamos de bancos multilaterais, queremos que confiem que já estamos fazendo o que é necessário", diz Deranger.

A WECF pede que o financiamento climático tenha foco na igualdade de gênero, a partir de alocamento de recursos financeiros específicos para projetos liderados por mulheres, criação de mecanismos de financiamento que garantam a participação feminina nos processos de tomada de decisão e capacitação das líderes femininas através de programas de treinamento.

Concita Sõpré, co-fundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, no Pará, disse ainda que as mulheres de seu território sofrem com assédio sexual em locais invadidos pelo garimpo e, devido à contaminação por mercúrio, muitas têm ficado infértil.

"As mulheres colocam vida e corpo para defender território de madeiras e mineração, e continuamos sendo ignoradas nessas conversas", diz Concita.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/11/mulheres-lideram-solucoes-climaticas-e-pedem-mais-financiamento-na-cop30.shtml
 

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