From Indigenous Peoples in Brazil
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News
O comércio de minerais críticos: a rota ilegal que conecta a Amazônia à China
29/11/2025
Autor: Por Bram Ebus
Fonte: InfoAmazonia - https://infoamazonia.org
Foi tecida uma complexa rede de atores em torno dos minerais críticos da Amazônia. Alguns operam em corredores fluviais disputados, negociando com organizações guerrilheiras e forças da ordem corruptas. Outros, sob uma fachada de legalidade, movimentam grandes quantidades de material através de enormes cidades portuárias conectadas às rotas do comércio internacional, em uma série de operações que põem em risco o meio ambiente e a soberania dos países.
A areia cinza-escura e as pequenas pedras peneiradas dos sedimentos fluviais e extraídas de buracos perfurados na Amazônia têm valor desconhecido para as comunidades locais, mas são rapidamente enviadas ao exterior, onde as refinarias chinesas processam uma grande variedade de minerais e terras raras.
Na Venezuela, boa parte da produção mineral é coletada inicialmente em centros operados pela Corporação Venezuelana de Mineração (CVM). Os centros de coleta de cassiterita e coltan em Los Pijiguaos e Morichalito, duas comunidades vizinhas localizadas no estado de Bolívar, foram estabelecidos somente em 2023, depois que o governo venezuelano designou a cassiterita, o níquel, o ródio, o titânio e outros minerais relacionados a terras raras como recursos estratégicos para exploração, extração e comercialização.
Em Morichalito, dez centros de coleta identificados com o logotipo da CVM continuam ativos; dois deles possuem registros de exportação para a China e os Estados Unidos.
De acordo com informações fornecidas pela plataforma de comércio Sicex e pela empresa de transparência Sayari, também foram exportadas grandes quantidades de concentrado de estanho pelos portos de La Guaira, perto de Caracas, e um carregamento significativo de 120 toneladas de concentrado de nióbio, tântalo e vanádio, utilizados na indústria de mineração, foi enviado via Maracaibo, no estado de Zulia, para a Índia em 2023.
Algumas exportações para a China foram identificadas a partir dos centros de coleta registrados na CVM. O Grupo Orinoco Global, registrado em Puerto Ordaz, enviou minerais para a Ganzhou Ainuodeng Electronic, na China, e a Inv. Mineral & Lab C.A. exportou cassiterita à China (C&D Logistics, em Qingdao) CO. LTD e à Traxys Europe S.A.
Grupos guerrilheiros também compram e transportam esses minerais, muitas vezes trabalhando em conjunto com aqueles descritos pelos garimpeiros venezuelanos como compradores "chineses".
Um jovem mineiro garante: "Quando eu estava lá, eu trabalhava com estanho. Os compradores também estão lá: os mesmos grupos irregulares, a guerrilha e os chineses".
Esse depoimento foi repetido por outros. "Os chineses também compram pedras; estão todos juntos, os chineses e os elenos [do ELN]. Não é segredo para ninguém, porque somos garimpeiros. Estão lá com eles. Eu acho que são as mesmas pessoas, porque comem juntos, compram materiais juntos e descem do helicóptero juntos", explica um homem que foi garimpeiro a vida toda e trabalha no município de Cedeño, na Venezuela.
A República Popular da China detém atualmente 91% da capacidade de processamento de elementos de terras raras. Elas são encontradas em muitos países, mas seu processamento é tecnicamente difícil, caro e poluente. A China investiu décadas no desenvolvimento dessa capacidade de refino, o que confere ao país um enorme poder geopolítico: mesmo que extraiam terras raras, os outros países precisam enviá-las para a China para ser processadas.
"Eu sei que em Carlos Lata estão levando por tonelada", continua. Ele também admitiu ter trabalhado para o ELN, transportando minerais através da fronteira. "Eu vi de tudo na Colômbia, trabalhei lá, ajudei a carregar coisas no ombro ou com um guaya [arame grosso de aço], para encher as canoas. Toneladas. Eu carreguei as canoas com toneladas, 15 toneladas, 20 toneladas em uma canoa. Eu ganhei dinheiro, às vezes, quando tem... você tem que fazer."
Em território venezuelano, as forças estatais do país supostamente cooperam com a guerrilha colombiana e ficam com sua parte do negócio ilegal. "Aí são todos, porque há membros da Guarda Nacional envolvidos", afirma um dos garimpeiros.
"Tem a Guarda Nacional ou o exército, a marinha venezuelana e a guerrilha... como se todos trabalhassem para as mesmas pessoas, entende? Então ninguém persegue o outro. É como se a guerrilha pagasse uma porcentagem para eles. É isso que acontece", diz um morador da região.
Outro garimpeiro descreve o transporte: "O próprio governo transporta de carro. O SEBIN [Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional] usa um carro branco sem placa que diz 'somente para uso oficial'. Tem transporte para tudo: coltan, estanho, ouro."
Nem todos os minerais extraídos na Venezuela passam pelos portos de saída oficiais do país, onde o negócio é administrado por empresas estatais venezuelanas e investidores estrangeiros. Aqueles que buscam uma fatia maior do comércio de minerais, incluindo comandantes guerrilheiros colombianos, funcionários públicos ambiciosos e comerciantes, contrabandeiam os minerais através da Colômbia ou por rotas alternativas que dependem das redes de transporte aéreo, incluindo aeroportos, membros de comunidades locais e operações de fundição.
Na Colômbia, os métodos de transporte de minerais variam muito, dependendo das condições sazonais e da geografia. Durante os períodos de chuvas, eles são transportados principalmente por rios, através de hidrovias interiores que se conectam a estradas não pavimentadas que levam a municípios maiores como Puerto Gaitán, localizado no departamento de Meta, antes de seguir para Bogotá.
Da Venezuela, a rota cruza o Orinoco, entra nos rios em direção ao interior da Colômbia e, de lá, segue por terra, passando por Santa Rita, no município de Cumaribo, uma área maior do que a Holanda, e finalmente se conecta a Puerto Gaitán por uma estrada conhecida como "La 48".
Traficantes e comerciantes empregam métodos de ocultação ao longo dessas rotas terrestres. Areias pesadas contendo minerais são escondidas sob grossas camadas de areia comum em caminhões, dificultando sua detecção durante inspeções de rotina.
Em uma operação conjunta, as forças policiais colombianas apreenderam mais de 400 kg de metais fundidos em Santa Rita. Foram encontrados 29 lingotes de estanho, 36 sacos contendo material com alto teor desse mineral e equipamentos de fundição. Os testes indicaram que o material apreendido tinha entre 80% e 90% de estanho. Os detidos seriam membros da rede de apoio à Frente José Daniel Pérez Carrero, do grupo armado GAO-ELN, e foram entregues às autoridades competentes.
Antes da exportação, os minerais venezuelanos são processados em diversas localidades da Colômbia. Bogotá abriga várias operações que fundem tântalo e estanho em barras, transformando rochas brutas em metais refinados que são mais fáceis de exportar e mais difíceis de rastrear até sua origem ilícita. Em um caso investigado no departamento de Vichada, as autoridades apreenderam uma barra contendo 80% de estanho e 20% de elementos de terras raras.
Puerto Carreño surgiu como outro importante centro de processamento. Como apontou um investidor do setor de mineração: "É por isso que há um fenômeno acontecendo agora em Puerto Carreño: estão surgindo fundições, fundindo estanho, extraindo metal, e a polícia não faz nada."
A etapa final envolve os exportadores nos portos marítimos internacionais da Colômbia, principalmente os de Santa Marta e Buenaventura. Em vez de declarar os materiais segundo as classificações tarifárias apropriadas, os exportadores processam os minerais e os exportam como ferro-tântalo, por exemplo, alterando efetivamente a classificação de minério bruto para material processado. Essa transformação aumenta o valor e reduz a fiscalização. Uma autoridade colombiana de fiscalização reclamou dos mais de 40 códigos alfandegários que poderiam ser usados.
"Isso vai se voltar contra nós, porque é algo enorme", alertou. "A fiscalização disso na DIAN [Diretoria Nacional de Impostos e Alfândegas] é ridícula", disse ele, referindo-se à falta de conhecimento e capacidade para reconhecer minerais críticos nos portos de saída da Colômbia.
Essas operações de contrabando são respaldadas por sofisticadas redes financeiras montadas para evitar a detecção. Pequenas transações financeiras entre cidades como Medellín, Bogotá e Villavicencio são mantidas deliberadamente abaixo de 10 milhões de pesos colombianos (US$ 2.500) para não atingir os limites de detecção pelas autoridades. Um funcionário da inteligência colombiana estima margens de lucro entre 5.000% e 10.000%, comparando a economia a "comprar um iPhone por 100 mil pesos [US$ 25]".
GRACOR
Autoridades de fiscalização, representantes comunitários, garimpeiros e comerciantes de minerais coincidem em identificar a Gracor como uma das empresas facilitadoras envolvidas na orquestração desse comércio ilegal. De acordo com fontes que solicitaram anonimato por motivos de segurança, a empresa mantém relações diretas em toda a rede criminosa, desde o ELN e a Segunda Marquetalia (facção dissidente das antigas FARC) até garimpeiros individuais e funcionários do governo venezuelano.
Segundo um traficante de minerais venezuelano entrevistado pela Amazon Underworld, "os ilegais compram e vendem para essas pessoas... A Gracor não financia o recurso; são os grupos irregulares que lidam com o dinheiro e negociam com eles. O que nós fazemos é entregar a mercadoria a esses grupos, e eles cuidam da negociação com a empresa colombiana."
Para legitimar os minerais provenientes da Venezuela, os comerciantes empregam sofisticados esquemas de fraude documental. Eles usam documentos de garimpeiros de subsistência, muitas vezes membros de comunidades indígenas, fazendo parecer que os materiais foram extraídos na Colômbia, em vez de contrabandeados da Venezuela. Essa prática explora o solo e os recursos venezuelanos, os direitos tradicionais de mineração dos povos indígenas e os esforços do governo colombiano para formalizar a mineração em pequena escala.
Apesar das frequentes apreensões, muitos dos carregamentos de minerais confiscados permanecem em um limbo jurídico durante meses. Vários acabaram sendo devolvidos aos comerciantes por supostas irregularidades processuais e erros administrativos. Funcionários de quatro órgãos estatais citaram tanto a suspeita de corrupção quanto a capacitação insuficiente do pessoal de campo como fatores que contribuem para esses fracassos. Lina Beatriz Franco, presidente da Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pela gestão dos recursos minerais na Colômbia, admitiu, de forma geral, a falta de capacidade para diferenciar extração legal e ilegal, referindo-se às areias negras.
A Gracor registrou um lucro líquido de mais de 311 milhões de pesos (US$ 81 mil) em 2024, segundo documentos apresentados à Câmara de Comércio de Bogotá, o que representa um aumento de 257 milhões de pesos (US$ 67 mil) nos últimos três anos (2022-2024). Isso equivale a um crescimento de 479,62% nos lucros, confirmando que a empresa não apenas aumentou suas vendas, mas também melhorou significativamente sua rentabilidade líquida. Além disso, durante o mesmo período, registrou um crescimento de vendas superior a 14,7 bilhões de pesos (US$ 3,8 milhões).
Em 2023, a International Company Gracor SAS realizou duas operações de exportação de concentrado de estanho, totalizando 45.890 kg, de acordo com a plataforma de negociação SICEX. Em 2024, a empresa executou nove transações de exportação, totalizando 248.342,7 kg. Durante os dois primeiros meses de 2025, foram concluídas mais três operações de exportação, totalizando 81.479 kg. Nesse período de três anos, todas as exportações foram destinadas à BLUEQUEST RESOURCES AG, na China. Cabe ressaltar que, embora opere naquele país, essa empresa destinatária tem sede em Baar, na Suíça, com escritórios em Xangai. De acordo com o site da empresa, a BLUEQUEST RESOURCES AG é um grupo líder em comércio de matérias-primas, especializado no comércio físico global de metais refinados, minerais e concentrados de metais não ferrosos e preciosos.
A Gracor nega todas as alegações. Segundo Alfonso Graffe, o representante legal que se reuniu com a Amazon Underworld no salão de uso comum de um prédio no norte de Bogotá, os minerais que a empresa compra (óxido de estanho) vêm de reservas indígenas e são produto da mineração de subsistência. No entanto, Idárraga afirma que "isso não é para subsistência", referindo-se ao estanho.
Camave
Em março de 2021, o Exército colombiano apreendeu 6.176 kg de minerais estratégicos no rio Guaviare, no departamento de Guainía, que estavam sendo transportados a bordo da embarcação "José Abel". O material incluía 196 sacos de coltan (columbita e tantalita) e 51 sacos de concentrado de estanho. Análises realizadas nas amostras pelo Serviço Geológico Colombiano também detectaram urânio, um elemento usado em componentes eletrônicos e armamento nuclear.
O mineral pertencia à Camave SAS, registrada em Bogotá em 2018 e dedicada à importação e à comercialização de minerais. A empresa movimentava minerais sem licenças legais para extração, usando fraudulentamente uma solicitação de formalização de mineração tradicional que havia sido rejeitada em 2019 e cujo titular havia falecido. As autoridades não conseguiram confirmar nenhuma atividade de mineração visível nas zonas de extração declaradas, tendo feito inclusive sobrevoos e análises por satélite da área.
O operador logístico da Camave SAS coletava minerais de comunidades indígenas ao longo dos rios Inírida e Guainía (Huecitos, Guamirza, San José, Vaquiro, Berrocal e Maimachí), onde o material provavelmente era comprado por quantias irrisórias e sem garantias trabalhistas, segundo documentaram as autoridades, que determinaram que o mineral muito provavelmente se originou do ELN e do grupo dissidente das FARC, Acacio Medina, ambos atuantes na tríplice fronteira entre os departamentos de Vaupés, Guainía e Vichada (Colômbia) e o estado do Amazonas (Venezuela).
A operação foi financiada pela Mine Tres Inc., empresa sediada em Miami e pertencente ao cidadão estadunidense Dan Boiangin, que fez um investimento inicial de US$ 300 mil. O acordo estipulava uma divisão de lucros de 80% para a Mine Tres Inc. e 20% para a Camave SAS. Apesar da apreensão de 2021, a Camave SAS continuou exportando minerais até 2023, tendo a China como principal destino.
Em maio de 2025, foi decretada a extinção de domínio sobre as seis toneladas de minerais e a embarcação. Em março de 2025, Ricardo Barrantes Balcázar, representante legal substituto, foi condenado a 14 anos de prisão por enriquecimento ilícito, formação de quadrilha, falsidade ideológica, exploração ilegal de jazida mineral, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. O processo contra Carolina Vargas Godoy, representante legal principal, encontra-se em fase de investigação.
A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
Diferentemente dos labirintos jurídicos da Colômbia e do cenário conflituoso dos minerais críticos na Venezuela, o Brasil, que também possui comunidades indígenas deslocadas ou afetadas pela mineração e por grupos armados, é um país onde há ampla informação geológica. Em 1970, surgiu o Projeto RADAM, cujo lema era "Integrar para não entregar". Naquele contexto, a tecnologia de radar militar foi usada para mapear sistematicamente os depósitos minerais e os recursos naturais da Amazônia. Esse mapeamento abriu a região a garimpeiros e investidores, fornecendo ao Brasil os mapas metalúrgicos detalhados que, em certa medida, o diferenciam de outros países amazônicos atualmente.
A 100 km de Belém, capital do estado do Pará e sede da COP30 em 2025, está Barcarena. Nas últimas quatro décadas, a cidade se caracterizou pela expansão de seu polo industrial de alumínio e do complexo portuário Vila do Conde. Essa transformação remodelou a paisagem urbana e fez com que a cidade girasse em torno do porto e da mineração. Em três décadas, sua população se multiplicou mais de sete vezes, passando de 17 mil habitantes em 1970 para aproximadamente 127 mil em 2020. A mudança é visível para os recém-chegados: o tráfego de caminhões é intenso e atravessa bairros onde placas dizendo "rota de evacuação" alertam para o risco de acidentes com barragens, reflexo da presença de mineradoras.
Entre janeiro e junho deste ano, o Complexo Portuário de Vila do Conde movimentou 11,5 milhões de toneladas de carga, principalmente produtos químicos inorgânicos (27%), incluindo minerais como bauxita e soja. Fora da entrada do porto, a realidade é mais dura. A sensação é de que a poeira avermelhada da bauxita, da qual se extrai o alumínio, cobre ruas e casas; e em dias de chuva, a água pode causar queimaduras na pele.
Segundo Moisés Sousa Lopes, presidente do Sindicato dos Estivadores e Trabalhadores em Estiva de Minérios do Estado do Pará (Setemep), o complexo portuário emprega cerca de 10 mil pessoas, incluindo 350 estivadores. "O nosso trabalho consiste em carregar e descarregar mercadorias nos porões dos navios. Nós organizamos a carga que entra e retiramos a que chega. Tudo que entra e sai pela água passa pelas nossas mãos", afirmou.
Mas Lopes parece alheio ao cenário de "transição energética". "O que entendemos do que fazemos aqui é que a mineração não só atende ao setor energético, como também gera receita para o Brasil. Porque o minério é transportado até aqui pelos rios interiores e retorna como alumínio para exportação. É bidirecional. Funciona para o setor energético e também para as receitas, para o governo e para a Albras [maior produtora de alumínio primário do Brasil], por meio da carga, que é o alumínio exportado para a China."
No entanto, a extração ilegal de cassiterita na Terra Indígena Yanomami, no estado de Roraima, é feita em redes administradas por investidores externos, por exemplo, do estado de Rondônia, que fornecem documentação falsificada para legitimar o comércio. A escala das operações é considerável, com um volume estimado de cerca de seis toneladas saindo por transporte fluvial e envios de helicóptero de até 10 mil quilos de minério, que atinge preços entre 60 e 70 reais (US$ 13) por quilo na cidade de Manaus.
O comércio foi tão normalizado que até motoristas de Uber em Roraima são contratados para transportar sacos de concentrado de cassiterita, ilustrando o quanto essas atividades ilegais estão profundamente enraizadas nas economias locais. Segundo um funcionário da inteligência brasileira, alguns dos garimpos estão localizados em áreas controladas pela facção criminosa multinacional Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. "Há extração de cassiterita em vários pontos dentro da Terra Indígena, incluindo áreas controladas pelo PCC em Waikás, Alto Uraricoera."
O envolvimento de grupos do crime organizado transformou o comércio de cassiterita em uma operação de segurança mais complexa. As autoridades brasileiras relatam que facções criminosas não apenas controlam as áreas de mineração, mas também prestam serviços de proteção aos garimpeiros, ao mesmo tempo em que mantêm a propriedade de áreas, estruturas e armas específicas. Como observou uma autoridade da fiscalização, "Existem áreas e estruturas que pertencem aos membros do crime organizado. Eles vendem segurança." Também parece haver áreas, estruturas e armas que pertencem à facção criminosa como um todo. As autoridades federais responderam com a Operação Ouro Negro, voltada a combater a fraude na concessão de licenças ambientais que permite esse comércio ilegal. A operação desmantelou um esquema envolvendo a Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) para facilitar a concessão de licenças ambientais irregulares destinadas à lavagem de minerais extraídos ilegalmente. Em setembro de 2025, a Polícia Federal brasileira executou 13 mandados de busca e apreensão em Roraima, Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro, resultando no congelamento de mais de 265 milhões de reais em ativos e na suspensão das atividades econômicas de empresas.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a demanda por minerais críticos deverá quadruplicar até 2040, intensificando a concorrência geopolítica. A China está aproveitando seu domínio no processamento de minerais por meio de controles de exportação. Os Estados Unidos estão se apressando para reconstruir suas cadeias de fornecimento domésticas após décadas de negligência. E a União Europeia implementou seu Regulamento de Matérias-Primas Críticas para garantir independência estratégica. Esses materiais se tornaram o foco de uma nova concorrência global na qual se cruzam poder tecnológico, segurança econômica e influência geopolítica.
Em meio à intensificação da concorrência pelas cadeias de fornecimento de minerais, a Amazônia poderá se tornar, em breve, a linha de frente da transição energética, onde atores ilícitos e empresas superam governos e pesquisadores, exacerbando conflitos entre a demanda por recursos, os direitos indígenas e a proteção do meio ambiente.
O domínio atual da China sobre os elementos de terras raras se tornou uma questão geopolítica fundamental. Em abril, como retaliação às tarifas dos Estados Unidos, Pequim impôs restrições à exportação, usando como arma os recursos essenciais para a defesa, os veículos elétricos e as indústrias de energia renovável.
O mercado de terras raras e minerais críticos experimentou aumentos significativos de preços, impulsionados pelas restrições de oferta da China, pela demanda por veículos elétricos, pela escassez de estoques e pelos controles de exportação impostos pela China em abril, sobre sete elementos críticos.
O mercado passou de ciclos especulativos a uma demanda estrutural impulsionada pela transição energética mundial e pela eletrificação do transporte. As vendas globais de veículos elétricos foram de aproximadamente um milhão de unidades em 2017 para 17,1 milhões em 2024, gerando uma demanda nunca vista por elementos de terras raras usados em motores e baterias dos veículos elétricos.
Essa escalada desencadeou uma corrida global para diversificar o fornecimento, com os países ocidentais buscando produtores alternativos na África e no Sudeste Asiático. O acesso a esses materiais passou a ser uma prioridade geopolítica, bem como uma necessidade econômica, afetando setores que vão desde eletrônicos de consumo até a produção para a defesa.
O paradoxo é evidente: enquanto os países competem para atingir seus objetivos de desenvolvimento e energia limpa, a extração de minerais essenciais devasta comunidades e ecossistemas na Amazônia. Isso conecta a dinâmica do mercado global e os consumidores em todo o mundo ao destino das populações amazônicas e um dos mais importantes reguladores climáticos da Terra.
Em seu estado atual, a extração de minerais críticos não só destrói o ambiente natural, como também financia a violência e grupos armados que constam das listas internacionais de terroristas em áreas onde o setor é mais conflituoso, como a Venezuela. Enquanto isso, particularmente no Brasil, as empresas estão tendo acesso a licenças legais de mineração em terras indígenas dentro de áreas de floresta tropical. A pressão exercida pela mineração é imensa. Pelo menos 188 terras indígenas estão impactadas por 1.286 processos de mineração que são críticos ou essenciais para a transição energética. Das dez terras indígenas mais pressionadas, oito estão localizadas no estado do Pará, uma no Amazonas e uma em Roraima.
Zonas de sacrifício na Amazônia para construir um futuro mais sustentável: um paradoxo tão irônico que acaba sendo inevitável. Esta história conecta comunidades remotas da Amazônia a consumidores globais por meio dos smartphones em seus bolsos e dos veículos elétricos em suas garagens.
Enquanto a comunidade de Chorrobocón se encontra numa encruzilhada entre o ouro e os minerais críticos, buscando se formalizar, mas condenada a operar ilegalmente, na Venezuela pioram as violações dos direitos humanos e no Brasil, as multinacionais entram com força total, Juan Guillermo García, o investidor de mineração por trás do Minastyc na Colômbia, enfatiza: "Lembrem-se de que estamos na Quarta Revolução Industrial, que é a da tecnologia. E o que você precisa para a tecnologia? As matérias-primas." Diante da pergunta sobre o que acontecerá se ninguém colocar ordem no setor, ele dá um sorriso leve e diz: "Bem-vindos ao Novo Congo da América Latina."
https://infoamazonia.org/2025/11/29/o-comercio-de-minerais-criticos-a-rota-ilegal-que-conecta-a-amazonia-a-china/
A areia cinza-escura e as pequenas pedras peneiradas dos sedimentos fluviais e extraídas de buracos perfurados na Amazônia têm valor desconhecido para as comunidades locais, mas são rapidamente enviadas ao exterior, onde as refinarias chinesas processam uma grande variedade de minerais e terras raras.
Na Venezuela, boa parte da produção mineral é coletada inicialmente em centros operados pela Corporação Venezuelana de Mineração (CVM). Os centros de coleta de cassiterita e coltan em Los Pijiguaos e Morichalito, duas comunidades vizinhas localizadas no estado de Bolívar, foram estabelecidos somente em 2023, depois que o governo venezuelano designou a cassiterita, o níquel, o ródio, o titânio e outros minerais relacionados a terras raras como recursos estratégicos para exploração, extração e comercialização.
Em Morichalito, dez centros de coleta identificados com o logotipo da CVM continuam ativos; dois deles possuem registros de exportação para a China e os Estados Unidos.
De acordo com informações fornecidas pela plataforma de comércio Sicex e pela empresa de transparência Sayari, também foram exportadas grandes quantidades de concentrado de estanho pelos portos de La Guaira, perto de Caracas, e um carregamento significativo de 120 toneladas de concentrado de nióbio, tântalo e vanádio, utilizados na indústria de mineração, foi enviado via Maracaibo, no estado de Zulia, para a Índia em 2023.
Algumas exportações para a China foram identificadas a partir dos centros de coleta registrados na CVM. O Grupo Orinoco Global, registrado em Puerto Ordaz, enviou minerais para a Ganzhou Ainuodeng Electronic, na China, e a Inv. Mineral & Lab C.A. exportou cassiterita à China (C&D Logistics, em Qingdao) CO. LTD e à Traxys Europe S.A.
Grupos guerrilheiros também compram e transportam esses minerais, muitas vezes trabalhando em conjunto com aqueles descritos pelos garimpeiros venezuelanos como compradores "chineses".
Um jovem mineiro garante: "Quando eu estava lá, eu trabalhava com estanho. Os compradores também estão lá: os mesmos grupos irregulares, a guerrilha e os chineses".
Esse depoimento foi repetido por outros. "Os chineses também compram pedras; estão todos juntos, os chineses e os elenos [do ELN]. Não é segredo para ninguém, porque somos garimpeiros. Estão lá com eles. Eu acho que são as mesmas pessoas, porque comem juntos, compram materiais juntos e descem do helicóptero juntos", explica um homem que foi garimpeiro a vida toda e trabalha no município de Cedeño, na Venezuela.
A República Popular da China detém atualmente 91% da capacidade de processamento de elementos de terras raras. Elas são encontradas em muitos países, mas seu processamento é tecnicamente difícil, caro e poluente. A China investiu décadas no desenvolvimento dessa capacidade de refino, o que confere ao país um enorme poder geopolítico: mesmo que extraiam terras raras, os outros países precisam enviá-las para a China para ser processadas.
"Eu sei que em Carlos Lata estão levando por tonelada", continua. Ele também admitiu ter trabalhado para o ELN, transportando minerais através da fronteira. "Eu vi de tudo na Colômbia, trabalhei lá, ajudei a carregar coisas no ombro ou com um guaya [arame grosso de aço], para encher as canoas. Toneladas. Eu carreguei as canoas com toneladas, 15 toneladas, 20 toneladas em uma canoa. Eu ganhei dinheiro, às vezes, quando tem... você tem que fazer."
Em território venezuelano, as forças estatais do país supostamente cooperam com a guerrilha colombiana e ficam com sua parte do negócio ilegal. "Aí são todos, porque há membros da Guarda Nacional envolvidos", afirma um dos garimpeiros.
"Tem a Guarda Nacional ou o exército, a marinha venezuelana e a guerrilha... como se todos trabalhassem para as mesmas pessoas, entende? Então ninguém persegue o outro. É como se a guerrilha pagasse uma porcentagem para eles. É isso que acontece", diz um morador da região.
Outro garimpeiro descreve o transporte: "O próprio governo transporta de carro. O SEBIN [Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional] usa um carro branco sem placa que diz 'somente para uso oficial'. Tem transporte para tudo: coltan, estanho, ouro."
Nem todos os minerais extraídos na Venezuela passam pelos portos de saída oficiais do país, onde o negócio é administrado por empresas estatais venezuelanas e investidores estrangeiros. Aqueles que buscam uma fatia maior do comércio de minerais, incluindo comandantes guerrilheiros colombianos, funcionários públicos ambiciosos e comerciantes, contrabandeiam os minerais através da Colômbia ou por rotas alternativas que dependem das redes de transporte aéreo, incluindo aeroportos, membros de comunidades locais e operações de fundição.
Na Colômbia, os métodos de transporte de minerais variam muito, dependendo das condições sazonais e da geografia. Durante os períodos de chuvas, eles são transportados principalmente por rios, através de hidrovias interiores que se conectam a estradas não pavimentadas que levam a municípios maiores como Puerto Gaitán, localizado no departamento de Meta, antes de seguir para Bogotá.
Da Venezuela, a rota cruza o Orinoco, entra nos rios em direção ao interior da Colômbia e, de lá, segue por terra, passando por Santa Rita, no município de Cumaribo, uma área maior do que a Holanda, e finalmente se conecta a Puerto Gaitán por uma estrada conhecida como "La 48".
Traficantes e comerciantes empregam métodos de ocultação ao longo dessas rotas terrestres. Areias pesadas contendo minerais são escondidas sob grossas camadas de areia comum em caminhões, dificultando sua detecção durante inspeções de rotina.
Em uma operação conjunta, as forças policiais colombianas apreenderam mais de 400 kg de metais fundidos em Santa Rita. Foram encontrados 29 lingotes de estanho, 36 sacos contendo material com alto teor desse mineral e equipamentos de fundição. Os testes indicaram que o material apreendido tinha entre 80% e 90% de estanho. Os detidos seriam membros da rede de apoio à Frente José Daniel Pérez Carrero, do grupo armado GAO-ELN, e foram entregues às autoridades competentes.
Antes da exportação, os minerais venezuelanos são processados em diversas localidades da Colômbia. Bogotá abriga várias operações que fundem tântalo e estanho em barras, transformando rochas brutas em metais refinados que são mais fáceis de exportar e mais difíceis de rastrear até sua origem ilícita. Em um caso investigado no departamento de Vichada, as autoridades apreenderam uma barra contendo 80% de estanho e 20% de elementos de terras raras.
Puerto Carreño surgiu como outro importante centro de processamento. Como apontou um investidor do setor de mineração: "É por isso que há um fenômeno acontecendo agora em Puerto Carreño: estão surgindo fundições, fundindo estanho, extraindo metal, e a polícia não faz nada."
A etapa final envolve os exportadores nos portos marítimos internacionais da Colômbia, principalmente os de Santa Marta e Buenaventura. Em vez de declarar os materiais segundo as classificações tarifárias apropriadas, os exportadores processam os minerais e os exportam como ferro-tântalo, por exemplo, alterando efetivamente a classificação de minério bruto para material processado. Essa transformação aumenta o valor e reduz a fiscalização. Uma autoridade colombiana de fiscalização reclamou dos mais de 40 códigos alfandegários que poderiam ser usados.
"Isso vai se voltar contra nós, porque é algo enorme", alertou. "A fiscalização disso na DIAN [Diretoria Nacional de Impostos e Alfândegas] é ridícula", disse ele, referindo-se à falta de conhecimento e capacidade para reconhecer minerais críticos nos portos de saída da Colômbia.
Essas operações de contrabando são respaldadas por sofisticadas redes financeiras montadas para evitar a detecção. Pequenas transações financeiras entre cidades como Medellín, Bogotá e Villavicencio são mantidas deliberadamente abaixo de 10 milhões de pesos colombianos (US$ 2.500) para não atingir os limites de detecção pelas autoridades. Um funcionário da inteligência colombiana estima margens de lucro entre 5.000% e 10.000%, comparando a economia a "comprar um iPhone por 100 mil pesos [US$ 25]".
GRACOR
Autoridades de fiscalização, representantes comunitários, garimpeiros e comerciantes de minerais coincidem em identificar a Gracor como uma das empresas facilitadoras envolvidas na orquestração desse comércio ilegal. De acordo com fontes que solicitaram anonimato por motivos de segurança, a empresa mantém relações diretas em toda a rede criminosa, desde o ELN e a Segunda Marquetalia (facção dissidente das antigas FARC) até garimpeiros individuais e funcionários do governo venezuelano.
Segundo um traficante de minerais venezuelano entrevistado pela Amazon Underworld, "os ilegais compram e vendem para essas pessoas... A Gracor não financia o recurso; são os grupos irregulares que lidam com o dinheiro e negociam com eles. O que nós fazemos é entregar a mercadoria a esses grupos, e eles cuidam da negociação com a empresa colombiana."
Para legitimar os minerais provenientes da Venezuela, os comerciantes empregam sofisticados esquemas de fraude documental. Eles usam documentos de garimpeiros de subsistência, muitas vezes membros de comunidades indígenas, fazendo parecer que os materiais foram extraídos na Colômbia, em vez de contrabandeados da Venezuela. Essa prática explora o solo e os recursos venezuelanos, os direitos tradicionais de mineração dos povos indígenas e os esforços do governo colombiano para formalizar a mineração em pequena escala.
Apesar das frequentes apreensões, muitos dos carregamentos de minerais confiscados permanecem em um limbo jurídico durante meses. Vários acabaram sendo devolvidos aos comerciantes por supostas irregularidades processuais e erros administrativos. Funcionários de quatro órgãos estatais citaram tanto a suspeita de corrupção quanto a capacitação insuficiente do pessoal de campo como fatores que contribuem para esses fracassos. Lina Beatriz Franco, presidente da Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pela gestão dos recursos minerais na Colômbia, admitiu, de forma geral, a falta de capacidade para diferenciar extração legal e ilegal, referindo-se às areias negras.
A Gracor registrou um lucro líquido de mais de 311 milhões de pesos (US$ 81 mil) em 2024, segundo documentos apresentados à Câmara de Comércio de Bogotá, o que representa um aumento de 257 milhões de pesos (US$ 67 mil) nos últimos três anos (2022-2024). Isso equivale a um crescimento de 479,62% nos lucros, confirmando que a empresa não apenas aumentou suas vendas, mas também melhorou significativamente sua rentabilidade líquida. Além disso, durante o mesmo período, registrou um crescimento de vendas superior a 14,7 bilhões de pesos (US$ 3,8 milhões).
Em 2023, a International Company Gracor SAS realizou duas operações de exportação de concentrado de estanho, totalizando 45.890 kg, de acordo com a plataforma de negociação SICEX. Em 2024, a empresa executou nove transações de exportação, totalizando 248.342,7 kg. Durante os dois primeiros meses de 2025, foram concluídas mais três operações de exportação, totalizando 81.479 kg. Nesse período de três anos, todas as exportações foram destinadas à BLUEQUEST RESOURCES AG, na China. Cabe ressaltar que, embora opere naquele país, essa empresa destinatária tem sede em Baar, na Suíça, com escritórios em Xangai. De acordo com o site da empresa, a BLUEQUEST RESOURCES AG é um grupo líder em comércio de matérias-primas, especializado no comércio físico global de metais refinados, minerais e concentrados de metais não ferrosos e preciosos.
A Gracor nega todas as alegações. Segundo Alfonso Graffe, o representante legal que se reuniu com a Amazon Underworld no salão de uso comum de um prédio no norte de Bogotá, os minerais que a empresa compra (óxido de estanho) vêm de reservas indígenas e são produto da mineração de subsistência. No entanto, Idárraga afirma que "isso não é para subsistência", referindo-se ao estanho.
Camave
Em março de 2021, o Exército colombiano apreendeu 6.176 kg de minerais estratégicos no rio Guaviare, no departamento de Guainía, que estavam sendo transportados a bordo da embarcação "José Abel". O material incluía 196 sacos de coltan (columbita e tantalita) e 51 sacos de concentrado de estanho. Análises realizadas nas amostras pelo Serviço Geológico Colombiano também detectaram urânio, um elemento usado em componentes eletrônicos e armamento nuclear.
O mineral pertencia à Camave SAS, registrada em Bogotá em 2018 e dedicada à importação e à comercialização de minerais. A empresa movimentava minerais sem licenças legais para extração, usando fraudulentamente uma solicitação de formalização de mineração tradicional que havia sido rejeitada em 2019 e cujo titular havia falecido. As autoridades não conseguiram confirmar nenhuma atividade de mineração visível nas zonas de extração declaradas, tendo feito inclusive sobrevoos e análises por satélite da área.
O operador logístico da Camave SAS coletava minerais de comunidades indígenas ao longo dos rios Inírida e Guainía (Huecitos, Guamirza, San José, Vaquiro, Berrocal e Maimachí), onde o material provavelmente era comprado por quantias irrisórias e sem garantias trabalhistas, segundo documentaram as autoridades, que determinaram que o mineral muito provavelmente se originou do ELN e do grupo dissidente das FARC, Acacio Medina, ambos atuantes na tríplice fronteira entre os departamentos de Vaupés, Guainía e Vichada (Colômbia) e o estado do Amazonas (Venezuela).
A operação foi financiada pela Mine Tres Inc., empresa sediada em Miami e pertencente ao cidadão estadunidense Dan Boiangin, que fez um investimento inicial de US$ 300 mil. O acordo estipulava uma divisão de lucros de 80% para a Mine Tres Inc. e 20% para a Camave SAS. Apesar da apreensão de 2021, a Camave SAS continuou exportando minerais até 2023, tendo a China como principal destino.
Em maio de 2025, foi decretada a extinção de domínio sobre as seis toneladas de minerais e a embarcação. Em março de 2025, Ricardo Barrantes Balcázar, representante legal substituto, foi condenado a 14 anos de prisão por enriquecimento ilícito, formação de quadrilha, falsidade ideológica, exploração ilegal de jazida mineral, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. O processo contra Carolina Vargas Godoy, representante legal principal, encontra-se em fase de investigação.
A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
Diferentemente dos labirintos jurídicos da Colômbia e do cenário conflituoso dos minerais críticos na Venezuela, o Brasil, que também possui comunidades indígenas deslocadas ou afetadas pela mineração e por grupos armados, é um país onde há ampla informação geológica. Em 1970, surgiu o Projeto RADAM, cujo lema era "Integrar para não entregar". Naquele contexto, a tecnologia de radar militar foi usada para mapear sistematicamente os depósitos minerais e os recursos naturais da Amazônia. Esse mapeamento abriu a região a garimpeiros e investidores, fornecendo ao Brasil os mapas metalúrgicos detalhados que, em certa medida, o diferenciam de outros países amazônicos atualmente.
A 100 km de Belém, capital do estado do Pará e sede da COP30 em 2025, está Barcarena. Nas últimas quatro décadas, a cidade se caracterizou pela expansão de seu polo industrial de alumínio e do complexo portuário Vila do Conde. Essa transformação remodelou a paisagem urbana e fez com que a cidade girasse em torno do porto e da mineração. Em três décadas, sua população se multiplicou mais de sete vezes, passando de 17 mil habitantes em 1970 para aproximadamente 127 mil em 2020. A mudança é visível para os recém-chegados: o tráfego de caminhões é intenso e atravessa bairros onde placas dizendo "rota de evacuação" alertam para o risco de acidentes com barragens, reflexo da presença de mineradoras.
Entre janeiro e junho deste ano, o Complexo Portuário de Vila do Conde movimentou 11,5 milhões de toneladas de carga, principalmente produtos químicos inorgânicos (27%), incluindo minerais como bauxita e soja. Fora da entrada do porto, a realidade é mais dura. A sensação é de que a poeira avermelhada da bauxita, da qual se extrai o alumínio, cobre ruas e casas; e em dias de chuva, a água pode causar queimaduras na pele.
Segundo Moisés Sousa Lopes, presidente do Sindicato dos Estivadores e Trabalhadores em Estiva de Minérios do Estado do Pará (Setemep), o complexo portuário emprega cerca de 10 mil pessoas, incluindo 350 estivadores. "O nosso trabalho consiste em carregar e descarregar mercadorias nos porões dos navios. Nós organizamos a carga que entra e retiramos a que chega. Tudo que entra e sai pela água passa pelas nossas mãos", afirmou.
Mas Lopes parece alheio ao cenário de "transição energética". "O que entendemos do que fazemos aqui é que a mineração não só atende ao setor energético, como também gera receita para o Brasil. Porque o minério é transportado até aqui pelos rios interiores e retorna como alumínio para exportação. É bidirecional. Funciona para o setor energético e também para as receitas, para o governo e para a Albras [maior produtora de alumínio primário do Brasil], por meio da carga, que é o alumínio exportado para a China."
No entanto, a extração ilegal de cassiterita na Terra Indígena Yanomami, no estado de Roraima, é feita em redes administradas por investidores externos, por exemplo, do estado de Rondônia, que fornecem documentação falsificada para legitimar o comércio. A escala das operações é considerável, com um volume estimado de cerca de seis toneladas saindo por transporte fluvial e envios de helicóptero de até 10 mil quilos de minério, que atinge preços entre 60 e 70 reais (US$ 13) por quilo na cidade de Manaus.
O comércio foi tão normalizado que até motoristas de Uber em Roraima são contratados para transportar sacos de concentrado de cassiterita, ilustrando o quanto essas atividades ilegais estão profundamente enraizadas nas economias locais. Segundo um funcionário da inteligência brasileira, alguns dos garimpos estão localizados em áreas controladas pela facção criminosa multinacional Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. "Há extração de cassiterita em vários pontos dentro da Terra Indígena, incluindo áreas controladas pelo PCC em Waikás, Alto Uraricoera."
O envolvimento de grupos do crime organizado transformou o comércio de cassiterita em uma operação de segurança mais complexa. As autoridades brasileiras relatam que facções criminosas não apenas controlam as áreas de mineração, mas também prestam serviços de proteção aos garimpeiros, ao mesmo tempo em que mantêm a propriedade de áreas, estruturas e armas específicas. Como observou uma autoridade da fiscalização, "Existem áreas e estruturas que pertencem aos membros do crime organizado. Eles vendem segurança." Também parece haver áreas, estruturas e armas que pertencem à facção criminosa como um todo. As autoridades federais responderam com a Operação Ouro Negro, voltada a combater a fraude na concessão de licenças ambientais que permite esse comércio ilegal. A operação desmantelou um esquema envolvendo a Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) para facilitar a concessão de licenças ambientais irregulares destinadas à lavagem de minerais extraídos ilegalmente. Em setembro de 2025, a Polícia Federal brasileira executou 13 mandados de busca e apreensão em Roraima, Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro, resultando no congelamento de mais de 265 milhões de reais em ativos e na suspensão das atividades econômicas de empresas.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a demanda por minerais críticos deverá quadruplicar até 2040, intensificando a concorrência geopolítica. A China está aproveitando seu domínio no processamento de minerais por meio de controles de exportação. Os Estados Unidos estão se apressando para reconstruir suas cadeias de fornecimento domésticas após décadas de negligência. E a União Europeia implementou seu Regulamento de Matérias-Primas Críticas para garantir independência estratégica. Esses materiais se tornaram o foco de uma nova concorrência global na qual se cruzam poder tecnológico, segurança econômica e influência geopolítica.
Em meio à intensificação da concorrência pelas cadeias de fornecimento de minerais, a Amazônia poderá se tornar, em breve, a linha de frente da transição energética, onde atores ilícitos e empresas superam governos e pesquisadores, exacerbando conflitos entre a demanda por recursos, os direitos indígenas e a proteção do meio ambiente.
O domínio atual da China sobre os elementos de terras raras se tornou uma questão geopolítica fundamental. Em abril, como retaliação às tarifas dos Estados Unidos, Pequim impôs restrições à exportação, usando como arma os recursos essenciais para a defesa, os veículos elétricos e as indústrias de energia renovável.
O mercado de terras raras e minerais críticos experimentou aumentos significativos de preços, impulsionados pelas restrições de oferta da China, pela demanda por veículos elétricos, pela escassez de estoques e pelos controles de exportação impostos pela China em abril, sobre sete elementos críticos.
O mercado passou de ciclos especulativos a uma demanda estrutural impulsionada pela transição energética mundial e pela eletrificação do transporte. As vendas globais de veículos elétricos foram de aproximadamente um milhão de unidades em 2017 para 17,1 milhões em 2024, gerando uma demanda nunca vista por elementos de terras raras usados em motores e baterias dos veículos elétricos.
Essa escalada desencadeou uma corrida global para diversificar o fornecimento, com os países ocidentais buscando produtores alternativos na África e no Sudeste Asiático. O acesso a esses materiais passou a ser uma prioridade geopolítica, bem como uma necessidade econômica, afetando setores que vão desde eletrônicos de consumo até a produção para a defesa.
O paradoxo é evidente: enquanto os países competem para atingir seus objetivos de desenvolvimento e energia limpa, a extração de minerais essenciais devasta comunidades e ecossistemas na Amazônia. Isso conecta a dinâmica do mercado global e os consumidores em todo o mundo ao destino das populações amazônicas e um dos mais importantes reguladores climáticos da Terra.
Em seu estado atual, a extração de minerais críticos não só destrói o ambiente natural, como também financia a violência e grupos armados que constam das listas internacionais de terroristas em áreas onde o setor é mais conflituoso, como a Venezuela. Enquanto isso, particularmente no Brasil, as empresas estão tendo acesso a licenças legais de mineração em terras indígenas dentro de áreas de floresta tropical. A pressão exercida pela mineração é imensa. Pelo menos 188 terras indígenas estão impactadas por 1.286 processos de mineração que são críticos ou essenciais para a transição energética. Das dez terras indígenas mais pressionadas, oito estão localizadas no estado do Pará, uma no Amazonas e uma em Roraima.
Zonas de sacrifício na Amazônia para construir um futuro mais sustentável: um paradoxo tão irônico que acaba sendo inevitável. Esta história conecta comunidades remotas da Amazônia a consumidores globais por meio dos smartphones em seus bolsos e dos veículos elétricos em suas garagens.
Enquanto a comunidade de Chorrobocón se encontra numa encruzilhada entre o ouro e os minerais críticos, buscando se formalizar, mas condenada a operar ilegalmente, na Venezuela pioram as violações dos direitos humanos e no Brasil, as multinacionais entram com força total, Juan Guillermo García, o investidor de mineração por trás do Minastyc na Colômbia, enfatiza: "Lembrem-se de que estamos na Quarta Revolução Industrial, que é a da tecnologia. E o que você precisa para a tecnologia? As matérias-primas." Diante da pergunta sobre o que acontecerá se ninguém colocar ordem no setor, ele dá um sorriso leve e diz: "Bem-vindos ao Novo Congo da América Latina."
https://infoamazonia.org/2025/11/29/o-comercio-de-minerais-criticos-a-rota-ilegal-que-conecta-a-amazonia-a-china/
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