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Bastos admite que governo conhecia risco de massacre

21/04/2004

Fonte: JB, País, p. A2



Bastos admite que governo conhecia riscos de massacre
Ministro não reconhece que houve omissão em Rondônia, como acusa a PF

Hugo Marques

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reconheceu ontem que o governo ''há muito tempo'' tinha informações sobre o risco de conflitos na Reserva Roosevelt, em Rondônia, onde os índios mataram 29 garimpeiros. Bastos afirmou que o governo tentou solucionar a disputa, mas ressaltou que a a situação foi ''relegada em outros governos''. Ele admitiu, porém, a dificuldade da atual administração em propor uma solução para a questão.
- Não é um problema fácil de resolver. É complexo, difícil - justificou Bastos.
O ministro classificou o que aconteceu na reserva de ''tragédia'' e negou que tenha havido omissão do governo federal. Bastos argumentou que, em janeiro do ano passado, primeiro mês de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, foi enviada uma missão da Polícia Federal à reserva para ''se assenhorear das várias facetas'' do conflito.
- Essa tragédia nos fere a todos que somos seres humanos. É profundamente doído que isso tenha acontecido - disse.
Segundo Bastos, o governo federal tinha consciência de todas ''as dificuldades'' na região da Reserva Roosevelt. Para o ministro, o conflito no garimpo faz parte de uma série de ''questões que se acumularam'' nos últimos anos.
Por falta de aviso ao governo, realmente não foi. Além dos vários ofícios enviados a Brasília pela prefeita do município de Espigão D'Oeste, Lúcia Tereza Rodrigues, alertando as autoridades sobre o risco de conflito no garimpo, o governo do Estado de Rondônia também fez seus alertas.
O governador Ivo Cassol divulgou ontem os ofícios que enviou ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Em uma das mensagens, de 7 de outubro do ano passado, Cassol demonstra ''preocupação com a possibilidade de um novo conflito entre garimpeiros e índios'' da reserva dos cintas-largas.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Francisco Garisto, chamou o Ministério da Justiça de omisso no conflito entre índios e garimpeiros. Segundo Garisto, o presidente do Sindicato da PF em Rondônia, João Bosco Costa, enviou à Direção-Geral da PF relatório alertando sobre a tensão na região. Pedia a manutenção da base da PF ao lado da reserva Roosevelt.
- Desconsiderando o alerta, o governo foi reduzindo o efetivo da Base Pimenta Bueno até desativá-la por completo há dois meses - acusou Garisto.
Segundo ele, alertados pelos índios, os policiais retiravam os garimpeiros que invadiam a reserva, evitando confrontos.
Depois do massacre, o governo enviou uma força-tarefa para combater o crime organizado, contrabando e tráfico de droga em Rondônia. O grupo começou ontem a montar três barreiras nas entradas da terra indígena Roosevelt. Índios cinta-larga que saírem das aldeias serão revistados. Se forem encontrados diamantes com eles, serão presos por extração ilegal de minério, afirmou o delegado Mauro Sposito, coordenador da operação.
A reserva indígena possui uma jazida de diamantes que, segundo a PF, movimenta R$ 40 milhões por mês. Os índios também são acusados de envolvimento com o contrabando.
Colaborou Fernanda Nidecker

JB, 21/04/2004, País, p. A2
 

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