From Indigenous Peoples in Brazil
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Estudo inédito traça o perfil dos saterés-maués
04/09/2005
Fonte: OESP, Vida, p.A27
Estudo inédito traça o perfil dos saterés-maués
Mais de 8.500 indígenas da etnia vivem em área no Amazonas 3 vezes maior que SP
Liège Albuquerque
Hoje, eles já são mais de 8.500, vivendo numa área de mais de 700 mil quilômetros quadrados no Amazonas - o equivalente a quase três vezes o Estado de São Paulo. A maioria é bem jovem. Só uma pequena parcela, cerca de mil, vive em áreas urbanas ou municípios próximos às aldeias. São os saterés-maués, uma das maiores etnias indígenas do País, que, pela primeira vez, teve seu perfil demográfico traçado. Apenas os tucanos e baniuas já foram alvo de pesquisa semelhante, nos anos 90.
O estudo foi feito com patrocínio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e será divulgado a partir do dia 15. Contou com uma equipe de 50 pessoas, incluindo indígenas, coordenados pelo demógrafo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Pery Teixeira.
Feita em 2002 e 2003, a pesquisa Sateré-Maué, Retrato de um Povo Indígena mostra que, nesses anos, havia 7.502 saterés nas quatro áreas indígenas demarcadas no Amazonas e outros 998 morando em áreas urbanas. "Pela alta taxa de fecundidade observada, certamente esse número já é bem maior", afirma Teixeira. Enquanto a taxa de filhos por mulher é de 2,3 no Brasil, entre os saterés a média é de 8. Do total da população, 51,8% tinham menos de 15 anos.
Os saterés moram em áreas demarcadas e municípios no leste do Amazonas, como Maués, Barreirinha e Parintins, distantes em média 400 quilômetros de Manaus. O pesquisador relata dificuldade nas entrevistas por conta da relação diferente dos indígenas com o tempo. "Para perguntar a uma mãe quando ela teve seu último filho era preciso muita conversa para explicar 12 meses."
Os números revelaram dados curiosos. "Embora haja muita carência em termos de saúde, a maioria procura médicos e enfermeiros em vez do pajé", conta Teixeira. Dos entrevistados, 68% procuravam o agente de saúde, enquanto apenas 2,1% o pajé.
Entre os 2,4% que responderam procurar "outros" métodos para tratar doenças, havia os que buscavam os "puxadores de ossos", uma espécie de ortopedista rústico que literalmente puxa braços e pernas doloridos. Ou, como os indígenas preferem chamar, os "ossos com desmitidura".
A religião declarada é predominantemente católica, cerca de 65%. Para o professor, um detalhe pode explicar isso. Os padres missionários não fazem restrição aos rituais da cultura sateré, como o da tucandeira (espécie de formiga), proibido por alguns tuxauas convertidos à religião evangélica. O ritual marca a passagem do garoto para a vida adulta. As tucandeiras são capturadas e anestesiadas com uma solução de folhas de cajueiro. Depois, são colocadas em luvas, que os jovens usam por 20 festas.
O estudo ainda leva em consideração aspectos econômicos. De tudo o que é plantado nas aldeias, como mandioca e cará, 97% é destinado à subsistência. "Com a escassez do peixe nos rios e da caça nas matas, o indígena está plantando mais", diz Teixeira.
Outro detalhe da pesquisa mostra o grande número de crianças menores de 1 ano sem registro de nascimento. Nas regiões demarcadas, apenas 34% têm certidão, ante 65,4% nas áreas urbanas.
Ensino do português está matando o idioma materno
LÍNGUA ESQUECIDA: O idioma sateré-maué está sendo esquecido nas aldeias. Para o professor Pery Teixeira, o fato pode ser explicado porque não é ensinado nas aldeias. "Você vai em qualquer aldeia e as crianças falam o sateré, mas, quando entram na escola, que só ensina em português, vão esquecendo." Nas maiores aldeias das áreas demarcadas, Guaranabuta e Ponta Alegre, 25% e 28% da população, respectivamente, já não fala o idioma. Em Maraú, a área indígena mais longe da urbana, 99% falam a língua materna. Na Kuatá-Laranjal, mais próxima dos municípios, são apenas 77%. A educação nas aldeias, que só vai até a 4.ª série, é um dos fatores para migração. Os indígenas mudam-se para a área urbana em busca de escola, trabalho, saúde ou por conflito com a família.
OESP, 04/09/2005, p. A27
Mais de 8.500 indígenas da etnia vivem em área no Amazonas 3 vezes maior que SP
Liège Albuquerque
Hoje, eles já são mais de 8.500, vivendo numa área de mais de 700 mil quilômetros quadrados no Amazonas - o equivalente a quase três vezes o Estado de São Paulo. A maioria é bem jovem. Só uma pequena parcela, cerca de mil, vive em áreas urbanas ou municípios próximos às aldeias. São os saterés-maués, uma das maiores etnias indígenas do País, que, pela primeira vez, teve seu perfil demográfico traçado. Apenas os tucanos e baniuas já foram alvo de pesquisa semelhante, nos anos 90.
O estudo foi feito com patrocínio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e será divulgado a partir do dia 15. Contou com uma equipe de 50 pessoas, incluindo indígenas, coordenados pelo demógrafo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Pery Teixeira.
Feita em 2002 e 2003, a pesquisa Sateré-Maué, Retrato de um Povo Indígena mostra que, nesses anos, havia 7.502 saterés nas quatro áreas indígenas demarcadas no Amazonas e outros 998 morando em áreas urbanas. "Pela alta taxa de fecundidade observada, certamente esse número já é bem maior", afirma Teixeira. Enquanto a taxa de filhos por mulher é de 2,3 no Brasil, entre os saterés a média é de 8. Do total da população, 51,8% tinham menos de 15 anos.
Os saterés moram em áreas demarcadas e municípios no leste do Amazonas, como Maués, Barreirinha e Parintins, distantes em média 400 quilômetros de Manaus. O pesquisador relata dificuldade nas entrevistas por conta da relação diferente dos indígenas com o tempo. "Para perguntar a uma mãe quando ela teve seu último filho era preciso muita conversa para explicar 12 meses."
Os números revelaram dados curiosos. "Embora haja muita carência em termos de saúde, a maioria procura médicos e enfermeiros em vez do pajé", conta Teixeira. Dos entrevistados, 68% procuravam o agente de saúde, enquanto apenas 2,1% o pajé.
Entre os 2,4% que responderam procurar "outros" métodos para tratar doenças, havia os que buscavam os "puxadores de ossos", uma espécie de ortopedista rústico que literalmente puxa braços e pernas doloridos. Ou, como os indígenas preferem chamar, os "ossos com desmitidura".
A religião declarada é predominantemente católica, cerca de 65%. Para o professor, um detalhe pode explicar isso. Os padres missionários não fazem restrição aos rituais da cultura sateré, como o da tucandeira (espécie de formiga), proibido por alguns tuxauas convertidos à religião evangélica. O ritual marca a passagem do garoto para a vida adulta. As tucandeiras são capturadas e anestesiadas com uma solução de folhas de cajueiro. Depois, são colocadas em luvas, que os jovens usam por 20 festas.
O estudo ainda leva em consideração aspectos econômicos. De tudo o que é plantado nas aldeias, como mandioca e cará, 97% é destinado à subsistência. "Com a escassez do peixe nos rios e da caça nas matas, o indígena está plantando mais", diz Teixeira.
Outro detalhe da pesquisa mostra o grande número de crianças menores de 1 ano sem registro de nascimento. Nas regiões demarcadas, apenas 34% têm certidão, ante 65,4% nas áreas urbanas.
Ensino do português está matando o idioma materno
LÍNGUA ESQUECIDA: O idioma sateré-maué está sendo esquecido nas aldeias. Para o professor Pery Teixeira, o fato pode ser explicado porque não é ensinado nas aldeias. "Você vai em qualquer aldeia e as crianças falam o sateré, mas, quando entram na escola, que só ensina em português, vão esquecendo." Nas maiores aldeias das áreas demarcadas, Guaranabuta e Ponta Alegre, 25% e 28% da população, respectivamente, já não fala o idioma. Em Maraú, a área indígena mais longe da urbana, 99% falam a língua materna. Na Kuatá-Laranjal, mais próxima dos municípios, são apenas 77%. A educação nas aldeias, que só vai até a 4.ª série, é um dos fatores para migração. Os indígenas mudam-se para a área urbana em busca de escola, trabalho, saúde ou por conflito com a família.
OESP, 04/09/2005, p. A27
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