From Indigenous Peoples in Brazil
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News

Índios e fazendeiros partem para a guerra

22/01/2003

Fonte: O Globo, O País, p.1 e 12



Índios e fazendeiros partem para a guerra

Paulo Yafusso
Especial para O GLOBO

Índios guarani-caiová entraram em confronto ontem à tarde com um grupo de fazendeiros que bloqueava a estrada que divide as cidades de Iguatemi e Japorã, no extremo Sul de Mato Grosso do Sul, no incidente mais grave desde que os índios iniciaram a ocupação de fazendas na região. Até agora, 14 áreas já foram invadidas. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas: um proprietário rural teve o braço cortado por um facão e um indígena de 14 anos foi atingido por um tiro de raspão na cabeça.

O confronto envolveu cerca de 200 guarani-caiovás e cem fazendeiros. Na área estão acampados quase 800 índios, segundo informou Gumercindo Fernandes, um dos líderes da invasão. Depois que a estrada foi bloqueada, na altura da ponte sobre o Rio Iguatemi, os índios e os fazendeiros ficaram frente a frente trocando ameaças. Um tiro foi disparado para o alto - a polícia diz que não pôde identificar o autor - e acabou deflagrando a briga, que durou pouco mais de dez minutos, até a chegada de policiais.

- Os índios não vão abandonar o lugar e agora mais pessoas da Aldeia Porto Lindo estão chegando para se juntar a nós e resistir - disse Fernandes.

ONG orienta a evitar confronto

A fazendeira Roseli Silva, da organização não-governamental Recovê (que, em guarani, significa viver com você), disse que o clima está muito tenso na região e que tem orientado os proprietários de terras a não partirem para o confronto. Ela acusa os índios de estarem forjando o conflito.

- Eles são bandidos. Há informação de que o índio ferido teria sido machucado pelos próprios companheiros - acusou Roseli.

O secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Dagoberto Nogueira, negou a informação dos índios de que duas mulheres também teriam sido feridas na confusão. O administrador da Funai em Amambaí, Willian Rodrigues, disse que a entidade já fez o possível para convencer os índios a saírem pacificamente das áreas invadidas. A Justiça Federal dera um prazo até terça-feira para a desocupação, mas, ontem, a decisão foi modificada. Segundo ele, os guarani-caiová afirmam que vão resistir.

- Eles disseram que podem até sair, mas vão queimar tudo - afirmou ele.

Segundo Fernandes, os índios estão dispostos também a enfrentar a polícia.

- Se vierem de helicóptero, vamos derrubar a flechadas ou com as armas que vamos tomar dos fazendeiros - ameaçou o índio.

De manhã, numa reunião no gabinete da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, em Campo Grande, ficou decidido que serão mobilizados 600 policiais para a desocupação, incluindo agentes federais de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Brasília. Os bombeiros
também participarão da operação e a Polícia Federal pediu apoio logístico ao Exército. Serão utilizados ainda dois helicópteros da Polícia Federal e dois aviões do governo de Mato Grosso do Sul. O grupo, porém, será treinado antes de entrar em ação.

As invasões começaram no dia 22 de dezembro. Os índios alegam que as fazendas pertencem a aldeia de Porto Lindo, hoje restrita a 1.600 hectares e que, segundo eles, tem na verdade 9.400 hectares.

Reintegração de posse é suspensa

A desembargadora Consuelo Yoshida, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3 Região, decidiu ontem à noite suspender a ordem de reintegração de posse das fazendas. Ela determinou a criação de oito comissões, com a participação da Funai, do Ministério Público Federal e dos índios, que deverão fechar um termo de ajustamento de conduta para solucionar os conflitos.

- A decisão foi muito interessante. Não beneficiou 100% nem os fazendeiros nem os índios, abrindo espaço para a negociação - disse o procurador Ramiro Rochembach, do Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul.

As comissões terão 20 dias para preparar o documento. Os índios poderão permanecer na entrada das fazendas, mas devem cessar as invasões. Na decisão, Consuelo deixa claro que devem ser respeitados tanto o direito de propriedade dos fazendeiros como a garantia constitucional de regularização fundiária das terras indígenas.

Em Brasília, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou:

- Temos informações de que 99% dos índios já deixaram a área pacificamente. Tem um núcleo lá resistindo ainda, mas não são mais de cem índios. Acredito que com um processo de negociação da Polícia Federal se consiga resolver satisfatoriamente. No Brasil, ninguém está acima da lei nem fora da lei. Nós vivemos num estado de direito e o estado de direito vai ser mantido a todo custo.

COLABORARAM Adauri Antunes Barbosa e Rodrigo Rangel

O Globo, 22/01/2004, O País, p. 12
 

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