From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

News

Mortalidade de criancas indias e o dobro da do pais

02/03/2005

Fonte: O Globo, O Pais, p.13



Mortalidade de crianças índias é o dobro da do país
Jorge Henrique Cordeiro
Especial para O GLOBO
Disputas de terra, desmatamento, fome e concentração excessiva de índios em pequenas áreas são os principais fatores que contribuem para que a taxa de mortalidade infantil da população indígena brasileira seja de 47,4 por mil nascidos vivos, o dobro da média nacional. Os dados são do Departamento de Saúde Indígena, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Dos 34 distritos sanitários especiais indígenas criados pela Funasa, 16 têm taxa de mortalidade infantil considerada alta e apenas nove estão num patamar adequado. Em Mato Grosso do Sul, onde a desnutrição atingiu mais de 10% das crianças indígenas da região, a taxa de mortalidade aumentou 30% em relação a 2003 (de 35,20 para 50,10). Segundo a Funasa, cerca de 90% desses óbitos foram causados por doenças respiratórias (pneumonia e gripe).
Taxa de mortalidade mais alta aparece no sul do país
Mas uma das maiores altas foi verificada no sul do país, que engloba as tribos localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo: 70% (31,10 para 100,90).
A taxa de mortalidade infantil entre os índios brasileiros, apesar de ser a mais baixa em seis anos, é o retrato da realidade dos cerca de 700 mil indivíduos de 235 povos diferentes, espalhados da Amazônia ao Rio Grande do Sul.
— A expulsão provocada pelos desmatamentos, poluição de rios e loteamento das terras tornaram a realidade social dos índios muito complicada — explica Roberto Liebgott, secretário-adjunto do Conselho Missionário Indigenista (CIMI).
O antropólogo Benedito Prezia, coordenador da Pastoral Indigenista, diz que, na região de Dourados, as tribos são andarilhas por natureza e precisam de grandes espaços. Mas o espaço que coube aos 11 mil índios de lá foi de pouco mais de 3.500 hectares na periferia degradada da cidade.
— Para se ter uma idéia de como é pequeno, basta dizer que, pelos padrões do MST, não mais do que 250 famílias, ou mil pessoas, poderiam viver ali, plantando e colhendo, adequadamente.
Essa concentração de tribos em áreas desmatadas e sem as condições para a agricultura acaba empurrando os indígenas para as áreas mais nobres, geralmente nas mãos de fazendeiros — receita para a violência no campo. Isso ocorre no Mato Grosso do Sul, que concentra quase 60 mil índios, só perdendo para o estado do Amazonas. Mas Mato Grosso tem um número de áreas livres bem menor.

Seis xavantes morreram em Mato Grosso
Rodrigo Vargas
Especial para O Globo
Seis crianças da etnia xavante morreram de desnutrição em aldeias de Mato Grosso entre janeiro e fevereiro, e outras 20, com idade entre 6 meses e 6 anos, estão internadas em estado crítico no pólo de saúde de Campinápolis (a 570 quilômetros de Cuiabá). Os xavantes, que segundo a Funai chegam a 12 mil índios, estão distribuídos por 13 municípios do leste de Mato Grosso, em 178 aldeias. A fome virou realidade em muitas delas, com diminuição das áreas disponíveis para a caça e a pesca.
O coordenador regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Jossy Soares, que responde pelo atendimento médico nas aldeias, reconheceu a gravidade da situação. Mas disse não ter “governabilidade” sobre assunto:
— O problema da fome não é atribuição da Funasa, pois é problema social, não de saúde. Não há mais caça, pesca, as aldeias estão cercadas por plantações de soja, que as sufocam.
As mortes suscitaram ataques entre os governos federal e estadual. O superintendente de Política Indígena do estado, Idevar Sardinha, disse ter entregue à Funasa, em dezembro, relatório sobre a fome entre os xavante.
— Já havia alertado a Funasa em um relatório que continha depoimento dos próprios índios. E o fato é que a Funasa terceirizou a saúde — disse Sardinha. O governador do Estado, Blairo Maggi (PPS), um dos maiores produtores de soja do país.
O coordenador da Funasa nega ter recebido qualquer aviso do governo estadual:
— Não recebi esta informação. Se ele (Sardinha) mandou, não foi para mim. O que podemos fazer é manter nossa linha da ação, que já reduziu de forma significativa a mortalidade nas aldeias — rebateu Soares, que ressaltou não ter meios para enfrentar o problema.

Exército distribuirá cestas em aldeias
Paulo Yafusso
Especial para O GLOBO
O Exército começa hoje a distribuir 1.300 cestas básicas de alimentos e leite em pó nas aldeias indígenas da região sul de Mato Grosso do Sul, onde estão ocorrendo casos de mortes de crianças indígenas por desnutrição. A entrega será feita inicialmente para as famílias das crianças em situação de maior risco. Levantamento feito pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) aponta que existem na Reserva Indígena de Dourados 250 crianças com problemas causados pela fome, que têm acompanhamento domiciliar diário. Ontem, uma dessas crianças teve que ser encaminhada para o Centro de Reabilitação Nutricional, o Centrinho, por ter o quadro agravado. Ela já vinha sendo acompanhada pela equipe médica da Funasa. Com isso, sobe para 36 o número de crianças internadas por desnutrição.
As cestas básicas são do Ministério do Desenvolvimento Social . Segundo a Funasa, nos próximos seis meses cada família cadastrada vai receber dois pacotes de produtos. Muitas delas reclamaram que a comida do programa de combate à fome não dá para todo o mês e por isso muitas crianças acabam ficando sem ter o que comer até a chegada de outra cesta.
A Funasa iniciou a limpeza das caixas d’água e a ampliação da rede de abastecimento de água na Reserva Indígena de Dourados, formada pelas aldeias Bororó e Jaguapiru, com área de 3.500 hectares onde vivem cerca de 11.500 índios, entre eles quatro mil crianças.
A promotora de Justiça da Infância e da Juventude de Dourados, Jiskia Trentin, em inquérito civil instaurado na semana passada, encaminhou ofício a vários órgãos solicitando informações. Ao Ministério Público Federal, ela pediu que seja apurada a informação dada por vários indígenas de que não estão recebendo as cestas básicas do governo federal.
Jovens índios vão pedir comida em Dourados
Sem comida nas aldeias, muitos índios acabam indo para a cidade, a 15 quilômetros da reserva, para pedir dinheiro e comida nas ruas. Na noite da segunda-feira, o Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente encontrou 12 crianças e adolescentes indígenas em prédios abandonados da cidade. Elas foram levadas de volta para as famílias nas aldeias.
As equipes de saúde da Funasa estão fazendo um acompanhamento das crianças com problemas de desnutrição nas aldeias e também nos hospitais públicos.
O problema da fome não está localizado apenas nas aldeias de Dourados. Já foram registrados casos de desnutrição grave também nas comunidades indígenas de Amambai, Japorã, Antonio João.

O Globo, 02/03/2005, p. 13
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source