From Indigenous Peoples in Brazil
News
O que indio quer e espelho
21/04/2004
Fonte: O Globo, Segundo Caderno, p.2
O QUE ÍNDIO QUER É ESPELHO
Realizadores indígenas apresentam suas tradições em mostra no CCBB
Em 1992, aos 17 anos, o índio xavante Divino Tserewahú recebeu das mãos do irmão Jeremias uma câmera de vídeo, doada à comunidade onde vive, Sangradouro, no Mato Grosso, pela ONG Vídeo nas Aldeias. Hoje, aos 29 anos, Divino já se orgulha do currículo de cinco vídeos que está trazendo ao Rio, como um dos dez realizadores indígenas convidados para a mostra Um olhar indígena, que foi aberta ontem no Centro Cultural Banco do Brasil, e fica em cartaz até o dia 25 de abril.
Comecei a aprender sozinho, mas tive a oportunidade de fazer um curso em 1997, no Parque do Xingu. Aí aprendi muito conta Divino, que em seu primeiro filme, Obrigado irmão, de 1998, faz uma homenagem a Jeremias pela chance que teve. O vídeo tem sessões hoje, e de sexta a domingo.
Registros de ritos de iniciação do corpo e do espírito
Passado o tempo de aprendizado, Divino foi a outra aldeia mato-grossense, Pimentel Barbosa, onde filmou a iniciação de jovens xavantes, com idades entre 13 e 17 anos, um ritual que se repete a cada sete anos. O resultado está no filme Wapté mnhõnõ Iniciação do jovem Xavante (de 1999), que começa a ser exibido amanhã, às 16h, na sala de cinema do CCBB.
Outro ritual de iniciação registrado por Divino aparece em Aprendiz de curador (2003), que será exibido hoje, sexta e sábado.
Tanto no primeiro quanto no segundo filme registro festas em que os jovens ficam durante dias sem água nem comida, sofrem para crescer. Na Iniciação, para ser um guerreiro, e no Aprendiz, para se fortalecer e se poder curar os doentes explica o diretor.
Já em Vamos à luta, de 2002, Divino registra as comemorações de índios Makuxi de Roraima em torno dos 20 anos de batalhas pela homologação de suas terras, sob intimidação de soldados do Exército nas fronteiras do país. O filme será apresentado hoje às 14h.
No Rio, Divino participará também do grupo de diretores que irá filmar O olhar do índio sobre a cidade.
A gente quer mostrar às nossas comunidades como a vida é mais difícil na cidade, que quem não tem dinheiro não tem nada diz Divino. Na aldeia não tem imposto ou conta para pagar. O que é meu também é da comunidade. A gente vive em união.
Em outro vídeo, crianças apresentam aldeia ao mundo
Além dos filmes de Divino, a mostra Vídeo nas aldeias: Um olhar indígena tem como destaque o vídeo Das crianças Ikpeng para o mundo, realizado por Kumaré, Karané e Natuyu Txicão, e que será exibido hoje e de sexta a domingo. Feito em 2001, o filme mostra quatro crianças da tribo Ikpeng, do Mato Grosso, apresentando sua aldeia para crianças de Serra Maestra, em Cuba.
A sociedade não indígena vai aprender como vivemos. Temos que registrar estas tradições enquanto nossos velhos vivem, porque não tem nada escrito, só memórias defende Divino.
YANOMAMIS E TICUNAS EM EXPOSIÇÃO
Artistas como Gary Hill e Adriana Varejão mostram sua visão dos índios
O artista americano Gary Hill, conhecido no mundo inteiro por suas belas videoinstalações, resolveu que ia participar do projeto testemunhando, sem qualquer paliativo, como acontece uma cerimônia de iniciação ao xamanismo. Convenceu os índios, tomou a bebida sagrada e passou horas desmaiado, para depois acordar em delírio, dizendo frases desconexas. Os xamãs yanomamis precisaram invocar a proteção dos espíritos brancos para que Hill voltasse ao normal.
São e salvo, o artista transformou a experiência no vídeo que integra a exposição Yanomami, o espírito da floresta, que faz parte da programação que discute a arte e a cultura indígenas no Centro Cultural Banco do Brasil. Junto com Yanomami, o CCBB também apresenta Ticuna, pinturas da floresta, com 40 pinturas e dois grandes painéis feitos pelos índios da aldeia, que fica no alto Solimões, além de fotos que registram o dia-a-dia na tribo.
Grande sucesso de crítica e público quando esteve em cartaz na Fundação Cartier de Paris, ano passado, Yanomami reúne 13 artistas brasileiros e estrangeiros. Cinco deles Hill, Adriana Varejão, Raymond Depardon, Stephen Vitiello e Wolfgang Staehle passaram temporadas na aldeia, no meio da Floresta Amazônica.
Tivemos a preocupação de fazer com que cada artista passasse uma temporada completamente isolado com os índios. Eu estava lá para fazer a tradução e ajudar no primeiro contato, mas não havia nenhum outro artista conta o antropólogo Bruce Albert, idealizador da mostra.
Albert foi essencial para que Adriana Varejão fizesse o trabalho que está na mostra.
Ela levou um catálogo de suas obras recentes e os índios chegaram à conclusão que Adriana também é xamã. As pinturas que mostra no CCBB são interpretações das conversas com eles e dos desenhos que viu na aldeia conta o antropólogo. (Daniela Name)
O Globo, 21/04/2004, p.2
Realizadores indígenas apresentam suas tradições em mostra no CCBB
Em 1992, aos 17 anos, o índio xavante Divino Tserewahú recebeu das mãos do irmão Jeremias uma câmera de vídeo, doada à comunidade onde vive, Sangradouro, no Mato Grosso, pela ONG Vídeo nas Aldeias. Hoje, aos 29 anos, Divino já se orgulha do currículo de cinco vídeos que está trazendo ao Rio, como um dos dez realizadores indígenas convidados para a mostra Um olhar indígena, que foi aberta ontem no Centro Cultural Banco do Brasil, e fica em cartaz até o dia 25 de abril.
Comecei a aprender sozinho, mas tive a oportunidade de fazer um curso em 1997, no Parque do Xingu. Aí aprendi muito conta Divino, que em seu primeiro filme, Obrigado irmão, de 1998, faz uma homenagem a Jeremias pela chance que teve. O vídeo tem sessões hoje, e de sexta a domingo.
Registros de ritos de iniciação do corpo e do espírito
Passado o tempo de aprendizado, Divino foi a outra aldeia mato-grossense, Pimentel Barbosa, onde filmou a iniciação de jovens xavantes, com idades entre 13 e 17 anos, um ritual que se repete a cada sete anos. O resultado está no filme Wapté mnhõnõ Iniciação do jovem Xavante (de 1999), que começa a ser exibido amanhã, às 16h, na sala de cinema do CCBB.
Outro ritual de iniciação registrado por Divino aparece em Aprendiz de curador (2003), que será exibido hoje, sexta e sábado.
Tanto no primeiro quanto no segundo filme registro festas em que os jovens ficam durante dias sem água nem comida, sofrem para crescer. Na Iniciação, para ser um guerreiro, e no Aprendiz, para se fortalecer e se poder curar os doentes explica o diretor.
Já em Vamos à luta, de 2002, Divino registra as comemorações de índios Makuxi de Roraima em torno dos 20 anos de batalhas pela homologação de suas terras, sob intimidação de soldados do Exército nas fronteiras do país. O filme será apresentado hoje às 14h.
No Rio, Divino participará também do grupo de diretores que irá filmar O olhar do índio sobre a cidade.
A gente quer mostrar às nossas comunidades como a vida é mais difícil na cidade, que quem não tem dinheiro não tem nada diz Divino. Na aldeia não tem imposto ou conta para pagar. O que é meu também é da comunidade. A gente vive em união.
Em outro vídeo, crianças apresentam aldeia ao mundo
Além dos filmes de Divino, a mostra Vídeo nas aldeias: Um olhar indígena tem como destaque o vídeo Das crianças Ikpeng para o mundo, realizado por Kumaré, Karané e Natuyu Txicão, e que será exibido hoje e de sexta a domingo. Feito em 2001, o filme mostra quatro crianças da tribo Ikpeng, do Mato Grosso, apresentando sua aldeia para crianças de Serra Maestra, em Cuba.
A sociedade não indígena vai aprender como vivemos. Temos que registrar estas tradições enquanto nossos velhos vivem, porque não tem nada escrito, só memórias defende Divino.
YANOMAMIS E TICUNAS EM EXPOSIÇÃO
Artistas como Gary Hill e Adriana Varejão mostram sua visão dos índios
O artista americano Gary Hill, conhecido no mundo inteiro por suas belas videoinstalações, resolveu que ia participar do projeto testemunhando, sem qualquer paliativo, como acontece uma cerimônia de iniciação ao xamanismo. Convenceu os índios, tomou a bebida sagrada e passou horas desmaiado, para depois acordar em delírio, dizendo frases desconexas. Os xamãs yanomamis precisaram invocar a proteção dos espíritos brancos para que Hill voltasse ao normal.
São e salvo, o artista transformou a experiência no vídeo que integra a exposição Yanomami, o espírito da floresta, que faz parte da programação que discute a arte e a cultura indígenas no Centro Cultural Banco do Brasil. Junto com Yanomami, o CCBB também apresenta Ticuna, pinturas da floresta, com 40 pinturas e dois grandes painéis feitos pelos índios da aldeia, que fica no alto Solimões, além de fotos que registram o dia-a-dia na tribo.
Grande sucesso de crítica e público quando esteve em cartaz na Fundação Cartier de Paris, ano passado, Yanomami reúne 13 artistas brasileiros e estrangeiros. Cinco deles Hill, Adriana Varejão, Raymond Depardon, Stephen Vitiello e Wolfgang Staehle passaram temporadas na aldeia, no meio da Floresta Amazônica.
Tivemos a preocupação de fazer com que cada artista passasse uma temporada completamente isolado com os índios. Eu estava lá para fazer a tradução e ajudar no primeiro contato, mas não havia nenhum outro artista conta o antropólogo Bruce Albert, idealizador da mostra.
Albert foi essencial para que Adriana Varejão fizesse o trabalho que está na mostra.
Ela levou um catálogo de suas obras recentes e os índios chegaram à conclusão que Adriana também é xamã. As pinturas que mostra no CCBB são interpretações das conversas com eles e dos desenhos que viu na aldeia conta o antropólogo. (Daniela Name)
O Globo, 21/04/2004, p.2
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