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PF procura corpos de garimpeiros em reserva

15/04/2004

Fonte: O Globo, O Pais, p.9



PF procura corpos de garimpeiros em reserva

Rodrigo Rangel

BRASÍLIA. A Polícia Federal fará buscas hoje na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia, na tentativa de localizar um grupo de garimpeiros armados que teria entrado na área na noite de segunda-feira para resgatar corpos de colegas mortos num ataque de índios cintas-largas a um garimpo clandestino na semana passada. A operação terá o apoio de um avião e dois helicópteros. Agentes da PF em greve foram liberados pelo comando nacional do movimento para participar das buscas. A entrada dos garimpeiros na reserva despertou o temor de um novo conflito. Ontem à noite, o vice-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Roberto Lustosa, conversou por telefone com um chefe indígena da região, que confirmou a presença do grupo armado na área. Segundo Lustosa, os cintas-largas temiam um ataque dos garimpeiros às aldeias no decorrer da noite. — Existe uma possibilidade grande de acontecer outro confronto — disse Lustosa. Garimpeiros já teriam encontrado de 14 a 17 corpos Dirigentes do Sindicato dos Garimpeiros de Rondônia informaram ao superintendente da PF no estado, Marco Aurélio Moura, que o grupo que entrou na reserva teria encontrado de 14 a 17 corpos de vítimas do ataque dos cintas-largas na semana passada. Eles agiram por conta própria por causa da demora no resgate. Reclamavam que a Funai estava retardando as buscas. Na segunda-feira, três corpos já haviam sido resgatados. Ontem, os policiais federais sobrevoaram a região num pequeno avião, mas não aterrissaram. Garimpeiros estavam no avião e indicaram um ponto onde estariam os corpos. Segundo o superintendente da PF, 30 policiais vão participar das buscas, por ar e terra. Funcionários da Funai deverão acompanhar o trabalho para evitar reação dos índios. A PF teve de alugar um helicóptero e um avião para fazer a operação. Amanhã, um terceiro helicóptero deverá reforçar as buscas. Representantes da direção da Funai, entre eles o sertanista Apoena Meirelles, que participou em 1969 dos primeiros contatos com os cintas-largas, foram para a Roosevelt tentar impedir que os índios lutem contra os garimpeiros que entraram na reserva. Na semana que vem a PF fará uma grande operação para impedir que mais garimpeiros entrem na reserva para extrair diamantes ilegalmente. Os policiais farão barreiras em todos os acessos à área.

CACIQUE OITA MATINA CINTA-LARGA ‘Guerreiros podem agir de novo’  Rodrigo Rangel BRASÍLIA. O cacique Oita Matina Cinta-Larga, que comanda uma das aldeias da reserva Roosevelt, diz que reagirá novamente com assassinatos se houver mais invasões. Por telefone, admite que o número de garimpeiros mortos no ataque da semana passada pode ser maior. Como está a situação na reserva? OITA MATINA CINTRA-LARGA: Os garimpeiros estão revoltados e pensam que a gente vai abrir mão do negócio dentro da nossa área. Mas os índios estão unidos e a qualquer momento atacam de novo os garimpeiros. Os índios não agem de violência própria. Quando você mexe com a casa do marimbondo, o marimbondo age. Com os índios é a mesma coisa. Pode haver novos ataques? OITA: Pode, pode acontecer. Se os garimpeiros entrarem de novo, os guerreiros podem agir. Os garimpeiros dizem que há dezenas de desaparecidos ainda e reclamam que a Funai não está deixando a polícia entrar para resgatar esses corpos. OITA: Não é a Funai que não está deixando. São os próprios índios que não estão deixando porque estamos sendo ameaçados pelos garimpeiros, pelos brancos. Como foi o confronto da semana passada? OITA: Há muito tempo a gente está agüentando abuso do garimpeiros. A gente proibiu a entrada deles, mas um que era chefão disse que ia botar 200 garimpeiros armados lá dentro e que ia acabar com os índios. Foi aí que aconteceu, porque era a gente ou os garimpeiros. Quantas pessoas morreram ao todo? OITA: Não posso confirmar o número de mortos porque não conversei ainda com os guerreiros. Tenho que conversar com os guerreiros para saber quantos foram (mortos).

O Globo, 15/04/2004, p. 9
 

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