From Indigenous Peoples in Brazil
News
Tradição sem medo de tecnologia
24/04/2004
Fonte: JB, Caderno B, p. B4
Tradição sem medo de tecnologia
Diretor de vídeo, o índio Isaac Pinhanta diz que técnicas modernas também podem fortalecer a identidade cultural
CECILIA GIANNETTI
Divulgação
Isaac Pinhanta, da etnia Ashaninka, que vive entre o Acre e o Peru, derruba rapidamente (pré)conceitos comuns sobre os índios e suas tradições. Diretor do vídeo No tempo das chuvas, que integra o programa de documentários Realizadores indígenas, em cartaz até amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil, ele acredita que a tradição não deve temer a tecnologia. Pelo contrário:
- Muitos criticam índios que usam relógio, câmeras e falam português. Mas essas são ferramentas que usamos para fortalecer nossa identidade - afirma.
- Se você manda um brasileiro para os Estados Unidos, ele não deixa de ser brasileiro só porque está lá - acrescenta.
Aos 28 anos, Isaac é presidente da Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) e há dez anos atua como professor bilíngüe. Em 1998, teve seu primeiro contato com as câmeras através da organização não-governamental Vídeo nas Aldeias (http://www.videonasaldeias.org.br), coordenado pela diretora Mari Corrêa, que explica:
- Este filme do Isaac (No tempo das chuvas) é leve, conta o cotidiano mostrando o que há de cultural nele. Índio não é só aquela coisa do ritual, as roupas de festa. Os vídeos mostram como são as brincadeiras do dia-a-dia, as conversas, o senso de humor. Isso também é essencial para que se entenda a cultura.
Deixando de privilegiar o aspecto ritualístico para oferecer um olhar do próprio índio sobre a vida que leva, o cinema mostrado em Realizadores indígenas tem viabilizado uma integração entre povos que, antes do uso do vídeo, dificilmente aconteceria. Os filmes são exibidos e discutidos entre as aldeias e carregam impressões diferentes de uma a outra, resultando na troca de técnicas e experiências.
- A câmera não é da nossa cultura mas tem ajudado a fortalecer nossa identidade.
Isaac garante que não houve resistência das aldeias à utilização das câmeras ou ao registro das imagens. O resultado de sua primeira experiência em vídeo mostra como a idéia tem sido recebida:
- No tempo das chuvas tem falhas, mas aprendo muito toda vez que vejo. Os velhos falam sobre coisas importantes da nossa cultura. Só o pajé preferiu que não o filmássemos, por questões espirituais.
O vídeo tem ainda outro papel a cumprir entre os índios:
- Temos vídeos que comprovam que as nossas fronteiras foram ultrapassadas. Filmamos acampamentos de madeireiros e 20 mil hectares de nossas terras já foram invadidas por eles.
Isaac lembra que tem sido difícil assegurar a manutenção dos territórios demarcados. A situação enfrentada pelos índios da etnia Cinta-larga, ameaçada por garimpeiros em Rondônia, não é um caso isolado. Os Ashaninka, por exemplo, têm sofrido invasão de empresas madeireiras.
Neste caso, a grande vantagem da equipe do Vídeo nas Aldeias é a facilidade com que podem se conduzir na mata. Os índios chegam com a câmera a lugares em que, para um helicóptero descer, seria necessário derrubar bastante vegetação, alarmando (e espantando) o ''assunto'' dos vídeos. Uma das fitas com imagens dos acampamentos já foi entregue à polícia mas, segundo Isaac Pinhanta, nenhuma providência foi tomada:
- O governo brasileiro nos deu um território mas não deu proteção. São os índios que há anos avisam que as fronteiras do Brasil estão sendo invadidas, inclusive pelo narcotráfico, construindo pistas clandestinas na mata. O exército não faz nada - alerta.
Se as denúncias não solucionaram os problemas da região, pelos menos nas comunidades os documentários têm tido serventia:
- Eles possibilitam o intercâmbio crítico entre as aldeias e iniciaram uma discussão sobre o que está bom e pode ser melhorado e o que está ruim e pode ser consertado.
JB, 24/04/2004, Caderno B, p. B4
Diretor de vídeo, o índio Isaac Pinhanta diz que técnicas modernas também podem fortalecer a identidade cultural
CECILIA GIANNETTI
Divulgação
Isaac Pinhanta, da etnia Ashaninka, que vive entre o Acre e o Peru, derruba rapidamente (pré)conceitos comuns sobre os índios e suas tradições. Diretor do vídeo No tempo das chuvas, que integra o programa de documentários Realizadores indígenas, em cartaz até amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil, ele acredita que a tradição não deve temer a tecnologia. Pelo contrário:
- Muitos criticam índios que usam relógio, câmeras e falam português. Mas essas são ferramentas que usamos para fortalecer nossa identidade - afirma.
- Se você manda um brasileiro para os Estados Unidos, ele não deixa de ser brasileiro só porque está lá - acrescenta.
Aos 28 anos, Isaac é presidente da Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) e há dez anos atua como professor bilíngüe. Em 1998, teve seu primeiro contato com as câmeras através da organização não-governamental Vídeo nas Aldeias (http://www.videonasaldeias.org.br), coordenado pela diretora Mari Corrêa, que explica:
- Este filme do Isaac (No tempo das chuvas) é leve, conta o cotidiano mostrando o que há de cultural nele. Índio não é só aquela coisa do ritual, as roupas de festa. Os vídeos mostram como são as brincadeiras do dia-a-dia, as conversas, o senso de humor. Isso também é essencial para que se entenda a cultura.
Deixando de privilegiar o aspecto ritualístico para oferecer um olhar do próprio índio sobre a vida que leva, o cinema mostrado em Realizadores indígenas tem viabilizado uma integração entre povos que, antes do uso do vídeo, dificilmente aconteceria. Os filmes são exibidos e discutidos entre as aldeias e carregam impressões diferentes de uma a outra, resultando na troca de técnicas e experiências.
- A câmera não é da nossa cultura mas tem ajudado a fortalecer nossa identidade.
Isaac garante que não houve resistência das aldeias à utilização das câmeras ou ao registro das imagens. O resultado de sua primeira experiência em vídeo mostra como a idéia tem sido recebida:
- No tempo das chuvas tem falhas, mas aprendo muito toda vez que vejo. Os velhos falam sobre coisas importantes da nossa cultura. Só o pajé preferiu que não o filmássemos, por questões espirituais.
O vídeo tem ainda outro papel a cumprir entre os índios:
- Temos vídeos que comprovam que as nossas fronteiras foram ultrapassadas. Filmamos acampamentos de madeireiros e 20 mil hectares de nossas terras já foram invadidas por eles.
Isaac lembra que tem sido difícil assegurar a manutenção dos territórios demarcados. A situação enfrentada pelos índios da etnia Cinta-larga, ameaçada por garimpeiros em Rondônia, não é um caso isolado. Os Ashaninka, por exemplo, têm sofrido invasão de empresas madeireiras.
Neste caso, a grande vantagem da equipe do Vídeo nas Aldeias é a facilidade com que podem se conduzir na mata. Os índios chegam com a câmera a lugares em que, para um helicóptero descer, seria necessário derrubar bastante vegetação, alarmando (e espantando) o ''assunto'' dos vídeos. Uma das fitas com imagens dos acampamentos já foi entregue à polícia mas, segundo Isaac Pinhanta, nenhuma providência foi tomada:
- O governo brasileiro nos deu um território mas não deu proteção. São os índios que há anos avisam que as fronteiras do Brasil estão sendo invadidas, inclusive pelo narcotráfico, construindo pistas clandestinas na mata. O exército não faz nada - alerta.
Se as denúncias não solucionaram os problemas da região, pelos menos nas comunidades os documentários têm tido serventia:
- Eles possibilitam o intercâmbio crítico entre as aldeias e iniciaram uma discussão sobre o que está bom e pode ser melhorado e o que está ruim e pode ser consertado.
JB, 24/04/2004, Caderno B, p. B4
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