From Indigenous Peoples in Brazil
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News

Distante do Congresso

22/05/2006

Fonte: CB, Política, p. 5



Distante do Congresso
População indígena fica cada vez mais longe de conseguir um mandato na Câmara ou no Senado

Lilian Tahan
da equipe do Correio

Mais numerosos, mais escolarizados e com maior inserção nos meios urbanos, a evolução dos índios nas últimas duas décadas não acompanhou a participação dessa parcela da população brasileira na política partidária. A falta de representatividade junto aos partidos e a dificuldade de financiamento de campanha desencorajam esses brasileiros a tentar cargos eletivos no Congresso Nacional e assembléias legislativas. A tendência para o pleito de outubro é de que o número de pré-candidatos índios se reduza a um terço em relação a 2002.

Nas últimas eleições, 21 índios se lançaram candidatos. Desses, três disputaram vagas na Câmara, um saiu para o Senado e outros 17 tentaram colocações nas assembléias legislativas. Nenhum foi eleito. Juntos somaram 13.371 votos. Em Roraima, um dos estados que teve seis candidatos à Assembléia Legislativa nas eleições passadas, apenas dois candidatos vão tentar se eleger em nível estadual e um vai se candidatar para a Câmara. No Mato Grosso do Sul há um índio disposto a enfrentar as urnas.

Geremias Xavante faz parte do seleto grupo de índios que vai disputar as eleições de outubro. Tentará a vaga de deputado federal pelo PL. Há 15 anos como funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai), ele se sente preparado para fazer política. "Ao longo desses anos eu me lapidei, estou pronto para ocupar um lugar no Congresso, mas o preconceito com o índio ainda é muito grande e as nossas chances muito pequenas", lamenta.

Um estudo de campo realizado pelo antropólogo Gabriel Alvarez, da Universidade de Brasília (UnB), confirma que a tendência dos índios para as próximas eleições é ficar fora da disputa pelos cargos políticos nacionais. Segundo o professor apurou em visita a tribos do Amazonas, a população indígena tem se voltado para a política local, com a preferência pelas câmaras de vereadores e os cargos de prefeito e vice-prefeito. No último pleito para prefeitos e vereadores, 275 índios se candidataram. Desses, 70 foram eleitos vereadores e quatro chegaram a ocupar o cargo de prefeito.

A partir da experiência do pesquisador, a tendência dos índios de restringir a atividade política aos espaços locais é explicada por dois motivos. No primeiro deles, Gabriel Alvarez reforça a dificuldade da população indígena em se organizar politicamente.

Como representam apenas 0,4% da população, tendo atingido a marca de 731 mil segundo o último censo demográfico de 2000 - em 1991 não chegavam a 300 mil -, não conseguem atender aos pré-requisitos eleitorais para a formação de um partido próprio e ficam na dependência de alianças com as legendas existentes, que quase nunca se empenham em ter um candidato índio eleito.

O segundo motivo é prático. Os índios notaram que a maior parte de suas necessidades são resolvidas a partir de ações locais, diretamente com as prefeituras. "Um índio que se torna prefeito vai conseguir atender imediatamente necessidades de sua comunidade ligada, por exemplo, à políticas de saúde e assistência social porque terá acesso direto aos repasses de recursos federais", lembra Alvarez.


MEMÓRIA / MÁRIO JURUNA
Gravador como testemunha

Até hoje apenas um índio conseguiu projeção nacional na política partidária. Mário Jurana, da tribo dos Xavante, ganhou notoriedade pela forma como se incluiu no Congresso. Na década de 1970, ele deixou a aldeia em Mato Grosso para atuar em Brasília. Tornou-se conhecido pela forma como abordava os políticos. Registrava em um gravador as promessas dos políticos, especialmente as voltadas para a população indígena, para mais tarde cobrá-los. A rotina de Juruna virou personagem do comediante Jô Soares, ajudando a projetar nacionalmente Juruna.

Em1981, Juruna se elegeu deputado federal pelo PDT do Rio, de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. E a tribuna passou a ser seu alto-falante para defender os interesses de sua gente. Parlamentar atuante, ocupou a primeira presidência da Comissão do Índio. Mas a sua carreira política não se multiplicou em outras legislaturas, apesar de ter tentado se reeleger três vezes.

Um dos motivos de sua breve passagem pelo Congresso foi o envolvimento na disputa dos Pataxó Hã-Hã-Hã pela recuperação de terras em 1984. Na ocasião, Juruna afirmou que eles não eram índios e que não deviam ser contemplados. Juruna morreu em junho de 2002, mas antes de ficar doente, continuou atuando em favor dos índios nas esferas do poder. Inúmeras vezes foi o porta-voz de povos indígenas junto à Fundação Nacional do Índio (Funai).

CB, 22/05/2006, Política, p. 5
 

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