From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Visto de Foz do Iguaçu, o Brasil é outro
20/06/2007
Autor: CORRÊA, Marcos Sá
Fonte: OESP, Vida, p. A20
Visto de Foz do Iguaçu, o Brasil é outro
Marcos Sá Corrêa
A opção do Ministério do Meio Ambiente pelo desenvolvimento sustentável produziu seu primeiro resultado concreto para a natureza do Brasil: uma rica safra de estudos confiáveis sobre uma política que até agora se baseava em dogmas de fé. Eles vêm de fontes variadas. E desaguaram nesta semana em Foz do Iguaçu, no 5º Congresso de Unidades de Conservação. Três anos atrás, no 4º congresso, os ambientalistas ainda tinham de engolir calados, quando a ministra Marina Silva falava em preservar a Amazônia com reservas extrativistas, assentamentos e outras modalidades de uso presumidamente benigno. Desta vez, deu para ver onde essa política vai dar.
Dará, por exemplo, em florestas despovoadas pela fauna de grande porte, que é a primeira a cair na barriga de índios e colonos, como provam os 20 e tantos anos de pesquisa do biólogo Carlos Peres. Ele é paraense, filho de um grande exportador de castanhas nativas, doutor em Ecologia Tropical por Cambridge e professor da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Mas seu maior título é o dom de mergulhar na selva e emergir um mês depois com uma carga estonteante de conclusões incontroversas, colhidas diretamente no campo.
Peres consegue ser enfático sem recorrer a um só adjetivo. Descreve o processo de extinção que está em curso na Amazônia, escondido do monitoramento por satélite sob a copa das árvores, como se resolvesse equações matemáticas. Mostra como seringueiros, colonos e índios se equivalem, roendo hiléia por baixo a taxas convergentes, pelo ponto de vista dos bichos, da anta ao jabuti.
Os mamíferos, em geral, caçados pela economia de subsistência à razão de 150 mil toneladas de carne por ano, começam a bater em retirada quando a presença humana cruza a fronteira de 0,1 pessoa por km2. Isso é um décimo da densidade que, tradicionalmente, passava por "sustentável" - e nem esse índice cabalístico a Amazônia pode manter, crescendo em média 4% ao ano. Nos quase 400 municípios da floresta, 296 já ultrapassaram o patamar de 1 habitante por km2. Não é à toa que os índios sataré-mauês, no limite do Pará com o Amazonas, andam aumentando a venda de guaraná para comprar 30 bois por mês. Na reserva, a caça acabou.
Outro dossiê que não se pode varrer para debaixo das notícias sobre o senador Renan Calheiros é o do zoólogo Fábio Olmos, sobre o impacto dos assentamentos de reforma agrária.
Olmos rompe o silêncio que os ambientalistas brasileiros sempre guardaram em relação ao MST. Não sobra de sua avaliação nem a Fazenda Anoni, no Rio Grande do Sul, tida como modelo do movimento. Declara que, fora casos esparsos de assentamentos conjugados com projetos ambientais, a verdadeira afinidade da reforma agrária brasileira é com o "agronegócio", abrindo frentes para a "destruição de hábitats no País, com o agravante de ser financiada pelo contribuinte".
"O saldo geral é extremamente negativo para a natureza, quando não para as próprias populações envolvidas", que o Incra condenou a lavrar no deserto.
Marcos Sá Correa é jornalista e editor do site O Eco
OESP, 20/06/2007, Vida, p. A20
Marcos Sá Corrêa
A opção do Ministério do Meio Ambiente pelo desenvolvimento sustentável produziu seu primeiro resultado concreto para a natureza do Brasil: uma rica safra de estudos confiáveis sobre uma política que até agora se baseava em dogmas de fé. Eles vêm de fontes variadas. E desaguaram nesta semana em Foz do Iguaçu, no 5º Congresso de Unidades de Conservação. Três anos atrás, no 4º congresso, os ambientalistas ainda tinham de engolir calados, quando a ministra Marina Silva falava em preservar a Amazônia com reservas extrativistas, assentamentos e outras modalidades de uso presumidamente benigno. Desta vez, deu para ver onde essa política vai dar.
Dará, por exemplo, em florestas despovoadas pela fauna de grande porte, que é a primeira a cair na barriga de índios e colonos, como provam os 20 e tantos anos de pesquisa do biólogo Carlos Peres. Ele é paraense, filho de um grande exportador de castanhas nativas, doutor em Ecologia Tropical por Cambridge e professor da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Mas seu maior título é o dom de mergulhar na selva e emergir um mês depois com uma carga estonteante de conclusões incontroversas, colhidas diretamente no campo.
Peres consegue ser enfático sem recorrer a um só adjetivo. Descreve o processo de extinção que está em curso na Amazônia, escondido do monitoramento por satélite sob a copa das árvores, como se resolvesse equações matemáticas. Mostra como seringueiros, colonos e índios se equivalem, roendo hiléia por baixo a taxas convergentes, pelo ponto de vista dos bichos, da anta ao jabuti.
Os mamíferos, em geral, caçados pela economia de subsistência à razão de 150 mil toneladas de carne por ano, começam a bater em retirada quando a presença humana cruza a fronteira de 0,1 pessoa por km2. Isso é um décimo da densidade que, tradicionalmente, passava por "sustentável" - e nem esse índice cabalístico a Amazônia pode manter, crescendo em média 4% ao ano. Nos quase 400 municípios da floresta, 296 já ultrapassaram o patamar de 1 habitante por km2. Não é à toa que os índios sataré-mauês, no limite do Pará com o Amazonas, andam aumentando a venda de guaraná para comprar 30 bois por mês. Na reserva, a caça acabou.
Outro dossiê que não se pode varrer para debaixo das notícias sobre o senador Renan Calheiros é o do zoólogo Fábio Olmos, sobre o impacto dos assentamentos de reforma agrária.
Olmos rompe o silêncio que os ambientalistas brasileiros sempre guardaram em relação ao MST. Não sobra de sua avaliação nem a Fazenda Anoni, no Rio Grande do Sul, tida como modelo do movimento. Declara que, fora casos esparsos de assentamentos conjugados com projetos ambientais, a verdadeira afinidade da reforma agrária brasileira é com o "agronegócio", abrindo frentes para a "destruição de hábitats no País, com o agravante de ser financiada pelo contribuinte".
"O saldo geral é extremamente negativo para a natureza, quando não para as próprias populações envolvidas", que o Incra condenou a lavrar no deserto.
Marcos Sá Correa é jornalista e editor do site O Eco
OESP, 20/06/2007, Vida, p. A20
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