From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

News

Campanha Y Ikatu Xingu realiza oficina com jovens Ikpeng

26/11/2007

Autor: Rosana Gasparini e Rosely Sanches

Fonte: ISA




Evento apresentou os objetivos e as principais iniciativas da mobilização. Também discutiu as práticas de agricultura e conservação dos próprios indígenas e promoveu exercícios práticos na roça e nos quintais da aldeia com técnicas agroflorestais que vêm sendo usadas em projetos na região. Comunidade Ikpeng já vem realizando ações para preservar os recursos naturais do Parque Indígena do Xingu e também quer ajudar a proteger as nascentes e matas ciliares.

A campanha ‘Y Ikatu Xingu e o Movimento Jovem Ikpeng (MJI) promoveram, entre 5 e 10 de novembro, uma oficina temática na aldeia Moygu, do povo Ikpeng, no Parque Indígena do Xingu (PIX). A idéia de realizar o evento nasceu da preocupação da comunidade, sobretudo dos jovens, com a preservação de sua cultura e de seu território. E também da sua necessidade de informar-se sobre problemas que, segundo eles, "agridem o meio ambiente" - como o assoreamento dos rios, a retirada ilegal de madeira, desmatamentos e queimadas - e sobre como isso afeta seu modo de vida.

Algumas atividades do evento chegaram a contar com a presença de até 50 pessoas, entre jovens, alunos da escola local, lideranças e velhos, que não deixaram de participar e de dar suas opiniões mesmo enquanto realizavam tarefas tradicionais, como a confecção de utensílios e artesanato. Essa atividades ocorreram em vários lugares diferentes: na Mungye, casa do centro da aldeia, onde acontecem as reuniões e são tomadas as decisões; na casa grande do cacique Mayaum, na escola, na roça, no caminho da aldeia e nos quintais das casas.

No encontro, foram abordados o histórico, a importância para as comunidades indígenas e as principais iniciativas da campanha, como ações de reflorestamento de nascentes e matas ciliares, a implantação de sistemas agroflorestais (SAFs) e a formação de agentes socioambientais. Foram apresentadas ainda informações sobre a participação dos vários segmentos envolvidos, como os povos Ki~sêdjê e Yudja (também moradores do Parque), assentados, agricultores familiares, produtores rurais, prefeituras e escolas da região das cabeceiras do Xingu.

A oficina abriu espaço para as próprias práticas agrícolas e conservacionistas dos indígenas e discutiu os principais impactos do desmatamento e das queimadas dentro e fora do PIX. Ocorreram explanações teóricas e exercícios práticos de técnicas agroflorestais que vêm sendo usadas nos projetos da campanha. Os participantes coletaram sementes, tiveram informações sobre novas formas de manuseá-las e plantá-las, implantaram SAFs com espécies nativas e frutíferas, em pequenas áreas experimentais em suas roças e quintais. Aprenderam, por exemplo, como fazer a "muvuca", uma mistura de sementes que é colocada em uma mesma cova, e tiveram demonstrações de como evitar a erosão. Durante a oficina, também ocorreu uma feira de troca de sementes.

Já há alguns anos, a Escola Indígena Ikpeng, em especial por meio de seus professores Korotowï, Maiua e Iokore, discute as mudanças no meio ambiente e o que isso pode significar para a sobrevivência futura dos povos indígenas.

Participação na campanha

"Queremos discutir e nos informar sobre as causas [dos impactos ambientais] para poder agir. Não queremos ficar parados, pelo menos podemos contribuir para melhorar, sabemos que podemos não acabar com os problemas, mas não queremos ficar parados", afirmou Txonto Ikpeng, uma das lideranças do MJI, que conduziu a discussão sobre formas de participação da comunidade na campanha ‘Y Ikatu Xingu. Os jovens Ikpeng têm atuado de forma vigorosa e entusiasta na defesa dos direitos de seu povo.

O MJI apresentou algumas propostas para contribuir com a mobilização, como, por exemplo, a realização de oficinas para formação de agentes agroflorestais, com o envolvimento da escola em plantios - como forma de recuperar as áreas degradadas ao redor da aldeia e dar seqüência ao que foi iniciado na oficina. Também surgiu a idéia de firmar uma parceria com a Associação Indígena Moygu Comunidade Ikpeng (AIMCI), que representa formalmente o povo Ikpeng, para a venda de sementes destinadas ao reflorestamento fora do PIX. Foi considerada importante ainda a realização de um encontro com outros jovens xinguanos para tratar dos temas território e cultura.

"Eu apóio a campanha ‘Y Ikatu Xingu porque sem a floresta eu não vivo e conto com a ajuda de parceiros como o ISA que tem a mesma preocupação", disse o cacique Mayaum. "É importante que estejam fazendo esse trabalho, porque, senão, como vai ficar a situação da caça, da pesca, se alguém não cuidar, como nossos netos vão comer, vão viver? Como vai ser o futuro para eles?", questionou. Mayaum alertou ainda que a floresta abriga espíritos que devem ser respeitados e que o ciclo de vida da mata também precisa da ajuda dos índios para continuar.

"Os jovens já se mobilizam no sentido dessa preocupação que vocês têm e nós temos também", comentou o cacique. Ele contou ainda que os Ikpeng já trabalham há alguns anos, mesmo antes do surgimento campanha, para a preservação de seu território e de seus recursos naturais. Eles têm participado da fiscalização das fronteiras do PIX e realizaram expedições até suas terras ancestrais. Mayaum lembrou que os jovens Ikpeng organizaram-se para visitar órgãos federais em Brasília e protestar contra a construção de barragens nas cabeceiras do Xingu, o que, de acordo com eles, vai prejudicar a pesca e inundar sítios históricos importantes.

A oficina foi planejada com apoio dos professores indígenas Ikpeng e desenvolvida pelos assessores do ISA Osvaldo Sousa, Eduardo Malta, Rosely Sanches, Marcus Tope Schmidt e Rosana Gasparini.
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source