From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
News
Governo aperta cerco, mas garimpo ilegal avança em reserva
16/12/2007
Fonte: OESP, Nacional, p. A14
Governo aperta cerco, mas garimpo ilegal avança em reserva
Em sobrevôo na área dos cintas-largas, 'Estado' constata presença de aproximadamente 40O garimpeiros
Roldão Arruda e Evelson de Freitas
O governo federal gastou neste ano R$ 2 milhões com a Operação Roosevelt, cujo objetivo é reprimir o garimpo e o comércio de diamantes na terra dos índios cintas-largas, entre os municípios de Espigão d'Oeste, Vilhena e Pimenta Bueno, no Estado de Rondônia. Em 2008, os gastos com essa atividade terão um acréscimo de 150%, chegando aos R$ 5 milhões - o equivalente a quase tudo que foi despendido desde 2004, quando a operação começou, logo após a tragédia do assassinato de 29 garimpeiros pelos índios. Apesar desses gastos, no entanto, o garimpo continua em ritmo acelerado na Terra Indígena Roosevelt.
O garimpo está concentrado no leito de um pequeno afluente do Rio Roosevelt, o Igarapé Lage, numa área de aproximadamente 200 hectares. Na sexta-feira, num sobrevôo nessa área, o Estado constatou a presença de aproximadamente 40 barracas de garimpeiros.
Na média, de acordo com informações de pessoas que conhecem a atividade e já estiveram na área, cada uma delas mobiliza dez pessoas - do cozinheiro ao operador dos grandes tratores de esteira, mais conhecidos como PCs, usados para a escavação do terreno. Seriam, portanto, quase 400 pessoas destinadas a cavoucar a terra em busca dos diamantes, cada vez mais difíceis de ser encontrados. Há sete anos, quando foi dada a largada no garimpo da região, eles praticamente afloravam na superfície do solo de aluvião.
Brancos e índios trabalham lado a lado. A maior preocupação dos índios agora é dominar o processo de mineração e livrar-se dos brancos. Até crianças são mobilizadas. Circulam entre fileiras de galões de combustível usado nos tratores, nas camionetas Toyota que entram e saem do lugar, nos sistemas de iluminação e nas incansáveis máquinas de dragagem da lama, que depois é cuidadosamente peneirada, em busca da pedra preciosa.
Foram avistados três PCs. Um deles, de aparência mais nova, teria entrado em operação em maio deste ano, segundo informações de um ex-funcionário do posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) existente na área. As perguntas inevitáveis são: como essa máquina gigantesca, com valor aproximado de R$ 500 mil, entrou na terra indígena após a montagem do sistema de barreiras da Polícia Federal? Como os galões de combustível continuam chegando até lá? Por onde saem os diamantes?
A parte mais ostensiva da Operação Roosevelt é um conjunto de oito barreiras - sete fixas e uma móvel - montadas ao redor da Terra Indígena Roosevelt, uma área de 23 mil km², o equivalente ao Estado de Sergipe, que abriga quatro reservas dos índios cintas-largas. Além dos agentes federais, elas mobilizam efetivos da Polícia Militar de Rondônia e da Polícia Rodoviária Federal. Também contam com o suporte do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, do Ministério da Defesa, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Funai. Tudo isso junto leva o pomposo nome de Grupo Operacional Roosevelt, oficialmente instituído em 2004 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
SEQÜESTRO
Há nove dias, os cintas-largas seqüestraram cinco pessoas, entre elas um oficial do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidades (ONU), que visitavam sua principal aldeia, e exigiram que o presidente da Funai, Márcio Meira, fosse até lá para ouvi-los reclamar da falta de assistência médica, da precariedade do ensino escolar nas aldeias e, sobretudo, da ação do grupo operacional. Disseram a Meira que, além de não impedir a entrada de garimpeiros em suas terras, os agentes da Polícia Federal impõem constrangimentos cada vez maiores à população indígena, agindo com truculência, exagerando na revistas das pessoas que passam pelas barreiras.
Sem poder sobre os federais, Meira ligou para Brasília e conseguiu marcar uma audiência dos índios com o ministro da Justiça, Tarso Genro. O encontro, marcado para esta semana, provocou certo amuamento entre federais acantonados ao redor da reserva. Em conversa informal, um deles disse ao Estado que são os índios que facilitam a entrada de garimpeiros e equipamentos, por trilhas e estradas clandestinas da reserva; e que seu objetivo final é o fim das barreiras, para que possam agir sem entraves na atividade ilegal de garimpar e vender diamantes de terra indígena. Outro disse que é praticamente impossível tomar conta de uma área tão vasta.
Durante três dias seguidos a reportagem tentou ouvir os representantes dos cintas-largas. Um deles, avistado por acaso, ao lado de sua namorada, num restaurante de classe média em Cacoal, chegou a agendar uma entrevista para o dia seguinte, mas não apareceu, nem deu explicações.
A alegação deles é de que a imprensa costuma distorcer o que dizem, além de ser preconceituosa.
Segundo Marcos Apurinã, vice-diretor da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), entidade que ajudou nas negociações para a soltura do oficial da ONU e dos outros reféns, o sonho dos cintas-largas é obter autorização e treinamento para explorar diretamente os recursos minerais de sua terra. Dizer que foram enganados quando fizeram acordo para a venda da madeira de lei de sua reserva, hoje praticamente extinta, e que já sofreram muito com os garimpeiros brancos.
Apesar de pertencer ao grupo apurinã, como diz seu nome, Marcos vive com sua família, ou clã, na Terra Indígena Roosevelt - em decorrência de um casamento de uma apurinã com um jovem cinta-larga. Por causa disso acompanha todo o debate em torno da mineração.
Ele contou que os cintas-largas já foram ao Canadá, para conhecer a experiência do povo cree, que também vive num território rico em recursos minerais, incluindo petróleo. "São índios empresários, que fazem contratos com empresas para a extração dos recursos minerais, amparados pelas leis canadenses. É isso que buscamos por aqui." É um sonho. Distante. No Brasil, a mineração em terra indígena ainda é proibida, pela falta de regulamentação do artigo da Constituição de 1988 que trata do assunto. Enquanto isso a mineração clandestina prossegue no leito do Igarapé Lage e o governo destina mais dinheiro para a manutenção das barreiras.
Contato com branco é recente
O contato dos cintas-largas com a chamada civilização dos homens brancos é recente. Ocorreu no fim dos anos 60, quando o regime militar financiou o avanço das estradas, queimadas e pastagens para o Norte, sob o slogan "integrar para não entregar".
Eles eram conhecidos entre os povos indígenas como caçadores e guerreiros. Viviam em aglomerados de ocas que chamavam a atenção pelo fato de serem muito altas e de arquitetura sofisticada. Vendo-as certa vez da janela de um avião, o indigenista Apoena Meirelles (1949-2004), chamou-as de "cidades de palha".
Segundo a indigenista Maria Inês Hargreaves, eles se autodenominam panderey (nossa gente). Cinta-larga foi o nome dado pelos brancos, por causa dos largos cintos feitos de casca de árvore, que usavam para proteger o abdômen durante as batalhas.
Quando foram contatados eram quase 5 mil índios. Nos anos seguintes, dizimados por doenças, foram reduzidos a 500. Hoje, com mais proteção, contam-se quase 2 mil.
Operação funciona, diz delegado
Sposito afirma que há 2 anos garimpeiros eram 5 mil
Na opinião do coordenador da Operação Roosevelt, delegado Mauro Sposito, da Polícia Federal, os resultados obtidos até agora são positivos. "Isso é tão verdadeiro que os interessados na mineração dos diamantes estão exigindo nossa saída da região", diz. "Se não estivéssemos incomodando, eles não fariam isso."
O delegado, cujo cargo oficial na Polícia Federal é o de coordenador do setor de Operações Especiais de Fronteira, observa que não se pode analisar a situação fora de um contexto mais amplo: "Sabemos que o garimpo continua, que existem cerca de cem homens trabalhando ali, com uma pá carregadeira em operação. Mas é preciso lembrar que no fim de 2004 o número de garimpeiros chegava a quase 5 mil."
Indagado sobre o fluxo de combustível e equipamentos para a região do garimpo, no coração da terra indígena, ele é taxativo: "Nada disso teria entrado se não fosse a conivência dos índios." A estratégia da polícia, segundo Sposito, é sufocar o garimpo: "Está dando certo. Depois que passamos a controlar as estradas por onde passava o óleo combustível para as máquinas, o preço do litro na área do garimpo subiu para R$ 7, enquanto aqui fora sai por R$ 2."
Sobre as reclamações dos índios a respeito das revistas nas barreiras policiais, Sposito diz: "Eles enfrentam as mesmas situações que as outras pessoas que tentam entrar na reserva."
Seqüestro com curso e regalia
Oficial da ONU pôde até ligar para tranqüilizar mulher
Foi tranqüila a estada do espanhol David Castro Neto, oficial do Alto Comissariado da ONU, entre os cintas-largas. Nos quatro dias em que esteve formalmente seqüestrado, na Aldeia Roosevelt, em Rondônia, ele até ministrou um curso de capacitação em direitos humanos aos índios.
Na verdade, ele havia ido até a aldeia exatamente para o curso, aplicado pela ONU entre minorias de países pobres, com o intuito de ajudar na identificação e na denúncia de violações de direitos humanos.
Logo na sua chegada, em meio a uma recepção festiva, os índios avisaram-no, juntamente com um pedido de desculpas, de que ele ficaria retido até que o presidente da Funai fosse visitar a aldeia.
No segundo dia, quando circulou pelo mundo a notícia de que um enviado da ONU tinha sido seqüestrado, os índios providenciaram um telefone para que David ligasse para a Espanha e tranqüilizasse sua mulher. Num dos momentos de confraternização, ao fim de um dia de curso, lhe ofereceram chicha, espécie de cerveja indígena. Em outra ocasião insistiram para que dissesse o que estava com vontade de comer. Quando Castro respondeu, por delicadeza, sem pensar muito, que gostaria de um prato de carne, não titubearam: abateram um boi.
O procurador Reginaldo Pereira Trindade, que acompanhava o oficial da ONU, também teve tratamento especial. Quando a mulher dele disse que estava preocupada com o filho, que ficara com amigos na vizinha cidade de Espigão d'Oeste, os índios também autorizaram ligações telefônicas e até disseram que poderia ir até lá, se quisesse. Como preferiu ficar com o marido, depois de tranqüilizar a família, os índios autorizaram o motorista que acompanhava o grupo e também tinha sido seqüestrado a ir até à cidade buscar mais roupas para ela.
David só não gostou do fato de ter de deixar Rondônia após o episódio do seqüestro. O plano dele era continuar mais alguns dias na região, para ministrar o mesmo curso aos índios suruís, cuja reserva fica próximo dali. Apesar de todas as deferências, contudo, os cintas-largas não o convidaram para ver a área do garimpo, localizada a menos de 20 quilômetros da aldeia onde ficou.
OESP, 16/12/2007, Nacional, p. A14
Em sobrevôo na área dos cintas-largas, 'Estado' constata presença de aproximadamente 40O garimpeiros
Roldão Arruda e Evelson de Freitas
O governo federal gastou neste ano R$ 2 milhões com a Operação Roosevelt, cujo objetivo é reprimir o garimpo e o comércio de diamantes na terra dos índios cintas-largas, entre os municípios de Espigão d'Oeste, Vilhena e Pimenta Bueno, no Estado de Rondônia. Em 2008, os gastos com essa atividade terão um acréscimo de 150%, chegando aos R$ 5 milhões - o equivalente a quase tudo que foi despendido desde 2004, quando a operação começou, logo após a tragédia do assassinato de 29 garimpeiros pelos índios. Apesar desses gastos, no entanto, o garimpo continua em ritmo acelerado na Terra Indígena Roosevelt.
O garimpo está concentrado no leito de um pequeno afluente do Rio Roosevelt, o Igarapé Lage, numa área de aproximadamente 200 hectares. Na sexta-feira, num sobrevôo nessa área, o Estado constatou a presença de aproximadamente 40 barracas de garimpeiros.
Na média, de acordo com informações de pessoas que conhecem a atividade e já estiveram na área, cada uma delas mobiliza dez pessoas - do cozinheiro ao operador dos grandes tratores de esteira, mais conhecidos como PCs, usados para a escavação do terreno. Seriam, portanto, quase 400 pessoas destinadas a cavoucar a terra em busca dos diamantes, cada vez mais difíceis de ser encontrados. Há sete anos, quando foi dada a largada no garimpo da região, eles praticamente afloravam na superfície do solo de aluvião.
Brancos e índios trabalham lado a lado. A maior preocupação dos índios agora é dominar o processo de mineração e livrar-se dos brancos. Até crianças são mobilizadas. Circulam entre fileiras de galões de combustível usado nos tratores, nas camionetas Toyota que entram e saem do lugar, nos sistemas de iluminação e nas incansáveis máquinas de dragagem da lama, que depois é cuidadosamente peneirada, em busca da pedra preciosa.
Foram avistados três PCs. Um deles, de aparência mais nova, teria entrado em operação em maio deste ano, segundo informações de um ex-funcionário do posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) existente na área. As perguntas inevitáveis são: como essa máquina gigantesca, com valor aproximado de R$ 500 mil, entrou na terra indígena após a montagem do sistema de barreiras da Polícia Federal? Como os galões de combustível continuam chegando até lá? Por onde saem os diamantes?
A parte mais ostensiva da Operação Roosevelt é um conjunto de oito barreiras - sete fixas e uma móvel - montadas ao redor da Terra Indígena Roosevelt, uma área de 23 mil km², o equivalente ao Estado de Sergipe, que abriga quatro reservas dos índios cintas-largas. Além dos agentes federais, elas mobilizam efetivos da Polícia Militar de Rondônia e da Polícia Rodoviária Federal. Também contam com o suporte do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, do Ministério da Defesa, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Funai. Tudo isso junto leva o pomposo nome de Grupo Operacional Roosevelt, oficialmente instituído em 2004 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
SEQÜESTRO
Há nove dias, os cintas-largas seqüestraram cinco pessoas, entre elas um oficial do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidades (ONU), que visitavam sua principal aldeia, e exigiram que o presidente da Funai, Márcio Meira, fosse até lá para ouvi-los reclamar da falta de assistência médica, da precariedade do ensino escolar nas aldeias e, sobretudo, da ação do grupo operacional. Disseram a Meira que, além de não impedir a entrada de garimpeiros em suas terras, os agentes da Polícia Federal impõem constrangimentos cada vez maiores à população indígena, agindo com truculência, exagerando na revistas das pessoas que passam pelas barreiras.
Sem poder sobre os federais, Meira ligou para Brasília e conseguiu marcar uma audiência dos índios com o ministro da Justiça, Tarso Genro. O encontro, marcado para esta semana, provocou certo amuamento entre federais acantonados ao redor da reserva. Em conversa informal, um deles disse ao Estado que são os índios que facilitam a entrada de garimpeiros e equipamentos, por trilhas e estradas clandestinas da reserva; e que seu objetivo final é o fim das barreiras, para que possam agir sem entraves na atividade ilegal de garimpar e vender diamantes de terra indígena. Outro disse que é praticamente impossível tomar conta de uma área tão vasta.
Durante três dias seguidos a reportagem tentou ouvir os representantes dos cintas-largas. Um deles, avistado por acaso, ao lado de sua namorada, num restaurante de classe média em Cacoal, chegou a agendar uma entrevista para o dia seguinte, mas não apareceu, nem deu explicações.
A alegação deles é de que a imprensa costuma distorcer o que dizem, além de ser preconceituosa.
Segundo Marcos Apurinã, vice-diretor da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), entidade que ajudou nas negociações para a soltura do oficial da ONU e dos outros reféns, o sonho dos cintas-largas é obter autorização e treinamento para explorar diretamente os recursos minerais de sua terra. Dizer que foram enganados quando fizeram acordo para a venda da madeira de lei de sua reserva, hoje praticamente extinta, e que já sofreram muito com os garimpeiros brancos.
Apesar de pertencer ao grupo apurinã, como diz seu nome, Marcos vive com sua família, ou clã, na Terra Indígena Roosevelt - em decorrência de um casamento de uma apurinã com um jovem cinta-larga. Por causa disso acompanha todo o debate em torno da mineração.
Ele contou que os cintas-largas já foram ao Canadá, para conhecer a experiência do povo cree, que também vive num território rico em recursos minerais, incluindo petróleo. "São índios empresários, que fazem contratos com empresas para a extração dos recursos minerais, amparados pelas leis canadenses. É isso que buscamos por aqui." É um sonho. Distante. No Brasil, a mineração em terra indígena ainda é proibida, pela falta de regulamentação do artigo da Constituição de 1988 que trata do assunto. Enquanto isso a mineração clandestina prossegue no leito do Igarapé Lage e o governo destina mais dinheiro para a manutenção das barreiras.
Contato com branco é recente
O contato dos cintas-largas com a chamada civilização dos homens brancos é recente. Ocorreu no fim dos anos 60, quando o regime militar financiou o avanço das estradas, queimadas e pastagens para o Norte, sob o slogan "integrar para não entregar".
Eles eram conhecidos entre os povos indígenas como caçadores e guerreiros. Viviam em aglomerados de ocas que chamavam a atenção pelo fato de serem muito altas e de arquitetura sofisticada. Vendo-as certa vez da janela de um avião, o indigenista Apoena Meirelles (1949-2004), chamou-as de "cidades de palha".
Segundo a indigenista Maria Inês Hargreaves, eles se autodenominam panderey (nossa gente). Cinta-larga foi o nome dado pelos brancos, por causa dos largos cintos feitos de casca de árvore, que usavam para proteger o abdômen durante as batalhas.
Quando foram contatados eram quase 5 mil índios. Nos anos seguintes, dizimados por doenças, foram reduzidos a 500. Hoje, com mais proteção, contam-se quase 2 mil.
Operação funciona, diz delegado
Sposito afirma que há 2 anos garimpeiros eram 5 mil
Na opinião do coordenador da Operação Roosevelt, delegado Mauro Sposito, da Polícia Federal, os resultados obtidos até agora são positivos. "Isso é tão verdadeiro que os interessados na mineração dos diamantes estão exigindo nossa saída da região", diz. "Se não estivéssemos incomodando, eles não fariam isso."
O delegado, cujo cargo oficial na Polícia Federal é o de coordenador do setor de Operações Especiais de Fronteira, observa que não se pode analisar a situação fora de um contexto mais amplo: "Sabemos que o garimpo continua, que existem cerca de cem homens trabalhando ali, com uma pá carregadeira em operação. Mas é preciso lembrar que no fim de 2004 o número de garimpeiros chegava a quase 5 mil."
Indagado sobre o fluxo de combustível e equipamentos para a região do garimpo, no coração da terra indígena, ele é taxativo: "Nada disso teria entrado se não fosse a conivência dos índios." A estratégia da polícia, segundo Sposito, é sufocar o garimpo: "Está dando certo. Depois que passamos a controlar as estradas por onde passava o óleo combustível para as máquinas, o preço do litro na área do garimpo subiu para R$ 7, enquanto aqui fora sai por R$ 2."
Sobre as reclamações dos índios a respeito das revistas nas barreiras policiais, Sposito diz: "Eles enfrentam as mesmas situações que as outras pessoas que tentam entrar na reserva."
Seqüestro com curso e regalia
Oficial da ONU pôde até ligar para tranqüilizar mulher
Foi tranqüila a estada do espanhol David Castro Neto, oficial do Alto Comissariado da ONU, entre os cintas-largas. Nos quatro dias em que esteve formalmente seqüestrado, na Aldeia Roosevelt, em Rondônia, ele até ministrou um curso de capacitação em direitos humanos aos índios.
Na verdade, ele havia ido até a aldeia exatamente para o curso, aplicado pela ONU entre minorias de países pobres, com o intuito de ajudar na identificação e na denúncia de violações de direitos humanos.
Logo na sua chegada, em meio a uma recepção festiva, os índios avisaram-no, juntamente com um pedido de desculpas, de que ele ficaria retido até que o presidente da Funai fosse visitar a aldeia.
No segundo dia, quando circulou pelo mundo a notícia de que um enviado da ONU tinha sido seqüestrado, os índios providenciaram um telefone para que David ligasse para a Espanha e tranqüilizasse sua mulher. Num dos momentos de confraternização, ao fim de um dia de curso, lhe ofereceram chicha, espécie de cerveja indígena. Em outra ocasião insistiram para que dissesse o que estava com vontade de comer. Quando Castro respondeu, por delicadeza, sem pensar muito, que gostaria de um prato de carne, não titubearam: abateram um boi.
O procurador Reginaldo Pereira Trindade, que acompanhava o oficial da ONU, também teve tratamento especial. Quando a mulher dele disse que estava preocupada com o filho, que ficara com amigos na vizinha cidade de Espigão d'Oeste, os índios também autorizaram ligações telefônicas e até disseram que poderia ir até lá, se quisesse. Como preferiu ficar com o marido, depois de tranqüilizar a família, os índios autorizaram o motorista que acompanhava o grupo e também tinha sido seqüestrado a ir até à cidade buscar mais roupas para ela.
David só não gostou do fato de ter de deixar Rondônia após o episódio do seqüestro. O plano dele era continuar mais alguns dias na região, para ministrar o mesmo curso aos índios suruís, cuja reserva fica próximo dali. Apesar de todas as deferências, contudo, os cintas-largas não o convidaram para ver a área do garimpo, localizada a menos de 20 quilômetros da aldeia onde ficou.
OESP, 16/12/2007, Nacional, p. A14
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source