From Indigenous Peoples in Brazil

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Em nota à imprensa, cintas-largas criticam Veja e confirmam que forçaram a permanência de procurador e representante da ONU na reserva Roosevelt

25/04/2008

Fonte: Tudorondônia



Ìndios dizem que, ao contrário do que quer a revista, não maltrataram procurador da República e comissário da ONU

O Conselho do Povo Cinta Larga, através do vice-coordenador o Sr. Carlos Cinta Larga, informa que o coordenador Sr. Mauro Marcelo Cinta Larga e demais representantes da delegação brasileira, encontra-se no momento participando de uma reunião na cidade de Nova York, Estados Unidos, com a Organização das Nações Unidas (ONU), na qual foram muitíssimo bem recebidos. Durante esses dias de reunião que teve início no dia 21 de abril passado, entregaram um dossiê correspondente ao período de 2000 a 2007, relatando principalmente denúncias de violação dos direitos humanos do povo Cinta Larga ao longo desses 7 anos, onde os participantes/representantes desta reunião demonstraram bastante preocupação com as situações ocorridas acerca dos Cinta Larga.

A princípio, após a entrega do dossiê, foram informados que nas próximas semanas os participantes/representantes estarão fazendo uma avaliação criteriosa a respeito das denúncias no sentido de encontrarem soluções cabíveis em relação às omissões do Governo Brasileiro no que diz respeito à violação dos direitos do povo Cinta Larga.

Foi entregue também nessa reunião, uma matéria da última edição 2057 da Revista Veja, ano 41, nº 16 de 23 de abril de 2008, p. 62-63, intitulada "Seqüestro Fajuto", juntamente com matérias anteriormente publicadas pela mesma Revista, que teve o objetivo único de denegrir a imagem dos Cinta Larga.

Gostaríamos de evidenciar um dos trechos contidos nesta última edição, que relata o seguinte: "Os cintas-largas, de Rondônia, estão entre as etnias indígenas mais hostis do Brasil. Em 2004, eles massacraram 29 garimpeiros a tiros, flechadas e pauladas. Com esse histórico, não tiveram dificuldade em ganhar as páginas dos jornais do mundo inteiro, em dezembro do ano passado, quando anunciaram o seqüestro de um membro do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, um procurador da República e outras três pessoas [...] o tal seqüestro não passou de uma farsa montada pelos índios com a conivência do procurador Reginaldo Trindade, um dos pretensos reféns [...] no dia em que deixou a reserva, o espanhol David Martín Castro (funcionário da ONU), fez um discurso emocionado em homenagem a seus anfitriões [...] depois do discurso, ao som de palmas e brados de felicitação, os cintas-largas presentearam o espanhol com um colar. O Procurador Reginaldo Trindade recebeu tratamento semelhante [...]".

A título de esclarecimento queremos dizer a sociedade brasileira que a estratégia política dos Cinta Larga naquela ocasião era chamar a atenção da sociedade e do governo brasileiro para atender as várias pautas de reivindicações solicitadas pelo povo, que até então não tinham sido atendidas.

Os indígenas não manteriam em seu território um Procurador e um Funcionário da ONU para maltratá-los como a revista Veja esperava, para que depois viesse a condená-los, mas civilizadamente comunicaram que eles não poderiam sair da Terra Indígena até que a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) comparecesse a aldeia para dar esclarecimentos e encaminhamentos a respeito de suas omissões no cumprimento de seu papel como órgão indigenista oficial, que tem como objetivo zelar e defender os direitos e interesses dos índios.

Esclarecemos ainda, que tudo ocorreu de forma pacífica, e em momento algum os indígenas disseram que a permanência daquelas pessoas na aldeia seria um seqüestro, no entanto, a mídia usou tal termo por sua conta e risco apenas para denegrir a imagem dos Cinta Larga. Porém, a tática da comunidade Cinta Larga era manter pessoas de alto escalão na aldeia para que fossem ouvidos, e suas reivindicações atendidas.

Em momento algum foi cerceado o direito de ir e vir dessas autoridades no interior da Área Indígena e tampouco de desfrutar as belezas do local, como a boa comida e o bom banho de cachoeira divulgado pela "Veja", mas a ordem dos caciques - não para as pessoas que ali estavam - mas para o Governo é que de lá elas somente sairiam com a presença do Presidente da Funai e o compromisso de atender históricas reivindicações da Comunidade índia, que nada mais são que deveres do Estado brasileiro que se mantém historicamente inerte em face das necessidade básicas dos povos indígenas do País, conforme denunciou recentemente um próprio General do Exército.

Quanto ao Procurador Reginaldo Trindade, e ao funcionário da ONU, o Sr. David Martín Castro, e demais pessoas que estiveram conosco durante aqueles dias, gostaríamos de mais uma vez agradecê-los, pelo comprometimento com a causa indígena, especificamente a do povo Cinta Larga. Queremos esclarecer também, que em momento algum foi relatado às pessoas não índias que estavam conosco em dezembro do ano passado na Reserva Roosevelt, o motivo pelo qual estávamos mantendo-os na aldeia conosco.

Nosso anseio é que o governo brasileiro ofereça através de um programa emergencial condições de vivermos uma vida digna através de ações que promovam a etnosustentabilidade econômica, para então seguirmos com nossas tradições, ritos, danças, língua, etc., garantindo a preservação do meio ambiente e de nossa identidade cultural, pois nossa preocupação não é só com a geração presente, mas também com as gerações futuras.

O nosso pedido, é que houvesse um pouco mais de maturidade por parte dos órgãos governamentais, não governamentais, entidades privadas, etc., que usam o nome de um povo que é minoria, em benefício próprio, pois isto é simplesmente grotesco para uma sociedade que diz ser civilizada.

Quanto à ofensiva matéria da Revista Veja, o Conselho do Povo Cinta Larga, já acionou sua assessoria jurídica, chefiada pelo advogado Ernande Segismundo, para propor ação de reparação por danos morais, o mesmo ocorrendo com o cacique Nacoça Pio Cinta Larga, atual chefe da FUNAI em Cacoal - Rondônia, que já acionou a revista judicialmente no mês passado na cidade de São Paulo pela publicação de outro material ofensivo contra ele.

Riozinho, Cacoal, Rondônia, 25 de abril de 2008

Carlos Cinta Larga

Vice-Coordenador do Conselho do Povo Cinta Larga
 

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