From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Não é possível iludir novamente essas tribos
06/05/2008
Autor: CARVALHO, Silvia
Fonte: OESP, Nacional, p. A4
'Não é possível iludir novamente essas tribos'
Silvia Carvalho: antropóloga
Roberto Almeida
O conflito que deixou índios feridos na Reserva Raposa Serra do Sol e o apoio dado aos arrozeiros pelo governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, que pediu a remarcação das terras ao Supremo Tribunal Federal (STF), causaram indignação na professora Silvia Carvalho, doutora em antropologia e fundadora do Centro de Estudos Indígenas Miguel Ángel Menéndez. Ela descreve a situação como "lamentável" e resume: "É um embate entre nossa sociedade, que acumula bens, e uma sociedade que vive do reequilíbrio com a natureza."
Como a sra. vê a situação na reserva neste momento?
Há muito tempo que aquelas terras estavam homologadas, e a demarcação demorou muito. Os arrozeiros entraram depois. Não é possível iludir novamente essas tribos. Já vi opiniões que mostram que não há perigo para a segurança nacional no fato de que terras de fronteira sejam indígenas. Afinal, trata-se de terras da União, os índios têm usufruto dela, mas o Estado pode manter vigilância de soldados da mesma forma.
O governador de Roraima foi ao STF advogar pela demarcação da reserva em ilhas.
Terras descontínuas significam terras fragmentadas, entremeadas de não-indígenas, que vão acabar tentando aumentar suas terras. É um crime contra os índios, e já se praticou tantos que este seria apenas mais um. Não tem o menor cabimento. Roraima é um Estado relativamente novo, com um governador balizado por poderosos que querem lucrar à custa dos indígenas. Ele está naturalmente ao lado dos arrozeiros. É terrível.
Qual a raiz do conflito?
A raiz é a tremenda falta de conhecimento de muitos setores da sociedade, donos de um pensamento evolucionista que tem como credo a idéia de que o índio faz parte do passado. O curioso é que as sociedades indígenas são as que mais preservaram a natureza. É uma economia baseada na experiência milenar de convívio com o ambiente e preservação. Ou reaprendemos com os indígenas a respeitar a natureza, e deixamos que eles continuem lá porque a respeita, ou nossa civilização chegou a um beco sem saída.
Como superar o impasse?
É importante saber que o índio não é um atrasado. O pensamento selvagem se opõe ao nosso porque o nosso é domesticado para acumular. A moral deles é a moral original da humanidade, de caça e coleta. Partilhar, não acumular, prestar solidariedade interna ao grupo e praticar o reequilíbrio com a natureza. Alguns têm carro, caminhonete, TV, mas eles têm de apelar para sobreviver na situação em que se encontram. Foram obrigados a isso.
OESP, 06/05/2008, Nacional, p. A4
Silvia Carvalho: antropóloga
Roberto Almeida
O conflito que deixou índios feridos na Reserva Raposa Serra do Sol e o apoio dado aos arrozeiros pelo governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, que pediu a remarcação das terras ao Supremo Tribunal Federal (STF), causaram indignação na professora Silvia Carvalho, doutora em antropologia e fundadora do Centro de Estudos Indígenas Miguel Ángel Menéndez. Ela descreve a situação como "lamentável" e resume: "É um embate entre nossa sociedade, que acumula bens, e uma sociedade que vive do reequilíbrio com a natureza."
Como a sra. vê a situação na reserva neste momento?
Há muito tempo que aquelas terras estavam homologadas, e a demarcação demorou muito. Os arrozeiros entraram depois. Não é possível iludir novamente essas tribos. Já vi opiniões que mostram que não há perigo para a segurança nacional no fato de que terras de fronteira sejam indígenas. Afinal, trata-se de terras da União, os índios têm usufruto dela, mas o Estado pode manter vigilância de soldados da mesma forma.
O governador de Roraima foi ao STF advogar pela demarcação da reserva em ilhas.
Terras descontínuas significam terras fragmentadas, entremeadas de não-indígenas, que vão acabar tentando aumentar suas terras. É um crime contra os índios, e já se praticou tantos que este seria apenas mais um. Não tem o menor cabimento. Roraima é um Estado relativamente novo, com um governador balizado por poderosos que querem lucrar à custa dos indígenas. Ele está naturalmente ao lado dos arrozeiros. É terrível.
Qual a raiz do conflito?
A raiz é a tremenda falta de conhecimento de muitos setores da sociedade, donos de um pensamento evolucionista que tem como credo a idéia de que o índio faz parte do passado. O curioso é que as sociedades indígenas são as que mais preservaram a natureza. É uma economia baseada na experiência milenar de convívio com o ambiente e preservação. Ou reaprendemos com os indígenas a respeitar a natureza, e deixamos que eles continuem lá porque a respeita, ou nossa civilização chegou a um beco sem saída.
Como superar o impasse?
É importante saber que o índio não é um atrasado. O pensamento selvagem se opõe ao nosso porque o nosso é domesticado para acumular. A moral deles é a moral original da humanidade, de caça e coleta. Partilhar, não acumular, prestar solidariedade interna ao grupo e praticar o reequilíbrio com a natureza. Alguns têm carro, caminhonete, TV, mas eles têm de apelar para sobreviver na situação em que se encontram. Foram obrigados a isso.
OESP, 06/05/2008, Nacional, p. A4
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