From Indigenous Peoples in Brazil
Noticias
Violência incomum aos índios
28/06/2008
Fonte: CB, Cidades, p. 31
Violência incomum aos índios
Especialistas afirmam que o modo como Jaiya Xavante foi atacada não faz parte da cultura de nenhuma etnia. Eles defendem a responsabilização criminal do agressor e da entidade que abrigava a vítima
Lúcio Costi
Especial para o Correio
Antropólogos e especialistas em cultura indígena ouvidos pelo Correio afirmam que o ato praticado contra Jaiya Pewewiio Tsiruipi Xavante não tem aceitação entre a etnia dela ou qualquer outra cultura indígena. "Esse é um caso anômalo em qualquer cultura", diz o professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), Roque Laraia.
Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o autor, seja ele índio ou branco, tem que ser condenado, bem como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), responsável pela Casa de Saúde Indígena (Casai) do DF, onde estava a adolescente.
Segundo o professor Laraia, o caso não deve se tratar da eliminação de uma pessoa deficiente da comunidade, costume adotado em algumas culturas quando uma criança nasce com deficiências físicas ou mentais. "Ela nasceu, cresceu e teve uma doença que impediu seu desenvolvimento. Não ocorrem infanticídios nesses casos", explica. Laraia conta que a eliminação de crianças defeituosas acontece normalmente logo após o nascimento, antes de ela passar por rituais como receber um nome e fazer parte da sociedade onde vive.
Também é descartada a possibilidade de que familiares de Jaiya tenham introduzido algum instrumento no corpo da jovem como uma forma de tentar aplacar as dores abdominais das quais ela se queixava. "O xavantes têm um bom entendimento sobre o que é a medicina deles e o que é a medicina da sociedade branca, tanto que já estavam buscando recursos para o tratamento que não existe na aldeia para as deficiências dela", analisa.
A menina estava em Brasília desde 28 de maio para fazer um tratamento de reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek. Uma meningite na infância a deixou com problemas motores e neurológicos. "Esse é um caso patológico. Parece um crime cometido por uma pessoa totalmente anormal", afirma o professor da UnB.
Doença de branco
O indigenista André Villas-Bôas, do Instituto Socioambiental (ISA), concorda com Roque Laraia. Ele é uma dos fundadores da ONG que mantém projetos com índios xavantes no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso.
Villas-Bôas conta que esses índios costumam procurar médicos brancos para o que chamam de doenças de branco. Portanto, só utilizam suas práticas tradicionais nos casos em que sabem que podem tratá-las. O especialista também estranhou o fato de a violência contra Jaiya ter ocorrido dentro de uma casa para tratamento de saúde.
Para Saulo Feitosa, secretário-adjunto do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à Igreja Católica, mesmo que o crime tenha sido praticado por um indígena, o responsável deve ser investigado e julgado. "Há no senso comum, a idéia de que os índios seriam inimputáveis, isso não procede. Sendo o agressor indígena ou não, vai responder pelo crime que praticou", explica Saulo. "Espero que se possa punir não só o agressor ou agressores, mas também a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O ato aconteceu justamente em um local onde as pessoas estão para receber tratamento. Vamos levar o caso para a Comissão Nacional de Política Indigenista, ligada ao Ministério da Justiça."
Debate antropológico
A chefe da Casai no DF, Elenir Coroaia, defende um debate antropológico sobre o caso, se ficar comprovado que Jaiya Xavante foi agredida por um índio. "Precisaremos fazer uma reflexão. Será um processo lento, completo. Não podemos descartar que houve um ritual da cultura do povo", ressaltou.
Ela garantiu que a Constituição Federal protege os indígenas que cometem o que o Código Penal considera crime.
CB, 28/06/2008, Cidades, p. 31
Especialistas afirmam que o modo como Jaiya Xavante foi atacada não faz parte da cultura de nenhuma etnia. Eles defendem a responsabilização criminal do agressor e da entidade que abrigava a vítima
Lúcio Costi
Especial para o Correio
Antropólogos e especialistas em cultura indígena ouvidos pelo Correio afirmam que o ato praticado contra Jaiya Pewewiio Tsiruipi Xavante não tem aceitação entre a etnia dela ou qualquer outra cultura indígena. "Esse é um caso anômalo em qualquer cultura", diz o professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), Roque Laraia.
Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o autor, seja ele índio ou branco, tem que ser condenado, bem como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), responsável pela Casa de Saúde Indígena (Casai) do DF, onde estava a adolescente.
Segundo o professor Laraia, o caso não deve se tratar da eliminação de uma pessoa deficiente da comunidade, costume adotado em algumas culturas quando uma criança nasce com deficiências físicas ou mentais. "Ela nasceu, cresceu e teve uma doença que impediu seu desenvolvimento. Não ocorrem infanticídios nesses casos", explica. Laraia conta que a eliminação de crianças defeituosas acontece normalmente logo após o nascimento, antes de ela passar por rituais como receber um nome e fazer parte da sociedade onde vive.
Também é descartada a possibilidade de que familiares de Jaiya tenham introduzido algum instrumento no corpo da jovem como uma forma de tentar aplacar as dores abdominais das quais ela se queixava. "O xavantes têm um bom entendimento sobre o que é a medicina deles e o que é a medicina da sociedade branca, tanto que já estavam buscando recursos para o tratamento que não existe na aldeia para as deficiências dela", analisa.
A menina estava em Brasília desde 28 de maio para fazer um tratamento de reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek. Uma meningite na infância a deixou com problemas motores e neurológicos. "Esse é um caso patológico. Parece um crime cometido por uma pessoa totalmente anormal", afirma o professor da UnB.
Doença de branco
O indigenista André Villas-Bôas, do Instituto Socioambiental (ISA), concorda com Roque Laraia. Ele é uma dos fundadores da ONG que mantém projetos com índios xavantes no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso.
Villas-Bôas conta que esses índios costumam procurar médicos brancos para o que chamam de doenças de branco. Portanto, só utilizam suas práticas tradicionais nos casos em que sabem que podem tratá-las. O especialista também estranhou o fato de a violência contra Jaiya ter ocorrido dentro de uma casa para tratamento de saúde.
Para Saulo Feitosa, secretário-adjunto do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à Igreja Católica, mesmo que o crime tenha sido praticado por um indígena, o responsável deve ser investigado e julgado. "Há no senso comum, a idéia de que os índios seriam inimputáveis, isso não procede. Sendo o agressor indígena ou não, vai responder pelo crime que praticou", explica Saulo. "Espero que se possa punir não só o agressor ou agressores, mas também a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O ato aconteceu justamente em um local onde as pessoas estão para receber tratamento. Vamos levar o caso para a Comissão Nacional de Política Indigenista, ligada ao Ministério da Justiça."
Debate antropológico
A chefe da Casai no DF, Elenir Coroaia, defende um debate antropológico sobre o caso, se ficar comprovado que Jaiya Xavante foi agredida por um índio. "Precisaremos fazer uma reflexão. Será um processo lento, completo. Não podemos descartar que houve um ritual da cultura do povo", ressaltou.
Ela garantiu que a Constituição Federal protege os indígenas que cometem o que o Código Penal considera crime.
CB, 28/06/2008, Cidades, p. 31
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