From Indigenous Peoples in Brazil
News
Entidade traça perfil de índios na cidade
06/05/2009
Fonte: Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=61390
O presidente da Organização dos Indígenas da Cidade (Odic), Eliandro Pedro de Souza, acredita que com a saída dos não-índios da reserva indígena Raposa Serra do Sol, as comunidades indígenas terão a oportunidade de escrever sua própria história, sendo protagonistas do desenvolvimento pessoal. Para ele, o processo de desintrusão não provocará o aumento do êxodo rural indígena.
"Acreditamos que a população indígena vai protagonizar seu próprio desenvolvimento econômico. Não acreditamos que um grande número de indígenas sairá da reserva porque não terá mais pessoas para fazerem doações de arroz, por exemplo. Pelo contrário", disse.
O estudo e publicação em 2007 do Diagnóstico da Situação dos Indígenas na Cidade de Boa Vista, segundo ele, permitiu traçar um perfil dos indígenas que moram na Capital. Eliando disse que foi fácil perceber que nos últimos anos que a sistemática dos benefícios sociais, como o programa Bolsa Família nas comunidades indígenas, pode ter causado alguns problemas, como o desaparecimento do plantio de roça feito pelas comunidades. Com a diminuição desta prática, boa parte dos indígenas ficou acomodada.
O trabalho revelou também que poucos dos indígenas que saem do campo conseguem, de fato, almejar o que os motivou a sair da zona rural. Aqueles que conseguem, por sua vez, tiveram ajuda de outras pessoas, além dos familiares.
De acordo com o presidente da Odic, para entender a situação do processo de migração do indígena para a cidade é necessário voltar ao passado, mais precisamente no século XVIII, com a chegada dos europeus na região e com a implantação das primeiras fazendas próximas das comunidades indígenas.
"Todo esse processo vai fazer com que o índio experimente novas sensações. Ele passa a ser aliciado pelos colonizadores com propostas de trabalho, em troca de pequenas recompensas", disse.
Para ele, as falsas promessas acontecem até os dias atuais. Muitos deles saem das comunidades buscando perspectivas de crescimento e obtenção de bens materiais simples, como bicicletas, e quando chegam à cidade se deparam com outra situação.
Após a saída da comunidade, dificilmente eles voltam e, como não possuem instrução nem condições financeiras, começam a ocupar as periferias de Boa Vista ou participam de invasões.
Nos bairros novos que surgiram na Capital, conforme o levantamento, a maioria da comunidade é composta por indígenas. Com a frustração da busca daquilo que estavam almejando, eles se veem obrigados a ocupar casas da periferia, segundo Pedro.
CULTURA - De acordo com Eliandro Pedro, os indígenas que migram para a cidade conseguem manter parte da cultura. Mas os filhos dificilmente manterão as tradições como língua, alimentação, entre outros aspectos da cultura.
PRECONCEITO - Eliandro Pedro, que é indígena da etnia Wapichana, disse que um dos principais motivos que levam os indígenas das cidades a abandonarem suas tradições é o preconceito. Os pais, muitas vezes, por medo que seus filhos passem por discriminações como eles, escondem a verdadeira origem.
"Eles omitem tentando protegê-los, mas acabam em contradição, pois a fisionomia já é uma forma destes jovens sentirem preconceito. Mesmo em uma cidade como Boa Vista, onde boa parte da população é de origem indígena", frisou.
Na pesquisa realizada com mais de 80 pessoas, para a composição do diagnóstico, a maioria relatou que de uma forma ou de outra foram vítimas de preconceito. Os jovens em idade escolar são os que mais reclamam de preconceito. Eliandro Pedro disse que é esta idade, da adolescência, a fase mais difícil.
"O fato de os indígenas serem tímidos também contribui para atos de preconceito. Como nós somos muito pacíficos, às vezes, muitos preferem ficar calados a responder", destacou.
Em contraponto a esta situação, a Odic trabalha com oficinas nos bairros, levando palestras e informação para apresentar aos indígenas seus direitos. A partir do momento que eles se sentem prejudicados, a organização acompanha os jovens que podem estar sofrendo de preconceito e toma as devidas providências.
A ideia da Odic é também fortalecer a identidade dos indígenas para que eles possam se defender sozinhos. "Ele tem que dizer para sociedade: 'eu sou indígena, eu estou no meu local, não sou vilão e não estou tomando espaço de ninguém'. Eles não podem se sentir estrangeiros", frisou.
EDUCAÇÃO - Segundo a análise da pesquisa, a educação que é dada nas escolas não garante, aos indígenas nem aos não-índios sem condições financeiras, que eles terminem seus estudos, e acabam ficando excluídos do processo educacional. Muitas vezes o trabalho braçal executado por grande parte dos indígenas contribui para o pouco aproveitamento do período escolar. Outro problema apontado foi a falta de fortalecimento na comunidade escolar da identidade indígena.
SAÚDE - Para os indígenas que vivem na cidade as dificuldades enfrentadas são as mesmas dos não-índios. O diferencial está na qualidade do atendimento. Para Eliandro Pedro, muitas vezes o indígena, por ter dificuldade até de se comunicar e pela timidez, é "esquecido" pelos atendentes da área da saúde. "Eu já vi indígena ficando horas à espera de que alguém chegue a ele e pergunte o que deseja", salientou.
EMPREGO - A maioria dos indígenas que exercem atividade braçal em Boa Vista está sem carteira assinada, o que configura muitas vezes exploração. Segundo ele, muitos indígenas trabalham em chácaras por salários bem abaixo do pago a não-índios. Pela dificuldade de encontrar emprego e como não vislumbram outra saída, acabam se sujeitando a trabalhar por valores bem abaixo do mercado.
Eliandro Pedro afirmou que os indígenas que vivem no campo vivem melhor financeiramente por contar com plantações para a subsistência.
AUDIÊNCIA - A Odic realizará no auditório do Sebrae, durante todo o dia 12 de maio, a segunda audiência pública da organização, com o objetivo de discutir com órgãos públicos a questão social indígena. As organizações ligadas ao índio da Capital também estão convidadas a participar. Entre os pontos da pauta estão a documentação civil, certidão indígena e políticas públicas.
"Acreditamos que a população indígena vai protagonizar seu próprio desenvolvimento econômico. Não acreditamos que um grande número de indígenas sairá da reserva porque não terá mais pessoas para fazerem doações de arroz, por exemplo. Pelo contrário", disse.
O estudo e publicação em 2007 do Diagnóstico da Situação dos Indígenas na Cidade de Boa Vista, segundo ele, permitiu traçar um perfil dos indígenas que moram na Capital. Eliando disse que foi fácil perceber que nos últimos anos que a sistemática dos benefícios sociais, como o programa Bolsa Família nas comunidades indígenas, pode ter causado alguns problemas, como o desaparecimento do plantio de roça feito pelas comunidades. Com a diminuição desta prática, boa parte dos indígenas ficou acomodada.
O trabalho revelou também que poucos dos indígenas que saem do campo conseguem, de fato, almejar o que os motivou a sair da zona rural. Aqueles que conseguem, por sua vez, tiveram ajuda de outras pessoas, além dos familiares.
De acordo com o presidente da Odic, para entender a situação do processo de migração do indígena para a cidade é necessário voltar ao passado, mais precisamente no século XVIII, com a chegada dos europeus na região e com a implantação das primeiras fazendas próximas das comunidades indígenas.
"Todo esse processo vai fazer com que o índio experimente novas sensações. Ele passa a ser aliciado pelos colonizadores com propostas de trabalho, em troca de pequenas recompensas", disse.
Para ele, as falsas promessas acontecem até os dias atuais. Muitos deles saem das comunidades buscando perspectivas de crescimento e obtenção de bens materiais simples, como bicicletas, e quando chegam à cidade se deparam com outra situação.
Após a saída da comunidade, dificilmente eles voltam e, como não possuem instrução nem condições financeiras, começam a ocupar as periferias de Boa Vista ou participam de invasões.
Nos bairros novos que surgiram na Capital, conforme o levantamento, a maioria da comunidade é composta por indígenas. Com a frustração da busca daquilo que estavam almejando, eles se veem obrigados a ocupar casas da periferia, segundo Pedro.
CULTURA - De acordo com Eliandro Pedro, os indígenas que migram para a cidade conseguem manter parte da cultura. Mas os filhos dificilmente manterão as tradições como língua, alimentação, entre outros aspectos da cultura.
PRECONCEITO - Eliandro Pedro, que é indígena da etnia Wapichana, disse que um dos principais motivos que levam os indígenas das cidades a abandonarem suas tradições é o preconceito. Os pais, muitas vezes, por medo que seus filhos passem por discriminações como eles, escondem a verdadeira origem.
"Eles omitem tentando protegê-los, mas acabam em contradição, pois a fisionomia já é uma forma destes jovens sentirem preconceito. Mesmo em uma cidade como Boa Vista, onde boa parte da população é de origem indígena", frisou.
Na pesquisa realizada com mais de 80 pessoas, para a composição do diagnóstico, a maioria relatou que de uma forma ou de outra foram vítimas de preconceito. Os jovens em idade escolar são os que mais reclamam de preconceito. Eliandro Pedro disse que é esta idade, da adolescência, a fase mais difícil.
"O fato de os indígenas serem tímidos também contribui para atos de preconceito. Como nós somos muito pacíficos, às vezes, muitos preferem ficar calados a responder", destacou.
Em contraponto a esta situação, a Odic trabalha com oficinas nos bairros, levando palestras e informação para apresentar aos indígenas seus direitos. A partir do momento que eles se sentem prejudicados, a organização acompanha os jovens que podem estar sofrendo de preconceito e toma as devidas providências.
A ideia da Odic é também fortalecer a identidade dos indígenas para que eles possam se defender sozinhos. "Ele tem que dizer para sociedade: 'eu sou indígena, eu estou no meu local, não sou vilão e não estou tomando espaço de ninguém'. Eles não podem se sentir estrangeiros", frisou.
EDUCAÇÃO - Segundo a análise da pesquisa, a educação que é dada nas escolas não garante, aos indígenas nem aos não-índios sem condições financeiras, que eles terminem seus estudos, e acabam ficando excluídos do processo educacional. Muitas vezes o trabalho braçal executado por grande parte dos indígenas contribui para o pouco aproveitamento do período escolar. Outro problema apontado foi a falta de fortalecimento na comunidade escolar da identidade indígena.
SAÚDE - Para os indígenas que vivem na cidade as dificuldades enfrentadas são as mesmas dos não-índios. O diferencial está na qualidade do atendimento. Para Eliandro Pedro, muitas vezes o indígena, por ter dificuldade até de se comunicar e pela timidez, é "esquecido" pelos atendentes da área da saúde. "Eu já vi indígena ficando horas à espera de que alguém chegue a ele e pergunte o que deseja", salientou.
EMPREGO - A maioria dos indígenas que exercem atividade braçal em Boa Vista está sem carteira assinada, o que configura muitas vezes exploração. Segundo ele, muitos indígenas trabalham em chácaras por salários bem abaixo do pago a não-índios. Pela dificuldade de encontrar emprego e como não vislumbram outra saída, acabam se sujeitando a trabalhar por valores bem abaixo do mercado.
Eliandro Pedro afirmou que os indígenas que vivem no campo vivem melhor financeiramente por contar com plantações para a subsistência.
AUDIÊNCIA - A Odic realizará no auditório do Sebrae, durante todo o dia 12 de maio, a segunda audiência pública da organização, com o objetivo de discutir com órgãos públicos a questão social indígena. As organizações ligadas ao índio da Capital também estão convidadas a participar. Entre os pontos da pauta estão a documentação civil, certidão indígena e políticas públicas.
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