From Indigenous Peoples in Brazil

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Índios criam novo modelo de educação

25/09/2009

Fonte: Jornal Nacional - http://migre.me/7S4L



O ponto central da pedagogia é que a experiência deve ser sempre valorizada. Os alunos aprendem desde cedo que quem vive há muito mais tempo que eles merece ser ouvido e respeitado.

Na última reportagem da série que o Jornal Nacional apresenta nesta semana sobre os índios da Cabeça do Cachorro, na Amazônia, Lúcio Alves e Marcelo Canellas mostram, nesta sexta, como os tuyukas criaram um modelo novo de educação, no meio da selva.

Como é que se aprende dividindo uma sala em quatro classes? "Quando o professor está dando aula, ele já presta atenção em outro lugar. E a professora também tem que estar muito atenta para essa criatividade", disse a coordenadora de escola, Élvia Soares.

Como é que se aprende sem sala nenhuma? "Uma boa parte dos grupos e dos professores acharam melhor parar e suspender por cinco meses. Porque eles achavam que não tem outro espaço, sabe? Aí não tem banheiro", contou o diretor de escola, Armando Menezes.

É assim que 10 mil indiozinhos das aldeias de São Gabriel da Cachoeira se preparam para a prova Brasil marcada para outubro. Nem o mais otimista dos professores espera um bom desempenho.

"Ele vai ter condições de disputar de igual para igual com um aluno de Brasília que dispõe de biblioteca, de internet, de sala de ciências, sala de pesquisa, de tudo?", questiona o diretor de escola, Potázio Castro.

No amazônico abandono da selva, uma canoa nos leva a uma ilha de excelência. "É o minilaboratório da escola tuyuca, agora com dois anos de funcionamento. Com essas 'ferramentas tecnológicas' que os alunos vêm fazendo suas experiências. Esses projetos são pensados para a sustentabilidade das famílias das comunidades do Alto Tiquié", explicou o professor tuyuka, João Bosco Resende.

O experimento dos alunos virou comida para a aldeia inteira. Desde que foi instalado na comunidade Tuyuka de São Pedro, quase na fronteira com a Colômbia, o projeto de educação indígena diferenciada tenta unir a tecnologia dos brancos e os conhecimentos tradicionais dos índios.

Talvez o ponto central da pedagogia tuyuka seja a ideia de que a experiência deve ser sempre valorizada. Os alunos aprendem desde cedo que quem vive há muito mais tempo que eles merece ser ouvido e respeitado. Os velhos todos da comunidade participam das aulas como professores especiais. São eles quem respondem às grandes dúvidas sobre a natureza e a floresta, sobre a vida e a morte.

Quando Pedro fala, há o silêncio reverente destinado aos sábios. "Os velhos aqui servem como um livro, como um livro de história", contou o aluno Odilon Resende.

E são livros mesmo o que os alunos vão fazendo ao anotar os segredos da natureza revelados pelos velhos. Uma biblioteca está sendo montada com os relatos escritos em tuyuka.

Até a música da baratinha é na língua nativa. "A alfabetização toda ela é em tuyuka", explicou o professor Alexandre Sarmento Resende.

Os professores descobriram o óbvio: a criança aprende melhor se for na língua que fala em casa. O português vem depois, quando elas já estão alfabetizadas.
Quantas pontas tem o Uapuí? O garoto conta brincando:

- Ska-puai-stia-barraire-skanka-ská.
- Skanka-ská!

Na escola tuyuka, material didático dá em árvore. Quantas frutinhas tem o cacho do açaí?

- Uan-barrari.
- Uan-barrari. Aboboaiá!

Quem acerta recebe aplausos, mas há paciência com os mais lentos. Quem erra não é ridicularizado e também recebe o estímulo solidário dos colegas.

As crianças são livres para sair da sala, só que ninguém quer. O que pode ser mais divertido do que uma aula de matemática?

"Essa didática nada tem a ver com a didática que aprendi no magistério. Aqui não tem decoreba.", disse Alexandre Resende.

Assim: como um estímulo à inteligência, com respeito à liberdade. Escola criativa, que tira da floresta até a merenda escolar. E que tem a justa ambição de oferecer ao Brasil um novo modelo de educação.

"Como cuidar da terra, como cuidar da floresta, como cuidar do meio ambiente. Acho que isso o nosso conhecimento vai contribuir muito para a nação brasileira", explicou o líder tuyuka, Higino Tenório.
 

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