From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

News

A cultura guarani e nós

03/02/2010

Autor: Alfredo Manevy e Américo Córdula

Fonte: Jornal do Brasil - http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/02/03/e030220162.asp



RIO - Mais de 800 lideranças indígenas guarani de quatro países - Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai - estão se reunindo, da última terça-feira até amanhã, no Encontro dos Povos Guarani da América do Sul, organizado pelo Ministério da Cultura (MinC), na aldeia indígena Tekoha Añetete, município de Diamante D'Oeste, no Paraná. O evento é inédito e tem como principal objetivo criar uma nova perspectiva de intercâmbio cultural que reconheça e fortaleça a cultura guarani como contribuição fundamental da formação brasileira.

A cultura guarani tem uma participação decisiva na formação do Brasil. São contribuições na culinária, na língua, na topografia e compreensão do território, e uma série imensa de costumes dos brasileiros de modo geral. Eles são parte do Brasil mesmo que a maior parte de nossa sociedade ainda não tenha consciência disso. Atualmente, existem cerca de 65 mil guaranis no Brasil, em diversos estados (RS, SC, PR, SP, RJ, ES e MS). Estão presentes também na Argentina, na Bolívia e no Paraguai, onde a língua guarani é majoritária e oficial. Os guaranis estão espalhados pela América do Sul, mas com valores e construções cosmológicas muito similares, o que aponta para uma reflexão conjunta com os países do Mercosul.

Até 2003, o MinC sequer se relacionava com os povos indígenas brasileiros. Hoje, o ministério reconhece as culturas indígenas como tecnologias altamente desenvolvidas, cuja preservação e reprodução é do interesse estratégico do país. Seja pelos legados gerais à cultura brasileira, seja pela articulação com o meio ambiente e com a tecnologia contemporânea, os conhecimentos dos povos da floresta são decisivos para o futuro da humanidade. O pressuposto de atuação é que a diversidade cultural constitui grande riqueza para os indivíduos e a sociedade, um ativo que nos enriquece a todos. Evidentemente, uma concepção positiva de diversidade qualifica nosso modelo desenvolvimento, pois deixa para trás uma visão anacrônica e autoritária de civilização, e inclui as visões econômica, social, cultural, política e ambiental. Nesse contexto, a Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, criada em 2003, desenvolve uma política específica para a cultura dos povos indígenas, com programas de capacitação, editais de premiação, fóruns de discussões e outros.

A ONU publicou, recentemente, relatório sobre a situação dos povos indígenas no mundo. O estudo revela que, apesar de representarem apenas 5% da população mundial, os povos indígenas são 15% dos mais pobres do mundo. A discriminação étnica e cultural é percebida como uma das causas de todos esses problemas. O relatório também alerta sobre a ameaça de extinção das culturas indígenas, afirmando que 90% de todos os idiomas indígenas vão desaparecer até o final deste século.

A exclusão cultural se dá de duas formas: por meio da rejeição do modo de vida de determinados grupos (resultado do pensamento de que todos devem viver conforme o estilo da maioria); e por meio da discriminação ou das desvantagens impostas às minorias nas disputas por oportunidades sociais, políticas e econômicas.

O futuro das tradicionais culturas indígenas diz respeito aos indígenas e a todos nós, brasileiros. Acreditamos que ao valorizar, promover e fomentar as expressões culturais, os valores e os conhecimentos tradicionais indígenas, estamos ajudando a moldar o futuro do Brasil. Nesse contexto, ocorre o Encontro Guarani. Uma democracia vibrante deve prever e garantir a liberdade dos grupos que formam a nossa sociedade, liberdade de viver plenamente suas culturas e tradições, escolhendo as formas e ritmos de interação e integração. Desejamos diminuir o preconceito da sociedade, colocando no lugar admiração, conhecimento, interesse, e contribuindo para fortalecer a autoestima e as relações sociais desses povos, de modo que se sintam mais bem equipados para fortalecer suas práticas. São temas que este primeiro encontro poderá debater e fortalecer na agenda cultural e política do Brasil.

Alfredo Manevy é secretário executivo, e Américo Córdula é secretário da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source