From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Envolvimento de índígenas em assalto no Norte do RS abala relação entre brancos e índios
03/06/2010
Autor: Marielise Ferreira
Fonte: Zero Hora - http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/
Um crime bárbaro cometido por ganância abalou a relação entre indígenas e brancos no norte do Estado. Três caingangues moradores da Aldeia Bananeiras, na Reserva Indígena de Nonoai, estão presos em Sarandi por suspeita de participação no assalto realizado às 10h de quarta-feira, ao Banco Banrisul de Gramado dos Loureiros.
A Brigada Militar continua realizando buscas na região para localizar outros cinco integrantes da quadrilha, que para assaltar, mataram o operador de máquinas Valdecir Batista e o assessor especial do Palácio Piratini Alivino Machado.
O clima na Aldeia Bananeiras é um misto de insegurança e revolta. Rádios ligados nas varandas e ouvidos atentos, os caingangues acompanham a evolução do caso pela imprensa. Acostumado a auxiliar a polícia militar em caçadas a bandidos que se refugiam nos 38 mil hectares da Reserva Indígena, o cacique José Orestes do Nascimento, o Zé Lopes, agora se vê envolvido de forma muito próxima com o caso.
É que um dos presos é o próprio filho, Marcos Nascimento, 33 anos, que teria confessado à polícia a participação no esquema. O outro preso, Nilson Inácio, 40 anos, mora a 100 metros da casa do cacique e outra ação policial na noite de quarta-feira, prendeu em flagrante por tráfico de drogas a mulher de Inácio, Sônia Mara Pinheiro, 27 anos. Na casa do casal, a polícia encontrou 20 buchas de cocaína, uma quantidade de crack, celulares e outros objetos que podem ligar os dois ao grupo de assaltantes.
Apesar de acreditar na inocência do filho, o cacique disse que se for culpado, deverá pagar pelo que fez. Nascimento não se conforma com a existência de crime nas reservas, sabia que alguns brancos teriam tentado aliciar índios para o plantio de maconha, mas ontem se viu confrontado com o tráfico de drogas dentro da aldeia, a 100 metros de sua casa.
- Crime para os brancos também é crime para os índios, se eles fizeram algo errado vão ter que pagar, pode até ser expulso da reserva - desabafa.
A família de Nascimento é muito conhecida na região, e o envolvimento político do filho mais velho, Erpone Nascimento, 38 anos, acabou por aproximar as comunidades indígenas dos brancos. Foi assim também que Marcos Nascimento acabou guindado ao cargo de Secretário Especial do Índio, uma secretaria municipal criada em Gramado dos Loureiros especificamente para estreitar as relações, serviço pelo qual ele recebia R$1,4 mil mensais dos cofres municipais.
- Agora com este crime a gente tá numa situação que nem pode ir nos velórios, os homens que morreram são amigos, Alivino é como irmão pra mim. Meu filho que é vice-prefeito nem pode ir dar as condolências - conta o cacique.
As buscas realizadas dentro da reserva indígena por policiais militares também causaram estragos no relacionamento. Zé Lopes reclama da ação policial que segundo ele foi truculenta e teria apavorado mulheres e crianças. A irmã de Sônia, a indígena Eliane, relatou que os policiais teriam revistado o seu bebê de três meses.
- Me ameaçaram de tirar meu filho se não contasse o que sabia e chamaram nossos sobrinhos de bugrinhos.
Zé Lopes diz que denunciará a discriminação e a ação da polícia ao Ministério Público Federal e à Procuradoria Federal em Passo Fundo. Ainda assim, sentou-se na tarde de quinta-feira com o comando da polícia militar de Planalto, para traçar estratégias e auxiliar na identificação e localização dos bandidos. O Tenente Coronel Iguaraçu Ricardo da Silva, comandante do 37 Batalhão de Polícia Militar de Planalto acabou por ter que amenizar a situação junto às lideranças indígenas.
Com a confirmação da morte do assessor do Palácio Piratini, Alivino Machado, às 17h de quinta-feira, o clima ficou ainda mais tenso em Gramado dos Loureiros. A Câmara de Vereadores da cidade teve o plenário transformado para receber o corpo de Machado para o velório. O féretro está marcado para as 15h de sexta-feira, depois de uma missa de corpo presente na Igreja Matriz do município.
O prefeito da cidade Antônio João Ceresoli (PSDB), decretou luto oficial por três dias e disse ontem que o caso não deve abalar a relação entre indígenas e brancos. A resposta dele, foi idêntica a do cacique José Orestes do Nascimento.
- Numa família pode ter cinco filhos, são como os dedos das mãos, nenhum é igual ao outro e sempre pode ter algum que pende pro outro lado - salientou.
O prefeito da cidade elogiou o trabalho do vice-prefeito, e disse que o irmão dele, que também era secretário municipal, nunca demonstrou nenhum atitude que o desabonasse. Ele pretende esperar a evolução das investigações e se Marcos Nascimento for condenado pela justiça, só então será exonerado do cargo.
No município em que 30% do eleitorado é indígena, o prefeito quer manter o bom relacionamento e disse que o caso não deve ser transformado num motivo de guerra entre índios e brancos.
O vice-prefeito Erpone do Nascimento, passou o dia em casa com a família, na Aldeia de Bananeiras e não quis se manifestar. Chateado com a situação envolvendo o próprio irmão, ele telefonou para a família das vítimas do assalto e manifestou seu pesar. Ele foi orientado por lideranças do município a não comparecer ao velório das vítimas para evitar confrontos.
Apesar do cacique desconhecer a ligação entre a quadrilha de assaltantes e os indígenas presos, a presença do grupo na região teria sido notada na última semana. Utilizando um Honda City prata com placas de São Paulo, o grupo teria circulado pelo comércio e bancos da região. Ao ser presa, a caingangue Sônia contou que o marido Inácio deu guarida ao grupo durante os dias que antecederam o crime, guardando coletes à prova de bala, armas e dando pouso aos cinco homens.
Na manhã do crime, por volta das 6h, o grupo voltou a passar na casa de Sônia e Inácio, combinando os últimos detalhes. Conhecido na aldeia como ?cadeeiro?, Inácio cumpre pena por homicídio há seis anos no Presídio de Xanxerê, e há 90 dias entrou em liberdade condicional. Ele se apresentava todos os dias no escritório da Brigada Militar de Gramado dos Loureiros, para controle da justiça.
Depois do crime, outros índios procuraram o cacique para relatar terem visto homens estranhos na região.
- Tinha um acampamento com lonas amarelas dentro da área do Parque Florestal, tinha uns nove lá, armados até os dentes - conta o indígena.
Buscas continuam
As buscas na região continuaram durante todo o dia e devem ser retomadas na sexta-feira. Policiais militares fazem barreiras em estradas vicinais da região e pelotões inteiros participam de um pente fino nas matas ao redor da área em que os bandidos teriam se refugiado, após ganhar carona dos indígenas. Mas o tamanho da área e a dificuldade de acesso prejudicam as buscas. São 38 mil hectares, 24 mil hectares de matas nativas, onde vivem 3,4 mil indios.
Como os homens circularam pela região durante a semana que antecedeu o crime, a Delegada Cínara de Freitas, titular de Nonoai, acredita que será possível identificar os homens por imagens de vídeo monitoramento de bancos e empresas dos municípios vizinhos.
Celulares encontrados na casa do indígena Inácio também podem levar à prisão dos homens. Os contatos feitos entre os integrantes usavam o código de área 51, o que levou a delegada a crer que seriam procedentes da região metropolitana de Porto Alegre.
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2925681.htm
A Brigada Militar continua realizando buscas na região para localizar outros cinco integrantes da quadrilha, que para assaltar, mataram o operador de máquinas Valdecir Batista e o assessor especial do Palácio Piratini Alivino Machado.
O clima na Aldeia Bananeiras é um misto de insegurança e revolta. Rádios ligados nas varandas e ouvidos atentos, os caingangues acompanham a evolução do caso pela imprensa. Acostumado a auxiliar a polícia militar em caçadas a bandidos que se refugiam nos 38 mil hectares da Reserva Indígena, o cacique José Orestes do Nascimento, o Zé Lopes, agora se vê envolvido de forma muito próxima com o caso.
É que um dos presos é o próprio filho, Marcos Nascimento, 33 anos, que teria confessado à polícia a participação no esquema. O outro preso, Nilson Inácio, 40 anos, mora a 100 metros da casa do cacique e outra ação policial na noite de quarta-feira, prendeu em flagrante por tráfico de drogas a mulher de Inácio, Sônia Mara Pinheiro, 27 anos. Na casa do casal, a polícia encontrou 20 buchas de cocaína, uma quantidade de crack, celulares e outros objetos que podem ligar os dois ao grupo de assaltantes.
Apesar de acreditar na inocência do filho, o cacique disse que se for culpado, deverá pagar pelo que fez. Nascimento não se conforma com a existência de crime nas reservas, sabia que alguns brancos teriam tentado aliciar índios para o plantio de maconha, mas ontem se viu confrontado com o tráfico de drogas dentro da aldeia, a 100 metros de sua casa.
- Crime para os brancos também é crime para os índios, se eles fizeram algo errado vão ter que pagar, pode até ser expulso da reserva - desabafa.
A família de Nascimento é muito conhecida na região, e o envolvimento político do filho mais velho, Erpone Nascimento, 38 anos, acabou por aproximar as comunidades indígenas dos brancos. Foi assim também que Marcos Nascimento acabou guindado ao cargo de Secretário Especial do Índio, uma secretaria municipal criada em Gramado dos Loureiros especificamente para estreitar as relações, serviço pelo qual ele recebia R$1,4 mil mensais dos cofres municipais.
- Agora com este crime a gente tá numa situação que nem pode ir nos velórios, os homens que morreram são amigos, Alivino é como irmão pra mim. Meu filho que é vice-prefeito nem pode ir dar as condolências - conta o cacique.
As buscas realizadas dentro da reserva indígena por policiais militares também causaram estragos no relacionamento. Zé Lopes reclama da ação policial que segundo ele foi truculenta e teria apavorado mulheres e crianças. A irmã de Sônia, a indígena Eliane, relatou que os policiais teriam revistado o seu bebê de três meses.
- Me ameaçaram de tirar meu filho se não contasse o que sabia e chamaram nossos sobrinhos de bugrinhos.
Zé Lopes diz que denunciará a discriminação e a ação da polícia ao Ministério Público Federal e à Procuradoria Federal em Passo Fundo. Ainda assim, sentou-se na tarde de quinta-feira com o comando da polícia militar de Planalto, para traçar estratégias e auxiliar na identificação e localização dos bandidos. O Tenente Coronel Iguaraçu Ricardo da Silva, comandante do 37 Batalhão de Polícia Militar de Planalto acabou por ter que amenizar a situação junto às lideranças indígenas.
Com a confirmação da morte do assessor do Palácio Piratini, Alivino Machado, às 17h de quinta-feira, o clima ficou ainda mais tenso em Gramado dos Loureiros. A Câmara de Vereadores da cidade teve o plenário transformado para receber o corpo de Machado para o velório. O féretro está marcado para as 15h de sexta-feira, depois de uma missa de corpo presente na Igreja Matriz do município.
O prefeito da cidade Antônio João Ceresoli (PSDB), decretou luto oficial por três dias e disse ontem que o caso não deve abalar a relação entre indígenas e brancos. A resposta dele, foi idêntica a do cacique José Orestes do Nascimento.
- Numa família pode ter cinco filhos, são como os dedos das mãos, nenhum é igual ao outro e sempre pode ter algum que pende pro outro lado - salientou.
O prefeito da cidade elogiou o trabalho do vice-prefeito, e disse que o irmão dele, que também era secretário municipal, nunca demonstrou nenhum atitude que o desabonasse. Ele pretende esperar a evolução das investigações e se Marcos Nascimento for condenado pela justiça, só então será exonerado do cargo.
No município em que 30% do eleitorado é indígena, o prefeito quer manter o bom relacionamento e disse que o caso não deve ser transformado num motivo de guerra entre índios e brancos.
O vice-prefeito Erpone do Nascimento, passou o dia em casa com a família, na Aldeia de Bananeiras e não quis se manifestar. Chateado com a situação envolvendo o próprio irmão, ele telefonou para a família das vítimas do assalto e manifestou seu pesar. Ele foi orientado por lideranças do município a não comparecer ao velório das vítimas para evitar confrontos.
Apesar do cacique desconhecer a ligação entre a quadrilha de assaltantes e os indígenas presos, a presença do grupo na região teria sido notada na última semana. Utilizando um Honda City prata com placas de São Paulo, o grupo teria circulado pelo comércio e bancos da região. Ao ser presa, a caingangue Sônia contou que o marido Inácio deu guarida ao grupo durante os dias que antecederam o crime, guardando coletes à prova de bala, armas e dando pouso aos cinco homens.
Na manhã do crime, por volta das 6h, o grupo voltou a passar na casa de Sônia e Inácio, combinando os últimos detalhes. Conhecido na aldeia como ?cadeeiro?, Inácio cumpre pena por homicídio há seis anos no Presídio de Xanxerê, e há 90 dias entrou em liberdade condicional. Ele se apresentava todos os dias no escritório da Brigada Militar de Gramado dos Loureiros, para controle da justiça.
Depois do crime, outros índios procuraram o cacique para relatar terem visto homens estranhos na região.
- Tinha um acampamento com lonas amarelas dentro da área do Parque Florestal, tinha uns nove lá, armados até os dentes - conta o indígena.
Buscas continuam
As buscas na região continuaram durante todo o dia e devem ser retomadas na sexta-feira. Policiais militares fazem barreiras em estradas vicinais da região e pelotões inteiros participam de um pente fino nas matas ao redor da área em que os bandidos teriam se refugiado, após ganhar carona dos indígenas. Mas o tamanho da área e a dificuldade de acesso prejudicam as buscas. São 38 mil hectares, 24 mil hectares de matas nativas, onde vivem 3,4 mil indios.
Como os homens circularam pela região durante a semana que antecedeu o crime, a Delegada Cínara de Freitas, titular de Nonoai, acredita que será possível identificar os homens por imagens de vídeo monitoramento de bancos e empresas dos municípios vizinhos.
Celulares encontrados na casa do indígena Inácio também podem levar à prisão dos homens. Os contatos feitos entre os integrantes usavam o código de área 51, o que levou a delegada a crer que seriam procedentes da região metropolitana de Porto Alegre.
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2925681.htm
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