From Indigenous Peoples in Brazil

News

Usinas no Tapajós geram tensão entre índios e policiais

01/04/2013

Fonte: Valor Econômico, Brasil, p. A2



Usinas no Tapajós geram tensão entre índios e policiais

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

As hidrelétricas que o governo quer construir no rios Tapajós e Teles Pires são motivo de tensão na região de Itaituba, no Pará. Segundo o Ministério das Minas e Energia (MME) 80 pesquisadores estão ali para levantar dados para o estudo de impacto ambiental (EIA) da usina de São Luiz do Tapajós e foram acompanhados por um contingente da Polícia Federal, Polícia Rodoviária e Força Nacional. A presença das forças de segurança foi mal recebida por índios munduruku que vivem ao longo do Tapajós e são contrários às usinas.

Lideranças indígenas se reuniram perto de Itaituba para discutir uma posição conjunta de todas as 115 aldeias munduruku. "Suspenderam qualquer conversa com o governo e dizem que o diálogo depende da retirada de tropas da região", diz Adelar Cupsinski, advogado do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). "Estão se sentindo intimidados e traídos."

A tensão entre o governo e os munduruku aumentou em novembro com a morte de Adenilson Kirixi Munduruku, morto em operação da Polícia Federal para retirada de garimpos em área do Teles Pires. Em fevereiro, os índios foram a Brasília pedir investigação pela morte e manifestar oposição em relação às hidrelétricas. O ministro do MME, Edison Lobão, disse a eles que o governo não desistirá das usinas de São Luiz do Tapajós e de Jatobá, mas que seriam recompensados pelos impactos. Os munduruku não se convenceram.

Segundo o governo, São Luiz do Tapajós terá 6133 MW de potência instalada, produzirá 3.369 MW de energia firme e terá um reservatório de 722 km2. Jatobá terá 2338 MW de potência instalada, 1.282 MW de energia firme e reservatório de 646,3 km2. Inundarão 1.368 km2 de floresta, mais de duas vezes a área inundada por Belo Monte.

Os biólogos estão na região por 30 dias coletando dados de biodiversidade durante a cheia do Tapajós. Em outras três ocasiões pesquisaram fauna e flora na enchente, vazante e seca do rio. Os dados irão compor o EIA para que o governo consiga a licença prévia de São Luiz do Tapajós. Pelo cronograma, os estudos têm que estar prontos em setembro. Uma nota do MME divulgada à imprensa dizia que as forças de segurança estavam ali para "garantir o apoio logístico e a segurança" dos cientistas. A nota não diz quantos policiais foram enviados a Itaituba. As estimativas do Cimi são de 200 a 250 homens.

Há uma limitação jurídica para os avanços dos planos do governo. A Justiça Federal, julgando uma ação do Ministério Público Federal do Pará, proibiu a concessão da licença-prévia para as duas hidrelétricas enquanto não for feita a consulta prévia aos índios e não se fizer o estudo de avaliação ambiental integrado das sete usinas planejadas para a bacia hidrográfica do Tapajós-Teles Pires. "Não dá para fazer sete hidrelétricas e ter estudos de impacto ambiental fatiados. Tem que estudar o impacto cumulativo de todos os empreendimentos", explica o procurador da República Ubiratan Cazetta. "Nossa segunda grande briga é sobre a não consulta prévia às comunidades indígenas", diz ele.

Segundo dados recentes existem 11.630 munduruku no Amazonas, Pará e Mato Grosso em terras demarcadas e outras em processo de demarcação. "Não somos bandidos, estamos nos sentindo traídos, humilhados e desrespeitados", diz nota dos índios à imprensa. "Queremos diálogo, mas só falaremos com o governo depois que todos os caciques (...) tomarem sua decisão. É nosso último aviso. Se a Operação não parar, não vai ter mais diálogo (...), vamos acionar os caciques e vai ter guerra."

Valor Econômico, 01/04/2013, Brasil, p. A2

http://www.valor.com.br/brasil/3067210/usinas-no-tapajos-geram-tensao-entre-indios-e-policiais
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source