From Indigenous Peoples in Brazil
News
A APS lado a lado com os Espíritos Guerreiros
09/06/2005
Fonte: Deputada Estadual Brice Bragato -Vitória-ES
".... é como se os espíritos dos guerreiros e guerreiras que tombaram nas lutas de resistências, estivessem lado a lado..."
Essa é a descrição do sentimento do camarada Wilson Júnior (APS-ES) ao se referir à sua participação na auto-demarcação feita pelos índios Tupiniquim e Guarani, do Espírito Santo, realizada entre os dias 17 e 21 de maio de 2005, na luta pela retomada de suas terras que estavam sob o controle da empresa Aracruz Celulose S/A.
O trabalho foi intenso durante cinco dias, abrindo picadas na mata de eucaliptos e foi feito por 500 índios Tupiniquim e Guarani, com a participação de vários movimentos sociais. Atualmente os índios possuem 7.061 ha. Com a nova área, a terra indígena passa para 18.070 ha se aproximando, portanto, dos marcos identificados e demarcados como Terra Indígena (T.I) pelo grupo de trabalho da Funai em 1997, e que reconhecia como T.I Tupiniquim e Guarani uma área de 18.071 ha. O decreto inconstitucional que reduziu a área destes povos foi assinado pelo ex-ministro da Justiça Íris Rezende. Igual postura teve o atual ministro do governo Lula, Márcio Thomás Bastos (Justiça), que assinou decreto reduzindo a T.I Baú, do povo Kayapó (PA).
Onde a Aracruz celulose entra nesta história?
Em meio ao decreto de Íris Rezende, os caciques Tupiniquim e Guarani foram levados para Brasília onde foram forçados a assinar um acordo, em que a empresa Aracruz exploraria por 20 anos os 11.009 ha, em troca de uma indenização em forma de projetos sociais. Essas "benfeitorias" que a empresa prometia, na prática não conseguiram resolver os problemas dos índios. Ao contrário, causou ainda mais dificuldades, gerando dependência econômica, divisão entre as aldeias e enfraquecimento da cultura Tupiniquim e Guarani.
O processo de retomada
Em fevereiro deste ano, reunidos em uma Assembléia com a presença de 350 lideranças das 7 aldeias Guarani e Tupiniquim foi decidida a retomada das terras invadidas pela Aracruz. Vendo a movimentação dos índios, a empresa apresentou uma liminar para usar a força, no caso da Polícia Federal, para impedir a auto-demarcação. Diante da firmeza dos povos indígenas, a polícia foi obrigada a recuar. Depois de passada a fase de derrubada, agora os povos indígenas estão construindo suas casas, na perspectiva de consolidar a ocupação do território e assim concretizar seu desejo de reconstruir as aldeias extintas. Essa não é uma vitória apenas dos povos indígenas, mas de todos aqueles que têm apostado e apoiado essa luta. É uma vitória daqueles que acreditam que é possível um mundo diferente desse imposto pelo poder econômico do capitalismo destruidor.
Quem fala pra nós um pouco dessa experiência de participação direta na auto-demarcação Tupiniquim/Guarani é o companheiro Wilson Junior, assessor parlamentar da deputada estadual Brice Bragato (APS-ES), que não tem medido esforços para estar presente na luta dos povos indígenas de seu estado.
Wilson é formador popular do Núcleo de Educação Popular 13 de maio, oriundo da periferia da Grande Vitória, começou sua militância nas Comunidades Eclesiais de Base e no Movimento Popular e hoje trabalha com formação política e planejamento, além de integrar a equipe de assessoria parlamentar da combativa deputada Brice Bragato.
Como se deu a tua aproximação com os povos indígenas? Foi através da luta dos Tupiniquim/Guarani no ES? Ou tua trajetória vem de outra data?
Na verdade, meu primeiro contato com os povos originários do norte do ES, foi em 1995, quando coordenava o Depto. de Apoio às Minorias da Secretaria de Justiça e Cidadania do Governo Vitor Buaiz. Representava o governo no Núcleo Institucional de Saúde Indigenista (NISI).
Meu primeiro contato foi interessante. Cheguei na aldeia todo afobado depois de uma reunião do NISI, querendo aproveitar o tempo, pois as reuniões eram em Aracruz. Pedi ao motorista que passasse pela aldeia para falar com o cacique Guarani Jonas, da aldeia Boa Esperança. Ele estacionou o carro, encontramos um índio reconstruído a casa de reza: no estilo de casa de estuque com um telhado alto. De repente, chega um curumim e fala alguma coisa para o índio adulto, e o índio desce de cima da armação do telhado vem até o chão ajoelha e ouve o curumim.
Depois de um 40 minutos, encontramos o cacique que acabara de voltar do mato e estava sentado almoçando com uma bacia de plástico, sentei e me apresentei. Soltei o verbo falando sobre a possibilidade de um projeto agro-florestal (replantio de mudas típicas da região e árvores frutíferas blábláblá....).
Não se ouvia nem um murmúrio, o cacique terminou de comer, tomou água, limpou a boca e perguntou num tom suave: "-O que é que você quer mesmo?" Falei que só estava fazendo uma visita e que voltaria com mais calma um outro dia. Uns três meses depois, por questões políticas, nos retiramos do governo Vitor.
Em 1998, durante o segundo mandato de Brice, participamos da 1ª Campanha Internacional pela Demarcação das Terras Indígenas. Depois da campanha, a FUNAI reconheceu os 18 mil hectares e acabou pressionando, junto com a empresa, para que os índios aceitassem um acordo em que perderam grande parte de suas terras.
No processo da auto-demarcação recém concluído dos povos Tupiniquim e Guarani, como foi a participação (política, estrutural) do mandato da Dep. Brice Bragato?
Até por decisão dos próprios índios em assembléia, nossa participação está sendo de apoio, acompanhamento e articulações com os poderes públicos em nível municipal, estadual e nacional. Além de acompanhar de perto para que não haja violência por parte da empresa e da polícia. Do apoio participam a Pastoral Indigenista e as entidades que integram a Rede Alerta Contra o Deserto Verde: FASE, AGB (Associação dos Geógrafos do Brasil), Fórum Capixaba de Apoio ao FSM, MPA, MST, Quilombolas, Igreja Luterana e Mandatos Estaduais do PT.
Como tu vês a proximidade e diálogo que a APS vem construindo com o movimento indígena que a cada dia vai se fortalecendo mais no Brasil?
Acho importante porque são cicatrizes que o capital tenta apagar das atrocidades cometidas em nome da "civilização". Essas formações sociais nos mostraram que aquela história de que "sempre foi assim" é balela.
Na maior parte da história da humanidade vivemos sem a exploração do homem pelo homem. Eles são um exemplo de que não vivemos num país pacifico e que desde do início da colonização os povos originários resistem ao capitalismo.
Conte, num breve relato, como é para um comunista estar no meio da mata, abrindo picadas com foices e moto-serras juntamente com 500 índios?
Em tempos em que "outubro" não é mais que um mês, senti uma injeção de adrenalina no âmago do meu ser, foi como se os espíritos dos guerreiros e guerreiras que tombaram nas lutas de resistências, estivessem lado a lado e como energia viva causavam arrepios a cada pé de eucalipto que tombava.
Mas a luta apenas começou. Hoje pela manhã começamos a derrubada de mais eucaliptos para o processo de ocupação da área com a construção de duas casas onde serão instaladas as famílias. A área também será utilizada para o plantio de roça.
Por fim peço aos companheiros e companheiras, que tenham articulações em nível estadual, nacional, regional e internacional que se informem sobre a luta e que façam contatos com os Guarani e Tupiniquim.
Essa é a descrição do sentimento do camarada Wilson Júnior (APS-ES) ao se referir à sua participação na auto-demarcação feita pelos índios Tupiniquim e Guarani, do Espírito Santo, realizada entre os dias 17 e 21 de maio de 2005, na luta pela retomada de suas terras que estavam sob o controle da empresa Aracruz Celulose S/A.
O trabalho foi intenso durante cinco dias, abrindo picadas na mata de eucaliptos e foi feito por 500 índios Tupiniquim e Guarani, com a participação de vários movimentos sociais. Atualmente os índios possuem 7.061 ha. Com a nova área, a terra indígena passa para 18.070 ha se aproximando, portanto, dos marcos identificados e demarcados como Terra Indígena (T.I) pelo grupo de trabalho da Funai em 1997, e que reconhecia como T.I Tupiniquim e Guarani uma área de 18.071 ha. O decreto inconstitucional que reduziu a área destes povos foi assinado pelo ex-ministro da Justiça Íris Rezende. Igual postura teve o atual ministro do governo Lula, Márcio Thomás Bastos (Justiça), que assinou decreto reduzindo a T.I Baú, do povo Kayapó (PA).
Onde a Aracruz celulose entra nesta história?
Em meio ao decreto de Íris Rezende, os caciques Tupiniquim e Guarani foram levados para Brasília onde foram forçados a assinar um acordo, em que a empresa Aracruz exploraria por 20 anos os 11.009 ha, em troca de uma indenização em forma de projetos sociais. Essas "benfeitorias" que a empresa prometia, na prática não conseguiram resolver os problemas dos índios. Ao contrário, causou ainda mais dificuldades, gerando dependência econômica, divisão entre as aldeias e enfraquecimento da cultura Tupiniquim e Guarani.
O processo de retomada
Em fevereiro deste ano, reunidos em uma Assembléia com a presença de 350 lideranças das 7 aldeias Guarani e Tupiniquim foi decidida a retomada das terras invadidas pela Aracruz. Vendo a movimentação dos índios, a empresa apresentou uma liminar para usar a força, no caso da Polícia Federal, para impedir a auto-demarcação. Diante da firmeza dos povos indígenas, a polícia foi obrigada a recuar. Depois de passada a fase de derrubada, agora os povos indígenas estão construindo suas casas, na perspectiva de consolidar a ocupação do território e assim concretizar seu desejo de reconstruir as aldeias extintas. Essa não é uma vitória apenas dos povos indígenas, mas de todos aqueles que têm apostado e apoiado essa luta. É uma vitória daqueles que acreditam que é possível um mundo diferente desse imposto pelo poder econômico do capitalismo destruidor.
Quem fala pra nós um pouco dessa experiência de participação direta na auto-demarcação Tupiniquim/Guarani é o companheiro Wilson Junior, assessor parlamentar da deputada estadual Brice Bragato (APS-ES), que não tem medido esforços para estar presente na luta dos povos indígenas de seu estado.
Wilson é formador popular do Núcleo de Educação Popular 13 de maio, oriundo da periferia da Grande Vitória, começou sua militância nas Comunidades Eclesiais de Base e no Movimento Popular e hoje trabalha com formação política e planejamento, além de integrar a equipe de assessoria parlamentar da combativa deputada Brice Bragato.
Como se deu a tua aproximação com os povos indígenas? Foi através da luta dos Tupiniquim/Guarani no ES? Ou tua trajetória vem de outra data?
Na verdade, meu primeiro contato com os povos originários do norte do ES, foi em 1995, quando coordenava o Depto. de Apoio às Minorias da Secretaria de Justiça e Cidadania do Governo Vitor Buaiz. Representava o governo no Núcleo Institucional de Saúde Indigenista (NISI).
Meu primeiro contato foi interessante. Cheguei na aldeia todo afobado depois de uma reunião do NISI, querendo aproveitar o tempo, pois as reuniões eram em Aracruz. Pedi ao motorista que passasse pela aldeia para falar com o cacique Guarani Jonas, da aldeia Boa Esperança. Ele estacionou o carro, encontramos um índio reconstruído a casa de reza: no estilo de casa de estuque com um telhado alto. De repente, chega um curumim e fala alguma coisa para o índio adulto, e o índio desce de cima da armação do telhado vem até o chão ajoelha e ouve o curumim.
Depois de um 40 minutos, encontramos o cacique que acabara de voltar do mato e estava sentado almoçando com uma bacia de plástico, sentei e me apresentei. Soltei o verbo falando sobre a possibilidade de um projeto agro-florestal (replantio de mudas típicas da região e árvores frutíferas blábláblá....).
Não se ouvia nem um murmúrio, o cacique terminou de comer, tomou água, limpou a boca e perguntou num tom suave: "-O que é que você quer mesmo?" Falei que só estava fazendo uma visita e que voltaria com mais calma um outro dia. Uns três meses depois, por questões políticas, nos retiramos do governo Vitor.
Em 1998, durante o segundo mandato de Brice, participamos da 1ª Campanha Internacional pela Demarcação das Terras Indígenas. Depois da campanha, a FUNAI reconheceu os 18 mil hectares e acabou pressionando, junto com a empresa, para que os índios aceitassem um acordo em que perderam grande parte de suas terras.
No processo da auto-demarcação recém concluído dos povos Tupiniquim e Guarani, como foi a participação (política, estrutural) do mandato da Dep. Brice Bragato?
Até por decisão dos próprios índios em assembléia, nossa participação está sendo de apoio, acompanhamento e articulações com os poderes públicos em nível municipal, estadual e nacional. Além de acompanhar de perto para que não haja violência por parte da empresa e da polícia. Do apoio participam a Pastoral Indigenista e as entidades que integram a Rede Alerta Contra o Deserto Verde: FASE, AGB (Associação dos Geógrafos do Brasil), Fórum Capixaba de Apoio ao FSM, MPA, MST, Quilombolas, Igreja Luterana e Mandatos Estaduais do PT.
Como tu vês a proximidade e diálogo que a APS vem construindo com o movimento indígena que a cada dia vai se fortalecendo mais no Brasil?
Acho importante porque são cicatrizes que o capital tenta apagar das atrocidades cometidas em nome da "civilização". Essas formações sociais nos mostraram que aquela história de que "sempre foi assim" é balela.
Na maior parte da história da humanidade vivemos sem a exploração do homem pelo homem. Eles são um exemplo de que não vivemos num país pacifico e que desde do início da colonização os povos originários resistem ao capitalismo.
Conte, num breve relato, como é para um comunista estar no meio da mata, abrindo picadas com foices e moto-serras juntamente com 500 índios?
Em tempos em que "outubro" não é mais que um mês, senti uma injeção de adrenalina no âmago do meu ser, foi como se os espíritos dos guerreiros e guerreiras que tombaram nas lutas de resistências, estivessem lado a lado e como energia viva causavam arrepios a cada pé de eucalipto que tombava.
Mas a luta apenas começou. Hoje pela manhã começamos a derrubada de mais eucaliptos para o processo de ocupação da área com a construção de duas casas onde serão instaladas as famílias. A área também será utilizada para o plantio de roça.
Por fim peço aos companheiros e companheiras, que tenham articulações em nível estadual, nacional, regional e internacional que se informem sobre a luta e que façam contatos com os Guarani e Tupiniquim.
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