From Indigenous Peoples in Brazil

News

Povo Paumari realiza sua primeira narrativa digital ilustrada

05/09/2017

Autor: Oiara Bonilla

Fonte: Racismo Ambiental racismoambiental.net.br



Na semana passada, o Museu do Índio acolheu pela primeira vez dois jovens estudantes Paumari para um novo tipo de oficina sobre línguas indígenas: a Oficina de Desenho Digital nas línguas Desano e Paumari. A iniciativa surgiu do encontro entre projetos de dois povos amazônicos: o projeto de animação em língua Desano (coordenado pelo Prof. Wilson Silva, linguista do Rochester Institute of Technology (RIT) dos Estados Unidos), que já vem produzindo desenhos e animações digitais em língua desano, e o projeto do Campeonato da Língua Paumari concebido e realizado por este povo desde 2014, com apoio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e da Federação das Organizações e das Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP) e cujo objetivo final é a transformação das histórias vencedoras em animações gráficas faladas em Paumari, na ótica de revalorizar a língua nativa. O Campeonato da Língua Paumari faz parte de um conjunto de iniciativas destinadas a revitalizar a língua e das quais também faz parte o Programa Sou Bilíngue Intercultural, programa de aulas de língua Apurinã e Paumari ministradas para a população indígena da cidade de Lábrea (AM).

A ideia inicial era realizar uma oficina conjunta, o que não foi possível neste ano, principalmente por razões orçamentárias. Assim, a Oficina Desano aconteceu em junho deste ano, em São Gabriel da Cachoeira (AM) e a Oficina Paumari foi realizada no Museu do Índio do Rio de Janeiro entre 28 de agosto e 1 de setembro, ambas ministrada pela estudante em animação 3D Isabel Marte, também do Rochester Institute of Technology (RIT). O objetivo principal foi iniciar os alunos Paumari às ferramentas e à metodologia do desenho digital e da edição de vídeo. Ao longo de cinco dias de intenso trabalho, a história vencedora do segundo Campeonato da Língua Paumari (realizado em 2015) foi decupada, ilustrada e editada pelos dois alunos escolhidos pela comissão organizadora do Campeonato: Zedequias Joro Marques de Souza Paumari, de 16 anos, morador da aldeia Crispim (Terra indígena Paumari do Lago Marahã) e Renildo Viko Lopes da Silva Paumari, de 22 anos, morador da cidade de Lábrea (AM).

Desde 2014, o Campeonato da Língua Paumari é realizado uma vez por ano nas aldeias paumari da Terra Indígena do Lago Marahã (Município de Lábrea, AM). Trata-se de um encontro lúdico, coletivo, onde as diversas gerações se reúnem em torno de uma competição de narrativas em sua língua materna. A ideia de um evento competitivo foi uma aposta para chamar a atenção dos mais jovens que, atualmente, estão particularmente atraídos pela "cultura do Jara" (não-indígena), pelas coisas da cidade, pelo consumo e sobretudo pela tecnologia. E, neste sentido, a aposta deu certo já que os jovens estão cada vez mais envolvidos na competição e na produção dos materiais na língua. A competição consiste num encontro em que, ao longo de três dias, as nove aldeias da Terra Indígena, dividas em nove times, apresentam cantos, danças e histórias do repertório ritual e mítico paumari. Cada time narra uma história e elabora suas ilustrações. O desafio principal é de narrar a história toda publicamente, sem recorrer a termos em português. No último dia, o júri, também formado por membros de todas as aldeias participantes, escolhe a história vencedora pontuando as equipes em função de quesitos específicos, que incluem postura, dicção, uso da língua, pinturas corporais, danças, originalidade, entre outros.

Na segunda edição do Campeonato, em 2015, o time da aldeia Ilha da Onça venceu o torneio, apresentando a "História do Boto e da origem da plantas cultivadas", com ilustrações belíssimas. O relato mítico conta a origem das plantas e dos alimentos cultivados, que foram cedidos ao povo Paumari pelo boto cor-de-rosa. Aprisionado em um lago quase seco e sentido a morte se aproximar, o boto pede ajuda de uma família paumari (um pai e seu filho) que estava pescando por perto. Em troca dessa ajuda ele promete presenteá-los com algo que não conheciam até então: as plantas cultivadas (milho, batata, cará, macaxeira, abacaxi, entre muitas outras).

Portanto, esta foi a história escolhida pelos Paumari para seu primeiro trabalho de ilustração digital - 'Basori varani hini hida -, que pode ser apreciado abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=I_4NjF3LrEA

A ideia é que todas as histórias vencedoras dos Campeonatos sejam transformadas em animações gráficas faladas e legendadas em Paumari e Português, que essa primeira experiência possa abrir caminhos para garantir a continuidade das oficinas e, se possível, ampliar a experiência, atendendo à demanda de outros povos da região do Médio Purus, como do povo Apurinã, que também se encontra em situação de emergência linguística.



http://racismoambiental.net.br/2017/09/05/povo-paumari-realiza-sua-primeira-narrativa-digital-ilustrada/
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source