From Indigenous Peoples in Brazil
News
Solidariedade supera polarização em ação pelos povos da floresta
07/12/2020
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial
Solidariedade supera polarização em ação pelos povos da floresta
Campanha Com Saúde & Alegria Sem Corona é lançada por ONG invadida pela polícia, que mobilizou líderes de todos os matizes para socorro humanitário
Annamaria Marchesini
FLORIANÓPOLIS
COM SAÚDE & ALEGRIA SEM CORONA
7.dez.2020
Organizações Projeto Saúde & Alegria; Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras; Rurais de Santarém; Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns; Associação Pariri do Povo Munduruku do Médio Tapajós
Empreendedores Eugenio Scannavino; Caetano Scannavino; Edivaldo Matos; Auricélia Fonseca; Alessandra Munduruku
Site saudeealegria.org.br/saude-comunitaria/campanha-de-apoio-ao-baixo-amazonas-contra-a-covid-19
A notícia de que a pandemia chegara à Europa pegou o Projeto Saúde & Alegria (PSA), ONG referência no Pará, em fase delicada.
Em novembro de 2019, quatro brigadistas do Instituto Aquífero Alter do Chão (IAA), foram presos e acusados pela Polícia Civil de provocar queimadas para se beneficiarem do dinheiro das doações para o combate ao fogo.
Um dos acusados era funcionário do PSA. Policiais levaram todos os computadores e 15 mil documentos da ONG.
"Ainda sentíamos o baque e estávamos fazendo tudo manualmente. Sabíamos que logo a doença estaria no Brasil e decidimos nos preparar para ajudar a população a se proteger", conta o médico sanitarista Eugenio Scannavino Neto, 61, fundador da ONG e venceu o Prêmio Empreendedor Social 2005.
Desde 1987, o PSA promove saúde, educação, cultura, inclusão e sustentabilidade na região. Em fevereiro, a ONG deu início à campanha Com Saúde & Alegria sem Corona levantando as necessidades dos órgãos de saúde e das organizações comunitárias.
Além de levar atendimento médico, o navio-hospital Abaré 1 virou central de distribuição de kits de higiene e cestas básicas para comunidades nas bacias dos rios Arapiuns, Maró e Tapajós.
"Apoiamos o poder público, que certamente entraria em falência com a demanda causada pela pandemia." Foram repassados aos órgãos públicos insumos, medicamentos, equipamentos adaptados, EPIs para os profissionais da linha de frente.
A campanha atendeu a 52 mil pessoas em 18 municípios e 10 territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos e assentados do Oeste do Pará.
O fundador da ONG diz que a solidariedade foi um dos maiores aprendizados desta ação. "Temos que superar as diferenças e somar esforços para fazer o que deve ser feito para o bem comum."
Com ele, atuaram na organização da campanha seu irmão Caetano Scannavino Filho, coordenador do PSA; Edivaldo Matos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém; Auricélia Fonseca, diretora do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns, e Alessandra Korap, da Associação do Povo Munduruku do Médio Tapajós.
Edivaldo, 56, constatou que o poder público pouco se importou com os moradores da área rural na pandemia. "Nossa união evitou o pior."
Para o fotógrafo e produtor paulistano Caetano, 54, que chegou ao Pará em 1988 para um período sabático de sei meses e não saiu mais, "a questão ambiental na Amazônia é grave, mas eclipsa as mazelas sociais, e elas foram escancaradas na pandemia".
"A saúde na região amazônica entrou em colapso", afirma. "Queremos que volte a ser um caos organizado para, enfim, tirá-la do caos."
Estudante de direito, Alessandra Korap, 36, da comunidade Munduruku do Médio Tapajós, pediu ajuda ao PSA quando se deu conta de que seu povo estava alheio aos riscos do coronavírus. A percepção era que estava na China e não iria chegar lá. Alessandra começou a orientar as famílias, "mas era muita gente para ajudar".
O apoio extra da campanha Com Saúde e Alegria sem Corona fez a diferença. "Se dependesse do governo, estaríamos ferrados", diz ela, que voltou para a aldeia quando as aulas na faculdade foram suspensas em março.
Eugênio se orgulha do engajamento da equipe na pandemia. "Eles foram maravilhosos." Integrantes foram infectados pelo coronavírus e um deles não resistiu.
As equipes percorriam as comunidades de caminhão, barcos e no Abaré 1, mas era preciso levar informação à toda população. Para isso a ONG usou arte-educação, mobilizou as pessoas a produzirem vídeos e posts contra a Covid-19 para redes sociais e criou o programa diário de rádio "Alô Comunidade", transmitido em AM e FM para onde não havia internet.
Com R$ 3,1 milhões de doações e parcerias, o Abaré 1 fez quatro rodadas subindo e descendo os rios da região. Cada viagem de dez dias atendia em média a 150 comunidades. As costureiras de Alter do Chão fizeram 60.600 máscaras cirúrgicas. Cerca de 10 mil face shields foram distribuídas para profissionais da saúde, bombeiros, policiais, feirantes e pescadores.
A importância do navio-escola Abaré 1 no combate à Covid-19 ficou tão evidente que, com a ajuda da gestão pública, mais duas embarcações integrarão a frota.
Dois laboratórios de análises clínicas serão instalados no território Munduruku no Tapajós, para atender a 9.000 indígenas em parceria com o poder público. Unidades básicas de saúde têm agora equipamentos complementares, como geladeiras para vacinas, placa de energia solar e cilindros de oxigênio.
"A pandemia fez a essência do Saúde & Alegria vir à tona e se fortalecer. Em meio à polarização, arregaçamos as mangas sem medo e reunimos esforços, com diferentes vertentes políticas e ideológicas para colocar a campanha em campo", diz Eugênio.
Foram feitas articulações com governos locais e estadual, e até com agentes de segurança que haviam participado das ações que tentaram criminalizar a ONG. "O aprendizado foi que a união é maior que cada um de nós, indivíduos ou organizações, quando prevalece a cidadania. A sociedade civil organizada faz enorme diferença em crises como a da Covid."
Com Saúde & Alegria Sem Corona
52 mil pessoas impactadas
R$ 3,1 milhões em recursos mobilizados
75.400 máscaras
10.165 EPIs
18 mil cartilhas e cartazes
16.639 kits de higiene
https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2020/12/solidariedade-supera-polarizacao-em-acao-pelos-povos-da-floresta.shtml
Campanha Com Saúde & Alegria Sem Corona é lançada por ONG invadida pela polícia, que mobilizou líderes de todos os matizes para socorro humanitário
Annamaria Marchesini
FLORIANÓPOLIS
COM SAÚDE & ALEGRIA SEM CORONA
7.dez.2020
Organizações Projeto Saúde & Alegria; Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras; Rurais de Santarém; Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns; Associação Pariri do Povo Munduruku do Médio Tapajós
Empreendedores Eugenio Scannavino; Caetano Scannavino; Edivaldo Matos; Auricélia Fonseca; Alessandra Munduruku
Site saudeealegria.org.br/saude-comunitaria/campanha-de-apoio-ao-baixo-amazonas-contra-a-covid-19
A notícia de que a pandemia chegara à Europa pegou o Projeto Saúde & Alegria (PSA), ONG referência no Pará, em fase delicada.
Em novembro de 2019, quatro brigadistas do Instituto Aquífero Alter do Chão (IAA), foram presos e acusados pela Polícia Civil de provocar queimadas para se beneficiarem do dinheiro das doações para o combate ao fogo.
Um dos acusados era funcionário do PSA. Policiais levaram todos os computadores e 15 mil documentos da ONG.
"Ainda sentíamos o baque e estávamos fazendo tudo manualmente. Sabíamos que logo a doença estaria no Brasil e decidimos nos preparar para ajudar a população a se proteger", conta o médico sanitarista Eugenio Scannavino Neto, 61, fundador da ONG e venceu o Prêmio Empreendedor Social 2005.
Desde 1987, o PSA promove saúde, educação, cultura, inclusão e sustentabilidade na região. Em fevereiro, a ONG deu início à campanha Com Saúde & Alegria sem Corona levantando as necessidades dos órgãos de saúde e das organizações comunitárias.
Além de levar atendimento médico, o navio-hospital Abaré 1 virou central de distribuição de kits de higiene e cestas básicas para comunidades nas bacias dos rios Arapiuns, Maró e Tapajós.
"Apoiamos o poder público, que certamente entraria em falência com a demanda causada pela pandemia." Foram repassados aos órgãos públicos insumos, medicamentos, equipamentos adaptados, EPIs para os profissionais da linha de frente.
A campanha atendeu a 52 mil pessoas em 18 municípios e 10 territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos e assentados do Oeste do Pará.
O fundador da ONG diz que a solidariedade foi um dos maiores aprendizados desta ação. "Temos que superar as diferenças e somar esforços para fazer o que deve ser feito para o bem comum."
Com ele, atuaram na organização da campanha seu irmão Caetano Scannavino Filho, coordenador do PSA; Edivaldo Matos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém; Auricélia Fonseca, diretora do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns, e Alessandra Korap, da Associação do Povo Munduruku do Médio Tapajós.
Edivaldo, 56, constatou que o poder público pouco se importou com os moradores da área rural na pandemia. "Nossa união evitou o pior."
Para o fotógrafo e produtor paulistano Caetano, 54, que chegou ao Pará em 1988 para um período sabático de sei meses e não saiu mais, "a questão ambiental na Amazônia é grave, mas eclipsa as mazelas sociais, e elas foram escancaradas na pandemia".
"A saúde na região amazônica entrou em colapso", afirma. "Queremos que volte a ser um caos organizado para, enfim, tirá-la do caos."
Estudante de direito, Alessandra Korap, 36, da comunidade Munduruku do Médio Tapajós, pediu ajuda ao PSA quando se deu conta de que seu povo estava alheio aos riscos do coronavírus. A percepção era que estava na China e não iria chegar lá. Alessandra começou a orientar as famílias, "mas era muita gente para ajudar".
O apoio extra da campanha Com Saúde e Alegria sem Corona fez a diferença. "Se dependesse do governo, estaríamos ferrados", diz ela, que voltou para a aldeia quando as aulas na faculdade foram suspensas em março.
Eugênio se orgulha do engajamento da equipe na pandemia. "Eles foram maravilhosos." Integrantes foram infectados pelo coronavírus e um deles não resistiu.
As equipes percorriam as comunidades de caminhão, barcos e no Abaré 1, mas era preciso levar informação à toda população. Para isso a ONG usou arte-educação, mobilizou as pessoas a produzirem vídeos e posts contra a Covid-19 para redes sociais e criou o programa diário de rádio "Alô Comunidade", transmitido em AM e FM para onde não havia internet.
Com R$ 3,1 milhões de doações e parcerias, o Abaré 1 fez quatro rodadas subindo e descendo os rios da região. Cada viagem de dez dias atendia em média a 150 comunidades. As costureiras de Alter do Chão fizeram 60.600 máscaras cirúrgicas. Cerca de 10 mil face shields foram distribuídas para profissionais da saúde, bombeiros, policiais, feirantes e pescadores.
A importância do navio-escola Abaré 1 no combate à Covid-19 ficou tão evidente que, com a ajuda da gestão pública, mais duas embarcações integrarão a frota.
Dois laboratórios de análises clínicas serão instalados no território Munduruku no Tapajós, para atender a 9.000 indígenas em parceria com o poder público. Unidades básicas de saúde têm agora equipamentos complementares, como geladeiras para vacinas, placa de energia solar e cilindros de oxigênio.
"A pandemia fez a essência do Saúde & Alegria vir à tona e se fortalecer. Em meio à polarização, arregaçamos as mangas sem medo e reunimos esforços, com diferentes vertentes políticas e ideológicas para colocar a campanha em campo", diz Eugênio.
Foram feitas articulações com governos locais e estadual, e até com agentes de segurança que haviam participado das ações que tentaram criminalizar a ONG. "O aprendizado foi que a união é maior que cada um de nós, indivíduos ou organizações, quando prevalece a cidadania. A sociedade civil organizada faz enorme diferença em crises como a da Covid."
Com Saúde & Alegria Sem Corona
52 mil pessoas impactadas
R$ 3,1 milhões em recursos mobilizados
75.400 máscaras
10.165 EPIs
18 mil cartilhas e cartazes
16.639 kits de higiene
https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2020/12/solidariedade-supera-polarizacao-em-acao-pelos-povos-da-floresta.shtml
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