From Indigenous Peoples in Brazil
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Formação de Comunicadores Indígenas do Maranhão e Norte do Tocantins fortalece a luta de povos Tupi e Timbira
12/08/2024
Autor: Fernando Ralfer
Fonte: Centro de Trabalho Indigenista - https://trabalhoindigenista.org.br
Formação de Comunicadores Indígenas do Maranhão e Norte do Tocantins fortalece a luta de povos Tupi e Timbira
Wirapitang Ka'apor viajou cerca de 24 horas, percorrendo quase 800 km, até chegar ao Centro Timbira de Ensino e Pesquisa Pënxwyj Hëmpejxà, em Carolina-MA. Ele saiu da Aldeia Xiepihürenda, na Terra Indígena Alto Turiaçu, localizada no norte do Maranhão, na divisa com o Pará. Em outro extremo, no Norte do Tocantins, Phakim Krahô iniciou seu deslocamento da Aldeia Recantos dos Irmãos, na Terra Indígena Kraolândia.
Phakim, Wirapitang e mais 39 jovens indígenas dos territórios Indígenas Apinajé, Araribóia, Bacurizinho, Cana Brava, Carú, Escalvado, Governador, Krikati, Porquinhos, Rio Pindaré e Taquaritiua viajaram para participar da etapa presencial do segundo ciclo de Formação de Comunicadores Indígenas do Maranhão e Norte do Tocantins. A formação, que aconteceu de 29 de julho a 1o de agosto, seguirá até dezembro de 2024 com encontros semanais online, "no quadradinho", como os comunicadores costumam dizer, referindo-se ao layout das plataformas de reuniões virtuais.
Iniciada em janeiro de 2023 com o primeiro ciclo, a formação de comunicadores busca fortalecer as capacidades de comunicação dos povos indígenas, permitindo que eles sejam protagonistas na narração de suas histórias e na divulgação de suas lutas e conquistas.
O primeiro ciclo trouxe resultados significativos, proporcionando aos participantes uma formação inicial em comunicação e diversas oportunidades de aplicação prática. Os jovens aprenderam sobre introdução à fotografia, produção audiovisual, design gráfico e protagonismo indígena. Cada um recebeu um smartphone e um estabilizador para celular, equipamentos necessários para captura e edição de fotos e vídeos.
No segundo ciclo, a formação pretende aprofundar e aprimorar os conhecimentos já trabalhados, introduzindo novos conteúdos como leitura e produção textual focada em técnicas de redação e criação de storytelling, gestão de redes sociais e capacitação para que os comunicadores possam desenvolver e gerenciar seus próprios projetos de comunicação. Cada participante recebeu um computador para auxiliar na realização de atividades online e produção de conteúdos multimídia.
Além de fornecer equipamentos e aprimorar habilidades técnicas, a formação também busca fortalecer os comunicadores indígenas para que eles atuem de forma ativa e influente em suas comunidades, trabalhando junto às organizações e associações indígenas de seus territórios.
"A gente sofre tanta violência dentro do nosso território. E as narrativas são sempre como se fôssemos nós, os indígenas, os causadores dessas violências. Isso me deixa muito triste. Então resolvemos começar a reescrever essa narrativa, de nós para nós, e para outras pessoas que não conhecem nossa realidade, nossas histórias. E a gente vai aprendendo cada vez mais nessas formações, por isso elas são necessárias", comenta Cruupyhre Akroá, único representante do Povo Gamela presente na oficina.
O pensamento de Cruupyhre é reforçado por Wirapitang Ka'apor. "Nós temos que falar por nós. Já chega de outras pessoas contando nossa história há tantos anos. A partir de agora, vamos falar diretamente das nossas aldeias, não só para o Brasil, mas para o mundo todo", enfatiza.
Ferramenta de resistência e luta
Nos últimos anos, a comunicação tem se mostrado uma ferramenta poderosa de luta e promoção dos direitos indígenas, contribuindo para a preservação das culturas tradicionais, para a mobilização social e fortalecimento do movimento indígena, a exemplo dos bem-sucedidos casos dos coletivos Mídia Indígena, criado por jovens Guajajara da TI Araribóia; Mídia Terena, Mídia Guarani Mbya, entre outros.
Para Oscar Apinajé, presidente da Associação Wyty-Catë, o espaço de formação de comunicadores indígenas é também um espaço de formação política e preparação de novas lideranças.
"Vocês vão construir nosso projeto de futuro para as próximas gerações. Não adianta adquirir o conhecimento e não praticar. Vocês vão adquirir conhecimentos aqui e devem usar em prol de nós, pois terão um papel importante dentro das suas comunidades, na defesa dos nossos direitos", destacou durante a abertura do encontro.
Para Phakim Krahô, a comunicação é também uma ferramenta de defesa dos territórios. "Essa formação é uma coisa nova para nós Krahô. Ela vem para que tenhamos um conhecimento melhor, para aprender a comunicar de forma que o homem branco entenda nossa mensagem, porque uma boa comunicação é uma defesa, é uma proteção para nós indígenas, para nosso território".
Já para Marciel Krikati, a comunicação e as ferramentas tecnológicas representam a voz da juventude indígena. "Antigamente, os mais velhos faziam a resistência através da linguagem, da cantoria. Hoje, nós, juventude, temos nossa voz através das câmeras, da tecnologia. Hoje temos essa ferramenta de luta, que é a comunicação".
Durante a abertura da oficina, Jaime Siqueira, coordenador executivo do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), expressou a expectativa de que, ao final do curso, os comunicadores indígenas estejam ainda mais preparados para atuar como vozes representativas e influentes de suas comunidades, contribuindo para a defesa de seus direitos. "Vocês vão ter um papel político importante dentro das suas comunidades e das organizações. Isso é central dentro deste curso. Temos um enfoque na comunicação, mas também é formação de novos quadros de lideranças. A comunicação não faz sentido sozinha, isolada. O que estamos fazendo aqui é fortalecer a luta, a militância de todo dia", destacou..
A Formação de Comunicadores Indígenas contempla jovens dos povos Apinajé, Canela Memõrtumré, Canela Apanyekrá, Gamella, Gavião, Guajajara, Ka'apor, Krikati, Krahô e Tembé, que fazem parte dos grupos Tupi e Timbira.
É uma iniciativa do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), em parceria com as organizações indígenas COAPIMA, AMIMA e Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins. Conta com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no âmbito do projeto Aliança dos Povos Indígenas pelas Florestas da Amazônia Oriental: Conservar, Proteger e Restaurar.
As opiniões expressas neste texto são dos respectivos autores e não refletem necessariamente as opiniões da USAID.
https://trabalhoindigenista.org.br/formacao-comunicadores-indigenas-maranhao-tocantins/
Wirapitang Ka'apor viajou cerca de 24 horas, percorrendo quase 800 km, até chegar ao Centro Timbira de Ensino e Pesquisa Pënxwyj Hëmpejxà, em Carolina-MA. Ele saiu da Aldeia Xiepihürenda, na Terra Indígena Alto Turiaçu, localizada no norte do Maranhão, na divisa com o Pará. Em outro extremo, no Norte do Tocantins, Phakim Krahô iniciou seu deslocamento da Aldeia Recantos dos Irmãos, na Terra Indígena Kraolândia.
Phakim, Wirapitang e mais 39 jovens indígenas dos territórios Indígenas Apinajé, Araribóia, Bacurizinho, Cana Brava, Carú, Escalvado, Governador, Krikati, Porquinhos, Rio Pindaré e Taquaritiua viajaram para participar da etapa presencial do segundo ciclo de Formação de Comunicadores Indígenas do Maranhão e Norte do Tocantins. A formação, que aconteceu de 29 de julho a 1o de agosto, seguirá até dezembro de 2024 com encontros semanais online, "no quadradinho", como os comunicadores costumam dizer, referindo-se ao layout das plataformas de reuniões virtuais.
Iniciada em janeiro de 2023 com o primeiro ciclo, a formação de comunicadores busca fortalecer as capacidades de comunicação dos povos indígenas, permitindo que eles sejam protagonistas na narração de suas histórias e na divulgação de suas lutas e conquistas.
O primeiro ciclo trouxe resultados significativos, proporcionando aos participantes uma formação inicial em comunicação e diversas oportunidades de aplicação prática. Os jovens aprenderam sobre introdução à fotografia, produção audiovisual, design gráfico e protagonismo indígena. Cada um recebeu um smartphone e um estabilizador para celular, equipamentos necessários para captura e edição de fotos e vídeos.
No segundo ciclo, a formação pretende aprofundar e aprimorar os conhecimentos já trabalhados, introduzindo novos conteúdos como leitura e produção textual focada em técnicas de redação e criação de storytelling, gestão de redes sociais e capacitação para que os comunicadores possam desenvolver e gerenciar seus próprios projetos de comunicação. Cada participante recebeu um computador para auxiliar na realização de atividades online e produção de conteúdos multimídia.
Além de fornecer equipamentos e aprimorar habilidades técnicas, a formação também busca fortalecer os comunicadores indígenas para que eles atuem de forma ativa e influente em suas comunidades, trabalhando junto às organizações e associações indígenas de seus territórios.
"A gente sofre tanta violência dentro do nosso território. E as narrativas são sempre como se fôssemos nós, os indígenas, os causadores dessas violências. Isso me deixa muito triste. Então resolvemos começar a reescrever essa narrativa, de nós para nós, e para outras pessoas que não conhecem nossa realidade, nossas histórias. E a gente vai aprendendo cada vez mais nessas formações, por isso elas são necessárias", comenta Cruupyhre Akroá, único representante do Povo Gamela presente na oficina.
O pensamento de Cruupyhre é reforçado por Wirapitang Ka'apor. "Nós temos que falar por nós. Já chega de outras pessoas contando nossa história há tantos anos. A partir de agora, vamos falar diretamente das nossas aldeias, não só para o Brasil, mas para o mundo todo", enfatiza.
Ferramenta de resistência e luta
Nos últimos anos, a comunicação tem se mostrado uma ferramenta poderosa de luta e promoção dos direitos indígenas, contribuindo para a preservação das culturas tradicionais, para a mobilização social e fortalecimento do movimento indígena, a exemplo dos bem-sucedidos casos dos coletivos Mídia Indígena, criado por jovens Guajajara da TI Araribóia; Mídia Terena, Mídia Guarani Mbya, entre outros.
Para Oscar Apinajé, presidente da Associação Wyty-Catë, o espaço de formação de comunicadores indígenas é também um espaço de formação política e preparação de novas lideranças.
"Vocês vão construir nosso projeto de futuro para as próximas gerações. Não adianta adquirir o conhecimento e não praticar. Vocês vão adquirir conhecimentos aqui e devem usar em prol de nós, pois terão um papel importante dentro das suas comunidades, na defesa dos nossos direitos", destacou durante a abertura do encontro.
Para Phakim Krahô, a comunicação é também uma ferramenta de defesa dos territórios. "Essa formação é uma coisa nova para nós Krahô. Ela vem para que tenhamos um conhecimento melhor, para aprender a comunicar de forma que o homem branco entenda nossa mensagem, porque uma boa comunicação é uma defesa, é uma proteção para nós indígenas, para nosso território".
Já para Marciel Krikati, a comunicação e as ferramentas tecnológicas representam a voz da juventude indígena. "Antigamente, os mais velhos faziam a resistência através da linguagem, da cantoria. Hoje, nós, juventude, temos nossa voz através das câmeras, da tecnologia. Hoje temos essa ferramenta de luta, que é a comunicação".
Durante a abertura da oficina, Jaime Siqueira, coordenador executivo do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), expressou a expectativa de que, ao final do curso, os comunicadores indígenas estejam ainda mais preparados para atuar como vozes representativas e influentes de suas comunidades, contribuindo para a defesa de seus direitos. "Vocês vão ter um papel político importante dentro das suas comunidades e das organizações. Isso é central dentro deste curso. Temos um enfoque na comunicação, mas também é formação de novos quadros de lideranças. A comunicação não faz sentido sozinha, isolada. O que estamos fazendo aqui é fortalecer a luta, a militância de todo dia", destacou..
A Formação de Comunicadores Indígenas contempla jovens dos povos Apinajé, Canela Memõrtumré, Canela Apanyekrá, Gamella, Gavião, Guajajara, Ka'apor, Krikati, Krahô e Tembé, que fazem parte dos grupos Tupi e Timbira.
É uma iniciativa do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), em parceria com as organizações indígenas COAPIMA, AMIMA e Associação Wyty-Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins. Conta com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no âmbito do projeto Aliança dos Povos Indígenas pelas Florestas da Amazônia Oriental: Conservar, Proteger e Restaurar.
As opiniões expressas neste texto são dos respectivos autores e não refletem necessariamente as opiniões da USAID.
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