From Indigenous Peoples in Brazil
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Amazônia é solução-chave para mudanças climáticas, mas exige atenção e seriedade
15/04/2025
Fonte: Um só Planeta - umsoplaneta.globo.com
Amazônia é solução-chave para mudanças climáticas, mas exige atenção e seriedade
Naiara Bertão
8-11 minutos
Um dos maiores ecossistemas do planeta, uma das maiores florestas tropicais e a maior biodiversidade conferem à Amazônia um papel de destaque na luta contra as mudanças climáticas e seus efeitos. O fato de o Brasil ser o país-sede da conferência do clima das Nações Unidas, a COP30, este ano, em novembro, e ainda mais em uma cidade no meio da floresta - Belém, no Pará, acende ainda mais a discussão sobre como usar o bioma como um trunfo. Para isso, contudo, especialistas reunidos em um painel no evento de inovação South Summit, explicam que é preciso encarar o tema com a seriedade e complexidade que ele merece.
"Este é um ano que pode unir uma transformação enorme - e necessária. Prefiro nem imaginar como será se não conseguirmos promover desenvolvimento na Amazônia com todo o potencial que esse ecossistema tem", comenta Denise Hills, no painel sobre o assunto na capital gaúcha. A conselheira de instituições como Banco ABC, Anbima e CEBDS lembra que a Amazônia é peça fundamental da regulação do regime de chuvas no Brasil e em outras regiões, sendo, portanto, importante para a atividade econômica e o PIB.
"Do ponto de vista das pessoas e das tecnologias, temos nas mãos uma solução que vai além da nossa própria prosperidade. Trata-se de um grande ativo para o mundo. Um ativo que garante, no mínimo, que a gente continue respirando", acrescenta.
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A mudança de pensamento, na sua opinião, parte da consciência de que todos temos impacto e contribuímos para o aquecimento do planeta. A respiração já é uma causadora de impacto, por si só. "O impacto não é opcional - ele existe. E se você gera impacto e não o gere, isso já foi um problema no passado, e agora se torna também uma oportunidade perdida", diz, lembrando que o próprio carbono começa a ser precificado, com a regulação do mercado no Brasil e em outros países.
Diante de um impacto inevitável, a inovação para resolver os grandes problemas do mundo, é, portanto, primordial. "Qualquer inovação que não tenha o impacto como um dos seus indicadores de sucesso é, na verdade, uma não-inovação. É apenas uma melhoria marginal, que resolve problemas que já conhecemos sem transformar o sistema", reitera.
Denise defende que o conhecimento seja colocado à serviço dessas urgências. E, para isso, é preciso envolver empresas, organizações do terceiro setor, tecnologias sociais e investimentos em prol da construção de soluções. Conta que a Anbima, por exemplo, tem se articulado para trazer temas como clima e biodiversidade para o centro da agenda do setor financeiro.
"É essencial trabalharmos com modelos de investimento que sejam mais fáceis de colocar na prateleira, mais simples de atrair capital, para que os recursos fluam de maneira natural. Isso inclui combinações de diferentes tipos de capital, de forma inteligente", afirma. "Isso garante não só a viabilidade da floresta, mas também das comunidades que ali vivem."
Denise Hills (esq.): "É como estar lado a lado com quem construiu as pirâmides no Egito: há cinco mil anos dominavam tecnologias e seguem vivas - coexistindo conosco hoje", ao se referir aos saberes dos povos da floresta - Foto: Naiara Bertã/ Um Só Planeta
Denise Hills (esq.): "É como estar lado a lado com quem construiu as pirâmides no Egito: há cinco mil anos dominavam tecnologias e seguem vivas - coexistindo conosco hoje", ao se referir aos saberes dos povos da floresta - Foto: Naiara Bertã/ Um Só Planeta
Apesar de reforçar que a mudança climática é para todo mundo e que nunca tivemos tanta tecnologia e tanto capital para encontrar soluções, Denise ainda vê um esforço menor do que o necessário para mobilizar recursos para desenvolver a economia sustentável da Amazônia. "Estamos nos mobilizando menos recursos para estas ações do que poderíamos", diz.
Cita como exemplo de instrumento de financiamento que tem sido bem-sucedido os fundos de blended finance, que combinam inovação com investimento a custos mais baixos, ao ter capital catalítico e financeiro. "Esses fundos ajudam a construir investimentos sustentáveis, respeitando a vocação do bioma e garantindo que ele seja viável", pontua.
Denise lembra que nada disso adianta se as pessoas que são detentoras do conhecimento não forem ouvidas e incluídas. São elas, diz, que já vêm desenvolvendo soluções na Amazônia há muitos anos para o problema do clima, mesmo sem saber o impacto positivo de suas ações.
"Na Amazônia, por exemplo, convivemos com comunidades riquíssimas em saberes e biodiversidade. É como estar lado a lado com quem construiu as pirâmides no Egito: há cinco mil anos dominavam tecnologias e seguem vivas - coexistindo conosco hoje", afirma. Para ela, isso deve ser visto como uma oportunidade de transformação de conhecimento e tecnologia. "Se não, estamos perdendo o essencial."
Dentre os conhecimentos mais ricos está a convivência harmônica com a natureza, mantendo as árvores em pé. As árvores são, segundo Denise, a melhor e mais barata tecnologia de captura de carbono já 'inventada'. "Mesmo assim, ainda não pensamos nisso com a devida seriedade", reitera.
Eventos como o South Summit, em sua opinião, ajudam a trazer o tema do desenvolvimento sustentável para dentro do padrão de desenvolvimento econômico atual. A valorização da sociobiodiversidade é fundamental. Hills a Natura, empresa de cosméticos, como empresa que entendeu essa potência econômica do conhecimento tradicional. Diz que a empresa conhece 9 mil ativos na Amazônia, tem 4 mil mapeados, usa 43 e deve ter 50 pontos. Para cada um desses ativos, diz, as funcionalidades são bem maiores do que só a indústria cosmética.
"Para que a agricultura funcione, a temperatura, a inflação esteja sob controle e todos tenham acesso à água, seria muito bom e inteligente da parte dos que se acham mais inteligentes pensar em negócios sustentáveis, eficientes e rentáveis. Equilibrar o sistema de chuvas não é só uma questão de trabalhar mitigação. E todos podem compartilhar e geram valor no ecossistema, lembrando que a Amazônia representa 60% do território do Brasil", finaliza Denise.
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é um exemplo de organização que trabalha há anos em prol do desenvolvimento sustentável. A entidade está formando, por exemplo, a primeira turma de professores que moram na floresta. "Com a universidade chegando até lá, estamos formando o capital humano do território para apoiar as pessoas a cumprirem papel [de cuidar da floresta]. Mas é preciso que o Estado brasileiro as proteja", comenta Valcleia Lima, superintendente da FAS.
Em um momento que muita gente olha para a COP como uma oportunidade de conhecer a região, de fazer negócios e até apoiar o desenvolvimento local, cuidados devem ser tomados. "Se não investir na Amazônia, não impacta quem está na ponta, cuidando e protegendo a floresta. Quem quiser investir, não pode pensar em retorno imediato, mas em uma forma de investimento que considere a sazonalidade do território", diz Valcleia.
O respeito aos locais, especialmente comunidades indígenas e quilombolas, é apontado por ela como essencial para garantir que essas pessoas que já estão, há muito tempo, cuidando da terra e da floresta, continuem seu trabalho. "As populações que moram na Amazônia enfrentam desafios, mas têm uma ancestralidade e uma cultura que temos que valorizar. Não é só chegar no território e fazer; tem que escutar o que as populações tradicionais têm de conhecimento para aprimorar", pontua.
Daniela Giffoni, líder de ESG e Negócios de Impacto do Impact Hub Porto Alegre, quem mediou o painel, reitera que este pensamento "colonialista" deve ser desconstruído para lidar com a Amazônia. "É uma questão de aprender e não ensinar; ter troca para construir as pontes certas para fazer algo para o longo prazo. Não só algo que pode ser feito de qualquer jeito, porque a chance de dar errado é grande. Não é a mesma forma de fazer negócio na Amazônia", reitera.
Valcleia, da FAS, lembra ainda que, além dos desafios recorrentes que os povos que vivem na floresta enfrentam, como dificuldade de acesso à saúde, educação, energia, internet e comunicação, a insegurança é um medo crescente, especialmente com o avanço do narcotráfico. "Mas não podemos nos acomodar, nos acovardar. Não podemos deixar que essas pessoas joguem por terra o que as comunidades fizeram", diz.
https://umsoplaneta.globo.com/clima/noticia/2025/04/15/amazonia-e-solucao-chave-para-mudancas-climaticas-mas-exige-atencao-e-seriedade.ghtml
Naiara Bertão
8-11 minutos
Um dos maiores ecossistemas do planeta, uma das maiores florestas tropicais e a maior biodiversidade conferem à Amazônia um papel de destaque na luta contra as mudanças climáticas e seus efeitos. O fato de o Brasil ser o país-sede da conferência do clima das Nações Unidas, a COP30, este ano, em novembro, e ainda mais em uma cidade no meio da floresta - Belém, no Pará, acende ainda mais a discussão sobre como usar o bioma como um trunfo. Para isso, contudo, especialistas reunidos em um painel no evento de inovação South Summit, explicam que é preciso encarar o tema com a seriedade e complexidade que ele merece.
"Este é um ano que pode unir uma transformação enorme - e necessária. Prefiro nem imaginar como será se não conseguirmos promover desenvolvimento na Amazônia com todo o potencial que esse ecossistema tem", comenta Denise Hills, no painel sobre o assunto na capital gaúcha. A conselheira de instituições como Banco ABC, Anbima e CEBDS lembra que a Amazônia é peça fundamental da regulação do regime de chuvas no Brasil e em outras regiões, sendo, portanto, importante para a atividade econômica e o PIB.
"Do ponto de vista das pessoas e das tecnologias, temos nas mãos uma solução que vai além da nossa própria prosperidade. Trata-se de um grande ativo para o mundo. Um ativo que garante, no mínimo, que a gente continue respirando", acrescenta.
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A mudança de pensamento, na sua opinião, parte da consciência de que todos temos impacto e contribuímos para o aquecimento do planeta. A respiração já é uma causadora de impacto, por si só. "O impacto não é opcional - ele existe. E se você gera impacto e não o gere, isso já foi um problema no passado, e agora se torna também uma oportunidade perdida", diz, lembrando que o próprio carbono começa a ser precificado, com a regulação do mercado no Brasil e em outros países.
Diante de um impacto inevitável, a inovação para resolver os grandes problemas do mundo, é, portanto, primordial. "Qualquer inovação que não tenha o impacto como um dos seus indicadores de sucesso é, na verdade, uma não-inovação. É apenas uma melhoria marginal, que resolve problemas que já conhecemos sem transformar o sistema", reitera.
Denise defende que o conhecimento seja colocado à serviço dessas urgências. E, para isso, é preciso envolver empresas, organizações do terceiro setor, tecnologias sociais e investimentos em prol da construção de soluções. Conta que a Anbima, por exemplo, tem se articulado para trazer temas como clima e biodiversidade para o centro da agenda do setor financeiro.
"É essencial trabalharmos com modelos de investimento que sejam mais fáceis de colocar na prateleira, mais simples de atrair capital, para que os recursos fluam de maneira natural. Isso inclui combinações de diferentes tipos de capital, de forma inteligente", afirma. "Isso garante não só a viabilidade da floresta, mas também das comunidades que ali vivem."
Denise Hills (esq.): "É como estar lado a lado com quem construiu as pirâmides no Egito: há cinco mil anos dominavam tecnologias e seguem vivas - coexistindo conosco hoje", ao se referir aos saberes dos povos da floresta - Foto: Naiara Bertã/ Um Só Planeta
Denise Hills (esq.): "É como estar lado a lado com quem construiu as pirâmides no Egito: há cinco mil anos dominavam tecnologias e seguem vivas - coexistindo conosco hoje", ao se referir aos saberes dos povos da floresta - Foto: Naiara Bertã/ Um Só Planeta
Apesar de reforçar que a mudança climática é para todo mundo e que nunca tivemos tanta tecnologia e tanto capital para encontrar soluções, Denise ainda vê um esforço menor do que o necessário para mobilizar recursos para desenvolver a economia sustentável da Amazônia. "Estamos nos mobilizando menos recursos para estas ações do que poderíamos", diz.
Cita como exemplo de instrumento de financiamento que tem sido bem-sucedido os fundos de blended finance, que combinam inovação com investimento a custos mais baixos, ao ter capital catalítico e financeiro. "Esses fundos ajudam a construir investimentos sustentáveis, respeitando a vocação do bioma e garantindo que ele seja viável", pontua.
Denise lembra que nada disso adianta se as pessoas que são detentoras do conhecimento não forem ouvidas e incluídas. São elas, diz, que já vêm desenvolvendo soluções na Amazônia há muitos anos para o problema do clima, mesmo sem saber o impacto positivo de suas ações.
"Na Amazônia, por exemplo, convivemos com comunidades riquíssimas em saberes e biodiversidade. É como estar lado a lado com quem construiu as pirâmides no Egito: há cinco mil anos dominavam tecnologias e seguem vivas - coexistindo conosco hoje", afirma. Para ela, isso deve ser visto como uma oportunidade de transformação de conhecimento e tecnologia. "Se não, estamos perdendo o essencial."
Dentre os conhecimentos mais ricos está a convivência harmônica com a natureza, mantendo as árvores em pé. As árvores são, segundo Denise, a melhor e mais barata tecnologia de captura de carbono já 'inventada'. "Mesmo assim, ainda não pensamos nisso com a devida seriedade", reitera.
Eventos como o South Summit, em sua opinião, ajudam a trazer o tema do desenvolvimento sustentável para dentro do padrão de desenvolvimento econômico atual. A valorização da sociobiodiversidade é fundamental. Hills a Natura, empresa de cosméticos, como empresa que entendeu essa potência econômica do conhecimento tradicional. Diz que a empresa conhece 9 mil ativos na Amazônia, tem 4 mil mapeados, usa 43 e deve ter 50 pontos. Para cada um desses ativos, diz, as funcionalidades são bem maiores do que só a indústria cosmética.
"Para que a agricultura funcione, a temperatura, a inflação esteja sob controle e todos tenham acesso à água, seria muito bom e inteligente da parte dos que se acham mais inteligentes pensar em negócios sustentáveis, eficientes e rentáveis. Equilibrar o sistema de chuvas não é só uma questão de trabalhar mitigação. E todos podem compartilhar e geram valor no ecossistema, lembrando que a Amazônia representa 60% do território do Brasil", finaliza Denise.
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é um exemplo de organização que trabalha há anos em prol do desenvolvimento sustentável. A entidade está formando, por exemplo, a primeira turma de professores que moram na floresta. "Com a universidade chegando até lá, estamos formando o capital humano do território para apoiar as pessoas a cumprirem papel [de cuidar da floresta]. Mas é preciso que o Estado brasileiro as proteja", comenta Valcleia Lima, superintendente da FAS.
Em um momento que muita gente olha para a COP como uma oportunidade de conhecer a região, de fazer negócios e até apoiar o desenvolvimento local, cuidados devem ser tomados. "Se não investir na Amazônia, não impacta quem está na ponta, cuidando e protegendo a floresta. Quem quiser investir, não pode pensar em retorno imediato, mas em uma forma de investimento que considere a sazonalidade do território", diz Valcleia.
O respeito aos locais, especialmente comunidades indígenas e quilombolas, é apontado por ela como essencial para garantir que essas pessoas que já estão, há muito tempo, cuidando da terra e da floresta, continuem seu trabalho. "As populações que moram na Amazônia enfrentam desafios, mas têm uma ancestralidade e uma cultura que temos que valorizar. Não é só chegar no território e fazer; tem que escutar o que as populações tradicionais têm de conhecimento para aprimorar", pontua.
Daniela Giffoni, líder de ESG e Negócios de Impacto do Impact Hub Porto Alegre, quem mediou o painel, reitera que este pensamento "colonialista" deve ser desconstruído para lidar com a Amazônia. "É uma questão de aprender e não ensinar; ter troca para construir as pontes certas para fazer algo para o longo prazo. Não só algo que pode ser feito de qualquer jeito, porque a chance de dar errado é grande. Não é a mesma forma de fazer negócio na Amazônia", reitera.
Valcleia, da FAS, lembra ainda que, além dos desafios recorrentes que os povos que vivem na floresta enfrentam, como dificuldade de acesso à saúde, educação, energia, internet e comunicação, a insegurança é um medo crescente, especialmente com o avanço do narcotráfico. "Mas não podemos nos acomodar, nos acovardar. Não podemos deixar que essas pessoas joguem por terra o que as comunidades fizeram", diz.
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