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A batalha aérea dos brigadistas indígenas contra incêndios florestais

25/07/2025

Autor: Diogo Schelp

Fonte: Revista Veja -



A batalha aérea dos brigadistas indígenas contra incêndios florestais

Sob um sol escaldante, Gildimar Sitrê Xerente usa os polegares para movimentar habilmente dois pequenos joysticks, fazendo o drone modelo DJI Mavic Mini 4 Pro subir vários metros acima do chão com um zumbido. Ao seu lado, um companheiro mantém os olhos fixos no aparelho com a missão de alertar sobre aves ou outros riscos para o voo. As manobras são supervisionadas por um instrutor do Centro de Operações Aéreas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Gildimar identifica, na imagem do alto projetada na tela do controle remoto em suas mãos, um foco de incêndio à distância, registrando sua localização exata e o comportamento das chamas. As informações servirão para direcionar o trabalho dos brigadistas destacados para combater o fogo. "Acho importante mesclar o nosso conhecimento tradicional do fogo com essa tecnologia avançada", diz Gildimar, de 35 anos, chefe de brigada de pronto emprego da Terra Indígena Xerente, em Tocantínia (TO), que há doze anos atua no combate a incêndios florestais na Amazônia e em outros biomas. Ele participou, no final de junho, do primeiro curso de pilotagem de drones para brigadistas indígenas e quilombolas.

O acordo de cooperação entre o Ibama e a Fundação Bunge, entidade mantida pela multinacional de alimentos, inclui, no primeiro ano, além do treinamento de 36 brigadistas, a doação de seis kits com drones e três salas de situação móveis. Estas são grandes tendas equipadas com computadores e impressoras de última geração para monitorar os incêndios in loco e tomar decisões mais rápidas para combatê-los. A ideia é que, nos próximos cinco anos, um total de quarenta kits sejam doados às brigadas, além do treinamento de mais operadores de drones. Só neste ano, o investimento da Fundação no projeto foi de cerca de meio milhão de reais.

A proposta de parceria com o Ibama surgiu de uma descoberta ao acaso feita por Leandro Morilha, gerente de projetos sociais da Fundação Bunge. Morilha estava acompanhando um programa para produtores rurais em Canarana (MT) que incluía treinamento com drones para uso em plantações, dentro do projeto Semêa de agricultura regenerativa e economia de baixo carbono da entidade. Em meio aos inscritos, havia dez indígenas dos povos xavante e bororo que, como ele veio a descobrir depois, queriam aprender a usar os aparelhos para ajudá-los no combate ao fogo. A primeira doação de drones da Fundação Bunge foi para eles. E, na sequência desse episódio, foi feito um contato com o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama, para entender às necessidades das brigadas indígenas e desenhar o acordo de cooperação. "A agilidade do setor privado na compra de equipamentos e na disseminação de conhecimento e metodologias pode ser de grande ajuda para o setor público", afirma Morilha.

A parceria funciona como um projeto-piloto: diante da boa recepção do treinamento junto aos brigadistas, já há planos do Ibama para eventualmente abrir licitação para a compra de um lote maior de drones leves e de fácil pilotagem, como o doado pela Fundação Bunge, para expandir o acesso ao equipamento para todas as brigadas. Atualmente, o Prevfogo tem em operação 192 drones e 38 pilotos especialistas. A formação de pilotos indígenas e quilombolas das brigadas territoriais, que têm atuação direta em determinado território, pode tornar mais eficiente não só o combate às queimadas nos períodos críticos como também auxiliar no ciclo do manejo integrado do fogo. Esse manejo consiste em um trabalho de prevenção que inclui a recuperação de florestas e a queima controlada de algumas áreas para reduzir, na temporada úmida do ano, a vegetação degradada mais inflamável. A ação antecipada reduz o risco de incêndios de grandes proporções, que saem do controle, quando chega o período mais seco.

Os brigadistas querem os drones para fazer frente ao que eles chamam de "mudança no comportamento do fogo". Períodos do ano que os especialistas consideravam mais ou menos críticos para as queimadas agora oscilam. Os padrões de meses secos e úmidos de diferentes biomas estão bagunçados. Em 2024, por exemplo, houve incêndios no Pantanal em fevereiro, no meio do ano e no início do segundo semestre. Além disso, a cobertura vegetal da Amazônia, que por sua alta umidade não permitia o alastramento do fogo, nos últimos tempos começou a queimar. "No ano passado, vimos muito incêndio entrar em floresta que não é degradada, ou seja, em mata densa, onde antes o fogo morria", diz Flávia Saltini Leite, coordenadora-geral do Prevfogo. "Isso surpreendeu os próprios brigadistas, e tivemos que levar equipes de helicóptero a locais de difícil acesso para abrir clareiras e evitar o avanço do fogo." Ela conta também que foram registrados episódios atípicos de incêndio começando durante a noite, período normalmente mais úmido.

Para os especialistas, tudo isso são efeitos das mudanças climáticas. Alterações nas temperaturas e no ciclo hídrico estão levando a situações inéditas e aparentemente contraditórias no que se refere à preservação florestal. Em 2024, segundo a rede de informações MapBiomas, houve queda de 32,4% no desmatamento em comparação com 2023, ao mesmo tempo que as áreas afetadas por queimadas superaram em 62% a média histórica. E, pela primeira vez, a área de floresta atingida pelo fogo na Amazônia foi maior que a de pastagens - resultado de dois anos seguidos de seca (veja o quadro).

A mudança no comportamento do fogo cria dificuldades adicionais para os brigadistas. Uma delas é a imprevisibilidade dos períodos críticos de incêndios. Outra é a dificuldade maior de fazer combates à noite, já não mais tão fresca e úmida quanto em anos anteriores. Mas a principal preocupação é com a segurança dos brigadistas. A vegetação mais seca do que o normal faz com que o fogo se alastre com mais rapidez e violência. "Um dos maiores riscos é ficar cercado pelo fogo. Uma mudança repentina do vento pode modificar o seu curso", diz Thomás Tanaka, técnico ambiental do Prevfogo em Tocantins. Os drones funcionam como torres de observação para avaliar, do alto, diversos fatores úteis no planejamento do combate ao incêndio, como os tipos de vegetação e os locais com água, e para alertar as equipes em solo sobre o movimento do fogo, indicando uma rota de fuga, se necessário. Pela tela do controle remoto em suas mãos, Gildimar poderá, ainda, salvar a vida de companheiros.

https://veja.abril.com.br/economia/a-batalha-aerea-dos-brigadistas-indigenas-contra-incendios-florestais/#google_vignette
 

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