From Indigenous Peoples in Brazil
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"A natureza é uma extensão da nossa própria vida, não um objeto a ser explorado", afirma escritor indígena Kaká Werá
25/08/2025
Autor: Nilson Cortinhas
Fonte: Um só Planeta - https://umsoplaneta.globo.com/n
"A natureza é uma extensão da nossa própria vida, não um objeto a ser explorado", afirma escritor indígena Kaká Werá
Líder indígena e precursor da literatura indígena no Brasil, Kaká Werá fala sobre ancestralidade, espiritualidade e representatividade em ano de COP30, destacando a urgência de transformar discursos em prática concreta
Conversar com Kaká Werá Jecupé é ser inspirado a agir. Líder indígena e um dos precursores da literatura indígena no Brasil, ele fala com a força de quem transformou sua própria trajetória em movimento coletivo, mas sem se perder em retóricas. Suas reflexões sobre espiritualidade, ecologia e representatividade escapam dos discursos que ainda carecem de prática concreta no país e se ancoram em experiências reais, vividas tanto em comunidades indígenas quanto em espaços acadêmicos e culturais.
No auditório de um grande evento ou em uma roda simples de conversa, Kaká Werá Jecupé tem a mesma capacidade de inspirar. Escritor, ambientalista e fundador do Instituto Arapoty, em Itapecerica da Serra (SP), ele se tornou uma das vozes mais marcantes do ativismo socioambiental no Brasil, costurando saberes ancestrais com as urgências contemporâneas. Aos 60 anos, fala com serenidade sobre a espiritualidade indígena, a cultura como ferramenta de transformação social e a necessidade de um novo paradigma diante da crise climática global.
Neste ano, ele é também um dos protagonistas do Encontro Futuro Vivo, iniciativa que reúne lideranças indígenas, cientistas, artistas e pensadores para refletir sobre ancestralidade, sustentabilidade e inovação nesta terça (26), em São Paulo. No palco, Kaká promete novamente inspirar um público diverso, levando para esta audiência sua experiência de vida e suas reflexões sobre o futuro do planeta.
A reportagem de Um Só Planeta conversou com Kaká sobre sua trajetória, perspectiva, COP30 e outros assuntos.
O ponto de virada
Descendente do povo tapuia, nascido na periferia de São Paulo e acolhido por uma comunidade guarani, Kaká conta que sua história literária se confunde com a de ativista. O "ponto de virada" veio na juventude, ao conviver com os Guarani e participar da criação de um projeto de educação dentro da aldeia.
A escrita, que já fazia parte de sua vida pessoal, ganhou então outro sentido: tornou-se instrumento de difusão de valores indígenas e ferramenta de diálogo com a sociedade não indígena. Dessa experiência, floresceu também o movimento de literatura indígena no Brasil, que ajudou a dar visibilidade a autores como Daniel Munduruku e Eliane Potiguara.
Representatividade em construção
Em ano de COP30, que reunirá milhares de representantes em Belém para debater a mitigação e adaptação à crise climática, Kaká chama atenção para a necessidade de traduzir o "respeito simbólico" aos indígenas em prática concreta.
"Se formos medir o processo de inclusão e representatividade, ainda estamos engatinhando. Foram séculos de exclusão, e só recentemente o país começou a reconhecer os povos indígenas como cidadãos plenos", afirma. Para ele, o encontro de Belém pode ser um marco importante para transformar discursos em ações e para fortalecer o protagonismo indígena em decisões que afetam diretamente a floresta e seus povos.
Instituto Arapoty: semeadura cotidiana
Há mais de 30 anos, o Instituto Arapoty atua na revitalização da cultura indígena, com oficinas, cursos e projetos junto a comunidades Guarani e Kaingang. O trabalho tem como pilares a educação, a espiritualidade e a ecologia, aproximando escolas, artistas, educadores e estudantes da cosmovisão indígena.
Kaká descreve essa atuação como uma "semeadura cotidiana", que não depende apenas da visibilidade de grandes conferências internacionais, mas se fortalece no cotidiano, nas comunidades, no contato com crianças e jovens.
Espiritualidade e ética ecológica
Entre os pontos centrais de sua fala está a espiritualidade indígena, que, segundo ele, não é dogmática nem fundamentalista, mas enraizada na integração com a natureza. "A natureza é uma extensão da nossa própria vida, não um objeto a ser explorado", resume. Para ele, ignorar a dimensão espiritual limita o desenvolvimento humano.
"A espiritualidade nos conecta com valores como altruísmo, colaboração e empatia. É isso que pode sustentar uma nova ética ecológica."
História, memória e futuro
Além da literatura e do ativismo, Kaká prepara um romance histórico sobre os primeiros anos da colonização, no século XVI, a partir da perspectiva dos povos indígenas. Ele lembra que a maior parte das histórias foi escrita pelos "caçadores", e não pelos "caçados", e vê na literatura uma oportunidade de resgatar vozes silenciadas. Outro tema que o move é a preservação das línguas indígenas, que considera "a alma de uma cultura".
Expectativas para o Encontro Futuro Vivo
No Encontro Futuro Vivo, promovido pela Vivo, Kaká estará ao lado de nomes como Ailton Krenak, Gilberto Gil, Carlos Nobre e Txai Suruí. Ele vê o evento como um espaço poderoso de reflexão.
"É um encontro que respeita as culturas ancestrais e amplia o debate com cientistas e pensadores. Um momento propício para pensar mais profundamente sobre a vida na Terra, nossas relações humanas e a necessidade urgente de mudar o paradigma produtivo que gera desigualdades e destruição ambiental".
https://umsoplaneta.globo.com/noticia/2025/08/25/a-natureza-e-uma-extensao-da-nossa-propria-vida-nao-um-objeto-a-ser-explorado-afirma-escritor-indigena-kaka-wera.ghtml
Líder indígena e precursor da literatura indígena no Brasil, Kaká Werá fala sobre ancestralidade, espiritualidade e representatividade em ano de COP30, destacando a urgência de transformar discursos em prática concreta
Conversar com Kaká Werá Jecupé é ser inspirado a agir. Líder indígena e um dos precursores da literatura indígena no Brasil, ele fala com a força de quem transformou sua própria trajetória em movimento coletivo, mas sem se perder em retóricas. Suas reflexões sobre espiritualidade, ecologia e representatividade escapam dos discursos que ainda carecem de prática concreta no país e se ancoram em experiências reais, vividas tanto em comunidades indígenas quanto em espaços acadêmicos e culturais.
No auditório de um grande evento ou em uma roda simples de conversa, Kaká Werá Jecupé tem a mesma capacidade de inspirar. Escritor, ambientalista e fundador do Instituto Arapoty, em Itapecerica da Serra (SP), ele se tornou uma das vozes mais marcantes do ativismo socioambiental no Brasil, costurando saberes ancestrais com as urgências contemporâneas. Aos 60 anos, fala com serenidade sobre a espiritualidade indígena, a cultura como ferramenta de transformação social e a necessidade de um novo paradigma diante da crise climática global.
Neste ano, ele é também um dos protagonistas do Encontro Futuro Vivo, iniciativa que reúne lideranças indígenas, cientistas, artistas e pensadores para refletir sobre ancestralidade, sustentabilidade e inovação nesta terça (26), em São Paulo. No palco, Kaká promete novamente inspirar um público diverso, levando para esta audiência sua experiência de vida e suas reflexões sobre o futuro do planeta.
A reportagem de Um Só Planeta conversou com Kaká sobre sua trajetória, perspectiva, COP30 e outros assuntos.
O ponto de virada
Descendente do povo tapuia, nascido na periferia de São Paulo e acolhido por uma comunidade guarani, Kaká conta que sua história literária se confunde com a de ativista. O "ponto de virada" veio na juventude, ao conviver com os Guarani e participar da criação de um projeto de educação dentro da aldeia.
A escrita, que já fazia parte de sua vida pessoal, ganhou então outro sentido: tornou-se instrumento de difusão de valores indígenas e ferramenta de diálogo com a sociedade não indígena. Dessa experiência, floresceu também o movimento de literatura indígena no Brasil, que ajudou a dar visibilidade a autores como Daniel Munduruku e Eliane Potiguara.
Representatividade em construção
Em ano de COP30, que reunirá milhares de representantes em Belém para debater a mitigação e adaptação à crise climática, Kaká chama atenção para a necessidade de traduzir o "respeito simbólico" aos indígenas em prática concreta.
"Se formos medir o processo de inclusão e representatividade, ainda estamos engatinhando. Foram séculos de exclusão, e só recentemente o país começou a reconhecer os povos indígenas como cidadãos plenos", afirma. Para ele, o encontro de Belém pode ser um marco importante para transformar discursos em ações e para fortalecer o protagonismo indígena em decisões que afetam diretamente a floresta e seus povos.
Instituto Arapoty: semeadura cotidiana
Há mais de 30 anos, o Instituto Arapoty atua na revitalização da cultura indígena, com oficinas, cursos e projetos junto a comunidades Guarani e Kaingang. O trabalho tem como pilares a educação, a espiritualidade e a ecologia, aproximando escolas, artistas, educadores e estudantes da cosmovisão indígena.
Kaká descreve essa atuação como uma "semeadura cotidiana", que não depende apenas da visibilidade de grandes conferências internacionais, mas se fortalece no cotidiano, nas comunidades, no contato com crianças e jovens.
Espiritualidade e ética ecológica
Entre os pontos centrais de sua fala está a espiritualidade indígena, que, segundo ele, não é dogmática nem fundamentalista, mas enraizada na integração com a natureza. "A natureza é uma extensão da nossa própria vida, não um objeto a ser explorado", resume. Para ele, ignorar a dimensão espiritual limita o desenvolvimento humano.
"A espiritualidade nos conecta com valores como altruísmo, colaboração e empatia. É isso que pode sustentar uma nova ética ecológica."
História, memória e futuro
Além da literatura e do ativismo, Kaká prepara um romance histórico sobre os primeiros anos da colonização, no século XVI, a partir da perspectiva dos povos indígenas. Ele lembra que a maior parte das histórias foi escrita pelos "caçadores", e não pelos "caçados", e vê na literatura uma oportunidade de resgatar vozes silenciadas. Outro tema que o move é a preservação das línguas indígenas, que considera "a alma de uma cultura".
Expectativas para o Encontro Futuro Vivo
No Encontro Futuro Vivo, promovido pela Vivo, Kaká estará ao lado de nomes como Ailton Krenak, Gilberto Gil, Carlos Nobre e Txai Suruí. Ele vê o evento como um espaço poderoso de reflexão.
"É um encontro que respeita as culturas ancestrais e amplia o debate com cientistas e pensadores. Um momento propício para pensar mais profundamente sobre a vida na Terra, nossas relações humanas e a necessidade urgente de mudar o paradigma produtivo que gera desigualdades e destruição ambiental".
https://umsoplaneta.globo.com/noticia/2025/08/25/a-natureza-e-uma-extensao-da-nossa-propria-vida-nao-um-objeto-a-ser-explorado-afirma-escritor-indigena-kaka-wera.ghtml
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