From Indigenous Peoples in Brazil
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O preço do progresso: o lado sombrio dos minerais críticos na Amazônia
27/11/2025
Autor: Por Bram Ebus
Fonte: InfoAmazonia - https://infoamazonia.org
A partir de extenso trabalho de campo e da investigação das cadeias de fornecimento, rastreando minerais desde a extração até compradores internacionais, revelamos como a corrida global pelos insumos da transição energética intensifica disputas violentas na fronteira colombo-venezuelana, onde grupos armados controlam o território, praticam abusos sistemáticos e destroem um dos principais sumidouros de carbono do planeta.
Na fronteira entre Colômbia e Venezuela, compradores chineses, guerrilheiros colombianos, forças estatais corruptas e comunidades indígenas se enfrentam em uma violenta concorrência por materiais que estão no centro da rivalidade geopolítica do século XXI. A transição energética global, combinada com o aumento dos orçamentos de defesa e o desenvolvimento tecnológico, gerou uma demanda nunca vista por elementos de terras raras e minerais críticos. São componentes essenciais para baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares, sistemas de defesa e aeroespaciais, como mísseis, munições perfurantes, óculos de visão noturna e motores de aeronaves.
Por meio de um amplo trabalho de campo e de pesquisa sobre cadeias de fornecimento, rastreando os minerais desde a origem até os compradores internacionais, revelamos como grupos armados controlam a extração dos materiais necessários para a transição energética, praticando abusos sistemáticos dos direitos humanos e devastando um dos sumidouros de carbono mais importantes do planeta.
Perto do rio Orinoco, em um local discreto do lado colombiano da fronteira, vários homens indígenas venezuelanos, curripacos e piaroas, aceitaram um encontro sob a promessa de que suas identidades não seriam reveladas. Eles sabem que correm grande perigo por causa do que estão prestes a mostrar: pedrinhas azul-escuras e cascalho despejados de um saco por mãos calejadas e ásperas. "Dá para ver a diferença entre as pepitas de estanho e de coltan", explica um deles, a quem chamaremos de Josué*, falando quase com carinho das pedras que extraiu da terra durante mais de uma década, e que fazem parte dos chamados "minerais críticos", matérias-primas que se caracterizam por sua disponibilidade limitada.
Durante anos, Josué* escondeu seu trabalho na Orinoquia venezuelana, transportando minério de canoa pelo rio, à noite, para encontrar compradores na Colômbia. Quando os mercados mundiais de minerais críticos e elementos de terras raras começaram a prosperar, tudo mudou.
O rio Orinoco separa duas nações que afetam profundamente uma à outra. O conflito armado da Colômbia se alastrou para o leste, em direção à Venezuela, com organizações armadas irregulares cruzando o rio e se infiltrando em terras indígenas na floresta amazônica para expandir seus negócios criminosos: narcotráfico e garimpo ilegal. Enquanto a violência avança em uma direção, o fluxo de refugiados toma outro rumo: milhões de venezuelanos, cerca de um terço da população, fogem da profunda crise humanitária, política e de segurança de seu país, e muitos acabam se estabelecendo na vizinha Colômbia.
Em 2023, os garimpos sob controle comunitário em uma área chamada "Pego Pego", no estado venezuelano de Bolívar, foram tomados com brutalidade por centenas de guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) acompanhados por compradores, que garimpeiros e comunidades descrevem como "chineses". "Meses depois, eles também trouxeram helicópteros; havia desastres, e estavam levando os materiais", lembra Josué*.
'Não sei quantas guerras'
Muitas camadas de lava vulcânica se desprendem durante os movimentos contínuos do magma: em erupção, movendo-se no subsolo, solidificando e cristalizando inúmeros minerais e elementos. O Escudo das Guianas, um dos mais antigos fragmentos continentais da Terra, tem mais de 1,7 bilhão de anos e contém algumas das rochas também mais antigas que existem. Os corpos graníticos presentes nelas trouxeram consigo soluções ricas em minerais que mais tarde formariam metais como estanho, tungstênio, tântalo e elementos de terras raras. São metais especializados, essenciais para a tecnologia moderna, pois sem eles, não funcionariam os ímãs dos motores elétricos, as telas de celulares e os sistemas de armas guiadas.
Por que se chamam terras raras?
Essa denominação se deve à dificuldade histórica para isolar e processar esses elementos, e não por sua escassez. Suas fontes estão concentradas em poucos países (principalmente na China), o que torna o fornecimento arriscado. Atualmente, são difíceis de substituir por materiais alternativos.
São minerais essenciais para determinadas indústrias importantes, usados em tecnologia de energia renovável, eletrônica, saúde, manufatura avançada, e têm muita relevância estratégica em termos de defesa, para a segurança nacional, a competitividade econômica e o avanço tecnológico.
Milhões de anos de clima tropical úmido e chuvas torrenciais erodiram essas formações rochosas, fragmentando-as em solos que concentravam minerais pesados. A seguir, os rios transportaram esses minerais, espalhando-os pela floresta tropical da região, tal como a conhecemos hoje.
Estudos geológicos feitos no século XX já haviam documentado a presença de minerais críticos (coltan e elementos de terras raras) na região fronteiriça entre a Venezuela e a Colômbia.
Contudo, foi somente em 2009 que essas descobertas técnicas se tornaram uma realidade geopolítica, quando o então presidente Hugo Chávez anunciou que a Venezuela possuía uma "grande reserva" do que ele chamou de "ouro azul", referindo-se ao coltan.
"Esse é um mineral pelo qual aconteceram não sei quantas guerras na África, porque é um mineral estratégico, entre outras coisas, para a fabricação de foguetes, esses de longo alcance", declarou Chávez, estabelecendo conexões com conflitos em outras partes do mundo.
Reconhecendo as implicações para a segurança, Chávez denunciou simultaneamente a extração ilegal de coltan na Venezuela e seu contrabando para a Colômbia. Naquele mesmo ano, ele mobilizou 15 mil soldados da Guarda Nacional para atuar na região do rio Parguaza, no estado de Bolívar. "Surgiu um mineral estratégico chamado coltan. Assumimos o controle militar da área porque ele estava sendo contrabandeado para a Colômbia e explorado de forma ilegal."
A enorme mobilização militar perto da fronteira colombiana alarmou o governo de Álvaro Uribe em Bogotá, onde havia pouca informação disponível sobre os depósitos de coltan nas zonas de fronteira. A Colômbia respondeu com apreensões dispersas e promessas de formalizar o setor, mas carecia das evidências científicas e do arcabouço jurídico necessários para que empresas privadas obtivessem licenças de mineração.
Esse vácuo regulatório criou espaço para mercados informais. Por volta de 2010, prospectores de minérios temerários, comerciantes e garimpeiros clandestinos se transferiram para a região, prevendo altos rendimentos com o que consideravam uma nova "corrida do ouro" cujo novo protagonista era o coltan. "Naquela época, era o boom das terras raras, o coltan. Havia tráfico de minérios em Puerto Inírida, onde tudo começou", diz Juan Guillermo García, investidor colombiano do setor de mineração.
Mas a situação incontrolável nas minas venezuelanas persistiu mesmo após os anúncios de Chávez. O comércio informal fronteiriço continuou por mais de dez anos. Somente em 2016, três anos depois da morte de Chávez, seu sucessor Nicolás Maduro assinou o decreto do Arco Mineiro do Orinoco, destinando 112 mil km2 para o desenvolvimento da mineração, incluindo áreas específicas para a extração de coltan.
Apesar dos esforços, que incluíram a criação de empresas mistas, a participação estrangeira não se materializou em investimentos. Em vez de mineradoras reconhecidas ou empresas com experiência no setor, grupos armados colombianos passaram a controlar os distritos mineiros do sul da Venezuela, alterando a essência das dinâmicas comerciais quando os compradores começaram a aparecer diretamente nas áreas de mineração dos estados de Bolívar e Amazonas.
Enquanto não houve muita prospecção geológica na Colômbia devido à décadas de conflito armado, à falta de vias de acesso e aos altos custos de transporte, o Brasil começou a mapear jazidas importantes durante a ditadura militar. O país, que tem a maior reserva de nióbio do mundo, a segunda maior de elementos de terras raras e uma quantidade importante de cassiterita, começou a se posicionar estrategicamente no mercado de minerais críticos. Em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro implementou a Política Pró-Minerais Estratégicos para acelerar o licenciamento de projetos.
Desde então, seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, implementou uma abordagem baseada na "soberania nacional" para reafirmar o controle governamental ao mesmo tempo em que se mantém aberto a parcerias internacionais. Sua estratégia rejeita o modelo colonial de exportar matérias-primas apenas para recomprar produtos processados caros, equilibrando o nacionalismo de recursos com a cooperação global. Como ele mesmo afirma: "Ora, se eu nem conheço esse mineral e ele já é crítico, eu vou pegar pra mim. Por que eu vou deixar para outro pegar?"
Essa mudança de política se materializou em janeiro de 2025, quando o Brasil e os Emirados Árabes Unidos assinaram um memorando de entendimento para potenciais investimentos de até US$ 2,45 bilhões nas cadeias de fornecimento de minerais críticos do Brasil. O foco era a exploração, o processamento e a transferência de tecnologia, como parte da estratégia mais ampla do país, de diversificar e reduzir sua forte dependência do minério de ferro.
Em 2025, as restrições de exportação da China sobre elementos críticos de terras raras, impostas em abril em retaliação às tarifas dos Estados Unidos, intensificaram a concorrência global por alternativas de fornecimento. À medida que os países ocidentais buscam diversificar as fontes, reduzindo a dependência em relação à China, que tem 91% de capacidade de refino de terras raras, os compradores chineses estão acessando cada vez mais materiais de regiões com controle regulatório frágil, incluindo a área da fronteira entre Colômbia e Venezuela.
Essa pressão geopolítica gerou incentivos de mercado que ignoram os custos ambientais e sociais da extração irregular em áreas remotas onde a presença do Estado é limitada. A importância estratégica desses materiais para defesa, tecnologia e energias renováveis abriu territórios inexplorados à extração de minérios, transformando as descobertas científicas do século XX nos campos de batalha do século XXI.
*Os nomes das fontes foram alterados por motivos de segurança.
Pesquisador principal
Bram Ebus
Pesquisadores
Daniela Castro, María de los Ángeles Ramírez, Emily Costa, Fábio Bispo, Hyury Potter, Karen Pedraza, Isabela Granados, Natalie Barusso.
Capa e Infográficos
Laura Alcina
Mapas
Natalie Barusso
https://infoamazonia.org/2025/11/27/a-corrida-do-ouro-azul/
Na fronteira entre Colômbia e Venezuela, compradores chineses, guerrilheiros colombianos, forças estatais corruptas e comunidades indígenas se enfrentam em uma violenta concorrência por materiais que estão no centro da rivalidade geopolítica do século XXI. A transição energética global, combinada com o aumento dos orçamentos de defesa e o desenvolvimento tecnológico, gerou uma demanda nunca vista por elementos de terras raras e minerais críticos. São componentes essenciais para baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares, sistemas de defesa e aeroespaciais, como mísseis, munições perfurantes, óculos de visão noturna e motores de aeronaves.
Por meio de um amplo trabalho de campo e de pesquisa sobre cadeias de fornecimento, rastreando os minerais desde a origem até os compradores internacionais, revelamos como grupos armados controlam a extração dos materiais necessários para a transição energética, praticando abusos sistemáticos dos direitos humanos e devastando um dos sumidouros de carbono mais importantes do planeta.
Perto do rio Orinoco, em um local discreto do lado colombiano da fronteira, vários homens indígenas venezuelanos, curripacos e piaroas, aceitaram um encontro sob a promessa de que suas identidades não seriam reveladas. Eles sabem que correm grande perigo por causa do que estão prestes a mostrar: pedrinhas azul-escuras e cascalho despejados de um saco por mãos calejadas e ásperas. "Dá para ver a diferença entre as pepitas de estanho e de coltan", explica um deles, a quem chamaremos de Josué*, falando quase com carinho das pedras que extraiu da terra durante mais de uma década, e que fazem parte dos chamados "minerais críticos", matérias-primas que se caracterizam por sua disponibilidade limitada.
Durante anos, Josué* escondeu seu trabalho na Orinoquia venezuelana, transportando minério de canoa pelo rio, à noite, para encontrar compradores na Colômbia. Quando os mercados mundiais de minerais críticos e elementos de terras raras começaram a prosperar, tudo mudou.
O rio Orinoco separa duas nações que afetam profundamente uma à outra. O conflito armado da Colômbia se alastrou para o leste, em direção à Venezuela, com organizações armadas irregulares cruzando o rio e se infiltrando em terras indígenas na floresta amazônica para expandir seus negócios criminosos: narcotráfico e garimpo ilegal. Enquanto a violência avança em uma direção, o fluxo de refugiados toma outro rumo: milhões de venezuelanos, cerca de um terço da população, fogem da profunda crise humanitária, política e de segurança de seu país, e muitos acabam se estabelecendo na vizinha Colômbia.
Em 2023, os garimpos sob controle comunitário em uma área chamada "Pego Pego", no estado venezuelano de Bolívar, foram tomados com brutalidade por centenas de guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) acompanhados por compradores, que garimpeiros e comunidades descrevem como "chineses". "Meses depois, eles também trouxeram helicópteros; havia desastres, e estavam levando os materiais", lembra Josué*.
'Não sei quantas guerras'
Muitas camadas de lava vulcânica se desprendem durante os movimentos contínuos do magma: em erupção, movendo-se no subsolo, solidificando e cristalizando inúmeros minerais e elementos. O Escudo das Guianas, um dos mais antigos fragmentos continentais da Terra, tem mais de 1,7 bilhão de anos e contém algumas das rochas também mais antigas que existem. Os corpos graníticos presentes nelas trouxeram consigo soluções ricas em minerais que mais tarde formariam metais como estanho, tungstênio, tântalo e elementos de terras raras. São metais especializados, essenciais para a tecnologia moderna, pois sem eles, não funcionariam os ímãs dos motores elétricos, as telas de celulares e os sistemas de armas guiadas.
Por que se chamam terras raras?
Essa denominação se deve à dificuldade histórica para isolar e processar esses elementos, e não por sua escassez. Suas fontes estão concentradas em poucos países (principalmente na China), o que torna o fornecimento arriscado. Atualmente, são difíceis de substituir por materiais alternativos.
São minerais essenciais para determinadas indústrias importantes, usados em tecnologia de energia renovável, eletrônica, saúde, manufatura avançada, e têm muita relevância estratégica em termos de defesa, para a segurança nacional, a competitividade econômica e o avanço tecnológico.
Milhões de anos de clima tropical úmido e chuvas torrenciais erodiram essas formações rochosas, fragmentando-as em solos que concentravam minerais pesados. A seguir, os rios transportaram esses minerais, espalhando-os pela floresta tropical da região, tal como a conhecemos hoje.
Estudos geológicos feitos no século XX já haviam documentado a presença de minerais críticos (coltan e elementos de terras raras) na região fronteiriça entre a Venezuela e a Colômbia.
Contudo, foi somente em 2009 que essas descobertas técnicas se tornaram uma realidade geopolítica, quando o então presidente Hugo Chávez anunciou que a Venezuela possuía uma "grande reserva" do que ele chamou de "ouro azul", referindo-se ao coltan.
"Esse é um mineral pelo qual aconteceram não sei quantas guerras na África, porque é um mineral estratégico, entre outras coisas, para a fabricação de foguetes, esses de longo alcance", declarou Chávez, estabelecendo conexões com conflitos em outras partes do mundo.
Reconhecendo as implicações para a segurança, Chávez denunciou simultaneamente a extração ilegal de coltan na Venezuela e seu contrabando para a Colômbia. Naquele mesmo ano, ele mobilizou 15 mil soldados da Guarda Nacional para atuar na região do rio Parguaza, no estado de Bolívar. "Surgiu um mineral estratégico chamado coltan. Assumimos o controle militar da área porque ele estava sendo contrabandeado para a Colômbia e explorado de forma ilegal."
A enorme mobilização militar perto da fronteira colombiana alarmou o governo de Álvaro Uribe em Bogotá, onde havia pouca informação disponível sobre os depósitos de coltan nas zonas de fronteira. A Colômbia respondeu com apreensões dispersas e promessas de formalizar o setor, mas carecia das evidências científicas e do arcabouço jurídico necessários para que empresas privadas obtivessem licenças de mineração.
Esse vácuo regulatório criou espaço para mercados informais. Por volta de 2010, prospectores de minérios temerários, comerciantes e garimpeiros clandestinos se transferiram para a região, prevendo altos rendimentos com o que consideravam uma nova "corrida do ouro" cujo novo protagonista era o coltan. "Naquela época, era o boom das terras raras, o coltan. Havia tráfico de minérios em Puerto Inírida, onde tudo começou", diz Juan Guillermo García, investidor colombiano do setor de mineração.
Mas a situação incontrolável nas minas venezuelanas persistiu mesmo após os anúncios de Chávez. O comércio informal fronteiriço continuou por mais de dez anos. Somente em 2016, três anos depois da morte de Chávez, seu sucessor Nicolás Maduro assinou o decreto do Arco Mineiro do Orinoco, destinando 112 mil km2 para o desenvolvimento da mineração, incluindo áreas específicas para a extração de coltan.
Apesar dos esforços, que incluíram a criação de empresas mistas, a participação estrangeira não se materializou em investimentos. Em vez de mineradoras reconhecidas ou empresas com experiência no setor, grupos armados colombianos passaram a controlar os distritos mineiros do sul da Venezuela, alterando a essência das dinâmicas comerciais quando os compradores começaram a aparecer diretamente nas áreas de mineração dos estados de Bolívar e Amazonas.
Enquanto não houve muita prospecção geológica na Colômbia devido à décadas de conflito armado, à falta de vias de acesso e aos altos custos de transporte, o Brasil começou a mapear jazidas importantes durante a ditadura militar. O país, que tem a maior reserva de nióbio do mundo, a segunda maior de elementos de terras raras e uma quantidade importante de cassiterita, começou a se posicionar estrategicamente no mercado de minerais críticos. Em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro implementou a Política Pró-Minerais Estratégicos para acelerar o licenciamento de projetos.
Desde então, seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, implementou uma abordagem baseada na "soberania nacional" para reafirmar o controle governamental ao mesmo tempo em que se mantém aberto a parcerias internacionais. Sua estratégia rejeita o modelo colonial de exportar matérias-primas apenas para recomprar produtos processados caros, equilibrando o nacionalismo de recursos com a cooperação global. Como ele mesmo afirma: "Ora, se eu nem conheço esse mineral e ele já é crítico, eu vou pegar pra mim. Por que eu vou deixar para outro pegar?"
Essa mudança de política se materializou em janeiro de 2025, quando o Brasil e os Emirados Árabes Unidos assinaram um memorando de entendimento para potenciais investimentos de até US$ 2,45 bilhões nas cadeias de fornecimento de minerais críticos do Brasil. O foco era a exploração, o processamento e a transferência de tecnologia, como parte da estratégia mais ampla do país, de diversificar e reduzir sua forte dependência do minério de ferro.
Em 2025, as restrições de exportação da China sobre elementos críticos de terras raras, impostas em abril em retaliação às tarifas dos Estados Unidos, intensificaram a concorrência global por alternativas de fornecimento. À medida que os países ocidentais buscam diversificar as fontes, reduzindo a dependência em relação à China, que tem 91% de capacidade de refino de terras raras, os compradores chineses estão acessando cada vez mais materiais de regiões com controle regulatório frágil, incluindo a área da fronteira entre Colômbia e Venezuela.
Essa pressão geopolítica gerou incentivos de mercado que ignoram os custos ambientais e sociais da extração irregular em áreas remotas onde a presença do Estado é limitada. A importância estratégica desses materiais para defesa, tecnologia e energias renováveis abriu territórios inexplorados à extração de minérios, transformando as descobertas científicas do século XX nos campos de batalha do século XXI.
*Os nomes das fontes foram alterados por motivos de segurança.
Pesquisador principal
Bram Ebus
Pesquisadores
Daniela Castro, María de los Ángeles Ramírez, Emily Costa, Fábio Bispo, Hyury Potter, Karen Pedraza, Isabela Granados, Natalie Barusso.
Capa e Infográficos
Laura Alcina
Mapas
Natalie Barusso
https://infoamazonia.org/2025/11/27/a-corrida-do-ouro-azul/
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