From Indigenous Peoples in Brazil
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Bastos: governo sabia da situação na reserva
21/04/2004
Fonte: O Globo, O País, p. 8
Bastos: governo sabia da situação na reserva
Tensão e pressão: 'tínhamos consciência da dificuldade naquele garimpo', diz ele, sobre terra dos Cintas-Largas.
Ministro admite que, desde 2003, havia a possibilidade de um conflito entre índios e garimpeiros em Rondônia
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admitiu ontem que há muito tempo o governo sabia da possibilidade de um conflito entre indígenas e garimpeiros na reserva Roosevelt, em Rondônia, como mostrou reportagem do GLOBO ontem. Segundo ele, a tensão entre índios e garimpeiros e o risco de estourar um conflito eram conhecidos do governo desde 2003. Bastos disse que a situação é séria e classificou a morte de garimpeiros de tragédia.
- Tínhamos consciência da dificuldade que havia naquele garimpo. O governo tem, há muito tempo, informações sobre as dificuldades, os problemas e os riscos do garimpo Roosevelt. É uma tragédia que nos fere a todos. É profundamente doído que isso tenha acontecido - disse Bastos.
Ministro culpa governos anteriores por situação
O ministro responsabilizou os governos anteriores por não terem resolvido o problema, que ocorre há anos mas se agravou nos últimos meses. Bastos disse que essa situação não é um fácil de se resolver. O ministro disse que iniciou ontem uma grande operação na área, prevista desde julho do ano passado.
- Esperava mais rapidez, mas as coisas, muitas vezes, não caminham como a gente quer, mas como é possível - admitiu o ministro.
Bastos recebeu ontem um grupo de índios e garantiu a eles que, até o fim do governo Lula, todas as terras indígenas demarcadas serão homologadas. Cerca de 200 índios de 35 etnias estão acampados na Esplanada dos Ministérios, cobrando ações do governo.
- A posição do governo e do presidente Lula é de que nós somos comprometidos afetiva e ideologicamente com a causa do povo indígena do Brasil - ressaltou o ministro da Justiça.
Um grupo de índios macuxi, de Roraima, cobrou do ministro a homologação contínua da reserva Raposa Serra do Sol. Bastos disse que a decisão ainda depende de conclusões do grupo interministerial criado para analisar o caso, mas disse acreditar que a terra será homologada como desejam.
Ministro citou Sartre ao falar de punição para índios
Anteontem à noite, o ministro citou uma frase do filósofo Jean-Paul Sartre ao responder a uma pergunta sobre a possibilidade de os índios cintas-largas serem punidos pelo assassinato dos garimpeiros.
- Há uma frase de Sartre que diz assim: meio cúmplice, meio vítima, como todo mundo. O governo acompanhava a situação. Fez diversas operações para tirar garimpeiros da área, mas acabou acontecendo aquela tragédia. Tínhamos consciência da gravidade da situação, tomamos providências e vamos tomar outras. Mas em nenhum momento houve omissão do governo federal - afirmou Bastos.
Antes do encontro com Bastos, os líderes indígenas foram recebidos no Palácio do Planalto pelo chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Eles conseguiram agendar uma audiência com Lula para 10 de maio.
Os índios fizeram ainda uma caminhada do Palácio do Planalto até o Ministério da Justiça, com faixas em defesa da homologação de suas terras. Um dos líderes do movimento é Júlio Macuxi, filho do coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Jacir José de Souza. O CIR é uma organização não-governamental que defende a homologação em área contínua de Raposa Serra do Sol.
Área dos Cintas-Largas está cercada
Força-tarefa bloqueou acessos para pôr fim ao garimpo ilegal na reserva
Com uma força-tarefa composta por 480 homens do Exército, da Força Aérea Brasileira (FAB) e de mais 20 instituições, a Polícia Federal bloqueou ontem as principais entradas da reserva Roosevelt, dos índios cintas-largas, em Rondônia. O objetivo é pôr fim ao garimpo ilegal na reserva, que já resultou em mais de 40 mortes nos últimos cinco anos. As tropas montaram barreiras policiais em diversos trechos da BR - 364, a principal do estado, e nas estradas que dão acesso à Bolívia, faixa de fronteira considerada uma das portas de entrada da cocaína no Brasil.
Batizada de Operação Mamoré, a ação foi planejada como a maior ofensiva das forças federais contra o crime organizado em Rondônia. Mas, por causa do massacre de 29 garimpeiros na reserva Roosevelt, há duas semanas, a PF teve que mudar os planos e concentrar seus esforços na repressão ao garimpo ilegal na terra indígena e ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas na região. A outra etapa da operação, para prender os barões do crime organizado no estado, foi adiada.
- A operação vai durar quatro meses ou mais, se preciso - disse o superintendente da PF em Rondônia, Marco Moura.
Força-tarefa quer impedir novas mortes na reserva
Segundo Moura, a idéia é acabar com o eterno entra-e-sai de garimpeiros na reserva e impedir mais derramamento de sangue até o governo federal e o Congresso decidirem sobre o que fazer com a jazida de diamante na terra indígena. Os garimpeiros já foram expulsos diversas vezes. Numa delas, o Exército chegou a tirar da área três mil homens e mulheres.
A operação foi preparada inicialmente pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula acionou a Abin após receber um pedido de intervenção no estado do governador Ivo Cassol (PSDB). A Abin fez o trabalho prévio de inteligência e repassou as informações à PF e às Forças Armadas.
- Essa operação é muito importante. Se der certo aqui, será levada para o Rio - disse um delegado da cúpula da PF.
O Globo, 21/04/2004, O País, p. 8
Tensão e pressão: 'tínhamos consciência da dificuldade naquele garimpo', diz ele, sobre terra dos Cintas-Largas.
Ministro admite que, desde 2003, havia a possibilidade de um conflito entre índios e garimpeiros em Rondônia
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admitiu ontem que há muito tempo o governo sabia da possibilidade de um conflito entre indígenas e garimpeiros na reserva Roosevelt, em Rondônia, como mostrou reportagem do GLOBO ontem. Segundo ele, a tensão entre índios e garimpeiros e o risco de estourar um conflito eram conhecidos do governo desde 2003. Bastos disse que a situação é séria e classificou a morte de garimpeiros de tragédia.
- Tínhamos consciência da dificuldade que havia naquele garimpo. O governo tem, há muito tempo, informações sobre as dificuldades, os problemas e os riscos do garimpo Roosevelt. É uma tragédia que nos fere a todos. É profundamente doído que isso tenha acontecido - disse Bastos.
Ministro culpa governos anteriores por situação
O ministro responsabilizou os governos anteriores por não terem resolvido o problema, que ocorre há anos mas se agravou nos últimos meses. Bastos disse que essa situação não é um fácil de se resolver. O ministro disse que iniciou ontem uma grande operação na área, prevista desde julho do ano passado.
- Esperava mais rapidez, mas as coisas, muitas vezes, não caminham como a gente quer, mas como é possível - admitiu o ministro.
Bastos recebeu ontem um grupo de índios e garantiu a eles que, até o fim do governo Lula, todas as terras indígenas demarcadas serão homologadas. Cerca de 200 índios de 35 etnias estão acampados na Esplanada dos Ministérios, cobrando ações do governo.
- A posição do governo e do presidente Lula é de que nós somos comprometidos afetiva e ideologicamente com a causa do povo indígena do Brasil - ressaltou o ministro da Justiça.
Um grupo de índios macuxi, de Roraima, cobrou do ministro a homologação contínua da reserva Raposa Serra do Sol. Bastos disse que a decisão ainda depende de conclusões do grupo interministerial criado para analisar o caso, mas disse acreditar que a terra será homologada como desejam.
Ministro citou Sartre ao falar de punição para índios
Anteontem à noite, o ministro citou uma frase do filósofo Jean-Paul Sartre ao responder a uma pergunta sobre a possibilidade de os índios cintas-largas serem punidos pelo assassinato dos garimpeiros.
- Há uma frase de Sartre que diz assim: meio cúmplice, meio vítima, como todo mundo. O governo acompanhava a situação. Fez diversas operações para tirar garimpeiros da área, mas acabou acontecendo aquela tragédia. Tínhamos consciência da gravidade da situação, tomamos providências e vamos tomar outras. Mas em nenhum momento houve omissão do governo federal - afirmou Bastos.
Antes do encontro com Bastos, os líderes indígenas foram recebidos no Palácio do Planalto pelo chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Eles conseguiram agendar uma audiência com Lula para 10 de maio.
Os índios fizeram ainda uma caminhada do Palácio do Planalto até o Ministério da Justiça, com faixas em defesa da homologação de suas terras. Um dos líderes do movimento é Júlio Macuxi, filho do coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Jacir José de Souza. O CIR é uma organização não-governamental que defende a homologação em área contínua de Raposa Serra do Sol.
Área dos Cintas-Largas está cercada
Força-tarefa bloqueou acessos para pôr fim ao garimpo ilegal na reserva
Com uma força-tarefa composta por 480 homens do Exército, da Força Aérea Brasileira (FAB) e de mais 20 instituições, a Polícia Federal bloqueou ontem as principais entradas da reserva Roosevelt, dos índios cintas-largas, em Rondônia. O objetivo é pôr fim ao garimpo ilegal na reserva, que já resultou em mais de 40 mortes nos últimos cinco anos. As tropas montaram barreiras policiais em diversos trechos da BR - 364, a principal do estado, e nas estradas que dão acesso à Bolívia, faixa de fronteira considerada uma das portas de entrada da cocaína no Brasil.
Batizada de Operação Mamoré, a ação foi planejada como a maior ofensiva das forças federais contra o crime organizado em Rondônia. Mas, por causa do massacre de 29 garimpeiros na reserva Roosevelt, há duas semanas, a PF teve que mudar os planos e concentrar seus esforços na repressão ao garimpo ilegal na terra indígena e ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas na região. A outra etapa da operação, para prender os barões do crime organizado no estado, foi adiada.
- A operação vai durar quatro meses ou mais, se preciso - disse o superintendente da PF em Rondônia, Marco Moura.
Força-tarefa quer impedir novas mortes na reserva
Segundo Moura, a idéia é acabar com o eterno entra-e-sai de garimpeiros na reserva e impedir mais derramamento de sangue até o governo federal e o Congresso decidirem sobre o que fazer com a jazida de diamante na terra indígena. Os garimpeiros já foram expulsos diversas vezes. Numa delas, o Exército chegou a tirar da área três mil homens e mulheres.
A operação foi preparada inicialmente pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula acionou a Abin após receber um pedido de intervenção no estado do governador Ivo Cassol (PSDB). A Abin fez o trabalho prévio de inteligência e repassou as informações à PF e às Forças Armadas.
- Essa operação é muito importante. Se der certo aqui, será levada para o Rio - disse um delegado da cúpula da PF.
O Globo, 21/04/2004, O País, p. 8
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