From Indigenous Peoples in Brazil
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De volta à terra
15/11/2004
Fonte: Época, Educacão, p. 58
De volta à terra
Caso raríssimo de indígena que alcança o doutorado, terena é contra a política de cotas
Suzane Frutuoso
Índios que chegam aos bancos universitários são uma raridade no Brasil. Menos de 1% dos 390 mil formandos que participaram do Provão no ano passado se identificaram como indígenas. Muito mais raros são os que alcançam a pós-graduação, como o terena Rogério Ferreira da Silva, de 34 anos, que cursa o doutorado na Universidade Federal de Londrina. 'Contamos nos dedos os que saem de uma tribo e conseguem chegar a esse estágio', diz Neide Martins Siqueira, coordenadora pedagógica da Fundação Nacional do Índio (Funai).
O que fez diferença na história de Silva? Determinação sem par. Formado em Agronomia e mestre em Ciências do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o terena estudou na própria aldeia, em Miranda, Mato Grosso Sul, até a 4a série do ensino fundamental. Daí em diante, pegava um caminhão todos os dias para chegar às aulas na cidade. Para ingressar no ensino médio, participou de uma seleção para um colégio interno agrotécnico de Cuiabá, no qual 10% das vagas eram reservadas a indígenas por meio de um convênio com a Funai. Junto com ele, outros três jovens da tribo foram aceitos, mas desistiram. 'Nossa cultura é do trabalho na roça. Respeito isso, mas queria conhecer mais', conta.
Reprovado no primeiro vestibular na Federal Rural, insistiu. 'A Funai negou ajuda financeira para minhas despesas. Diziam que eu não precisava fazer faculdade e me ofereceram um trabalho como técnico agrícola em Cuiabá', conta. Silva conseguiu ficar no Rio enquanto se preparava para o vestibular. Em troca de moradia, comida e apostilas, cuidava do sítio de uma professora da universidade, Gisele Machline, já falecida. 'Ela foi fundamental na minha formação, uma segunda mãe', emociona-se.
Em 1991, Silva entrou na faculdade e não parou mais. Ganhou bolsa de mestrado e trabalhou como agrônomo. Depois de completar os créditos obrigatórios do doutorado em Londrina, ele voltou para Mato Grosso do Sul, onde vive. 'Quero desenvolver um projeto de sustentabilidade em agricultura, educação e saúde para os povos indígenas', planeja. Em Dourados, prepara sua tese graças a uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Todos os meses, visita sua aldeia, onde é considerado exemplo para os jovens. Silva é contra a política de cotas nas universidades. Segundo ele, as cotas não resolvem o problema básico da falta de ensino fundamental de qualidade para todos. 'O estudante da escola pública não tem como encarar um vestibular. Se está mal preparado e é aprovado pelo sistema de cotas, vai sofrer com dificuldades e acabar desistindo do curso', alerta. 'Que tipo de profissionais serão formados por esse sistema?', questiona.
Perfil: Rogério Ferreira da Silva
Origem
Índio nascido em aldeia terena em Miranda (MS)
Formação
Mestre em Ciências do Solo pela Universidade Federal Rural, do Rio
Ocupação atual
Doutorando pela Universidade Estadual de Londrina e pesquisador na Embrapa em Dourados
Época, 15/11/2004, Educação, p. 58
Caso raríssimo de indígena que alcança o doutorado, terena é contra a política de cotas
Suzane Frutuoso
Índios que chegam aos bancos universitários são uma raridade no Brasil. Menos de 1% dos 390 mil formandos que participaram do Provão no ano passado se identificaram como indígenas. Muito mais raros são os que alcançam a pós-graduação, como o terena Rogério Ferreira da Silva, de 34 anos, que cursa o doutorado na Universidade Federal de Londrina. 'Contamos nos dedos os que saem de uma tribo e conseguem chegar a esse estágio', diz Neide Martins Siqueira, coordenadora pedagógica da Fundação Nacional do Índio (Funai).
O que fez diferença na história de Silva? Determinação sem par. Formado em Agronomia e mestre em Ciências do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o terena estudou na própria aldeia, em Miranda, Mato Grosso Sul, até a 4a série do ensino fundamental. Daí em diante, pegava um caminhão todos os dias para chegar às aulas na cidade. Para ingressar no ensino médio, participou de uma seleção para um colégio interno agrotécnico de Cuiabá, no qual 10% das vagas eram reservadas a indígenas por meio de um convênio com a Funai. Junto com ele, outros três jovens da tribo foram aceitos, mas desistiram. 'Nossa cultura é do trabalho na roça. Respeito isso, mas queria conhecer mais', conta.
Reprovado no primeiro vestibular na Federal Rural, insistiu. 'A Funai negou ajuda financeira para minhas despesas. Diziam que eu não precisava fazer faculdade e me ofereceram um trabalho como técnico agrícola em Cuiabá', conta. Silva conseguiu ficar no Rio enquanto se preparava para o vestibular. Em troca de moradia, comida e apostilas, cuidava do sítio de uma professora da universidade, Gisele Machline, já falecida. 'Ela foi fundamental na minha formação, uma segunda mãe', emociona-se.
Em 1991, Silva entrou na faculdade e não parou mais. Ganhou bolsa de mestrado e trabalhou como agrônomo. Depois de completar os créditos obrigatórios do doutorado em Londrina, ele voltou para Mato Grosso do Sul, onde vive. 'Quero desenvolver um projeto de sustentabilidade em agricultura, educação e saúde para os povos indígenas', planeja. Em Dourados, prepara sua tese graças a uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Todos os meses, visita sua aldeia, onde é considerado exemplo para os jovens. Silva é contra a política de cotas nas universidades. Segundo ele, as cotas não resolvem o problema básico da falta de ensino fundamental de qualidade para todos. 'O estudante da escola pública não tem como encarar um vestibular. Se está mal preparado e é aprovado pelo sistema de cotas, vai sofrer com dificuldades e acabar desistindo do curso', alerta. 'Que tipo de profissionais serão formados por esse sistema?', questiona.
Perfil: Rogério Ferreira da Silva
Origem
Índio nascido em aldeia terena em Miranda (MS)
Formação
Mestre em Ciências do Solo pela Universidade Federal Rural, do Rio
Ocupação atual
Doutorando pela Universidade Estadual de Londrina e pesquisador na Embrapa em Dourados
Época, 15/11/2004, Educação, p. 58
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