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Fazendeiros vão cobrar R$ 10 milhões da União

23/01/2004

Fonte: OESP, Nacional, p.A10



Fazendeiros vão cobrar R$ 10 milhões da União
É o valor estimado dos danos a plantações, gado e propriedades feitos pelos índios

JOSÉ MARIA TOMAZELA. Enviado especial

IGUATEMI - Os donos das 14 fazendas invadidas pelos índios caiovás-guaranis em Japorã e Iguatemi, Mato Grosso do Sul, vão entrar com ação na Justiça contra a União para recuperar prejuízos, que calculam em mais de R$ 10 milhões até agora. Nos 9,6 mil hectares ocupados desde 22 de dezembro, os fazendeiros estimam a perda de 25% do rebanho bovino de 18 mil cabeças e de todos os 1.100 mil hectares com soja. Eles acusam os índios de matar o gado e destruir 300 quilômetros de cerca e mais de 20 construções, entre casas e galpões.
Para os fazendeiros, os prejuízos serão maiores depois da decisão da desembargadora do Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo, Consuelo Yoshida, que protelou a desocupação. "O que estão destruindo é fruto do nosso suor e alguém tem de ser responsabilizado", diz Luiz Carlos Tórmena, dono da Fazenda Chaparral, que comprou há 30 anos. "Consegui com o meu trabalho e tenho título emitido pelo governo do Estado."
Os fazendeiros orientaram seus advogados a recorrer da decisão de Consuelo.
"Acho que cabe um recurso de agravo para que a decisão seja revista pelo órgão colegiado do TRF", explicou Geones Ledesma Peixoto, advogado de três proprietários. Para ele, o despacho não suspendeu a reintegração de posse:
"Se a desembargadora manda cessar a turbação, significa que o despejo deve ser realizado."
Legítima - Segundo Peixoto, as medidas serão propostas hoje ou amanhã pelos advogados de todos os fazendeiros. Ele considerou legítima a intenção de cobrar ressarcimento do governo. "A ordem era de desocupação imediata e não foi cumprida."
Tórmena criticou Consuelo, dizendo que ela não conhece a realidade dos índios. "Até agora, nunca cumpriram um acordo." Ele acha que, se ficarem nas imediações das fazendas, os índios vão provocar funcionários e fazer moradores reféns.
Desde que foi expulso, Tórmena observa a fazenda todo dia, de binóculos.
Ontem, contou que os índios arrancavam madeira de um galpão. Segundo ele, outras instalações já foram destruídas e 2 carretas de trator e 14 cavalos não foram mais vistos. Mas o que mais o angustia, disse, é a situação das 1.600 rezes. "O gado é abastecido por poço artesiano e está sem água. Dá desespero." Alguns dos melhores animais já não são mais vistos no pasto. Ele acha que foram abatidos.
O produtor José Maria Varago contou que deixou na fazenda 1.200 cabeças de gado, 4 casas, 1 caminhão de madeira serrada, 10 carros de milho colhido e 5 hectares de cana e milho. "Era o trabalho de uma vida. Nunca mais nos deixaram entrar, nem para tratar o gado." Varago não se conforma com o adiamento da desocupação da fazenda. "Hoje, estamos na rua, sem dinheiro, sem nada. Como vou pagar as contas?", reclamou. "Parece até que nós somos os errados, gente como eu, que trabalho duro desde os seis anos de idade."
Blitz - Ontem, o Departamento de Operações de Fronteira, a polícia especializada da Secretaria de Segurança Pública, fez uma blitz nas estradas da região de Iguatemi e Japorã. Todos os veículos eram parados e inspecionados. Até o fim da tarde, não houve apreensões de armas.
Os policiais deram especial atenção à rodovia onde ocorreu o confronto entre índios e fazendeiros na quarta-feira. Segundo os agentes, a operação tinha caráter preventivo, justamente para evitar novos conflitos.

Tribo denuncia violência contra índio caiová

IGUATEMI - Ao mesmo tempo em que comemoravam a decisão da Justiça de adiar o desocupação das fazendas invadidas, os caiovás-guaranis disseram ontem que um integrante da tribo foi vítima de violência por parte dos fazendeiros. O incidente teria ocorrido logo depois do confronto entre os índios e fazendeiros, anteontem, no qual duas pessoas ficaram feridas.
Segundo os denunciantes, o índio, de 50 anos, foi capturado por um grupo perto da ponte sobre o Rio Iguatemi, na estrada que liga essa cidade a Japorã, e colocado numa caminhonete. Levado a um trecho mais distante do rio, de acordo com o relato, ele teve as roupas retiradas, foi amarrado e jogado na água.
O índio contou que se livrou das amarras e nadou até a margem, seguindo nu para a aldeia. As Polícias Civil e Militar de Iguatemi não tinham registrado a ocorrência até a tarde de ontem, mas a denúncia já foi levada a funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Amambai.
Ontem, um dia após o confronto entre índios e fazendeiros, não foram registrados incidentes. Os índios comemoraram com danças a decisão favorável da Justiça, mas seus porta-vozes disseram que vão prosseguir com a luta para que as terras invadidas sejam anexadas à reserva da Aldeia Porto Lindo. As áreas, inclusive as estradas, continuam sendo vigiadas por eles. (J.M.T.)

OESP, 23/01/2004, A10.
 

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