From Indigenous Peoples in Brazil
News
Planalto é pressionado
28/09/2005
Fonte: CB, Brasil, p.11
Planalto é pressionado
MST e índios cobram do governo federal regularização das terras para a reforma agrária e demarcação de áreas indígenas. Lula estará hoje na Bahia e pode enfrentar protestos de sem-terra e dos pataxós
Paloma Oliveto e Sandro Lima
Da equipe do Correio
O clima de "paz e amor" que pauta as relações entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva foi interrompido pela Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Ontem, enquanto líderes do movimento batiam o pé, insistindo que não vão parar as ocupações enquanto as metas negociadas em maio durante a Marcha Nacional não forem cumpridas, o MDA divulgou nota afirmando que as invasões ao Incra estão prejudicando o andamento da reforma agrária. Os funcionários estão impedidos de trabalhar. O texto foi escrito depois da reunião emergencial, ocorrida no Palácio do Planalto, entre líderes do MST e os ministros Miguel Rossetto, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). O presidente do Incra, Rolf Hackbart, também participou do encontro.
Em entrevista à Radiobras, Rossetto reafirmou que, até o final do ano, 115 mil famílias serão assentadas. O ministério garante que 50 mil foram beneficiadas nos últimos nove meses. O coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, não se sensibilizou com as declarações do ministro. Garantiu a continuidade das invasões a fazendas e às agências do Incra. "Enquanto não houver o atendimento às reivindicações, não vai haver suspensão de mobilização", ameaçou.
Como a reunião não foi conclusiva, a ministra da Casa Civil pediu novo encontro com representantes do MST.
Na visita que fará hoje à fabrica de celulose da Veracel, , joint venture da Aracruz Celulose e da Stora Enso, em Eunápolis, no sul da Bahia, o presidente Lula poderá enfrentar protestos de militantes do MST. Eles estão acampados no assentamento "Lulão", localizado ao lado da Veracel. Para João Paulo Rodrigues, é importante que o governo envie um sinal positivo ao MST e que Lula apresente hoje, na visita ao assentamento, uma resposta às reivindicações do movimento. "Estamos contando com isso", afirmou.
Pressão indígena
A presença do presidente na região também incentivou índios pataxós da aldeia do Guaxuma a montar guarda na área onde a Veracel cultiva eucaliptos. "Queremos que as autoridades vejam nosso sofrimento", justifica Corupxá Pataxó, um dos líderes. Há cinco anos, a comunidade reivindica a área à Fundação Nacional do Índio (Funai), que criou um grupo técnico para analisar a regularização da posse da terra. "Temos certeza de que esse território é nosso, aqui viveram nossos ancestrais", afirma Corupxá.
Ontem, às 5h, as primeiras famílias da comunidade começaram a chegar à plantação de eucaliptos. No final do dia, mais de 200 pessoas já estavam no local, instaladas em barracas provisórias. Os índios derrubaram cinco hectares de eucaliptos para abrir a entrada, mas garantiram que não iriam promover ações que possam prejudicar a plantação. "O que queremos é eles (da Veracel) saiam das nossas terras e parem de contaminar nossa água", conta o líder da aldeia Guaxuma. Segundo os pataxós, os agrotóxicos usados no cultivo do eucalipto contaminou três nascentes que abastecem os índios.
Uma equipe da Funai esteve com os pataxós para negociar a saída da área. Hoje, líderes da Guaxuma e de aldeias vizinhas reúnem-se com o presidente da Funai, Mércio Gomes, que está em Porto Seguro. Vão levar reivindicações, incluindo o pedido de elaboração do estudo antropológico da área. A partir do laudo, será possível determinar se a terra é indígena, primeiro passo para sua regularização fundiária.
CB, 28/09/2005, Brasil, p. 11
MST e índios cobram do governo federal regularização das terras para a reforma agrária e demarcação de áreas indígenas. Lula estará hoje na Bahia e pode enfrentar protestos de sem-terra e dos pataxós
Paloma Oliveto e Sandro Lima
Da equipe do Correio
O clima de "paz e amor" que pauta as relações entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva foi interrompido pela Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Ontem, enquanto líderes do movimento batiam o pé, insistindo que não vão parar as ocupações enquanto as metas negociadas em maio durante a Marcha Nacional não forem cumpridas, o MDA divulgou nota afirmando que as invasões ao Incra estão prejudicando o andamento da reforma agrária. Os funcionários estão impedidos de trabalhar. O texto foi escrito depois da reunião emergencial, ocorrida no Palácio do Planalto, entre líderes do MST e os ministros Miguel Rossetto, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). O presidente do Incra, Rolf Hackbart, também participou do encontro.
Em entrevista à Radiobras, Rossetto reafirmou que, até o final do ano, 115 mil famílias serão assentadas. O ministério garante que 50 mil foram beneficiadas nos últimos nove meses. O coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, não se sensibilizou com as declarações do ministro. Garantiu a continuidade das invasões a fazendas e às agências do Incra. "Enquanto não houver o atendimento às reivindicações, não vai haver suspensão de mobilização", ameaçou.
Como a reunião não foi conclusiva, a ministra da Casa Civil pediu novo encontro com representantes do MST.
Na visita que fará hoje à fabrica de celulose da Veracel, , joint venture da Aracruz Celulose e da Stora Enso, em Eunápolis, no sul da Bahia, o presidente Lula poderá enfrentar protestos de militantes do MST. Eles estão acampados no assentamento "Lulão", localizado ao lado da Veracel. Para João Paulo Rodrigues, é importante que o governo envie um sinal positivo ao MST e que Lula apresente hoje, na visita ao assentamento, uma resposta às reivindicações do movimento. "Estamos contando com isso", afirmou.
Pressão indígena
A presença do presidente na região também incentivou índios pataxós da aldeia do Guaxuma a montar guarda na área onde a Veracel cultiva eucaliptos. "Queremos que as autoridades vejam nosso sofrimento", justifica Corupxá Pataxó, um dos líderes. Há cinco anos, a comunidade reivindica a área à Fundação Nacional do Índio (Funai), que criou um grupo técnico para analisar a regularização da posse da terra. "Temos certeza de que esse território é nosso, aqui viveram nossos ancestrais", afirma Corupxá.
Ontem, às 5h, as primeiras famílias da comunidade começaram a chegar à plantação de eucaliptos. No final do dia, mais de 200 pessoas já estavam no local, instaladas em barracas provisórias. Os índios derrubaram cinco hectares de eucaliptos para abrir a entrada, mas garantiram que não iriam promover ações que possam prejudicar a plantação. "O que queremos é eles (da Veracel) saiam das nossas terras e parem de contaminar nossa água", conta o líder da aldeia Guaxuma. Segundo os pataxós, os agrotóxicos usados no cultivo do eucalipto contaminou três nascentes que abastecem os índios.
Uma equipe da Funai esteve com os pataxós para negociar a saída da área. Hoje, líderes da Guaxuma e de aldeias vizinhas reúnem-se com o presidente da Funai, Mércio Gomes, que está em Porto Seguro. Vão levar reivindicações, incluindo o pedido de elaboração do estudo antropológico da área. A partir do laudo, será possível determinar se a terra é indígena, primeiro passo para sua regularização fundiária.
CB, 28/09/2005, Brasil, p. 11
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