From Indigenous Peoples in Brazil
News
Um grito pela terra
28/01/2004
Fonte: Isto É, p. 35
Um grito pela terra
Índios exigem demarcações de suas áreas e entram em confronto com fazendeiros
Florência Costa
Os índios estão em pé de guerra em vários Estados exigindo terra. Na quarta-feira 21, a batalha chegou a ser ensaiada em confronto que durou quatro horas numa estrada no Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira com o Paraguai. "Atira, atira aqui, mata o índio. A terra é nossa!", gritou um dos 600 caiovás-guaranis, pintados para a guerra, armados com bordunas, arcos, flechas, facões, revólveres e espingardas. Eles encaravam 500 fazendeiros - munidos com armas de fogo, chaves de fenda e pás. Não houve mortes, apesar dos tiros disparados por ambos os lados. "Foi pura sorte", disse o tenente da PM Natanael Bonatto. Mas um fazendeiro foi atingido no braço por um facão e um índio golpeado na cabeça por uma pá. Desde 20 de dezembro mais de três mil índios ocuparam 14 fazendas nas cidades de Japorã e Iguatemi, exigindo a expansão de sua reserva (1,6 mil hectares) para mais de 9 mil hectares. No dia 16, o juiz federal Odilon de Oliveira determinou a desocupação da área. O clima de tensão só amenizou após o conflito, quando a desembargadora do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, Consuelo Yoshida, suspendeu a reintegração de posse das fazendas e determinou a criação de oito comissões para encontrar uma saída em 20 dias.
Mas o grito de guerra já foi ouvido também no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso - onde os xavantes são apoiados pelo bispo de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, que chegou a ser ameaçado de morte. A luta dos índios (são 345 mil no Brasil) foi notícia na prestigiosa revista The Economist, com a reportagem "As guerras indígenas da Amazônia".
Trata da demarcação da reserva Raposa Serra do Sul, em Roraima, que está prestes a ser homologada. A área - de 1,7 milhão de hectares, encaixada entre a Venezuela e a Guiana - engloba duas cidades e plantações de arroz. É habitada por 12 mil índios e sete mil brancos. Esses deverão ser transferidos do local. A capital, Boa Vista, ficou isolada no início do ano devido a um bloqueio de estradas, feito por fazendeiros e parte dos índios macuxi, que propõem a demarcação "em ilhas", de forma que as duas cidades e o acesso a elas fiquem de fora da reserva. Mas a maioria dos índios quer a demarcação contínua da reserva. A revista britânica comparou o impasse com a Iugoslávia: "Boa Vista tem um clima etnicamente carregado, mais característico dos Bálcãs do que do Brasil." Para evitar tragédias, o governo enviou uma força-tarefa para tentar fazer com que as partes fumem o cachimbo da paz.
Isto É, 28/01/2004, 35
Índios exigem demarcações de suas áreas e entram em confronto com fazendeiros
Florência Costa
Os índios estão em pé de guerra em vários Estados exigindo terra. Na quarta-feira 21, a batalha chegou a ser ensaiada em confronto que durou quatro horas numa estrada no Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira com o Paraguai. "Atira, atira aqui, mata o índio. A terra é nossa!", gritou um dos 600 caiovás-guaranis, pintados para a guerra, armados com bordunas, arcos, flechas, facões, revólveres e espingardas. Eles encaravam 500 fazendeiros - munidos com armas de fogo, chaves de fenda e pás. Não houve mortes, apesar dos tiros disparados por ambos os lados. "Foi pura sorte", disse o tenente da PM Natanael Bonatto. Mas um fazendeiro foi atingido no braço por um facão e um índio golpeado na cabeça por uma pá. Desde 20 de dezembro mais de três mil índios ocuparam 14 fazendas nas cidades de Japorã e Iguatemi, exigindo a expansão de sua reserva (1,6 mil hectares) para mais de 9 mil hectares. No dia 16, o juiz federal Odilon de Oliveira determinou a desocupação da área. O clima de tensão só amenizou após o conflito, quando a desembargadora do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, Consuelo Yoshida, suspendeu a reintegração de posse das fazendas e determinou a criação de oito comissões para encontrar uma saída em 20 dias.
Mas o grito de guerra já foi ouvido também no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso - onde os xavantes são apoiados pelo bispo de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, que chegou a ser ameaçado de morte. A luta dos índios (são 345 mil no Brasil) foi notícia na prestigiosa revista The Economist, com a reportagem "As guerras indígenas da Amazônia".
Trata da demarcação da reserva Raposa Serra do Sul, em Roraima, que está prestes a ser homologada. A área - de 1,7 milhão de hectares, encaixada entre a Venezuela e a Guiana - engloba duas cidades e plantações de arroz. É habitada por 12 mil índios e sete mil brancos. Esses deverão ser transferidos do local. A capital, Boa Vista, ficou isolada no início do ano devido a um bloqueio de estradas, feito por fazendeiros e parte dos índios macuxi, que propõem a demarcação "em ilhas", de forma que as duas cidades e o acesso a elas fiquem de fora da reserva. Mas a maioria dos índios quer a demarcação contínua da reserva. A revista britânica comparou o impasse com a Iugoslávia: "Boa Vista tem um clima etnicamente carregado, mais característico dos Bálcãs do que do Brasil." Para evitar tragédias, o governo enviou uma força-tarefa para tentar fazer com que as partes fumem o cachimbo da paz.
Isto É, 28/01/2004, 35
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