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Crime em Roosevelt

08/04/2006

Fonte: CB, Brasil, p. 10



Crime em Roosevelt
Dois anos depois de massacre em reserva indígena no interior de Rondônia, cintas-largas são suspeitos de dois novos assassinatos. Cacique nega envolvimento no caso

Paloma Oliveto

Dois anos depois do massacre de 29 garimpeiros dentro da reserva Roosevelt, em Rondônia, índios da etnia Cinta Larga são suspeitos de terem matado duas pessoas e ferido outra na última quarta-feira. Dois corpos foram encontrados na terra indígena e um terceiro homem, internado em um hospital de Cacoal (RO), disse à polícia que as vítimas foram atacadas a tiros por caciques da etnia.
Os índios negam a responsabilidade dos disparos e garantem que os garimpeiros brigaram entre si e aproveitaram para colocar a culpa nos cintas-largas, já marcados pela chacina ocorrida em 2004.
"Não foram os cintas-largas que atiraram. Os garimpeiros estão fazendo isso para estragar a imagem dos índios", assegura o cacique Marcos Apurinã, que vive dentro da reserva de Roosevelt, onde faz trabalhos de desenvolvimento sustentável juntamente à etnia vizinha. Cunhado de um cacique cinta-larga, Apurinã afirma que os índios estão sem paz por causa das constantes invasões de garimpeiros na área, onde há diamantes. "Os caciques não querem briga. Só querem que os garimpeiros saiam da reserva. A Polícia Federal fez barreiras em Roosevelt, mas eles abrem entradas alternativas e entram pela mata", conta Apurinã, que confirma a presença de maquinários de extração da pedra preciosa no local. Cerca de 2 mil garimpeiros estariam ilegalmente na reserva.
Segundo o coordenador de operações especiais de fronteira da Polícia Federal, Mauro Spósito, que coordenou a Operação Roosevelt em 2002, a polícia vai iniciar uma nova operação para retirar os garimpeiros. Ele afirmou que a PF estima a presença de 300 a 350 pessoas dentro da área de garimpo, das quais pelo menos 200 seriam indígenas. Em nota oficial divulgada ontem, a Fundação Nacional do Índio (Funai) declarou que nos próximos dias será formado um grupo de trabalho técnico da Funai para acompanhar os trabalhos da polícia. "O grupo também será responsável pelo acompanhamento da comunidade e pela discussão de novas propostas de sustentabilidade socioeconômica dentro da região, pontos essenciais para que essas cenas de violência não voltem a ocorrer", diz a nota.
Omissão
Apurinã acusa o governo federal de ter cruzado os braços depois do massacre de Roosevelt. Na sua opinião, acabou estimulando a volta dos garimpeiros. "Eles (o governo) não concretizaram um trabalho de saúde, educação e emprego para as pessoas que vivem perto da reserva", critica. Segundo o índio, os moradores de Espigão D'Oeste, município próximo da reserva, hostilizam os cintas largas e são estimulados por empresários e organizações não-governamentais internacionais a entrarem na área de garimpo para tentar extrair as pedras preciosas. Apurinã, contudo, não cita nomes.
A Funai informou que, entre 12 e 19 de abril, um projeto de lei para regulamentação de mineração em terras indígenas será submetido à análise dos índios, durante a Conferência Nacional dos Povos Indígenas. O texto, atualmente em discussão pelos ministérios da Justiça e de Minas e Energia determina que a mineração deverá ter o consentimento dos índios que habitam a região onde a atividade será desenvolvida.
Outro ponto importante do projeto do governo é a criação de um fundo que será revertido em benefício dos povos indígenas. O valor a ser repassado às aldeias será estimado sobre um percentual do valor bruto do minério extraído. Todo o empreendimento só terá validade depois do aval da Funai.

MEMÓRIA
Massacre sem punição
O assassinato de 29 garimpeiros na Reserva Roosevelt, no dia 7 de abril de 2004, foi o maior massacre cometido por índios nas últimas décadas. Inicialmente, os garimpeiros tinham autorização dos cintas- largas para atuar na área, mas a notícia da descoberta de diamantes se espalhou.Quando a chacina aconteceu havia mais de 3.000 invasores na área.
A Polícia Federal indiciou 28 cintas-largas pelas mortes dos garimpeiros, mas o caso está parado. A questão é que os índios não podem ser processados, exceto se um laudo antropológico prove que eles têm capacidade para entender a lei brasileira e a gravidade dos crimes que praticaram.
Inicialmente, soube-se da morte de três garimpeiros. Só quando uma equipe da Funai (Fundação Nacional do Índio) conseguiu chegar ao garimpo clandestino atacado pelos índios cintas-largas é que foram encontrados os corpos de outros 26 garimpeiros. Estavam dispostos lado a lado, em estado de decomposição. Os 26 corpos estavam próximos a um igarapé. O local, batizado pelos garimpeiros de Grota do Sossego, fica a cerca de 43km da terra indígena Roosevelt e já nos limites do Parque do Aripuanã, uma das quatro áreas habitadas pelos cintas-largas. Os funcionários da Funai chegaram ao local guiados por guerreiros que participaram do ataque.

CB, 08/04/2006, Brasil, p. 10
 

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