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Trabalho previne uso de álcool na reserva indígena Apucaraninha

22/03/2002

Fonte: Paraná News-Curitiba-PR



Está sendo lançado neste momento a cartilha "Goyfa to Veme" na Reserva Indígena Apucaraninha, município de Tamarana, Norte do Estado, que trata do alcoolismo entre os índios. A cartilha faz parte do Programa de Atendimento à Comunidade Kaingáng do Apucaraninha, desenvolvido na Reserva pela Prefeitura de Londrina, por meio das secretarias municipais de Saúde e de Ação Social.

A cartilha, cujo título kaingáng traduzido para o português significa "Falando sobre Bebida", é bilíngüe e foi financiada pelo projeto VIGISUS, da Fundação Nacional da Saúde, órgão ligado ao Ministério da Saúde. O levantamento e a organização da cartilha são assinados pela antropóloga Marlene de Oliveira e pela médica Marilda Kohatsu, com assessoria médica de Juberty Antonio de Sousa. A publicação é ilustrada pelos próprios indígenas.

As organizadoras explicam que a cartilha faz parte de uma estratégia de prevenção ao uso do álcool na reserva. "O alcoolismo é um problema nacional entre as comunidades indígenas e, no Paraná, a realidade não é diferente. Por isso, é preciso investir na prevenção", afirmam Marlene e Marilda. "É mais fácil entender o alcoolismo entre os indígenas, se conseguirmos entender o contexto do uso da bebida e os eventos históricos, sociais, culturais e de mudanças que determinam a forma como os índios fazem uso da bebida".

A Reserva Indígena Apucaraninha tem 1300 kaingáng em 220 famílias. O programa da Prefeitura não tem dados sistematizados sobre o uso de álcool na Reserva. Está sendo feito um levantamento sobre o assunto que deve ser concluído nos próximos meses.

No entanto, é possível constatar que o álcool está presente na aldeia quando se analisa os agravos à saúde dos casos atendidos no posto de saúde. O mais freqüente está relacionado a fatores externos como acidentes, brigas e quedas, que em alguns casos há registro de óbito. Também são freqüentes casos de cirrose, diabetes, hipertensão arterial e doenças do coração, aparelho digestivo, depressão e estresse.

Outra constatação sobre o assunto é que os homens começam a beber mais cedo ainda na adolescência enquanto as mulheres começam entre os 25 e 30 anos. "Isso mostra que a comunidade vive numa situação de risco, por isso a necessidade de um trabalho preventivo, principalmente, entre os jovens", diz.


Índio e álcool - Marlene de Oliveira explica que os kaingáng sempre usaram bebidas fermentadas, principalmente, em cerimônias e rituais. São bebidas a base de milho, mel, pinhão, banana, palmito e outros produtos. "Os kaingáng sempre tiveram conhecimento para produzir bebidas fermentadas e a usavam de acordo com rituais de cunho religioso ou profano", comenta Marlene.

No entanto, esse cenário mudou quando foi introduzida nas aldeias a bebida destilada. Isso ocorreu no período de conquista das comunidades indígenas. No Paraná, a conquista dos kaingáng e seus territórios data de 1770, com a política de aldeamentos e ocupação dos Campos de Guarapuava e Palmas. "Embora houvesse resistência por parte dos índios até 1930 todos os kaingáng já estavam conquistados e aldeados", afirma Marlene.

No processo de aldeamento, as autoridades da província paranaense estimularam a instalação de alambiques e produção de aguardente a partir de grandes áreas de cana-de-acúçar. A partir de 1889 a produção de bebida alcóolica começa a mostrar implicações, como violência, doenças e desagregação de famílias e comunidades. "Infelizmente é uma realidade que dura até hoje, assim como na população em geral", afirma Marlene.
 

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