From Indigenous Peoples in Brazil
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Metade das línguas corre risco de sumir
20/09/2007
Fonte: FSP, Ciência, p. A20
Metade das línguas corre risco de sumir
Estimativa é de levantamento feito por lingüistas americanos; Rondônia integra uma das cinco regiões mais críticas
Projeto financiado pela National Geographic, no entanto, subestimou o número de idiomas nativos sob alto risco na Amazônia
Giovana Girardi
Colaboração para a Folha
Metade das cerca de 7 mil línguas faladas hoje em todo o mundo deve sumir até o final do século, em alguns casos à velocidade aproximada de uma extinção a cada 14 dias. A estimativa catastrófica é resultado de uma investigação financiada pela National Geographic Society, que apontou as cinco regiões do planeta onde há mais línguas ameaçadas de extinção. Um dos "hotspots" inclui o Estado de Rondônia.
"As línguas estão passando por uma crise global de extinção, que excede enormemente o ritmo das extinções de espécies", declarou o lingüista David Harrison, do Instituto Línguas Vivas, na terça-feira.
Ele e seu colega Gregory Anderson viajaram pelo mundo inteiro ao longo de quatro anos para entrevistar e gravar os últimos falantes de algumas das línguas mais ameaçadas. Após o levantamento (os dados completos estão em www.languagehotspots.org) eles perceberam que as regiões mais críticas são Sibéria oriental, norte da Austrália, centro da América do Sul, Oklahoma e litoral noroeste do Pacífico nos EUA e Canadá. "Estamos vendo na frente dos nossos olhos a erosão da base do conhecimento humano", disse Harrison.
O sumiço das línguas têm ocorrido tanto por morte das pequenas populações que ainda as falam quanto pelo simples desuso das línguas. Elas não são passadas para as novas gerações, que falam apenas a língua mais comum no país, como português, no Brasil, e toda a cultura daquele povo acaba ficando restrita aos mais velhos da tribo. Quando eles morrerem, o conhecimento dessa população morrerá junto.
"Oitenta porcento das espécies do mundo ainda não foram descobertas pela ciência, mas não significa que elas sejam desconhecidas dos humanos", lembra Harrison. Com a perda da língua, diz ele, estão sendo jogados fora séculos de descobertas feitas pela humanidade.
O país mais crítico é a Austrália. Das 231 línguas aborígenes existentes, 153 estão em risco muito alto. No norte do país os pesquisadores acharam um único falante de amurdag, língua já considerada extinta. "Esta é provavelmente uma língua que não vai voltar, mas pelo menos fizemos uma gravação dela", conta Anderson.
Risco Brasil
Pelo levantamento feito pela National Geographic, as línguas de povos que vivem em Rondônia apresentam um nível de risco muito alto de sumir, enquanto as línguas faladas por populações indígenas do centro-sul do Brasil estão em alto risco. Lingüistas que estudam o problema no país, no entanto, acreditam que a situação aqui é bem pior que a demonstrada por Harrison e Anderson.
A dupla considera, por exemplo, que o wayoró é falado por cerca de 80 pessoas em Rondônia. Segundo Denny Moore, do Museu Emílio Goeldi, são menos de dez os falantes.
Outros povos nem chegaram a figurar entre os de língua mais ameaçada pelos americanos. Um caso é dos canauê, também de Rondônia, cuja língua é falada por oito pessoas.
FSP, 20/09/2007, Ciência, p. A20
Estimativa é de levantamento feito por lingüistas americanos; Rondônia integra uma das cinco regiões mais críticas
Projeto financiado pela National Geographic, no entanto, subestimou o número de idiomas nativos sob alto risco na Amazônia
Giovana Girardi
Colaboração para a Folha
Metade das cerca de 7 mil línguas faladas hoje em todo o mundo deve sumir até o final do século, em alguns casos à velocidade aproximada de uma extinção a cada 14 dias. A estimativa catastrófica é resultado de uma investigação financiada pela National Geographic Society, que apontou as cinco regiões do planeta onde há mais línguas ameaçadas de extinção. Um dos "hotspots" inclui o Estado de Rondônia.
"As línguas estão passando por uma crise global de extinção, que excede enormemente o ritmo das extinções de espécies", declarou o lingüista David Harrison, do Instituto Línguas Vivas, na terça-feira.
Ele e seu colega Gregory Anderson viajaram pelo mundo inteiro ao longo de quatro anos para entrevistar e gravar os últimos falantes de algumas das línguas mais ameaçadas. Após o levantamento (os dados completos estão em www.languagehotspots.org) eles perceberam que as regiões mais críticas são Sibéria oriental, norte da Austrália, centro da América do Sul, Oklahoma e litoral noroeste do Pacífico nos EUA e Canadá. "Estamos vendo na frente dos nossos olhos a erosão da base do conhecimento humano", disse Harrison.
O sumiço das línguas têm ocorrido tanto por morte das pequenas populações que ainda as falam quanto pelo simples desuso das línguas. Elas não são passadas para as novas gerações, que falam apenas a língua mais comum no país, como português, no Brasil, e toda a cultura daquele povo acaba ficando restrita aos mais velhos da tribo. Quando eles morrerem, o conhecimento dessa população morrerá junto.
"Oitenta porcento das espécies do mundo ainda não foram descobertas pela ciência, mas não significa que elas sejam desconhecidas dos humanos", lembra Harrison. Com a perda da língua, diz ele, estão sendo jogados fora séculos de descobertas feitas pela humanidade.
O país mais crítico é a Austrália. Das 231 línguas aborígenes existentes, 153 estão em risco muito alto. No norte do país os pesquisadores acharam um único falante de amurdag, língua já considerada extinta. "Esta é provavelmente uma língua que não vai voltar, mas pelo menos fizemos uma gravação dela", conta Anderson.
Risco Brasil
Pelo levantamento feito pela National Geographic, as línguas de povos que vivem em Rondônia apresentam um nível de risco muito alto de sumir, enquanto as línguas faladas por populações indígenas do centro-sul do Brasil estão em alto risco. Lingüistas que estudam o problema no país, no entanto, acreditam que a situação aqui é bem pior que a demonstrada por Harrison e Anderson.
A dupla considera, por exemplo, que o wayoró é falado por cerca de 80 pessoas em Rondônia. Segundo Denny Moore, do Museu Emílio Goeldi, são menos de dez os falantes.
Outros povos nem chegaram a figurar entre os de língua mais ameaçada pelos americanos. Um caso é dos canauê, também de Rondônia, cuja língua é falada por oito pessoas.
FSP, 20/09/2007, Ciência, p. A20
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