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Seqüestro foi uma forma de chamar atenção

16/12/2007

Autor: MEIRA, Márcio Augusto de

Fonte: OESP, Nacional, p. A15



'Seqüestro foi uma forma de chamar atenção'
Para ele, cintas-largas fazem esse tipo de coisa porque suas questões nunca foram tratadas adequadamente

Entrevista: Márcio Meira

Roldão Arruda

Quarta-feira, ao chegar ao acanhadíssimo aeroporto de Ji-Paraná (RO), trazendo com ele o espanhol David Castro Neto, seqüestrado um dia antes pelos cintas-largas, o presidente da Funai, Márcio Meira, disse ao Estado que o seqüestro se justifica. Para ele, os índios tomam atitudes políticas porque seus problemas não são tratados adequadamente. Eis a entrevista:

Por que os indígenas vivem sempre em meio a tensão?

Isso decorre de problemas estruturais, históricos. Entre os cintas-largas, o que se vê é uma situação de colonialismo primitivo, com a crônica ausência do Estado de Direito. Por isso as populações indígenas ou não-indígenas acabam apelando para ações desse tipo.

Como é o confronto de garimpeiros com os índios?

É a mesma situação que vigia no século 16. De um lado, há os índios e os recursos naturais; do outro, os colonizadores, que no século 16 já buscavam minérios. Os índios eram um problema para eles e por isso eram massacrados - assim como hoje. O Estado de Direito ainda é muito frágil em algumas regiões. Precisamos inverter essa lógica.

O que o Estado de Direito pode fazer por eles?

Regulamentar as coisas. A Constituição de 1988 diz que pode haver mineração em terra indígena - desde que seja feita uma lei complementar que regulamente esse processo. Até hoje aguardamos esta lei complementar. Quem mais sofre com isso são os índios.

A regulamentação da mineração em terras indígenas reduziria os conflitos?

Tenho certeza disso. Se tivermos uma lei regulamentar sobre a mineração em terra indígena, que respeite os seus direitos e o meio ambiente, os conflitos serão resolvidos mais facilmente.

É legítimo os índios seqüestrarem autoridades?

Sim. Foi uma iniciativa política, uma forma de chamar a atenção para os problemas deles. Uma vez que, historicamente, suas questões nunca foram tratadas adequadamente, eles se vêem, às vezes, obrigados a fazer esse tipo de coisa.


Quem é: Márcio Meira
É presidente da Funai desde março deste ano.

Antes, foi secretário de Patrimônio e de Articulação Institucional do Ministério da Cultura.

Foi responsável pelo grupo de trabalho da Funai de identificação das Terras Indígenas do Médio Rio Negro e participou de sua demarcação, em 1997.

OESP, 16/12/2007, Nacional, p. A15
 

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