From Indigenous Peoples in Brazil

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Os índios, desta vez, chegaram para ficar

12/05/2008

Autor: Alexandre Mata Tortoriello

Fonte: Sidney Rezende



Se não fosse pelas casas em volta da lagoa, eu poderia até pensar que tinha voltado no tempo. Uma pequena aldeia de índios guaranis com vista para o centro e zona sul do Rio de Janeiro não parece verdade. Mas vi com meus próprios olhos, em pleno século XXI.

Eles vivem em ocas. Nunca tinha visto uma ao vivo. São exatamente iguais àquelas dos livros de História. Dentro, tudo é muito simples. Não há praticamente nada além das redes para dormir. Vivem da pesca e da venda de artesanato. Estão satisfeitos com a quantidade de peixes na lagoa. A comida é esquentada numa fogueira

A primeira língua da aldeia é o guarani. O português só é ensinado aos maiores de 15 anos. Por isso, eles falam a língua oficial do Brasil com sotaque. Às vezes, esquecem uma ou outra palavra, mas a comunicação é feita sem grandes problemas.

Uma das poucas coisas que fogem ao estereótipo de índios é o vestuário. Eles não andam pelados nem de tanga. Segundo uma das integrantes mais velhas da tribo, os únicos nus no local são não índios que costumam freqüentar as vizinhanças da aldeia para fazer sexo ao ar livre. "Tem homem com homem! A gente fica com vergonha. Tá cheio de camisinha lá. Depois dizem que índio é que anda pelado", reclama.

Eles se vestem como nós, com calças ou bermudas e camisetas. As roupas são simples, provavelmente doadas. A diferença são os belos e coloridos cocares nas cabeças dos mais velhos, pinturas no rosto, brincos feitos com penas e colares.

Nós brancos temos uma grande dívida histórica com os índios, infinitamente maior do que a que temos com os negros. Por isso mesmo, a situação da tribo guarani que veio do litoral sul fluminense e se instalou há três meses em Camboinhas, praia da região oceânica de Niterói, no Grande Rio, precisa ser tratada com extremo cuidado.

A área seria um cemitério indígena onde foram enterrados os restos mortais de guaranis derrotados por portugueses na época da colonização. "São índios que lutaram na guerra", diz o cacique Isaías de Oliveira.

O local está dentro de uma zona de proteção ambiental. O que fazer? Os índios têm o direito de ficar? Hoje são apenas 38, mas os planos da aldeia são de crescimento. Até sexta-feira, outros 25 devem chegar. Depois, até setembro, virão mais índios do Paraná. Segundo o cacique, até o fim do ano que vem, haverá de 2.000 a 3.000 indígenas na aldeia.

Mas a área não comporta tanta gente. Os impactos ambientais seriam os mesmos de uma pequena favela. Isaías de Oliveira diz que os índios vieram para ficar e não aceitarão sair de forma alguma. Diferentemente do que acontece na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, os índios de Niterói não têm arco nem flecha. Também não invadiram nenhuma propriedade privada. Mas é preciso impor limites.
 

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