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Belo Monte, um "novo elefante branco"

21/06/2008

Autor: Verena Glass

Fonte: Agência Brasil de Fato - www.brasildefato.com.br



Uma das obras prioritárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a usina hidrelétrica de Belo Monte teve seu leilão marcado para 2009, sem que sua viabilidade tenha sido estudada ou comprovada. O projeto não tem licenciamento ambiental e os estudos de impactos iniciados estão sendo questionados na Justiça.

Orçada pela Eletronorte em R$ 10,8 bilhões, a usina prevê uma transposição do rio Xingu na chamada Volta Grande, um pouco abaixo da cidade de Altamira - um trecho onde o curso do rio forma como que um meio laço -, desviando as águas para a parte central e aproveitando o declive geográfico para acionar as turbinas. Segundo um estudo da Conservation Strategy Fund, o orçamento não inclui os gastos com linhas de transmissão e a construção do porto fluvial e das eclusas. Também estariam fora os custos "indiretos" para a região, como os gerados pela perda nas atividades pesqueira, agropecuária e de turismo, perda da ictiofauna migratória, perda da qualidade da água e de seu aproveitamento para abastecimento da população local, indenizações etc.

Outros estudos questionam a viabilidade econômica do projeto. Cálculos dos próprios empreendedores apontam que será possível uma utilização média de apenas 40% da capacidade instalada da hidrelétrica - e não a operação em plena potência, de 11,1 mil MW. O motivo é a variação da vazão do rio Xingu. O percentual pode ser menor. Simulações realizadas por um sistema desenvolvido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o HydroSim, no entanto, resultaram em uma taxa de utilização inferior a 20%.

Estudos independentes, feitos por especialistas que questionam a viabilidade econômica do projeto atual de Belo Monte, que não tem reservatório nem outras barragens rio acima para segurar a água, apontam para outro dado relevante: embora Belo Monte seja inviável sozinha, ela passaria a ser interessante com a construção de pelo menos uma usina rio acima: a UHE Altamira (antiga Babaquara). Nessa hipótese, um reservatório 15 vezes maior que o de Belo Monte (6.500 km2) seria construído, criando o terceiro maior lago artificial do mundo. Essa represa, sozinha, inundaria diretamente pelo menos seis terras indígenas, desalojaria centenas de famílias, "afogaria" milhares de hectares de florestas e geraria uma grande quantidade de gases de efeito estufa.

Mesmo que o inventário do potencial hidrelétrico do Xingu aponte a construção de uma única barragem no rio (Belo Monte), estudos técnicos e econômicos afirmam que seria necessária a construção de pelo menos mais uma barragem rio acima (Altamira), para que a obra seja viável do ponto de vista financeiro. O receio, portanto, é que a construção de Belo Monte crie uma "crise planejada": constrói-se a usina, investindo bilhões de reais, para depois "dar-se conta" de que ela gera muito menos energia do que o prometido; surge então a necessidade de "salvar" o investimento já feito e construir pelo menos mais uma usina rio acima.
 

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