From Indigenous Peoples in Brazil

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Até ontem, eles continuavam acampados perto do Rio Dourado, sem receber qualquer tipo de assistência...

16/10/2002

Autor: Antonio Viegas

Fonte: Correio do Estado-Campo Grande-MS



As famílias de indígenas que foram expulsas da Aldeia Tey Cuê, em Caarapó, e que se encontram acampadas no local denominado Porto Cambira, continuam sem assistência. São cerca de 150 pessoas, entre adultos e crianças, distribuídas em pequenos barracos de lona. Eles foram deixados nessa área, situada a 30 quilômetros do centro de Dourados, no último sábado e até ontem a Funai não havia prestado qualquer tipo de socorro, nem mesmo cedendo lonas.
O descaso da Funai vem sendo denunciado há muito tempo, principalmente em relação a esse grupo comandado pelo cacique Marcos Verón. O problema começa com demora na entrega do relatório antropológico que poderia resolver o problema desses indígenas, devolvendo-os às suas terras na Aldeia Taquara, situada em parte da Fazenda Brasília do Sul, no município de Juti. Em seguida vieram os prazos para que o problema fosse solucionado, que inicialmente era de 15 dias e já se passou um ano. Agora a expulsão de uma aldeia e o abandono.
O filho do cacique Marcos, Araldo Verón, mostrou ontem ao Correio do Estado as condições em que estão vivendo seus patrícios. No almoço, alguns conseguiram cozinhar uma panela de feijão, mas a maioria comeu farinha de mandioca pura. Crianças chegavam a chorar, disputando um prato do produto. "Os adultos ainda entendem a situação, mas a criança sofre porque fica com fome", disse Araldo. Além disso vem a doença. Segundo ele, são várias as que apresentam problemas de saúde e até agora ninguém do setor foi até o local para prestar atendimento.
O grupo, que está a cerca de 300 metros do Rio Dourado, padece quando o problema é água. Eles são obrigados, inclusive crianças e mulheres, a percorrer essa distância com galões para encher um reservatório que vai servir para lavar roupas, tomar banho e o que é pior, para beber. A água desse rio é considerada uma das mais sujas e teria apresentado uma série de contaminações por agrotóxico, em consequência das lavouras nas margens.
Com a falta de lonas, quando chega a noite ou durante as chuvas, por não haver barracos suficientes para todas as famílias, alguns se amontoam nos já existentes, apenas forrando o chão com algum cobertor ou lençol velho, mesmo porque não existe cama nem colchão. Na segunda-feira, quando o Correio do Estado acompanhou o representante da Procuradoria da República até ao local, o chefe da Funai em Dourados comprometeu-se em arrumar lonas para erguer os barracos, mas até ontem a promessa não havia sido cumprida.
Os índios reclamaram também que na época em que se rebelaram na Fazenda Brasília do Sul, fazendo funcionários reféns, como forma de pressionar a Funai a resolver o problema daquelas terras, foram mais de três dias esperando um representante do órgão para negociar e ninguém sequer compareceu na área de conflito. Marcos Verón conta que eles (a Funai) só chegaram quando a força policial foi designada para fazer o despejo. "A Funai só acompanhou a ação da polícia e nos jogou na Aldeia Tey Cuê, sem tomar nenhuma atitude até agora, um ano depois", denunciou.
 

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