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Guerreiros acuados

29/01/2009

Fonte: CB, Brasil, p. 9



Guerreiros acuados
Mapa da População Guarani, que será lançado hoje durante o Fórum Social Mundial, mostra que os índios vivem cada vez mais ameaçados pelo avanço das grandes plantações de soja e cana-de-açúcar

Paloma Oliveto
Da equipe do Correio

Conhecidos pelos colonizadores como povos da mata, os guaranis - que na língua tupi significa guerreiros - estão cada vez mais aglutinados, tentando sobreviver em 500 aldeias que abrigam cerca de 100 mil índios na região das fronteiras de Brasil, Paraguai e Argentina. Resultado de uma extensa pesquisa idealizada há quatro anos, o Mapa da População Guarani será lançado hoje em Belém, durante o Fórum Social Mundial, evento que reúne, entre participantes de todo o mundo, 2 mil índios de diversas etnias. Elaborado, em parceria, pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indígena Missionário (Cimi) e Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD), o documento constata, por meio de imagens de satélite e visitas de campo, que, embora a população da etnia tenha aumentado, seus territórios encolheram e estão ameaçados pelas plantações de soja e cana-de-açúcar.

O levantamento limitou-se à área central da América do Sul, que se estende entre os rios Paraguai, Paraná e Uruguai, tradicionalmente o maior território guarani do continente. No Brasil, a área compreende 41 mil hectares de Mato Grosso do Sul, onde vivem cerca de 50 mil indígenas das ramificações Mbyá, Ñandeva e Kaiowá. Mais do que oferecer estatísticas, a intenção do mapeamento é incentivar ações governamentais unificadas para os guaranis que vivem no Brasil, Paraguai e Argentina.

"Precisamos aprofundar a discussão de políticas públicas comuns aos três países. Falamos tanto de integração pelo Mercosul. O que impede que se chegue a um acordo sobre os guaranis?", questiona o historiador e antropólogo Antonio Brant, um dos maiores especialistas sobre a etnia no país. Embora a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual as três nações são signatárias, estabeleça que os povos indígenas são sociedades permanentes, com livre circulação, isso ainda não ocorre na prática, diz Brant.

O Paraguai, por exemplo, só agora começa a estudar um modelo de educação indígena. Já no Brasil, o programa desse tipo gerido pelo Ministério da Educação está bem-estruturado, na opinião do especialista. Brant acredita que uma unificação de políticas dos guaranis não significa uma afronta à soberania de cada Estado. "O argumento de que os índios são uma ameaça à fronteira é inconsistente e demonstra um profundo desconhecimento histórico, além de má-fé. Na história, jamais um povo indígena propôs a criação de um estado nacional. Se o Brasil tem Roraima, foi graças à presença dos índios", explica.

"Humilhante"
De acordo com Carlos Macedo, gerente institucional do CTI e um dos organizadores do mapa, a análise das imagens de satélite e as visitas às aldeias permitiram constatar que as regiões de Mato Grosso do Sul onde vivem os índios estão tomadas pela monocultura de soja e de cana. "Eles estão confinados em pequenas áreas. Isso porque há três grandes grupos guaranis no estado. A aglutinação dos índios é reflexo da própria política criada para eles. O Serviço de Proteção ao Índio (antecessor da Funai e extinto em 1967) simplesmente levou populações de várias regiões, às vezes de etnias inimigas, e colocaram todas lá dentro", afirma.

Para Egon Heck, coordenador do Cimi em Mato Grosso do Sul, o que ocorre no estado é um genocídio. "Eles já começam a discutir novas formas de subsistência. Mais de 90% dos índios de lá dependem de uma cesta básica de 22kg. Quando há atraso na entrega, eles passam fome", relata. O guarani caiuá Amilton Lopes, morador da terra indígena Nhande Ru Marangatu, no município de Antônio João, a 450km de Campo Grande, diz que as dificuldades são imensas. Há mil pessoas confinadas em mil hectares, pois o decreto de homologação da área, assinado em 2005, foi contestado no Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda não julgou a ação. "Não sei até quando vamos aguentar essa situação humilhante", diz.

O número
100 mil guaranis aproximadamente vivem na região das fronteiras de Brasil, Paraguai e Argentina

CB, 29/01/2009, Brasil, p. .9
 

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